“Não queriam lá saias”: as barreiras que as mulheres começaram a derrubar depois do 25 de Abril
Eugénia Pinheiro, Maria do Carmo Costa e Rosa Gadanho foram três das muitas mulheres aveirenses que viveram o 25 de Abril em Aveiro e três das protagonistas do livro “Histórias Cravadas - As conquistas das mulheres no pós-25 de Abril” da Associação Agora Aveiro. No ano em que se comemoram 50 anos das primeiras eleições livres, a Ria conversou com estas três professoras, que refletiram sobre o antes e o depois da Revolução.
Isabel Cunha Marques
JornalistaEra sábado. A conversa estava marcada para as 11h00 no pequeno ‘auditório’ da VIC Aveiro Arts House. Trata-se da antiga residência de Vasco Branco, uma figura ímpar da cultura aveirense que se evidenciou no campo das artes plásticas, no cinema e na literatura. Espaço esse que agora foi transformado em casa-museu, residência artística e alojamento local por iniciativa do neto, Hugo Branco. Começo por lhes questionar se alguma vez tinham entrado naquele auditório. Respondem-me prontamente que não. Explico que ali já haviam sido exibidos filmes censurados pelo Estado Novo. Não se mostram surpreendidas com a explicação ainda que admitam que “naquela época” não sabiam. “Para mim era uma casa, completamente, normal”, desabafa Maria do Carmo Costa que prefere que para esta conversa a chame “só” de Carmo.
Provoco-as para perceber como era o cinema antes do 25 de Abril. Carmo responde-me que não tinha sequer possibilidades para tal. “Por exemplo, para ver televisão vinha da Beira-Mar. A minha tia morava aqui atrás do Teatro Aveirense numa casa que só tinha uma porta e uma janela. Era a única que tinha televisão da família”, partilha. Entre os filmes que se lembra de ver estava o dos “Dez Mandamentos”. Só mais tarde, quando começou a trabalhar, é que se recorda de pedir à sua mãe se podia ir ao cinema, durante o fim de semana, “à sessão da tarde”. “Havia uma seleção muito grande relativamente a idades. Eu lembro-me que tinha 11 anos e fui ver um filme para 12 anos. Na altura, fui com a minha prima. Como eu era mais alta do que ela - apesar de ela ter 15 anos - acabou por não entrar e ficou na porta”, conta. “Só depois do 25 de Abril é que começou a haver assim coisas diferentes”, reforça.
Eugénia partilha da mesma ideia e refere que “aos 14 anos” os filmes que se recorda de ver eram também “muito aqueles filmes bíblicos, históricos e a música no coração”. Apesar de ter televisão em casa refere que aquilo girava à volta “do canal um e do canal dois”.
Rosa diz-nos também que “nunca teve nada disso” e que ir ao cinema era “uma coisa excecional porque os bilhetes não eram acessíveis a toda a gente”. “Para quem tinha televisão, realmente, era a fuga”, aponta. “Recordo-me que havia filmes que passavam em determinadas épocas, anos seguidos e lembro-me de um filme que passava sempre, na altura da Páscoa, que era o “São Francisco de Assis”. Nós já não podíamos ver aquele filme… Um dia vai uma locutora com um ar muito pesaroso informar que o filme tinha sofrido um acidente e tinha ardido. Bem, a malta mais nova levantou-se toda a festejar”, conta com uma gargalhada. Partilha ainda uma “situação particular” passada pelo seu marido.
“O meu sogro era amigo do senhor que projetava filmes no Cinema Avenida. E, portanto, eles tinham entrada facilitada para a cabine de projeção. Havia uma fita original e eles recebiam instruções para cortar determinadas coisas. (…) Uma cena em que houvesse um beijo ou um contacto físico mais próximo tinha de ser tudo cortado porque eles estavam sujeitos aquelas regras”, partilha. “O meu marido e os meus cunhados contam que um dos divertimentos que tinham era antes de aquilo ser queimado poderem ver essas cenas”, relembra com uma risada.
