Biblioteca da Gafanha da Nazaré abre portas à comunidade na próxima terça-feira
A Gafanha da Nazaré, em Ílhavo, vai ganhar uma biblioteca, a partir da próxima terça-feira, 11 de março, no espaço renovado da Fábrica das Ideias. Até sexta-feira haverá ainda um programa especial de atividades.
Com a abertura deste espaço, de acordo com uma nota de imprensa enviada à Ria, o Município de Ílhavo pretende devolver à Gafanha da Nazaré “uma valência que já teve anteriormente, estendendo a esta cidade a aposta que já tem vindo a realizar na Biblioteca Municipal de Ílhavo, na promoção das diversas literacias junto da comunidade”. “Desde maio de 2024, o Município de Ílhavo já disponibiliza as habituais valências de biblioteca no Convés da Fábrica das Ideias, mas a partir de terça-feira, a Biblioteca abre as portas num espaço dedicado e renovado, em frente ao Centro de Saúde da Gafanha da Nazaré”, lê-se.
A Biblioteca da Gafanha da Nazaré disponibilizará os habituais serviços de empréstimo domiciliários de livros, jogos, DVD e CD; possibilitará a consulta de jornais diários e permitirá o acesso ao Press Reader, uma plataforma digital de acesso a mais de 7000 jornais e revistas do Mundo inteiro. O local estará equipado com computadores e wi-fi, para utilização gratuita. As portas estarão abertas de terça a sexta-feira, das 10h00 às 13h00 horas e das 14h00 às 18h00.
A autarquia refere ainda na nota que, “regularmente”, decorrerão iniciativas como “Ferramentas Web para Todos” e “História do Dia…”. “A primeira visa promover a aquisição de competências digitais, a navegação segura na internet e a utilização de serviços online, sendo dirigida ao público adulto e sénior”, explica. As ações são gratuitas e realizadas quinzenalmente, às terças-feiras, das 14h30 às 16h00, mediante inscrição. Com sessões semanais, gratuitas, às quintas-feiras, das 17h30 às 18h00, a “História do Dia....” é especialmente dirigida a famílias com crianças a partir dos dois anos. As inscrições para as atividades devem ser feitas através do email [email protected] ou do número de telefone 234 321 103.
A partir de terça-feira, 11 de março, haverá ainda uma programação especial de abertura, com um conjunto de ações dirigidas ao público escolar, seniores e população em geral, dando a conhecer as atividades e os serviços disponíveis. Para o público em geral, no dia 11 de março, às 18h00, está previsto um momento cultural com a Casa do Povo da Gafanha da Nazaré. No dia seguinte, 12 março, às 14h30, realiza-se uma sessão de “Maré de Jogos” e, às 16h00, “Quarta às Quatro”, para o público jovem.
No dia 13 de março, há “História do Dia... de tirar o chapéu!”, para crianças a partir dos dois anos acompanhadas por um adulto. Por fim, a 14 de março, durante todo o dia, realiza-se um “Workshop Maker – Juntos Fazemos!”, para todo público; às 17h30 há uma sessão de “Por Falar em Cresc(S)er: “Medos e Fobias”, dirigida a pais e educadores, dinamizada por Clara Rocha do, GAF (Gabinete de Apoio à Família), e Patrícia Pereira, da EMACE (Equipa Multidisciplinar de Apoio à Comunidade Educativa).
Recorde-se que na próxima terça-feira, 11 de março, assinala-se também o Dia da Rede Nacional das Bibliotecas Públicas.
