Autárquicas: Isabel Tavares reconhece resultado insatisfatório e garante trabalho em São Jacinto
A CDU (coligação PCP-PEV) de Aveiro perdeu, no passado domingo, 12 de outubro, no âmbito das eleições autárquicas, a representação que detinha na Assembleia Municipal de Aveiro. Ainda assim, da totalidade de juntas de freguesias que concorreu acaba por manter o mandato em São Jacinto. Em entrevista à Ria, Isabel Tavares, candidata da CDU à Câmara de Aveiro, admitiu que o resultado “não foi satisfatório”.
Isabel Cunha Marques
JornalistaTal como há quatro anos, a CDU (coligação PCP-PEV) voltou a apresentar-se a votos para os três órgãos autárquicos- Câmara Municipal, Assembleia Municipal e Assembleia de Freguesia. Na corrida à Câmara Municipal, a coligação registou uma quebra face às autárquicas de 2021, contabilizando menos 562 votos. Já na Assembleia Municipal, a CDU perdeu o único deputado que detinha, obtendo 812 votos, o que corresponde a 2,10% do total. Apesar da descida na votação para a Assembleia de Freguesia, a CDU conseguiu manter o mandato em São Jacinto.
Em entrevista à Ria, Isabel Tavares admitiu que o resultado “não foi satisfatório” para o partido. “Trabalhamos no esclarecimento da população no sentido de apresentar as nossas propostas e de fazer perceber que Aveiro precisava de um rumo diferente e que a CDU poderia ser essa força”, afirmou. Sobre a perda do deputado municipal, a candidata assegurou que isso trará “consequências para os aveirenses”. “É menos uma voz que vai estar presente na defesa dos seus interesses, mas nós não vamos estar ausentes do trabalho e vamos continuar (…) a trabalhar para que os aveirenses tenham uma vida melhor”, garantiu.
Questionada sobre a perda de votos, Isabel Tavares exprimiu que, na sua opinião, “as pessoas continuam não perceber a política como um fator determinante nas suas vidas e, por vezes, embarcam em modas e naquilo que é a divulgação da comunicação social, a nível mais geral, e não se focam nos aspetos da sua região e nas pessoas que trabalham para que tenham melhores condições de vida em resposta aos seus problemas”.
Sem esquecer a relação de irmãos, que marcou também estas eleições, entre Alberto Souto de Miranda, candidato do PS à Câmara de Aveiro, e Luís Souto de Miranda, candidato da ‘Aliança com Aveiro’ ao Município, Isabel acrescentou que o “contexto familiar que estava inerente também abarcou aqui alguma dinâmica de votos”. Recorde-se que no passado domingo, Luís Souto de Miranda venceu a Câmara Municipal sem maioria e elegeu quatro elementos face a outros quatro do PS e um do Chega.
Apesar do resultado, a CDU acaba por manter o mandato na Junta de Freguesia de São Jacinto, um compromisso que Isabel Tavares garante que o partido continuará a honrar. “A população de São Jacinto pode esperar da CDU aquilo que teve sempre e até ao momento: Procurar conhecer quais são as dificuldades de cada um dos habitantes de São Jacinto e levar aos órgãos propostas que respondam à resolução desses problemas”, relembrou.