“Cheguei a ter vómitos e diarreia na hora de ir para a escola”
Face a estas partilhas, pedi a cada uma destas mulheres que se identificasse. Eugénia responde prontamente que é da “Mamarrosa, concelho de Oliveira de Bairro”. Contra todas as expectativas, Rosa partilha que é de Aveiro e que nasceu “muito pertinho desta casa”. “Aliás, este sítio onde estamos é uma referência importante para mim”, assegura com um sorriso evidente no rosto. Diz que cresceu e brincou numa praceta com os filhos de Vasco Branco. “Era muito criança… Depois perdemo-nos pela vida fora, não é? Mas lembro-me perfeitamente de o pai ser uma pessoa diferente dos homens daquela época. (…) Para nós crianças tinha uma atitude gira, solta que os homens naquela altura não tinham muito”, partilha. Aos oito anos, Rosa conta ainda que foi viver para a aldeia da sua mãe em “Frossos, concelho de Albergaria-a-Velha” e que regressou a Aveiro, “dois anos depois”, quando começou a estudar.
No caso de Carmo partilha que até aos nove anos cresceu no Brasil, “em Leblon”. Refere, com um especial brilho nos olhos, que apesar de também lá ter vivido a ditadura era muito mais “soft” do que em Portugal. “Nós também éramos imigrantes, não vivíamos tanto o que se passava por lá”, explica. Entretanto, o pai falece e ela, o seu irmão mais pequeno e a mãe acabam por regressar a Portugal já que esta era natural do Bairro da Beira-Mar [em Aveiro] e era professora. Carmo acabou por vir de Leblon para Ouca e mais tarde para Aveiro onde estudou na “Vera Cruz”.
“A professora primária todos os dias me batia porque queria-me fazer tão boa a português como era a matemática… E escrevia em brasileiro. Passei horrores. Cheguei a ter vómitos e diarreia na hora de ir para a escola”, confidencia. Mais tarde, um dos seus tios acabaria por a colocar num colégio interno, no Porto. Do Porto regressou a Aveiro tendo passado também por Águeda. “Andei por aí…Agora é que estou aqui para sempre”, resume com uma risada ainda que admita que, até aos dias de hoje, o seu sonho era morar no Alentejo.
“O rádio (…) foi a nossa ligação ao mundo”
Para esta conversa pedi a cada convidada que trouxesse um objeto que as fizesse recordar o período do 25 de Abril. Eugénia trouxe um rádio azul da marca Panasonic, que tinha vindo diretamente dos Estados Unidos e uma caneca onde se lia “25 de abril sempre”, juntamente, com um cravo. No dia 25 de abril, Eugénia tinha 14 anos. Descreve-se como “aquela geração que só teve noção da ditadura depois dela ter terminado”. Sobre o rádio que trouxe – que tinha a forma de um telefone - partilha que foi onde ouviu a emissão.
Na altura, encontrava-se no colégio de freiras Sagrado Coração de Maria, na Avenida Lourenço Peixinho, numa aula de português com o “professor Mário Rocha”. “Lembro-me perfeitamente de estar na fila ao lado da janela e de ver os aviões todos a sobrevoar”, relembra. Durante a aula, o professor perguntou se alguém tinha um rádio e Eugénia respondeu que “sim”. Naquele dia, foi buscá-lo e relata que o estiveram a ouvir “toda a manhã”. “O rádio ficou porque este Panasonic que veio dos Estados Unidos, no Natal, foi a nossa ligação ao mundo, nesse dia, se bem que a maior ligação foi o testemunho de pessoas com o doutor Mário da Rocha”, aponta enquanto olhava para o rádio com um sorriso.
“Eu acho que ele o quis ouvir mais do que nós. Na altura, nós não estávamos a perceber o que ele queria ouvir. Mas ele sabia…”, reflete. Sobre o que ouviu naquele dia? Eugénia responde que se lembra “perfeitamente” de começarem a surgir “aqueles comunicados do Movimento das Forças Armadas (MFA)” e de uma música de fundo “sem letra”. “Apelava à serenidade e que estava controlado. (…) Fazia-nos logo ficar em silêncio”, descreve. “E, para além disso, foi [a música] do ‘Depois do Adeus’ que nesse dia também acho que nos marcou”, continua Eugénia.