Recomendações
Santa Maria da Feira tem candidaturas abertas para a exploração de “220 espaços” na Viagem Medieval
No total, de acordo com uma nota de imprensa, serão cerca de “220 espaços a atribuir, após um criterioso processo de avaliação das diferentes candidaturas”. “O rigor e a qualidade dos produtos característicos da época medieval e dos ofícios recriados serão, mais uma vez, valorizados no processo de seleção das propostas apresentadas”, lê-se. Até 16 de março, podem candidatar-se à Feira Franca artesãos de todo o país e do estrangeiro, que pretendam promover e comercializar artigos de produção própria, mas também mercadores e místicos que apresentem produtos e experiências enquadrados na época medieval, contribuindo de forma determinante para a recriação do comércio e dos ofícios medievais, e promoção do artesanato nacional e internacional. Também os regatões podem candidatar-se à Viagem Medieval para demonstrações de fabrico e venda de produtos alimentares característicos da Idade Média, dinamizando espaços de pequeno comércio de bens alimentares no recinto. Até 23 de março, decorre o período de candidaturas para a área alimentar das tabernas, composta por 18 espaços dedicados à gastronomia da época medieval, que serão atribuídos exclusivamente ao movimento associativo local. Na passada quinta-feira, 6 de março, foram ainda lançadas as candidaturas para os dois restaurantes do recinto, que completam as duas áreas alimentares do evento, consideradas zonas privilegiadas de encontro, convívio e partilha, que proporcionam experiências gastronómicas memoráveis, marcadas pelos saberes e sabores medievais. Os regulamentos encontram-se disponíveis no site oficial do evento, em www.viagemmedieval.com. Recorde-se que D. Afonso V será a figura central da 28.ª edição da Viagem Medieval, rei que entrou para a história com o cognome de O Africano por ter conquistado as praças de Alcácer Ceguer, Anafé, Arzila e Tânger, no Norte de África. Foi também este rei que criou o Condado da Feira, concedendo título a Rui Pereira, Senhor da Terra de Santa Maria e de seu Castelo. Foi no princípio deste reinado, ainda no tempo de Fernão Pereira, pai de Rui Pereira, que se realizaram importantes obras no Castelo da Feira que o transformaram em residência apalaçada, adquirindo uma configuração aproximada à da atualidade. A governação de D. Afonso V foi longa, marcada por conquistas, conflitos de sucessão e intrigas sucessivas que vão inspirar 12 dias de animação e recriações históricas, numa edição especial que apela à identidade feirense pela expressiva componente de história local que contempla. Organizada pela Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, empresa municipal Feira Viva e Federação das Coletividades de Cultura e Recreio do Concelho, a XXVIII Viagem Medieval em Terra de Santa Maria realiza-se de 30 de julho a 10 de agosto, no centro histórico de Santa Maria da Feira.
LIVRE Aveiro está contra o Plano de Gestão Florestal do Pinhal de Ovar
Numa nota de imprensa enviada à Ria, o partido defende que o Pinhal de Ovar “é uma das mais importantes manchas florestais públicas do país”, protegendo a região do avanço do nível do mar. O LIVRE recorda ainda que esta é uma das “zonas com maior risco de desaparecer ao longo dos anos”. “No novo Plano de Gestão Florestal, a área total proposta para abate representa cerca de 511 campos de futebol, numa média de 30 por ano”, enumera. O partido avança ainda que os cortes “estão a decorrer a um ritmo acelerado, com áreas contínuas já completamente arrasadas e com abate de árvores saudáveis”. “As consequências mais significativas destes cortes têm sido a destruição do sub-coberto e o rápido crescimento de acácias, uma planta invasora que está a modificar a paisagem e os solos”, lê-se. Na nota, o LIVRE recorda ainda que, no ano passado, apresentou na Assembleia da República o Projeto de Resolução que “Recomenda a proteção e a valorização do Perímetro Florestal das dunas de Ovar”, de modo a defender e reflorestar o pinhal de Ovar com espécies nativas. “Infelizmente, a medida foi rejeitada, com apenas o LIVRE, o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista Português e o Pessoas–Animais–Natureza a votar favoravelmente”, esclarece. O LIVRE Aveiro diz ainda que o grupo de proteção +Pinhal lançou uma petição “Vamos Salvar a Floresta de Ovar!”, com a qual o partido se solidariza.
Encenação da Via Sacra em Ílhavo conta com “cerca de 50 participantes da comunidade local”
Segundo uma nota de imprensa enviada à Ria, a representação envolve “cerca de 50 participantes da comunidade local e conta com o acompanhamento musical da Banda dos Bombeiros Voluntários de Ílhavo – Música Nova, proporcionando um momento de introspeção, partilha e vivência comunitária em tempo de Quaresma”. O evento realiza-se pela sétima vez, tendo sido apresentado pela primeira vez há 27 anos, no exterior da Igreja Matriz. “Após um interregno desde 2019 devido à pandemia, a encenação regressa ao interior da Igreja, onde o espaço será totalmente transformado com cenografia e adereços que recriam a atmosfera da época”, explica. A Encenação da Via Sacra conta com o apoio do Município de Ílhavo.