Recomendações
IL Aveiro: “A política local precisa de mais transparência, (…) não de livros pagos pelos munícipes”
Na nota, a IL Aveiro refere que se trata de um “ato de autopromoção política à custa dos contribuintes, num momento em que o autarca cessou funções por limitação de mandatos”. O partido vai mais além e afirma que a “utilização de dinheiros públicos para enaltecer o legado pessoal de um político é eticamente reprovável e contrária aos princípios de transparência e responsabilidade que devem pautar a gestão pública”. “O respeito pelos cidadãos exige que os recursos municipais sejam usados em benefício da comunidade, em obras, serviços e políticas públicas com impacto real, e não em publicações de natureza laudatória e claramente política”, afirma a IL. No comunicado, o partido sugere que o balanço dos mandatos de um autarca “deve ser feito pela história, pelos resultados e, sobretudo, pelos cidadãos que viveram as consequências das suas decisões, e não através de uma narrativa financiada pelo erário público”. “A Iniciativa Liberal Aveiro considera este episódio um símbolo da cultura política que urge mudar: uma cultura que confunde o interesse público com o interesse pessoal e que utiliza os meios da autarquia para perpetuar a imagem de quem nela exerceu cargos”, continua. Num apelo direto a Luís Souto de Miranda, candidato da ‘Aliança com Aveiro’ que venceu as eleições autárquicas no passado domingo, a IL apela que o mesmo se “demarque publicamente desta situação, garantindo que este tipo de práticas não voltará a repetir-se”. “A política local precisa de mais transparência, rigor e prestação de contas, não de livros pagos pelos munícipes”, remata a nota. Recorde-se que, tal como noticiado pela Ria, o Município de Aveiro anunciou esta quinta-feira, 16 de outubro, que irá lançar um novo livro, desta vez, com o título “Aveiro, Coragem de Mudar, com Ribau Esteves”. Trata-se do último livro - lançado e pago pela autarquia - de José Ribau Esteves enquanto presidente cessante da Câmara de Aveiro.
Livro de Ribau Esteves pago pela Câmara de Aveiro motiva críticas da oposição
O Município de Aveiro anunciou esta quinta-feira, 16 de outubro, que irá lançar um novo livro, desta vez, com o título “Aveiro, Coragem de Mudar, com Ribau Esteves”. Trata-se do último livro - lançado e pago pela autarquia - de José Ribau Esteves enquanto presidente cessante da Câmara de Aveiro. Recorde-se que Luís Souto de Miranda, candidato da ‘Aliança com Aveiro’ foi eleito no passado domingo, 12 de outubro, na sequência das eleições autárquicas, presidente de Câmara. A obra será apresentada no próximo fim de semana, sábado, 25 de outubro, no Teatro Aveirense e conta com prefácios de Luís Montenegro, primeiro-ministro, e de António Costa, presidente do Conselho Europeu. Recorde-se que ao longo dos últimos meses a autarquia tem vindo a lançar um conjunto de obras, nomeadamente “Rossio de Aveiro”, que aborda a requalificação urbana do Rossio (16.115,00€ para impressão, mais 9.482,00€ para “aquisição de serviços de design e conceção gráfica do livro”), “Avenida: Uma história com futuro”, que explica a requalificação da Avenida Dr. Lourenço Peixinho (7.290,00€), “Aveiro 2024 até ao infinito”, que eterniza Aveiro Capital Portuguesa da Cultura 2024 (19.950,00€ de custos com impressão, mais 11.500,00€ de “serviços de desenvolvimento do livro”), e ainda “A Sagres em Aveiro 2024”, que aborda a passagem do navio-escola Sagres pela cidade de Aveiro, durante as comemorações do Dia da Marinha em 2024 (23.462,00€) Mas há uma particularidade que salta à vista na nova obra lançada em relação às anteriores: a autoria é de José Ribau Esteves, sendo o próprio presidente da autarquia a imagem de destaque na capa