“Disseram-nos que não queriam lá saias”
Rosa já tinha 20 anos quando se deu o 25 de Abril. Ao contrário de Eugénia optou por não trazer uma memória daquele dia, mas sim uma fotografia da “carta de serviço” da Escola de Socorrismo da Cruz Vermelha Portuguesa. Pergunto-lhe o porquê. Responde-me, imediatamente, que a “condição da mulher antes do 25 de Abril era repleta de constrangimentos e restrições”. “No pós 25 de Abril (…) surgiu a hipótese de eu fazer um curso de primeiros socorros. Como ia ser professora achei que era uma coisa que podia ser útil. (…) A coisa correu-me muito bem e propuseram-me, no final, que fizesse um curso de formadora. Eu alinhei”, conta.
Quando terminou o curso Rosa diz que começou a fazer formação em vários locais como na “GNR” ou nos “quartéis”. “Mas isto de fazer formação… A gente quer é pôr a mão na massa. Juntámo-nos quatro raparigas e fomos à corporação de bombeiros, onde tínhamos feito estes três meses de estágio nas ambulâncias. Ora, se nós tínhamos servido durante três meses para responder às necessidades das ambulâncias, provavelmente, podíamos dar jeito às corporações… E lá fomos”, relata. Na altura, acabaram por receber uma resposta que as “dececionou imenso”. “Disseram-nos que não queriam lá saias”, descreve com tristeza. No entretanto, Rosa, juntamente, com as suas “quatro” colegas ainda tentou “rebater” a decisão, mas sem sucesso. “Não conseguimos. Como havia outra corporação [a dos Bombeiros Novos] fomos lá e, curiosamente, fomos recebidas de braços abertos. Foi espetacular”, exprime.
Apesar de terem sido aceites nesta corporação, Rosa Gadanho conta que, na altura, os estatutos dos Bombeiros Novos ainda não contemplavam a figura feminina. “Não havia mulheres nessas coisas. Nem nessas, nem outras. E, portanto, arranjaram um subterfúgio nos estatutos e disseram-nos que nós ficaríamos a pertencer a uma coisa que se chamava corpo auxiliar… Nós não gostávamos muito de ser só auxiliares, mas pronto era o que era e não conseguíamos ultrapassar isso”, salienta.
Mesmo assim, Rosa conta que acabou por fazer a recruta exatamente “como fizeram os outros” e que começou a “sair” para o campo. “O serviço de ambulâncias começámos logo a fazer. Os incêndios foi depois mais tarde porque não tínhamos ainda competência para atuar. Íamos como suporte para as ambulâncias, mas não passamos muito disso”, diz. “Pessoalmente, foi uma escola de vida para mim, porque contactei com pessoas variadíssimas, homens, com quem normalmente nós não trocávamos, que eram operários em fábricas e que alimentavam os bombeiros voluntários”, recorda Rosa.
Ao ouvir a história de Rosa, Eugénia lembra automaticamente: “Quando disseste que eles se mostraram muito conservadores… Eu não me esqueço que quando entrei na universidade aqui, em Aveiro, em 1978, houve um professor de um dos cursos mais masculinos que, perante uma aluna, perguntou-lhe se ela não devia estar em casa a coser meias”.
“À mesa era uma bacia grande e toda a gente picava da mesma”
Para esta conversa, Carmo trouxe um conjunto de fotografias suas (quase) todas a preto e branco. Umas de quando era mais nova, outras de quando já era mais velha. “Há aqui umas fotografias a preto e branco que são as primeiras. Para mim são as mais coloridas porque foi a fase em que vivi no Brasil, tinha os meus pais, etc”, começa por explicar enquanto revê uma por uma. “No Brasil era uma ditadura militar, mas tínhamos uma moradia com casa de banho… Chego aqui e não tenho uma casa de banho. Quer dizer, a casa de banho era o fundo do quintal… À mesa era uma bacia grande e toda a gente picava da mesma”, recorda.
À medida que a conversa ia decorrendo, Carmo repara ainda, ao observar as fotografias a preto e branco, para a forma como as mulheres se vestiam naquela altura: “Todas vestidas de preto…. E a minha mãe que tinha ficado viúva foi obrigada a vestir-se de preto. Nós vimo-nos gregos, eu, o meu irmão e a família, para que ela pusesse uma cor. Quando pôs uma cor foi uma blusa, branquinha com os riscos pretos... Ela dizia-me: ‘ai não porque as pessoas vão falar mal porque eu sou viúva’, expõe.