PR concede Alto Patrocínio a conferência internacional organizada em Santa Maria da Feira
A realizar entre 2 e 4 de abril, na Biblioteca Municipal, este encontro científico vai reunir representantes das cidades criativas UNESCO de todo o mundo, comunidade científica, nutricionistas, chefs, professores, alunos e comunidade local num intenso debate em torno da gastronomia e consumo sustentável. Numa nota de imprensa enviada à Ria, a autarquia realça que o Presidente ao conceder a chancela de Alto Patrocínio pretende “promover, incentivar e mobilizar o país e os cidadãos para os desafios e as oportunidades que se colocam a Portugal”. “Esta chancela, que é também um relevante contributo para a concretização de ideias que tenham em vista o desenvolvimento nacional, representa um honroso incentivo e uma responsabilização acrescida na organização deste encontro internacional, que integra o plano de ações da candidatura de Santa Maria da Feira à Rede de Cidades Criativas da UNESCO para a área da Gastronomia, aprovada a 8 de novembro de 2021, data de atribuição da única designação “Cidade Criativa da Gastronomia UNESCO” em Portugal ao território feirense”, continua. A conferência científica internacional “Food 4 Thought” foi apresentada pela primeira vez na Tailândia, em maio de 2024, no âmbito da conferência anual das Cidades Criativas da Gastronomia UNESCO, onde acolheu inúmeros elogios e imediata demonstração de interesse por parte de vários parceiros, que marcarão presença neste encontro. Ao longo de três dias, entre 2 e 4 de abril, os cerca de 200 participantes vão dialogar sobre o papel da cultura e da criatividade nas dicotomias do património gastronómico local/global, conservação, equidade, sustentabilidade e desenvolvimento. O programa da conferência foi desenhado em parceria com a Faculdade de Ciências da Nutrição da Universidade do Porto em torno de quatro temas centrais – Alterações Demográficas e Agricultura; Consumo Sustentável; Saúde e Bem-Estar; e Conhecimento Científico e Criatividade na Gastronomia – e integra o lançamento do filme documental “O Pão Doce de Santa Maria da Feira”, centrado na história da genuína Fogaça da Feira, produto com Indicação Geográfica Protegida e símbolo votivo da secular Festa das Fogaceiras. A estreia do projeto artístico “temperART”, resultante de uma chamada internacional para promover o diálogo e o entrecruzamento da gastronomia com as artes performativas, digitais, media arts, robótica e tecnologias, bem como a apresentação dos resultados do “Programa de Alimentação Saudável nas Escolas”, um dos compromissos do plano nacional de ações proposto Município de Santa Maria da Feira e aprovado pela UNESCO, são outros momentos de relevo desta conferência. Refira-se que a candidatura aprovada pela UNESCO para a adesão de Santa Maria da Feira à Rede de Cidades Criativas na área da Gastronomia assenta em seis eixos estratégicos: educação alimentar e nutricional; investigação do património gastronómico; formação e capacitação de profissionais e amadores; fomento de parcerias entre diferentes áreas criativas; cooperação em eventos e intercâmbios internacionais; e comunicação e sensibilização. O programa da conferência encontra-se disponível aqui. Para mais informações, os interessados devem contactar a Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira, através do telefone 256 377 030 ou email [email protected].