do livro. A obra, que resulta de uma edição conjunta da Câmara Municipal de Aveiro e da Editora ‘Afrontamento’, pretende contar os “12 anos de gestão autárquica” de Ribau Esteves. O livro representou um custo inicial para o Município de “9.200,00 euros”, mas acabou por ser alterado, face a “serviços complementares” na passada sexta-feira, 10 de outubro, para “13.350,00 euros”, segundo o contrato disponível na plataforma base gov. Consultando a informação disponível no contrato, neste caso, a autarquia optou por encomendar “2000 exemplares”. No caso dos livros do Rossio e da Avenida esse número não tinha ultrapassado os 500 exemplares. Somando-se o custo deste livro aos restantes, só no último ano, a Câmara Municipal de Aveiro gastou 101.149,00€ na produção de livros, segundo dados disponíveis na plataforma base gov. Citado numa nota de imprensa enviada à Ria, esta quinta-feira, Ribau Esteves esclareceu que optou por escrever esta obra por “determinação de consciência e ato solidário para com o futuro”. Nesse livro, explica que dá a conhecer em “formato simples” a história de “12 anos de trabalho como presidente da Câmara Municipal de Aveiro, contando histórias de um tempo desafiante e marcante, e partilhando reflexões sobre o futuro do poder local, de Portugal, da Europa e do Mundo”. Saliente-se que este não é o primeiro livro escrito pelo autarca. A primeira vez que o fez era ainda presidente da Câmara de Ílhavo e, na altura, lançou a obra: “10 Anos de Mudança - Município de Ílhavo”. Segundo uma notícia do Correio da Manhã, datada de 18 de janeiro de 2008, a obra gerou polémica já que os partidos da oposição acusaram Ribau Esteves de se “autopromover gastando 2800 euros ao erário público”. Naquela época, o autarca desvalorizou a polémica e afirmou que era “um livro como tantos outros custeados pela autarquia”, sublinhando que se trata de “um documento importante e útil que assinala o trabalho extraordinário dos últimos dez anos no Município de Ílhavo”. A verdade é que após 17 anos, o livro agora lançado em Aveiro, por Ribau Esteves, quando está de saída do Município por ter atingido o número limite de mandatos, também tem vindo a ser alvo de críticas por parte da oposição. Pedro Pires da Rosa, deputado municipal pelo PS, escreveu ontem nas suas redes sociais que não tinha “nada contra o livro”, mas questionou o facto de a obra ser paga pela autarquia. “Acho sinceramente que se o Município pagou o livro, no mínimo, é inapropriado”, opinou. Também Diogo Soares Machado, candidato do Chega à Câmara de Aveiro, escreveu esta quinta-feira: “É um fartar vilanagem até ao último segundo”. “A falta de vergonha na cara assume foros de narcisismo doentio e de sério delírio, para além de muito pouca, ou nenhuma, seriedade e honestidade na gestão dos dinheiros públicos”, continua. No seguimento, o candidato do Chega afirmou que o partido “fará o que estiver ao seu alcance para que este conjunto de palavras justapostas, a que o Sr. Ribau decidiu chamar livro, seja devidamente cobrado ao autor, até ao último cêntimo”. Diogo Soares Machado avançou ainda que apresentará essa proposta “na primeira reunião de Câmara, depois da tomada de posse”. “Seremos inflexíveis nela: quer mandar escrever e publicar um livro, pague-o, tal como o seu antecessor fez quando lançou o ‘Prestar Contas’. Já chega de usar o dinheiro dos aveirenses a seu bel-prazer, sem outro critério que não o de massajar o próprio ego”, atentou. Recorde-se que também Élio Maia, ex-presidente da Câmara de Aveiro, lançou o livro “Prestar Contas: 2005-2013”, que tinha como objetivo fazer um balanço da sua governação, na altura, escrito e pago por si. A Ria tentou contactar Ribau Esteves, mas até ao momento não obteve resposta.