No 25 de Abril, Carmo estava prestes a completar 21 anos em junho. Já era professora em Estarreja. Nesse dia, recorda que o marido, engenheiro em Águeda, saiu de casa “de manhã cedo”, enquanto ela, com aulas apenas às nove, aproveitou para descansar um pouco mais. “Liguei o rádio e deixei-me estar…Música clássica que eu adoro e estava a ouvir e de repente começou a tocar o ‘Grândola’. Eu perguntei-me como é que era possível? Isto está proibido….”, consta. Do locutor de rádio lembra, de forma particular, a palava “revolução”. “Epá, levantei-me, fui para a rua saber o que é que se passava, porque já estava a praça em Estarreja cheia porque nós não sabíamos o que se passava… Revolução, ouço a palavra revolução… Aquilo mexia um bocadinho connosco”, salienta.
“Eu fui obrigada a pôr a cruz onde não queria”
A 25 de abril de 1975, um ano após o derrube da ditadura, foram realizadas as primeiras eleições livres, por sufrágio direto e universal. Foram as “mais concorridas e participadas eleições da história da democracia portuguesa, com uma afluência de 92% dos cidadãos recenseados, sendo a primeira vez na história em que todos os portugueses, mulheres e homens, maiores de 18 anos tinham o direito de voto”.
No ano em que se assinalam os 50 anos das primeiras eleições livres em Portugal, Rosa, Eugénia e Carmo partilham o descontentamento que sentem ao ver as altas taxas de abstenção de atualmente. “Aquilo era uma conquista para os mais velhos, mas para os mais novos também era o princípio de qualquer coisa”, exprime Rosa enquanto recorda um episódio de quando ainda era bombeira. “Eu lembro-me que houve umas eleições [a seguir às primeiras livres] em que eu passei o dia a transportar gente para ir votar (…). Ninguém ficava em casa. Toda a gente queria ir votar… Nós tínhamos de nos virar e levá-los. Eu fui votar cinco minutos antes das urnas fecharem”, relembra.
“Era assim. Não havia abstenção… Isso é que é o pior partido: é a abstenção”, concorda, prontamente, Carmo destacando que na sua casa “toda a gente vai votar, obrigatoriamente”. “Eu fui obrigada a pôr a cruz onde não queria”, revela. “Eu vou lá nem que seja para desenhar um bonequinho das caldas… Eu vou. Se as pessoas forem todas votar, se a abstenção não fosse tão grande, pelo menos, a gente dizia que as taxas estão a virar. Assim, a gente não sabe. Estão amorfos”, reforça Carmo.
“Assim a legitimidade é sempre questionável. E eu posso sempre dizer que não fui eu que contribui para isto”, finaliza Eugénia.
“Também é importante a perspetiva da mulher que não foi ao Ultramar”
Foi da memória viva do avô - um jovem enviado para a Guerra do Ultramar aos 19 anos - que nasceu a vontade de criar um projeto que desse voz às histórias silenciadas do passado. “O meu avô foi para a Guerra do Ultramar com 19 anos, e eu quando tinha 19 anos não conseguia sequer estrelar um ovo sozinho em casa”, partilha Bernardo Afonso Vicente da Associação Agora Aveiro. “Ele esteve, inclusive, numa operação militar que está bem documentada, que é a Operação Tridente, na Ilha do Como”, recorda.
A partir dessa ligação pessoal e da vontade de assinalar os 50 anos da Revolução dos Cravos nasceu um projeto que une a preservação da memória à valorização do papel feminino na sociedade portuguesa no pós-25 de Abril. “Se é importante a perspetiva do homem que foi ao Ultramar e do político que ficou em Lisboa, também é importante a perspetiva da mulher que não foi ao Ultramar”, frisa Bernardo. Assim, nasceu o livro “Histórias Cravadas - As conquistas das mulheres no pós 25 de Abril”. Eugénia Pinheiro, Rosa Gadanho e Maria do Carmo Costa [com quem a Ria conversou] foram três das 11 mulheres da comunidade aveirense que deram vida a esta obra.