Últimas
Alberto Souto de Miranda sugere uma “Rede Municipal de Passeios” em Aveiro
Na publicação, o socialista escreve que “todos nós somos peões” e que “as pessoas devem estar no centro das políticas de mobilidade”. “Temos de caminhar mais e com muito maior segurança. Os nossos passeios estão sempre com buracos e há arruamentos perigosos em todas as freguesias, sem qualquer passeio”, realça. Como solução, Alberto Souto de Miranda sugere três propostas. Uma primeira que passa por aplicar uma “Estratégia Municipal para Caminhar em Segurança” sustentando que andar em segurança é “muito importante para a saúde física de cada um, é barato e induz à sociabilidade, descarbonização e à sustentabilidade para todos”; uma segunda que consiste na aplicação de um “Piquete Municipal de Reparação da Calçada Portuguesa” realçando que no centro histórico a calçada à portuguesa “deve ser preservada e valorizada” e que “isso pode ser feito através da formação de um piquete especializado e de uma fotografia que qualquer munícipe pode enviar do telemóvel para esse piquete” e uma terceira através da concretização de uma “Rede Municipal de Passeios”. “Fora do centro histórico a calçada à portuguesa pode ser substituída por outras opções técnicas de muito menor custo e muito mais rápida construção (por exemplo macadame betuminoso, resinas antiderrapantes ou gravilha), tal como nas ciclovias. Esta opção permitirá ter passeios em longas distâncias, nos eixos viários perigosos e em todas as freguesias”, explica. O candidato do PS avança ainda que esta rede seria construída de forma “faseada”. “Deverá ser uma rede pedonal contínua, segura e confortável, ausente de barreiras arquitetónicas e urbanísticas e com mobiliário urbano que permita o descanso para crianças e idosos. A rede poderá ser urbana e não urbana, intermodal, articulada com a rede ciclável e a demais oferta de transportes e responder às necessidades dos peões”, atenta. A proposta pode ser consultada na íntegra aqui.
Rua de Viseu cortada ao trânsito a partir de segunda-feira, dia 10
Em nota enviada às redações, a Câmara Municipal de Aveiro dá conta que durante 15 dias, a partir de dia 10 de março, a Rua de Viseu estará fechada ao trânsito, no troço compreendido entre a Rua Almirante Cândido dos Reis e a Avenida da Força Aérea. O motivo é construção de uma nova rotunda, “a poente do ‘túnel de Esgueira’”. A circulação no túnel continuará a ser possível, mas sem acesso direto à Avenida Dr. Lourenço Peixinho. O municipio alerta ainda os “automobilistas que utilizem o túnel da Rua de Viseu para entrar e sair da zona mais central da Cidade” que devem utilizar em alternativa o percurso via Avenida da Força Aérea, Rua de Sá e Rua Almirante Cândido dos Reis. A empreitada deverá estar completa no final do mês de março. A obra, em execução pela empresa Manuel Francisco de Almeida S.A., é um investimento de 1,5 milhões de euros por parte do município e visa a requalificação urbana na envolvente do túnel, bem como a recuperação dos painéis cerâmicos localizados nas paredes do túnel e a instalação de um busto do presidente Girão Pereira nas imediações da empreitada.
Fábrica Centro de Ciência Viva vai acolher conferência de ‘Matemática, Arte e Criatividade’
A sessão contará com a elaboração de três painéis, que abordarão temas como os motivos matemáticos nos azulejos portugueses, a matemática na arte têxtil e a arte na era da Inteligência Artificial. A iniciativa irá contar ainda com a apresentação do livro ‘Aprender’, de Nuno Crato, antigo ministro da Educação e Ciência e professor catedrático no Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa (ISEG). A abertura contará com a participação de Pedro Pombo, diretor da FCCVA, Alexandre Almeida, diretor do DMat e de Jorge Nuno Silva, presidente da associação LUDUS. A iniciativa é de participação gratuita mas carece de inscrição prévia.
