Notícia Ria: Família Bóia questiona Plano para o Cais do Paraíso e avança para tribunal
A família Bóia, que ainda é proprietária de parte dos terrenos do Cais do Paraíso, veio a público criticar a Câmara Municipal de Aveiro (CMA) e a forma como foi conduzido o Plano de Pormenor daquela zona – que será amanhã discutido em reunião camarária. Num extenso comunicado enviado à Ria, António Paulo Bóia acusa o Executivo liderado por Ribau Esteves de dar “um alegado privilégio exclusivo a um só promotor”, ignorando os restantes proprietários, e de estar a desrespeitar um compromisso assumido há mais de 50 anos com a família.
Redação
Segundo António Paulo Bóia, o processo de elaboração do Plano de Pormenor decorreu sem qualquer consulta às partes envolvidas, apesar de tal ter sido prometido em Assembleia Municipal. A família garante que, desde 2017, apresentou vários projetos de construção para o seu terreno, tanto pedidos de informação prévia como projetos de licenciamento, mas todos foram indeferidos pela autarquia. António Paulo Bóia considera que essas recusas se explicam pela “obsessão” do presidente da Câmara em viabilizar o grande empreendimento imobiliário e hoteleiro previsto para a zona, com 12 andares.
A crítica central da família prende-se com aquilo que chamam de exclusividade: na sua visão, o plano permite apenas a um dos promotores construir um megaedifício, enquanto impede os restantes de desenvolver qualquer projeto. A contradição é, para António Paulo Bóia, evidente: em tempos, a revisão do plano urbano anterior foi justificada pela Câmara como forma de evitar “construção excessiva”; agora, argumenta, o Município apoia a realização de um projeto muito mais denso, com muitos pisos, mas apenas para um investidor. “Porque é que o outro promotor pode ter apartamentos neste plano e nós não?”, questiona, considerando a situação “inaceitável, incorreta e irregular”.
O comunicado sustenta ainda que o terreno da família está numa posição estratégica: fica entre o canal central e a frente principal do futuro edifício, o que faria com que qualquer construção dos Bóia limitasse as vistas da torre. “O motivo é só um, todos o perceberão: o nosso terreno está na linha de interseção direta com o canal, prejudicando as valiosas vistas do empreendimento”, aponta António Paulo Bóia, sublinhando que a família ocupa aquele espaço “há mais de 100 anos”.
Outro ponto de discórdia é a opção da Câmara por transformar o terreno da família num jardim público e, dessa forma, impedir a construção. Para os Bóia, a justificação não tem credibilidade, sobretudo depois da recente renovação do Rossio, onde foi praticamente eliminada a presença de árvores e áreas verdes. “Então o Rossio pode ser pavimentado, mas o nosso canto tem de ser jardim arborizado? É uma desculpa técnica, mal disfarçada”, escreve o representante da família.
A família recorda ainda um “compromisso de honra” assumido pelo Município em 1973. Nessa altura, a sua casa no Cais do Paraíso foi demolida para permitir a abertura da estrada da Barra. Como compensação, a Câmara terá assinado uma escritura que lhes concedia o direito de construir, “para sempre”, nos terrenos sobrantes. António Paulo Bóia afirma que esse acordo deve ser respeitado, não apenas como obrigação legal, mas também como dever moral da cidade para com a família. “Entendemos que este é um compromisso de honra de Aveiro. Se fosse convosco, o que sentiriam no nosso lugar?”, questiona.
Num tom mais pessoal, o comunicado lembra ainda o papel da Fábrica Bóia & Irmão na história da cidade: dezenas de empregos criados, formação de aprendizes, cedência de terrenos para obras públicas em Aveiro e Esgueira. “Nunca nos viram de Porches ou Ferraris, porque o investimento foi sempre na empresa e nos trabalhadores”, escreve António Paulo Bóia, lamentando o que poderá ser considerado uma “traição” por parte do Município.
O representante da família não deixa dúvidas quanto ao próximo passo: face ao que classifica como uma “obsessão autocrática” da Câmara, garante que a questão seguirá para tribunal.