O projeto “que começou no ano passado” culminou com o lançamento oficial do livro, no passado dia 6 de abril, na FNAC Aveiro e com uma exposição fotográfica que já passou por diversos espaços culturais da região, incluindo o Museu de Santa Joana. “No fundo, eu acho que (…) o que é realmente interessante aqui é alguém poder pegar neste livro (…) e fazer uma introspeção para: e a minha avó? E o meu avô?”, esperança Bernardo Vicente.
Mais do que um exercício de memória histórica, a obra procura fomentar o diálogo intergeracional. “Estas histórias estão a acabar (…) É preciso ir atrás destas histórias e recordá-las desta forma, acho que é incrível, para as senhoras, para nós, para todos os envolvidos”, reflete. O livro está disponível por “12 euros” e pode ser encomendado diretamente à associação através das redes sociais ou do site oficial da Agora Aveiro.
Recorde-se ainda que, em abril, a Agora Aveiro lançou uma curta-metragem que deu voz a este projeto no largo da Capela de São Gonçalinho, em Aveiro.
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Luís Souto de Miranda diz que decisão da UNESCO é "momento histórico"
"Hoje celebramos Aveiro, celebramos os nossos mestres e celebramos um legado que queremos proteger para o futuro”, disse Luís Souto, considerando que a decisão da UNESCO, anunciada hoje em Nova Deli, na Índia, é "um momento histórico para a região de Aveiro e para Portugal". O autarca, que é também vice-presidente da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA), reagiu desta forma à decisão da UNESCO de inscrever a arte da carpintaria naval da região de Aveiro, traduzida nos barcos moliceiros, na lista de património imaterial em necessidade de salvaguarda urgente. “Este reconhecimento internacional reforça aquilo que sempre defendemos: o moliceiro é uma expressão singular da nossa identidade, fruto do talento e dedicação de gerações de Mestres construtores que mantêm viva a arte da carpintaria naval da Ria”, referiu o presidente da Câmara de Aveiro. O processo foi promovido pela CIRA e desenvolvido em colaboração estreita com mestres construtores, pintores, municípios da região, entidades culturais, educativas e operadores turísticos ligados à ria, contando com o apoio técnico da empresa IPDT – Instituto Português de Desenvolvimento do Turismo. Um dos aspetos singulares dos barcos moliceiros são as pinturas da popa e da ré: “A proa é a parte monumental do moliceiro, em que figuras, desenhos e legendas são exclusivos, sem igual em qualquer tipo de navegação conhecido”, escreveu Jaime Vilar, em livro dedicado àquela embarcação. Nesse trabalho classifica as legendas da proa em “satíricas, humorísticas e eróticas”, “religiosas”, “românticas, brejeiras e pícaras”, “profissionais, morais e históricas”. O mesmo autor, baseando-se em dados colhidos junto dos artífices, descreve que um moliceiro mede, em média, 15 metros de comprimento (…), desloca cerca de cinco toneladas e tem o fundo plano e de pouco calado, pormenor que lhe permite navegar por onde barcos de quilha não passam”. Na década de 70 do século XX estavam registados três mil barcos moliceiros a operar na ria de Aveiro. Atualmente, subsistem apenas 50 embarcações, metade das quais afetas à exploração turística nos canais urbanos da ria.
São Jacinto: Ferry volta a avariar e presidente alerta para a “necessidade” do serviço
Em declarações à Ria, fonte da Aveirobus confirmou que o ferry se encontra novamente “inoperacional”, esta terça-feira, devido a uma avaria. “O ferry está inoperacional e não conseguimos dar a indicação de quando está previsto a retoma do mesmo”, afirmou, não adiantando os motivos da interrupção. Os serviços estão, neste momento, a ser assegurados pela lancha que não efetua “travessia de viaturas”, conforme se lê no site da AveiroBus, esta terça-feira. Contactada pela Ria, Cristina Gonçalves, presidente da Junta de Freguesia de São Jacinto, disse também estar a par da avaria. “O conhecimento que eu tenho da avaria do ferry é exatamente o mesmo que a população”, realçou. Segundo a mesma, a Junta não recebeu, até ao momento, “qualquer tipo de informação oficial” sobre o motivo da avaria. “Estamos a criar diligências para que a comunicação entre a Junta, a Câmara e a empresa de transporte resultem, no futuro, num melhor resultado”, vincou. Recorde-se que já no passado dia 9 de novembro, o ‘Salicórnia’ tinha registado uma outra avaria. Perante esta nova paralisação, a presidente da Junta voltou a alertar para os “transtornos” causados à população. “As pessoas precisam, efetivamente, do ferry para aceder aos serviços básicos. Temos a lancha que substitui, o que já é muito bom, mas não é a solução ideal. Se temos um ferry ao serviço da população, em São Jacinto, é porque precisamos”, reforçou.