Isabel Alarcão: “Nunca senti nenhum problema por ser mulher”
Em 52 anos de história, a UA contou, até ao momento, com duas mulheres na liderança da Reitoria. Isabel Alarcão ocupou o cargo durante seis meses, a propósito da nomeação do reitor Júlio Pedrosa para ministro da Educação em julho de 2001, tendo organizado as eleições que deram a vitória à segunda reitora – e última, por enquanto – Maria Helena Nazaré. À Ria, Isabel Alarcão conta que nunca teve como objetivo ser reitora. “A primeira noite em que soube que tinha de assumir não preguei olho”, partilha a professora. A ideia foi recebida de forma natural pelos colegas docentes e a reação foi globalmente, “muito boa”. “Os alunos, curiosamente, andavam encantados. Gostaram imenso da ideia e (…) acho que era por eu ser mulher”, confidencia a professora. Além de primeira reitora da UA, Isabel Alarcão foi na verdade a primeira reitora de uma universidade pública em Portugal. “Para mim acho que foi mais significativo ser reitora da Universidade de Aveiro do que ser a primeira reitora. Na altura, as pessoas até nem falaram muito nisso e eu própria também não liguei muito”, admite a professora. Isabel nasceu, cresceu e estudou em Coimbra. Seguiu o curso de Filologia Germânica e recorda que tinha muitas colegas mulheres. “O meu curso era em Letras e havia poucos homens”, nota Isabel. “Se nós passássemos da Faculdade de Letras para a Faculdade de Direito (…) era o contrário: havia muito mais rapazes do que raparigas (…) dependia muito dos cursos”, repara. Atualmente vê a chegada de mais raparigas ao Ensino Superior como uma evolução. “Eu fiz a Universidade nos anos 60, nessa altura raparigas e engenheiras, se calhar nem havia. Em alguns cursos era capaz de nem haver, noutros contavam-se pelos dedos”, aponta. Sobre se sente que ainda há resistência em ver mulheres em papéis de liderança, Isabel Alarcão acredita que embora se tenha feito um caminho “muito positivo” ainda há uma tendência para os homens assumirem papéis de liderança. “Eu acho que mais nas empresas, propriamente dito, do que na vida académica”, repara. Depois de Maria Helena Nazaré, a reitoria não voltou a ser assumida por nenhuma mulher, mas Isabel Alarcão repara que “não se pode tirar daí a ilação de que não houve mais reitoras por não haver mulheres capazes”. No ano de 2024, em Portugal, as mulheres representavam “48% da população ativa”, sendo que nas empresas a percentagem de emprego feminino era de 42%. O número desce ainda mais quando se analisam cargos de liderança. “Nas funções de direção geral, 16,9% são exercidas por mulheres e apenas 16,4% dos lugares nos conselhos de administração são ocupados por mulheres”, lê-se no estudo ‘Presença feminina nas empresas em Portugal’, divulgado pela D&B no passado dia 6 de março. Apesar desta realidade, Isabel Alarcão confidencia à Ria que “nunca sentiu nenhum problema por ser mulher”, mas partilha uma história que considera caricata e que teve como pano de fundo o facto de ser mulher. “Na altura, só o reitor e os vice-reitores é que presidiam aos júris de doutoramento e às provas de agregação (…) um dia, eu estava a coordenar o júri, em sessão pública, e já o tinha feito não sei quantas vezes (…) e, quando um dos professores que ia arguir a tese começou a falar, disse que tinha estranhado muito, mas com aspeto positivo, o facto do júri ser presidido por uma mulher”, conta a professora que, com a distância do tempo, revela ter feito um “esforço enorme” para não se rir. “Ainda havia alguém que se admirava por uma mulher poder presidir um júri de doutoramento (…) mas como digo: era um, num universo muito grande”, nota a professora. Eleições feitas, tomou posse em janeiro de 2002 Maria Helena Nazaré. Assumiu a reitoria durante oito anos, tendo terminado a sua missão já no ano de 2010. Estudou Física na Universidade de Lisboa e fez um doutoramento em Londres. Chegou à UA pela mão do professor Veiga Simão. “Eu era docente em Moçambique, na Universidade Eduardo Mondlane, porque o meu marido tinha sido mobilizado quando estava na guerra (…) e o professor Veiga Simão, na altura, andou pelas universidades a tentar recrutar pessoal docente para as novas universidades no Minho, em Aveiro, etc”, conta Helena Nazaré. “Eu apareci, ou tive acesso à universidade, numa altura negra para Portugal”, avalia a professora Helena Nazaré. “Estávamos na altura da Guerra Colonial, portanto, muitos colegas meus e muitos amigos da mesma idade ou não se formaram ou foram mobilizados