A contestação da família surge poucos dias depois das declarações de Alberto Souto, candidato do PS à autarquia aveirense, que já tinha classificado o projeto como uma “história esquisita” com “perfume de lavagem de dinheiro”. A oposição socialista questiona a pressa do Executivo em aprovar o plano antes do final do mandato. Da direita à esquerda, seguiram-se vários comunicados e posições políticas dos diferentes candidatos à CMA contra a opção que está a ser seguida.
Já Ribau Esteves, em 2019, tinha admitido numa conferência na Universidade de Aveiro que estava a ser preparado um hotel de cinco estrelas “com muitos pisos” para a cidade, antecipando um projeto que hoje divide opiniões. Mas à data não existia nenhum instrumento legal aprovado que tornasse possível a construção de um edifício com essa dimensão, pelo que o autarca aveirense só podia estar a assumir que tal possibilidade viria mais tarde a ser aprovada em reunião camarária.
O Plano de Pormenor do Cais do Paraíso, que prevê a construção de um edifício de 12 andares junto ao canal central, terá amanha um dia decisivo com a realização de uma reunião camarária, a partir das 16h30, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Aveiro.
Comunicado na íntegra da família Bóia
“Aveiro tem um compromisso de honra de nos deixar edificar e o Município pretende faltar ao seu compromisso escriturado”, António Paulo Bóia
Na sequência do que tem vindo a público sobre a aprovação do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso, situação que prejudica fortemente os nossos direitos, resolvi esclarecer os aveirenses sobre a questão em apreço e a nossa posição.
Processo sem consulta às partes
Ao contrário do que foi referido e prometido pelo Sr. presidente da Câmara, em Assembleia Municipal convocada com ponto de ordem para o efeito, este processo de elaboração do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso decorreu sem consulta às partes proprietárias envolvidas, como democraticamente seria de esperar. Sem surpresa para nós, que conhecemos a obsessão do líder do Executivo neste projeto desde que, em 2018, teve conhecimento do plano imobiliário e de hotelaria apresentado pelos proprietários do terreno que pertenceu ao Bóia & Irmão e me comunicou tal desiderato. Tudo tem feito a partir de então para desenvolver o mesmo, portanto, com uma gestão de procedimentos absolutista nesse sentido.
Acerca da “zona de vazio urbano”, expressão recorrentemente utilizada pelo Executivo na defesa deste Plano de Pormenor, permitam-nos informar que não foi por falta de nossa iniciativa, pois desde 2017 que temos vindo a apresentar sucessivos projetos edificativos, seja através de pedidos de informação prévia, seja mesmo de projetos de licenciamento à construção, todos eles indeferidos pela autarquia, talvez porque afetavam o real objetivo presidencial.
Um alegado privilégio exclusivo a um só promotor
À revisão completa do Plano, desenvolvido pelo conceituado especialista recentemente falecido, o Arquiteto Nuno Portas, através do Polis nesta zona, foi argumentado pelo atual Executivo, no passado recente, como de “construção excessiva”. Na verdade, é agora substituída por um mega-empreendimento edificativo “monoparental”, o que, convenhamos, representa um paradoxo estratégico ao defendido pelo Executivo na alteração da política urbana no Cais do Paraíso. Segundo o atual PDM de Aveiro, o quarteirão está classificado como zona urbana tipo 1, dando primazia a zona residencial e de serviços. Até aqui tudo bem, o problema com a criação deste Plano de Pormenor é a exclusividade atribuída a um só proprietário de edificação na sua exclusiva área territorial, conforme pretendido, em detrimento de todos os outros proprietários. Este privilégio de exclusividade é, quanto a nós, inaceitável, incorreto e irregular porque não equitativo. Além disso, não se compreende, porque a nossa pretensão de edificação em nada colide com o projeto imobiliário e de turismo apresentado através da construção da torre estrela nos antigos terrenos do Bóia & irmão. A propósito, relembra-se aqui que o projeto prevê uma substância patrimonial, tanto em área de apartamentos como em aproximadamente área de quartos de hotel. Pergunta sacramental que se faz: porque é que o outro promotor pode ter apartamentos neste plano e nós não?