Depois da derrota, PS-Aveiro discute futuro da concelhia
Depois de seis eleições autárquicas consecutivas em que o PS-Aveiro saiu derrotado, o futuro do partido no concelho adivinha-se repleto de desafios. Mesmo entre militantes mais afastados da atual liderança, há uma consciência generalizada de que Alberto Souto era o maior trunfo socialista - o único capaz de ultrapassar o eleitorado tradicional do PS e captar votos fora da sua base, como ficou demonstrado também nestas eleições. Nos dias que antecederam o sufrágio, o ambiente interno era de entusiasmo e expectativa. Muitos acreditavam que este poderia finalmente ser o ano da mudança, depois de doze anos de governação de Ribau Esteves. Curiosamente, foi o próprio Alberto Souto quem procurou introduzir prudência, com declarações públicas onde alertava para a dificuldade de vencer umas eleições partindo de uma “base de dez a zero” em presidentes de junta e de uma diferença de cerca de nove mil votos face à ‘Aliança com Aveiro’ nas autárquicas de 2021. Apesar de o resultado de 2025 representar o melhor desempenho do PS desde 2005, tanto em percentagem como em número de votos, o objetivo de reconquistar a Câmara Municipal acabou por não ser alcançado e nem o fim da maioria da 'Aliança com Aveiro' apaga isso. Perante este desfecho, a Ria sabe que começaram já a surgir contactos internos para preparar o futuro da concelhia. Questionada pela nossa redação, a atual presidente, Paula Urbano Antunes, revelou que as eleições para os novos órgãos deverão realizar-se “em princípio no início do próximo ano”, estando os órgãos nacionais do partido a definir o calendário final. Sobre o seu futuro, Paula Urbano admite que uma recandidatura “não está no seu horizonte”, embora ressalve que “não descarta, nem deixa de descartar” essa hipótese. Considera que não faz sentido uma demissão neste momento (até porque as eleições estão previstas para breve) e lembra que os resultados melhoraram em relação a 2021, pelo que o trabalho desenvolvido “deve ser continuado”. Pelas suas palavras, percebe-se a intenção de garantir que, mesmo que não se recandidate, o grupo que lidera apresente um nome que assegure a continuidade do projeto político em curso. Ainda assim, um cenário de lista única é visto como improvável. Entre os socialistas, há também expectativa quanto ao papel de Manuel Sousa, atual vice-presidente da Federação Distrital de Aveiro. Durante a campanha, manteve-se discreto para não interferir com a candidatura de Alberto Souto, mas com os resultados conhecidos é expectável que volte a intervir, quer através da apresentação de um candidato próprio, quer apoiando uma candidatura alternativa à atual liderança. Na última eleição interna, em outubro de 2022, Paula Urbano Antunes venceu com 116 votos contra 85 de Manuel Sousa. A diferença foi curta: bastaria que 16 militantes tivessem invertido o sentido de voto para o desfecho ser outro. Mas também é verdade que, agora, o contexto é distinto. Persiste a falta de quadros nas duas principais fações internas, depois de duas décadas fora do poder autárquico. Ao longo desses anos, sucederam-se várias lideranças e o partido transmite para o exterior a sensação de ter esgotado as suas soluções internas. Ainda assim, a convicção na atual direção é de que o apoio interno saiu reforçado, depois de atingir o melhor resultado dos últimos 20 anos e de retirar a maioria à 'Aliança' num cenário muito diferente de eleições autárquicas anteriores, nomeadamente com o crescimento do Chega, o surgimento do Livre ou o contexto nacional altamente desfavorável ao partido. Mesmo com esse reforço interno, há uma certeza partilhada entre as diferentes sensibilidades do PS: será difícil encontrar, dentro do partido, alguém capaz de repetir ou ultrapassar o resultado obtido por Alberto Souto. Mas também há sinais de otimismo. A vitória na União de Freguesias da Glória e Vera Cruz, o crescimento em várias freguesias e o facto de em Aradas, Esgueira e Eixo e Eirol não se descartar a realização de eleições intercalares, alimenta a ideia de que o partido poderá fazer uma oposição mais eficaz a Luís Souto do que a Ribau Esteves. Há também quem acredite que Ribau Esteves poderá não se afastar totalmente da vida política e que a sua eventual permanência no espaço público poderá condicionar a afirmação do novo presidente da Câmara e ser a sua principal sombra. Para reforçar a teoria, os socialistas recordam que, nem 24h depois de serem conhecidos os resultados, Ribau Esteves decidiu intervir publicamente para criticar a escolha de Glória Leite, por parte de Luís Souto, como candidata na Glória e Vera Cruz. Entre as bases socialistas, há até quem evoque exemplos como os de Isaltino Morais, em Oeiras, ou Fernando Ruas, em Viseu, para lembrar que alguns autarcas históricos já regressaram após períodos de afastamento - e que, em Aveiro, tudo é possível. O tempo será por isso de reflexão, mas é inevitável que os contactos internos para a preparação das eleições na concelhia se intensifiquem ao longo dos próximos meses.