Natação: Galitos/Bresimar sai do Torneio Zonal Norte de Juvenis com três novos recordes nacionais
Organizada pelo Associação de Natação Centro Norte de Portugal, a competição reuniu nas Piscinas Municipais de Estarreja 175 atletas oriundos de 37 clubes. A equipa mais numerosa foi mesmo a do Galitos/Bresimar, que se fez representar por 12 atletas, Com 32 medalhas, os aveirenses foram aqueles que mais distinções acumularam ao longo da prova. Para além dos 13 ouros, das 16 pratas e dos três bronzes, somam-se ainda três recordes nacionais e dez recordes regionais. A representar o Galitos/Bresimar estiveram Tomás Branco, Miguel Fernandes, Leonor Jesus, Leonor Mendes, Zoe Nunes, Xavier Pereira, Raquel Ré, Carolina Taveira, Francisco Vale, Santiago Valente, Sofia Vasconcelos e Daniel Volkov. A equipa foi orientada pelo treinador André Brito e pelos diretores Paulo Gomes Rodrigues e Paulo Rodrigues.
Sete artistas europeus inauguram ‘IN LOCO’ na VIC Aveiro com masterclasses e concertos para todos
É já a partir desta sexta-feira, 12 de dezembro, que a editora VIC NIC apresenta a estreia do ciclo IN LOCO. Arya (PT), Combray (ES), KØMMEN (IT), Lorenzo Donato (IT), MEMA. (PT), Miguel Torga (PT) e RENT (AT) são os artistas escolhidos para os três dias de “trabalho imersivo” no espaço da VIC Aveiro Arts House. De acordo com a nota, o primeiro dia será dedicado ao “brainstorming e à criação colaborativa em dois grupos”, sendo os dois dias seguintes abertos com atividades para o público em geral. No dia 13 de dezembro, pelas 13h30, decorrerão “sete sessões de 30 minutos” [de masterclasses] dedicadas a “práticas de performance ao vivo em música eletrónica, incluindo processos criativos, técnicas, dispositivos, improvisação e metodologias de palco”. A inscrição para as sessões tem o custo de dez euros e inclui o bilhete para os espetáculos do dia seguinte. A mesma pode ser feita aqui. Já no domingo, 14 de dezembro, pelas 17h30, decorrerão “concertos colaborativos” com “duas performances resultantes da micro-residência desenvolvida, apresentadas pela primeira vez na VIC”. A entrada tem o custo de cinco euros e é gratuita para os participantes das masterclasses. A VIC NIC adianta ainda que a “totalidade das atividades públicas será gravada com câmaras 360º para posterior disponibilização em formato VR (realidade virtual)”. O ciclo “IN LOCO” integra-se no projeto de cooperação internacional AMP — Adventurous Music Plateaux, coordenado pela organização polaca Plateaux Foundation e desenvolvido em colaboração com parceiros de Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, Áustria e Islândia, com o apoio da Comissão Europeia através do programa Europa Criativa. Os sete artistas resultam das parcerias estabelecidas com outras organizações europeias, como a HUM! (Sevilha), Sintetica (Turim), Sonic Territories (Viena) e Stansa (Barcelona). No comunicado, a organização refere também que este programa pretende dar continuidade ao trabalho que a VIC NIC “tem vindo a desenvolver de forma sustentada nos domínios da capacitação artística, da música eletrónica e da experimentação”.