O nosso azar de lhe taparmos a vista
O motivo é só um! E todos o perceberão facilmente. O nosso terreno está geograficamente na linha de interseção direta entre a generalidade da frente dos 2 aros da torre-estrela e do majestoso ex-libris aveirense, o canal central, prejudicando as valiosas vistas do empreendimento. Tivemos azar porventura? Não! A verdade é que já lá estávamos há 100 anos e com uma promessa de perpetuidade do Executivo aveirense de ali construir, como mais à frente se explicará.
Fuga do jardim do Rossio
Além do que foi mencionado, nada justifica fazer um jardim naquele nosso canto, segundo o estabelecido no Plano de Pormenor do Cais do Paraíso. Todos nós o sabemos, muito menos o compreendemos e passo a explicar. Então o recém-renovado Rossio (esta sim, uma grande praça central de fruição pública), que se encontra globalmente desprovida de arvoredos e minimizado de zona verde, por opção definida exclusivamente por este Executivo, foi limitada, mas este cantinho dos Bóias já pode passar a jardim verde arborizado? Desculpa técnica, mal disfarçada, como se perceberá.
Temos, igualmente, um outro ponto em desfavor do que se pretende aprovar. Esteticamente, persiste ali um “patinho feio”, que a Câmara omite e empurra para uma resolução “um dia…”. Trata-se da empena de 4 pisos, de parede à vista para o centro da cidade, que desfavorece e muito todo o local. Esta situação ficaria resolvida de vez com a nossa construção. Com este PP, que nos condiciona, aquela parede ali ficará para sempre e desiludam-se aqueles que pensam vir a ser fácil qualquer negociação (se desde 2018 os interessados não o conseguiram…).
Direito de construir “para sempre”
Muitos aveirenses não saberão, mas a família Bóia tinha uma casa neste recanto, adquirida há cerca de 100 anos (de onde curiosamente o meu pai e irmãos, na sua juventude, se habilitavam até a atividades de banhos de acordo com as marés e o tempo, se este assim o permitisse). Foi com muita tristeza que teve de ser demolida em 1973, para permitir a ampliação da estrada da Barra e permanecer até aos nossos dias tal como todos nós hoje a conhecemos. Era uma obra vital para a cidade, concordamos, até porque o Rossio era então centro de muita atividade mas a perda foi sentimentalmente enorme como os aveirenses e restantes leitores poderão imaginar pela observação das fotos. Desse ato de acordo com o Município, resultou formalmente uma escritura notarial, em que nos foi concedido, em compensação, de boa fé e para todo o sempre o direito de construirmos nos terrenos sobrantes, em conjunto com uma parcela anexa, permutada pela câmara para o efeito.
Quanto a nós, entendemos que este é um compromisso de honra e uma obrigação moral de Aveiro e do seu Executivo para com a nossa família. Pensem os aveirenses: se fosse convosco a atual situação o que sentiriam no nosso lugar (traição, usurpação, etc.)?
Mágoa na dedicação a Aveiro
“Quem não se sente, não é filho de boa gente”, já diz o ditado. Permitam-me lamentar o desânimo que nos vai na alma. Os mais velhos sabem o quanto a família Bóia se dedicou a Aveiro, muito através do Bóia & Irmão, criando durante dezenas de anos muitos empregos diretos e indiretos, desenvolvendo formação qualificada a muitos (mas muitos) aprendizes da região na sua oficina-escola, cuja prática nos nobres ofícios metalúrgicos lhes permitia obter importante passaporte garantido para uma vida futura com trabalho. Sabem, não foram raras as vezes, o número de trabalhadores da empresa foi superior ao necessário. Mas havia famílias para meter pão na mesa e a oferta de oportunidades não era nada como agora! Corremos sempre esse risco e não nos arrependemos! Nunca nos viram de “Porches” ou “Ferraris”, pois a opção foi sempre de investimento na empresa e nos trabalhadores! Por isso, não se avançou com empreiteiros, nem o retorno à construção era o atual como todos sabemos.