Paula Urbano garante que PS-Aveiro está “preparado para o diálogo”, mas “não abdica” de propostas
Não está em cima da mesa que os vereadores eleitos na lista do PS para a CMA aceitem pelouros, mas Paula Urbano garante estar “preparada para o diálogo”. No entanto, “não estamos disponíveis para viabilizar tudo aquilo que [o executivo] entende que deve ser viabilizado, até porque nós não abdicamos de algumas das nossas propostas para Aveiro e não abdicamos da oposição a algumas das propostas da ‘Aliança’”, garante a responsável. Uma “coligação negativa” entre PS e Chega, como foi apontada por Luís Souto de Miranda, presidente da CMA eleito, não é uma possibilidade, até porque, segundo Paula Urbano, “nunca houve coligação nenhuma (...) essas afirmações nunca fizeram muito sentido”. A responsável não esconde, no entanto, que há questões em que os partidos podem estar alinhados, como na oposição à “construção de um hotel com 12 andares no Cais do Paraíso”. Se afirma que o PS partiu numa posição de grande desvantagem para estas eleições, sem governar nenhuma das juntas do município e com apenas três vereadores na Câmara Municipal, Paula Urbano assume que os resultados deste ato eleitoral mantêm o partido numa “posição difícil”. Não obstante, a presidente lembra que há várias freguesias em que a ‘Aliança’ não tem a maioria - é o caso de Aradas, Esgueira e Eixo e Eirol - e, não sabendo quem vão escolher os governantes como parceiro, o PS pretende “trabalhar de outra forma” e “ser produtivo para as propostas passarem”. Essa proximidade, acredita, pode beneficiar o partido no futuro. “Já se percebeu que a maior dificuldade de implementação do Partido Socialista é nas freguesias mais rurais do concelho”, frisa a dirigente do partido, que acredita que houve uma “recuperação” em relação às eleições de 2021. A pensar no futuro, Paula Urbano acredita que o PS tem capacidade para se reinventar num futuro próximo. Segundo afirma, “até aqui, praticamente não tínhamos jovens nestes órgãos. Vamos passar a tê-los, porque eles foram em lugares elegíveis”. “O PS tem de se renovar no país e também em Aveiro, onde, de facto, acabamos por ter sempre os mesmos quadros a dar a cara […] Não tenho dúvidas [de que estes jovens vão ser a cara do PS no futuro], a não ser que o PS não saiba agarrá-los e não saiba seduzi-los ao ponto de eles quererem ter uma participação política ativa”, conclui Paula Urbano. Note-se que, no caso da lista para a Assembleia Municipal, os socialistas elegeram dois jovens: João Sarmento, presidente da JS-Aveiro, e Catarina Feio. Contudo, confirmando-se a opção anunciada por Alberto Souto de não assumir o seu lugar de vereador de oposição, Leonardo Costa, jovem que ocupa o quinto lugar da lista do PS à Câmara Municipal, deverá tomar posse.