e vieram traumatizados”, partilha. Este contexto, conta Helena Nazaré, resultou num menor “contingente de homens que estava habitualmente disponível para entrar nas filas de Ensino Superior”. “E isso teve como consequência (…) as mulheres ocuparem esses lugares”, relata. No momento das eleições para a reitoria foi motivada pelos colegas a assumir a missão. “Foi-me sugerido por vários colegas e outros professores que estava na altura de eu me candidatar à reitoria”, recorda Helena Nazaré. Antes da reitoria, a professora tinha já assumido o cargo de diretora do Departamento de Física da UA e de coordenadora da Unidade de Investigação Física de Semicondutores em Camadas, Optoelectrónica e Sistemas Desordenados. A par do apoio dos colegas, Helena Nazaré confidencia que foi o apoio familiar que permitiu desenvolver o trabalho como reitora durante oito anos. “Não vale a pena estar a dourar a pílula, não sou a supermulher e, portanto, se não fosse o apoio familiar, se calhar nem sequer me teria conseguido doutorar”, partilha a professora. “Eu tive muita sorte, porque o meu marido sempre foi, e ainda hoje é, o meu braço direito, o meu braço esquerdo, as pernas, tudo”, revela. “Não fosse esse apoio familiar, eu nunca teria conseguido fazer o que fiz”, reitera. A família via com orgulho o papel que desempenhava, embora por vezes mostrasse preocupação relativamente à carga de trabalho. “São sete dias por semana, semana após semana”, enfatiza. Dos desafios enquanto reitora, sente que nenhum adveio da condição de ter nascido mulher. “Houve desafios que tiveram de ser enfrentados, qualquer que fosse o género da pessoa que estava à frente da universidade”, revela. Cortes no orçamento, a questão das propinas, a adaptação dos currículos ao processo de Bolonha e a adaptação dos estatutos da Universidade [de Aveiro] ao Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior (RJIES), que se encontra atualmente em processo de revisão, foram alguns desses desafios. Em nenhum desses momentos, afirma Helena Nazaré, se sentiu desvalorizada pelo facto de ser mulher. “Nunca senti isso dentro da Universidade”, reforça. Apesar disso, sente que o caminho para a paridade se está a fazer de forma lenta, deixando um apelo e incentivo “a todas as mulheres e a todos os homens, no sentido de que se caminhe mais rapidamente para a paridade”. “Faz-nos falta. Não é uma questão de as mulheres mandarem mais do que homens ou de os homens mandarem mais do que mulheres: é que, na situação em que nós estamos atualmente no mundo, é um disparate desperdiçarmos todos os esforços, toda a capacidade que existe no país. Se homens e mulheres trabalharem igualmente e puderem desempenhar todo o tipo de tarefas e que se vejam motivados para o fazer, o país cresce. É um disparate desperdiçarmos essa fortuna que nós temos”, reforça a professora. Em 2024, o ensino superior público em Portugal tinha, segundo dados da PORDATA,32.749 docentes, 47% dos quais mulheres. Na UA, no mesmo ano, existiam 1946 professores e investigadores. Desse universo, segundo dados enviados pela reitoria, cerca de 59% são mulheres. A percentagem é dez pontos maior quando analisamos a distribuição de género no Técnicos de Apoio à Gestão (TAG) – 69% são mulheres. Estão distribuídos pelos 16 departamentos que constituem a Universidade de Aveiro. Destes 16, apenas quatro têm uma mulher como diretora. Assim, apesar do número de pessoal docente do género feminino na UA ser globalmente acima dos 50%, apenas 25% dos diretores de departamentos são mulheres. Neste caso, são Maria de Fátima Lopes Alves, diretora do Departamento do Ambiente e Ordenamento, Ana Veloso, diretora do Departamento de Comunicação e Arte, Anabela Botelho Veloso, diretora do Departamento de Economia, Gestão, Engenharia Industrial e Turismo e Carla Alexandra de Figueiredo Patinha, diretora do Departamento de Geociências. Das quatro escolas da UA, Escola Superior de Design, Gestão e Tecnologias da Produção Aveiro Norte (ESAN), Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro (ESUA), Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda (ESTGA) e Instituto Superior de Contabilidade e Administração (ISCA), nenhuma delas conta com uma mulher no cargo da direção. Ainda assim, dados fornecidos pela reitoria mostram que desde 2018 no ensino politécnico a assimetria que se verificava relativamente ao número de docentes mulheres em 2018 foi revertida. “Havia uma diferença de dez pontos percentuais favoráveis aos homens”, realidade