Mas não foi só nessa matéria que valorizámos Aveiro. Já aqui foi referida a cedência de mobilidade rodoviária para a Gafanha e a Barra através do nosso terreno ao cais do paraíso, mas em Esgueira também aconteceu. Primeiro, ao concordarmos retalharem-nos com uma desadequada curva urbana um terreno para fazer o acesso desde o túnel ao centro de Esgueira, uma ligação fulcral no concelho e, mais recentemente, sobre o mesmo terreno para se poder fazer a nova e importante rotunda “Novus Plaza” com todo o risco de viabilização a permanecer na esfera da família Bóia, ao ficar com o terreno sobrante das permutas (relembra-se que a Câmara nunca conseguiu, em décadas, arranjar investidor que resolvesse a complexa situação naquele local).
Sempre que convidada, ou mesmo por iniciativa própria, a família Bóia sempre anuiu ou avançou com atividades de defesa e apoio ao progresso de Aveiro que se impunham, fossem elas de natureza associativa, religiosa, desportiva, cultural ou cívica. Não queremos retorno de nada disto, obviamente, até porque não são esses os nossos valores, apenas pretendemos que nos garantam o que é nosso por direito próprio e que, também, nos foi legalmente prometido.
Pseudo “Robin dos Bosques”
Vemos amiúde afirmações do Sr. Presidente que dão a ideia que existe uma necessidade imperiosa permanente de se fazer isto ou aquilo porque entende que Aveiro é que perde se tal não acontecer. Dá, para o efeito, a perceber que existem alegados favorecidos e privilegiados que devem sofrer pela mão “divina” da Câmara para se proceder a um eminente equilíbrio de harmonização pública. No nosso caso, releve-se, não se trata de tirar para dar a muitos e pobres, muito pelo contrário, é tudo dado a um só investidor com grande capacidade de investimento, em prejuízo dos outros.
Família Souto sempre no destino dos Bóias
Um facto curioso que se revela foi o “empurrão” dado então pelo Dr. Alberto Souto (avô) ao empresário Manuel Maria Pereira Bóia para que investisse numa oficina maior, pois acreditava nas suas capacidades técnicas de mecânica e conhecimento de desenho e projeto, conciliadas com a sua carreira de empreendedor empresarial (à data com uma oficina-automóvel na rua das Barcas). O episódio resulta de uma deslocação a Sever do Vouga (a umas minas em processo de falência), influenciada pelo amigo Dr. Alberto Souto (cuja verdadeira intenção já a levaria na manga, não fosse figura de reconhecida inteligência e visão) para fazer uma necessária peritagem e avaliação dos equipamentos industriais. O resultado, como imaginam, acabou numa aquisição massiva de máquinas e a transferência de muitos trabalhadores para o Bóia & Irmão em Aveiro. A necessidade de espaço motivava, pois, a procura por armazém maior, que viria a ser localizado na rua do Cais do Paraíso e aí desenvolver progresso durante décadas. Para conciliar a vida familiar com a profissional, a aquisição da casa geminada (nos terrenos hoje em causa) acabou por ser uma inevitabilidade.
Não deixa de ser uma ironia do destino, de facto, que 100 anos volvidos, possa vier a ser novamente a família Souto, através de dois netos candidatos às próximas eleições, novamente a ter preponderância no destino da família Bóia naquele quarteirão.
À Justiça o que é de Justiça
Dado o panorama e a obsessão autocrática do presidente do Executivo, que se traduz atualmente neste processo de aprovação do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso, por uma continuidade de decisões com atropelo aos nossos direitos construtivos, tornou-se inevitável o recurso aos meios judiciais, o que acontecerá rapidamente.