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Livro de Ribau Esteves pago pela Câmara de Aveiro motiva críticas da oposição
O Município de Aveiro anunciou esta quinta-feira, 16 de outubro, que irá lançar um novo livro, desta vez, com o título “Aveiro, Coragem de Mudar, com Ribau Esteves”. Trata-se do último livro - lançado e pago pela autarquia - de José Ribau Esteves enquanto presidente cessante da Câmara de Aveiro. Recorde-se que Luís Souto de Miranda, candidato da ‘Aliança com Aveiro’ foi eleito no passado domingo, 12 de outubro, na sequência das eleições autárquicas, presidente de Câmara. A obra será apresentada no próximo fim de semana, sábado, 25 de outubro, no Teatro Aveirense e conta com prefácios de Luís Montenegro, primeiro-ministro, e de António Costa, presidente do Conselho Europeu. Recorde-se que ao longo dos últimos meses a autarquia tem vindo a lançar um conjunto de obras, nomeadamente “Rossio de Aveiro”, que aborda a requalificação urbana do Rossio (16.115,00€ para impressão, mais 9.482,00€ para “aquisição de serviços de design e conceção gráfica do livro”), “Avenida: Uma história com futuro”, que explica a requalificação da Avenida Dr. Lourenço Peixinho (7.290,00€), “Aveiro 2024 até ao infinito”, que eterniza Aveiro Capital Portuguesa da Cultura 2024 (19.950,00€ de custos com impressão, mais 11.500,00€ de “serviços de desenvolvimento do livro”), e ainda “A Sagres em Aveiro 2024”, que aborda a passagem do navio-escola Sagres pela cidade de Aveiro, durante as comemorações do Dia da Marinha em 2024 (23.462,00€) Mas há uma particularidade que salta à vista na nova obra lançada em relação às anteriores: a autoria é de José Ribau Esteves, sendo o próprio presidente da autarquia a imagem de destaque na capa do livro. A obra, que resulta de uma edição conjunta da Câmara Municipal de Aveiro e da Editora ‘Afrontamento’, pretende contar os “12 anos de gestão autárquica” de Ribau Esteves. O livro representou um custo inicial para o Município de “9.200,00 euros”, mas acabou por ser alterado, face a “serviços complementares” na passada sexta-feira, 10 de outubro, para “13.350,00 euros”, segundo o contrato disponível na plataforma base gov. Consultando a informação disponível no contrato, neste caso, a autarquia optou por encomendar “2000 exemplares”. No caso dos livros do Rossio e da Avenida esse número não tinha ultrapassado os 500 exemplares. Somando-se o custo deste livro aos restantes, só no último ano, a Câmara Municipal de Aveiro gastou 101.149,00€ na produção de livros, segundo dados disponíveis na plataforma base gov. 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Naquela época, o autarca desvalorizou a polémica e afirmou que era “um livro como tantos outros custeados pela autarquia”, sublinhando que se trata de “um documento importante e útil que assinala o trabalho extraordinário dos últimos dez anos no Município de Ílhavo”. A verdade é que após 17 anos, o livro agora lançado em Aveiro, por Ribau Esteves, quando está de saída do Município por ter atingido o número limite de mandatos, também tem vindo a ser alvo de críticas por parte da oposição. Pedro Pires da Rosa, deputado municipal pelo PS, escreveu ontem nas suas redes sociais que não tinha “nada contra o livro”, mas questionou o facto de a obra ser paga pela autarquia. “Acho sinceramente que se o Município pagou o livro, no mínimo, é inapropriado”, opinou. Também Diogo Soares Machado, candidato do Chega à Câmara de Aveiro, escreveu esta quinta-feira: “É um fartar vilanagem até ao último segundo”. “A falta de vergonha na cara assume foros de narcisismo doentio e de sério delírio, para além de muito pouca, ou nenhuma, seriedade e honestidade na gestão dos dinheiros públicos”, continua. No seguimento, o candidato do Chega afirmou que o partido “fará o que estiver ao seu alcance para que este conjunto de palavras justapostas, a que o Sr. Ribau decidiu chamar livro, seja devidamente cobrado ao autor, até ao último cêntimo”. Diogo Soares Machado avançou ainda que apresentará essa proposta “na primeira reunião de Câmara, depois da tomada de posse”. “Seremos inflexíveis nela: quer mandar escrever e publicar um livro, pague-o, tal como o seu antecessor fez quando lançou o ‘Prestar Contas’. Já chega de usar o dinheiro dos aveirenses a seu bel-prazer, sem outro critério que não o de massajar o próprio ego”, atentou. Recorde-se que também Élio Maia, ex-presidente da Câmara de Aveiro, lançou o livro “Prestar Contas: 2005-2013”, que tinha como objetivo fazer um balanço da sua governação, na altura, escrito e pago por si. A Ria tentou contactar Ribau Esteves, mas até ao momento não obteve resposta.