que em 2024 já não se verificava, existindo “apenas dois pontos percentuais de diferença, favoráveis às mulheres”, conclui a reitoria. Relativamente aos professores associados e catedráticos, no subsistema politécnico, “as conclusões são semelhantes”. Os professores catedráticos universitários na área das engenharias, apesar de existirem “mais homens do que mulheres, em 2018 a percentagem de mulheres que eram associadas ou catedráticas era superior à percentagem de homens (46% vs 38%)”. Em 2024, os valores inverteram-se, registando-se uma diferença de apenas “um ponto percentual, favorável aos homens” lê-se nos dados cedidos pela reitoria. “Nas ciências sociais, artes e humanidades, também houve atenuação da assimetria”. Em 2018 existiam 28% de docentes do gênero masculino associados e catedráticos e, na mesma situação, 23% do gênero feminino. “Em 2024 a diferença era de apenas dois pontos (45% vs. 43%)”, lê-se. Relativamente aos cargos de professores catedráticos, a reitoria assume que ainda há “caminho a percorrer”. “Quando se compara a fração de professores catedráticos, no universo dos homens, com a fração de professoras catedráticas, no universo das mulheres, a balança inclina-se para o lado dos homens”, lê-se nas conclusões. “Contudo, a diferença está a diminuir: em 2018 era de 10 pontos percentuais a favor dos homens (14% vs. 4%), em 2024 registou-se um aumento de cinco pontos percentuais relativamente às mulheres, tendo os homens registado a mesma percentagem (14% vs 9%). Alexandra Queirós, vice-reitora com a pasta das políticas para a cultura e a vida nos campi entrou na reitoria em 2018, ano da elaboração do Plano de Igualdade de Género da Universidade de Aveiro. O seu percurso académico e profissional foi traçado na área das tecnologias da saúde, e afirma que a nível pessoal “nunca sentiu entraves”, contudo admite saber que “podem acontecer e são reais”. “Comecei como professora adjunta, depois passei a professora coordenadora, nunca senti, efetivamente, que o facto de ser mulher poderia - ou era - um entrave, ou que foi mais difícil para mim chegar onde cheguei por ser mulher, mesmo estando na área das tecnologias”, admite Alexandra Queirós. Um dos principais entraves que identifica é mesmo a “conciliação da vida profissional com a vida pessoal e familiar”. Esta realidade é também demonstrada em estudos que mostram que “grande parte do trabalho não-remunerado (tarefas domésticas e de cuidado)” continuam a recair sobre as mulheres. Em 2022, o Boletim Estatístico para a Igualdade de Género em Portugaldava conta, precisamente, de que “a responsabilidade das tarefas domésticas continua a recair sobre as mulheres”. Alexandra Queirós refere que esta conciliação entre a vida profissional e pessoal é “uma questão cultural que está a mudar aos poucos” e assume que “estes planos que se vão construindo (…) tem um contributo muito importante”. “Nós [UA] agora já somos certificados pela norma de conciliação da vida familiar e profissional”, sublinha. O objetivo do Plano de Igualdade de Género da UA é mesmo a de se construir “uma comunidade que siga os princípios da igualdade e que não discrimine ninguém. É óbvio que tem um traço muito vincado no que diz respeito a esta questão da igualdade de género, por todos os motivos, porque há orientações (…) que nos obrigam a ter este plano, mas aqui não foi uma questão até de obrigação, foi uma questão da própria Universidade que sentiu que era necessário ter esse plano que queremos [continuar a] desenvolver e a atualizar”, refere a vice-reitora. Nas 20 unidades de investigação existentes na UA, sete contam com a coordenação por parte de uma mulher, o que equivale a uma percentagem de 35%. Mas se há mais estudantes do género feminino a entrar no ensino superior – inclusive na Universidade de Aveiro – por que razão as mulheres continuam a não estar representadas proporcionalmente em cargos de liderança? Quem nos responde a esta questão é Teresa Carvalho, uma das sete mulheres que coordenam uma unidade de investigação na UA. É investigadora e coordenadora do Centro de Investigação de Políticas de Ensino Superior (CIPES), professora catedrática no Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território (DSCPT) e a coordenadora responsável pelo Plano de Igualdade de Género da Universidade de Aveiro. “Há vários fatores que justificam”, começa por revelar a investigadora. Agrega-os em fatores sociais e culturais, fatores individuais e fatores relativos ao funcionamento