António Paulo Bóia
Recomendações
Firmino Ferreira elogia desempenho da ‘Aliança’, mas já se discute o futuro dentro do PSD-Aveiro
No passado domingo, 12 de outubro, Luís Souto de Miranda, candidato da ‘Aliança com Aveiro’ (PSD/CDS-PP/PPM) à Câmara de Aveiro, venceu as eleições autárquicas, mas perdeu a maioria para o partido, elegendo quatro vereadores face a outros quatro do PS e um do Chega. Em comparação com as autárquicas de 2021, a candidatura de Luís Souto viu a diferença para o Partido Socialista passar de 9.000 para 2.000 votos. Recorde-se que até agora o município era liderado por José Ribau Esteves, atual presidente da Câmara, que não se recandidatou por ter atingido o limite de mandatos. No que respeita às juntas de freguesia, onde até agora todas eram lideradas pela coligação, o resultado traduziu-se também em algumas perdas. A ‘Aliança’ perdeu a União de Freguesias de Glória e Vera Cruz, agora conquistada pelo Partido Socialista (PS), e deixou de ter maioria em três juntas do concelho: Esgueira, Eixo e Eirol e Aradas. Em declarações à Ria, Firmino Ferreira afirmou não estar surpreendido com o resultado eleitoral, reconhecendo que se tratava de “eleições autárquicas muito disputadas”. “Por isso, é que todos se empenharam até ao último dia para a obtenção dos melhores resultados”, exprimiu. Ainda assim, considerou o resultado “excelente”. “Sabemos que os fins de ciclo suscitam sempre algumas dúvidas. (…) Gostava que tivéssemos vencido as dez freguesias e que tivéssemos segurado a maioria na Câmara e, infelizmente, não conseguimos”, lamentou. Sobre a perda da União das Freguesias de Glória e Vera Cruz para o PS, o presidente da concelhia do PSD-Aveiro atribuiu o resultado ao candidato socialista Bruno Ferreira, que anteriormente integrara as listas da ‘Aliança’ nas autárquicas de 2021. “Ele estando em serviço e em permanência é natural que isso lhe tenha dado alguma vantagem. A professora Glória Leite estava completamente fora da área política e, portanto, teve um trabalho muito mais difícil pela frente e isso terá sido a desvantagem. Não foi qualquer outro motivo”, assegurou. Confrontado sobre se, após o ato eleitoral, a concelhia do PSD-Aveiro iria a votos face à instabilidade verificada ao longo destas eleições autárquicas, Firmino Ferreira afastou essa hipótese "para já”, defendendo que “a estrutura está consolidada”. Ainda assim, deixou a nota que, por imposição “da própria nacional, que terá em breve um Conselho Nacional, que irá determinar o calendário eleitoral das concelhias e das distritais, vamos ter que (…) convocar novas eleições, porque serão eventualmente realizadas em todo o país”. Interpelado sobre quando ocorrerão, Firmino Ferreira garantiu que terão de ser marcadas “para o próximo ano”. Interpelado ainda sobre uma eventual candidatura sua à liderança da concelhia do PSD-Aveiro, Firmino Ferreira não descartou nem confirmou a hipótese. “Eu acho que não é o momento certo”, respondeu. “Eu não quero falar sobre decisões, porque essas só virão posteriormente. Portanto, prefiro, neste momento, ter tudo em aberto”, continuou. A Ria apurou que, tal como acontece no PS-Aveiro, também no seio do PSD-Aveiro começaram a surgir conversas nos bastidores sobre o futuro do partido. Depois da escolha de Luís Souto ter provocado uma vaga de demissões e um clima de instabilidade interna, vários militantes sociais-democratas optaram, nos últimos meses, por afastar-se da vida partidária ativa - uma decisão tomada com o objetivo de não prejudicar a candidatura à Câmara Municipal. Agora, com as eleições concluídas, muitos consideram ter chegado o momento de promover uma reflexão interna e preparar o futuro do PSD no concelho. Entre os militantes, há um consenso crescente de que os presidentes de junta terão um papel determinante nessa nova fase. No rescaldo das eleições autárquicas, é amplamente reconhecido que, na larga maioria das freguesias do concelho, Luís Souto obteve menos votos para a Câmara Municipal do que os candidatos às respetivas juntas de freguesia. Para muitos sociais-democratas, esta situação representa uma inversão face às últimas autárquicas e demonstra que a quebra do PSD só não foi maior graças à força e à implantação local dos candidatos às juntas, cuja popularidade terá sido crucial para conter a ascensão de Alberto Souto. Paralelamente, os