Depois da derrota, PS-Aveiro discute futuro da concelhia
Depois de seis eleições autárquicas consecutivas em que o PS-Aveiro saiu derrotado, o futuro do partido no concelho adivinha-se repleto de desafios. Mesmo entre militantes mais afastados da atual liderança, há uma consciência generalizada de que Alberto Souto era o maior trunfo socialista - o único capaz de ultrapassar o eleitorado tradicional do PS e captar votos fora da sua base, como ficou demonstrado também nestas eleições. Nos dias que antecederam o sufrágio, o ambiente interno era de entusiasmo e expectativa. Muitos acreditavam que este poderia finalmente ser o ano da mudança, depois de doze anos de governação de Ribau Esteves. Curiosamente, foi o próprio Alberto Souto quem procurou introduzir prudência, com declarações públicas onde alertava para a dificuldade de vencer umas eleições partindo de uma “base de dez a zero” em presidentes de junta e de uma diferença de cerca de nove mil votos face à ‘Aliança com Aveiro’ nas autárquicas de 2021. Apesar de o resultado de 2025 representar o melhor desempenho do PS desde 2005, tanto em percentagem como em número de votos, o objetivo de reconquistar a Câmara Municipal acabou por não ser alcançado e nem o fim da maioria da 'Aliança com Aveiro' apaga isso. Perante este desfecho, a Ria sabe que começaram já a surgir contactos internos para preparar o futuro da concelhia. Questionada pela nossa redação, a atual presidente, Paula Urbano Antunes, revelou que as eleições para os novos órgãos deverão realizar-se “em princípio no início do próximo ano”, estando os órgãos nacionais do partido a definir o calendário final. Sobre o seu futuro, Paula Urbano admite que uma recandidatura “não está no seu horizonte”, embora ressalve que “não descarta, nem deixa de descartar” essa hipótese. Considera que não faz sentido uma demissão neste momento (até porque as eleições estão previstas para breve) e lembra que os resultados melhoraram em relação a 2021, pelo que o trabalho desenvolvido “deve ser continuado”. Pelas suas palavras, percebe-se a intenção de garantir que, mesmo que não se recandidate, o grupo que lidera apresente um nome que assegure a continuidade do projeto político em curso. Ainda assim, um cenário de lista única é visto como improvável. Entre os socialistas, há também expectativa quanto ao papel de Manuel Sousa, atual vice-presidente da Federação Distrital de Aveiro. Durante a campanha, manteve-se discreto para não interferir com a candidatura de Alberto Souto, mas com os resultados conhecidos é expectável que volte a intervir, quer através da apresentação de um candidato próprio, quer apoiando uma candidatura alternativa à atual liderança. Na última eleição interna, em outubro de 2022, Paula Urbano Antunes venceu com 116 votos contra 85 de Manuel Sousa. A diferença foi curta: bastaria que 16 militantes tivessem invertido o sentido de voto para o desfecho ser outro. Mas também é verdade que, agora, o contexto é distinto. Persiste a falta de quadros nas duas principais fações internas, depois de duas décadas fora do poder autárquico. Ao longo desses anos, sucederam-se várias lideranças e o partido transmite para o exterior a sensação de ter esgotado as suas soluções internas. Ainda assim, a convicção na atual direção é de que o apoio interno saiu reforçado, depois de atingir o melhor resultado dos últimos 20 anos e de retirar a maioria à 'Aliança' num cenário muito diferente de eleições autárquicas anteriores, nomeadamente com o crescimento do Chega, o surgimento do Livre ou o contexto nacional altamente desfavorável ao partido. Mesmo com esse reforço interno, há uma certeza partilhada entre as diferentes sensibilidades do PS: será difícil encontrar, dentro do partido, alguém capaz de repetir ou ultrapassar o resultado obtido por Alberto Souto. Mas também há sinais de otimismo. A vitória na União de Freguesias da Glória e Vera Cruz, o crescimento em várias freguesias e o facto de em Aradas, Esgueira e Eixo e Eirol não se descartar a realização de eleições intercalares, alimenta a ideia de que o partido poderá fazer uma oposição mais eficaz a Luís Souto do que a Ribau Esteves. Há também quem acredite que Ribau Esteves poderá não se afastar totalmente da vida política e que a sua eventual permanência no espaço público poderá condicionar a afirmação do novo presidente da Câmara e ser a sua principal sombra. Para reforçar a teoria, os socialistas recordam que, nem 24h depois de serem conhecidos os resultados, Ribau Esteves decidiu intervir publicamente para criticar a escolha de Glória Leite, por parte de Luís Souto, como candidata na Glória e Vera Cruz. Entre as bases socialistas, há até quem evoque exemplos como os de Isaltino Morais, em Oeiras, ou Fernando Ruas, em Viseu, para lembrar que alguns autarcas históricos já regressaram após períodos de afastamento - e que, em Aveiro, tudo é possível. O tempo será por isso de reflexão, mas é inevitável que os contactos internos para a preparação das eleições na concelhia se intensifiquem ao longo dos próximos meses.