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“Sinergia de Forças” juntou bombeiros, fisioterapeutas e estudantes na ESSUA e já motiva nova edição
Segundo uma nota de imprensa enviada à Ria esta terça-feira, 9 de dezembro, o evento resultou de uma organização conjunta entre a ESSUA e Dylan Gonçalves, fisioterapeuta e bombeiro especialista em atuação em emergências, contando ainda com uma “rede nacional de colaboração” e com o apoio da Câmara de Aveiro. Ao longo do dia, a iniciativa integrou palestras científicas dedicadas à exposição ao risco, saúde ocupacional e estratégias de desempenho em contexto de emergência, bem como com workshops especializados em áreas como “segurança física, atuação em cenários de stress, ergonomia na emergência e técnicas específicas de suporte físico e respiratório”. De acordo com a organização, o evento destacou-se pelo “ambiente de cooperação e pela oportunidade de aproximar profissionais e estudantes de áreas distintas, promovendo uma visão integrada da resposta à emergência e da proteção da saúde dos operacionais”. Dado o “interesse manifestado”, a ESSUA adianta ainda na nota que já se “perspetiva” uma segunda edição. A missão passa por “unir a ciência, a formação e a comunidade no serviço à segurança e à saúde pública”. A sessão de abertura contou ainda com a presença de representantes institucionais e estudantis e com a atuação da tuna da ESSUA. Participaram ainda na iniciativa os “operacionais dos Bombeiros Novos e dos Bombeiros Velhos de Aveiro”, entre outros agentes da região.
Em 2024 editaram-se menos livros e o preço aumentou face a 2023
No relatório anual estatístico de Cultura de 2024, o INE explica que os dados em relação ao mercado livreiro são provisórios, mas demonstram que os 11.615 livros editados representam o segundo valor mais baixo em cinco anos. O INE faz uma comparação do mercado livreiro entre 2020 e 2024, indicando que em 2020, ano marcado pela pandemia da covid-19, foram editados 10.279 livros. Nos anos seguintes, o número de livros impressos foi subindo gradualmente - 12.302 livros em 2021, 13.157 em 2022 e 13.557 em 2023 -, registando-se no ano passado 11.615 obras impressas. Estes dados têm por base a atribuição do número de depósito legal, da Biblioteca Nacional de Portugal. Do total de livros impressos editados no ano passado, 87% foram primeiras edições e os restantes 13% reedições. Em Portugal, a literatura dominou a tipologia de livros editados em 2024 (67,4%), seguindo-se as denominadas “obras de referência”, como dicionários e enciclopédias (4,9%), e os manuais escolares (4,1%). Em 2024, publicaram-se obras de 9.484 autores, o que representa uma diminuição de 6,5% face ao ano anterior. Os livros foram o terceiro bem cultural mais exportado por Portugal em 2024, representando 7,3% do total de exportações. Segundo o INE, as exportações de bens culturais atingiram 244,8 milhões de euros em 2024, com um aumento de 6,6% em relação ao ano anterior, e os livros foram o terceiro produto mais exportado (7,3%), logo a seguir aos artigos de joalharia (39,2%) e aos bens de artesanato (36,8% do total). Quando às importações, o valor total atingiu 513,7 milhões de euros, numa ligeira diminuição de 0,8% face a 2023. Nesta área, os bens culturais mais importados foram os artigos de joalharia (34,3% do total), os livros (15,8%) e os “bens de audiovisual e média interativa” (13,3%).
Mau tempo afundou barco Moliceiro que estava atracado na Costa Nova
“Durante a madrugada, tivemos vento do quadrante sudoeste, conjugado com a maré vazante e a chuva inundou de água o moliceiro que naufragou”, disse à Lusa Paulo Ramalheira, presidente do CVCN. O responsável referiu ainda que a embarcação, que pertence a um particular, estava temporariamente atracada no porto de abrigo do CVCN. Paulo Ramalheira explicou que, neste momento, o moliceiro “encontra-se completamente debaixo de água”, mas, aparentemente, não tem danos estruturais. Os responsáveis do CVCN vão durante a maré enchente, da parte da tarde, tentar retirar o moliceiro, que, entretanto, se encaixou entre o fundo e o pontão quebra-mar, e colocar a embarcação a flutuar. Este acidente ocorreu no dia em que a UNESCO anunciou a inscrição do barco Moliceiro na Lista de Património Imaterial em Necessidade de Salvaguarda Urgente daquele organismo. A arte da carpintaria naval da região de Aveiro, traduzida nos barcos moliceiros, foi hoje inscrita na lista de património imaterial em necessidade de salvaguarda urgente da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. A decisão foi tomada durante a 20.ª sessão do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, a decorrer até sábado em Nova Deli, na Índia.
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