das instituições. Teresa Carvalho sublinha que continua a existir uma sociedade patriarcal e, em sequência disso, há uma naturalização da “associação que nós fazemos entre poder e masculinidade”. “O próprio funcionamento da instituição muitas vezes leva a esta reprodução e a uma menor participação das mulheres”, destaca Teresa. Em 2018 a Universidade criou o Plano de Igualdade de Género. “De facto, a Universidade de Aveiro tinha alguns aspetos bastante positivos: nós fomos a primeira universidade em Portugal a ter uma mulher reitora, o que já indicia, de facto, uma certa abertura para as questões da inclusão e da igualdade de género”, alerta a professora Teresa Carvalho. Foram identificadas, contudo, “duas grandes tendências: uma, que a literatura identifica como a segregação horizontal” que desagua “no outro fenómeno (…) que é o fenómeno da segregação vertical”, identifica a investigadora. A segregação horizontal verifica-se, segundo Teresa Carvalho, nas “escolhas em termos das áreas de investigação e de ensino, que continuam a ser muito marcadas pelo género”, identifica a professora. As raparigas tendem a escolher áreas “mais próximas da noção de cuidar e (…) mais próximas da esfera privada (…) enquanto as áreas tecnológicas e das engenharias estão mais associadas ao masculino e, portanto, os rapazes tendem também a escolher mais”, aponta Teresa Carvalho. Esta escolha reflete-se depois em assimetrias em cargos de tomada de decisão, a tal segregação vertical. Com o Plano de Igualdade de Género, o “grande objetivo teve a ver exatamente com essa mudança, no sentido de estimular uma maior participação das mulheres nos processos de tomada de decisão na instituição”, revela Teresa Carvalho. Na academia, Joana Regadas, presidente da direção da Associação Académica da Universidade de Aveiro (AAUAv) parece ter conseguido quebrar o padrão. Em 2024 a Universidade contava com 16 899 estudantes, distribuídos pelos vários ciclos e incluindo os estudantes de cursos de Especialização e de Cursos Técnicos Superior Profissionais (TeSP). Deste universo, 51% pertencem ao género feminino e apenas nos TeSP se verifica uma percentagem abaixo dos 50% referentes a estudantes mulheres. Pela primeira vez em 19 anos, a AAUAv volta a ter uma mulher sentada à cadeira da presidência da direção e na estrutura, avança Joana, 53% dos núcleos são liderados por mulheres. As equipas da Mesa da Assembleia Geral e do Conselho Fiscal e de Jurisdição são compostas por 15 estudantes, dez das quais são estudantes do género feminino (66,66%). A Direção, para além de Joana, é composta por 24 estudantes, sendo 12 do género feminino. Estes números, revela Joana, não foram um “esforço impositivo”. “Foi algo que aconteceu de forma natural e acho que isto é o melhor que podemos ver”, repara. “Temos uma equipa muito boa, (…) ser mulher ou não ser mulher não é um facto: não é dentro destas portas que sinto estas diferenças”, afirma Joana Regadas. As diferenças são sentidas “lá fora”. “Por ser mulher acho que as expectativas são um bocadinho diferentes do que são as dos homens. É cultural. É a mesma coisa que eu sinto (…) quando vou às aulas: é esperado que a minha organização e o meu desempenho académico sejam diferentes do que o de um rapaz”, admite a dirigente da AAUAv. Depois de tomar posse, Joana Regadas afirma que espera ser uma inspiração para outras estudantes. “Na altura, quando fui eleita, e também agora que tomei posse, recebo muitos comentários de mulheres que passam por mim, que se identificam e que ficam muito felizes por desmistificar isto que era, desde há 19 anos, uma casa que não era liderada por uma mulher”, refere. “Desde que entrei aqui [UA ] posso dizer (…) que os momentos em que me senti mais discriminada, sofri assédio e me senti mais desvalorizada, foi a partir do momento em que entrei para o associativismo, não foi fora dele”, continua Joana Regadas. Atualmente, a nível nacional o movimento académico tem apenas duas mulheres a liderar: Joana Regadas, por Aveiro e Ana Beatriz Calado, por Évora. “É importante celebrar o passado e marcar dias importantes para que não sejam esquecidas as referências e as lutas que foram feitas para se conseguir chegar à atualidade. Eu espero que chegue o dia em que o Dia Internacional da Mulher não seja celebrado só para relembrar as conquistas que foram feitas, para pedir mais e para alertar para as injustiças que ainda existem. Atualmente é ainda muito celebrado pelas duas coisas” colmata Joana Regadas.