Paula Urbano garante que PS-Aveiro está “preparado para o diálogo”, mas “não abdica” de propostas
Não está em cima da mesa que os vereadores eleitos na lista do PS para a CMA aceitem pelouros, mas Paula Urbano garante estar “preparada para o diálogo”. No entanto, “não estamos disponíveis para viabilizar tudo aquilo que [o executivo] entende que deve ser viabilizado, até porque nós não abdicamos de algumas das nossas propostas para Aveiro e não abdicamos da oposição a algumas das propostas da ‘Aliança’”, garante a responsável. Uma “coligação negativa” entre PS e Chega, como foi apontada por Luís Souto de Miranda, presidente da CMA eleito, não é uma possibilidade, até porque, segundo Paula Urbano, “nunca houve coligação nenhuma (...) essas afirmações nunca fizeram muito sentido”. A responsável não esconde, no entanto, que há questões em que os partidos podem estar alinhados, como na oposição à “construção de um hotel com 12 andares no Cais do Paraíso”. Se afirma que o PS partiu numa posição de grande desvantagem para estas eleições, sem governar nenhuma das juntas do município e com apenas três vereadores na Câmara Municipal, Paula Urbano assume que os resultados deste ato eleitoral mantêm o partido numa “posição difícil”. Não obstante, a presidente lembra que há várias freguesias em que a ‘Aliança’ não tem a maioria - é o caso de Aradas, Esgueira e Eixo e Eirol - e, não sabendo quem vão escolher os governantes como parceiro, o PS pretende “trabalhar de outra forma” e “ser produtivo para as propostas passarem”. Essa proximidade, acredita, pode beneficiar o partido no futuro. “Já se percebeu que a maior dificuldade de implementação do Partido Socialista é nas freguesias mais rurais do concelho”, frisa a dirigente do partido, que acredita que houve uma “recuperação” em relação às eleições de 2021. A pensar no futuro, Paula Urbano acredita que o PS tem capacidade para se reinventar num futuro próximo. Segundo afirma, “até aqui, praticamente não tínhamos jovens nestes órgãos. Vamos passar a tê-los, porque eles foram em lugares elegíveis”. “O PS tem de se renovar no país e também em Aveiro, onde, de facto, acabamos por ter sempre os mesmos quadros a dar a cara […] Não tenho dúvidas [de que estes jovens vão ser a cara do PS no futuro], a não ser que o PS não saiba agarrá-los e não saiba seduzi-los ao ponto de eles quererem ter uma participação política ativa”, conclui Paula Urbano. Note-se que, no caso da lista para a Assembleia Municipal, os socialistas elegeram dois jovens: João Sarmento, presidente da JS-Aveiro, e Catarina Feio. Contudo, confirmando-se a opção anunciada por Alberto Souto de não assumir o seu lugar de vereador de oposição, Leonardo Costa, jovem que ocupa o quinto lugar da lista do PS à Câmara Municipal, deverá tomar posse.