críticos internos sublinham que, nos poucos casos em que os candidatos às juntas foram escolhidos diretamente por Luís Souto, os resultados ficaram aquém das expectativas - uma leitura que coincide com a análise feita por Ribau Esteves, que, logo após as eleições, destacou precisamente esse fator. O exemplo mais referido é o da União de Freguesias da Glória e Vera Cruz, onde a candidatura de Glória Leite é apontada como um dos casos em que a estratégia de Luís Souto “não resultou”. Por outro lado, há uma preocupação evidente no seio do partido relativamente à perda das maiorias nas freguesias de Esgueira, Eixo e Eirol e Aradas, onde o PSD enfrenta agora cenários de governação minoritária, não sendo garantido que o partido consiga aprovar os executivos. Entre os militantes, cresce o descontentamento com a forma como o partido - e o próprio Luís Souto - têm gerido este dossier. Logo após a vitória nas eleições, Luís Souto entrou num período de férias, deixando instruções para que cada presidente de junta eleito definisse autonomamente a estratégia política a adotar na sua freguesia. Esta decisão, vista internamente como uma forma de dissociar a governação da Câmara Municipal das juntas de freguesia, tem gerado críticas dentro do partido: vários sociais-democratas consideram que Luís Souto está a deixar os presidentes de junta “à sua sorte”, num momento em que a articulação política seria essencial para consolidar o poder local do PSD no concelho. Por tudo isto, anteveem-se meses politicamente intensos dentro do PSD-Aveiro, com vários militantes a reconhecer que não está afastada a hipótese de uma disputa interna pela liderança da concelhia. O futuro político de Luís Souto será, aliás, um dos fatores determinantes nesse processo: a forma como gerir a instabilidade em várias freguesias - e até a governabilidade muito frágil na Câmara Municipal - poderá ser decisiva na reflexão que o partido se prepara para fazer nas suas bases.
IL Aveiro: “A política local precisa de mais transparência, (…) não de livros pagos pelos munícipes”
Na nota, a IL Aveiro refere que se trata de um “ato de autopromoção política à custa dos contribuintes, num momento em que o autarca cessou funções por limitação de mandatos”. O partido vai mais além e afirma que a “utilização de dinheiros públicos para enaltecer o legado pessoal de um político é eticamente reprovável e contrária aos princípios de transparência e responsabilidade que devem pautar a gestão pública”. “O respeito pelos cidadãos exige que os recursos municipais sejam usados em benefício da comunidade, em obras, serviços e políticas públicas com impacto real, e não em publicações de natureza laudatória e claramente política”, afirma a IL. No comunicado, o partido sugere que o balanço dos mandatos de um autarca “deve ser feito pela história, pelos resultados e, sobretudo, pelos cidadãos que viveram as consequências das suas decisões, e não através de uma narrativa financiada pelo erário público”. “A Iniciativa Liberal Aveiro considera este episódio um símbolo da cultura política que urge mudar: uma cultura que confunde o interesse público com o interesse pessoal e que utiliza os meios da autarquia para perpetuar a imagem de quem nela exerceu cargos”, continua. Num apelo direto a Luís Souto de Miranda, candidato da ‘Aliança com Aveiro’ que venceu as eleições autárquicas no passado domingo, a IL apela que o mesmo se “demarque publicamente desta situação, garantindo que este tipo de práticas não voltará a repetir-se”. “A política local precisa de mais transparência, rigor e prestação de contas, não de livros pagos pelos munícipes”, remata a nota. Recorde-se que, tal como noticiado pela Ria, o Município de Aveiro anunciou esta quinta-feira, 16 de outubro, que irá lançar um novo livro, desta vez, com o título “Aveiro, Coragem de Mudar, com Ribau Esteves”. Trata-se do último livro - lançado e pago pela autarquia - de José Ribau Esteves enquanto presidente cessante da Câmara de Aveiro.
Livro de Ribau Esteves pago pela Câmara de Aveiro motiva críticas da oposição
O Município de Aveiro anunciou esta quinta-feira, 16 de outubro, que irá lançar um novo livro, desta vez, com o título “Aveiro, Coragem de Mudar, com Ribau Esteves”. Trata-se do último livro - lançado e pago pela autarquia - de José Ribau Esteves enquanto presidente cessante da Câmara de Aveiro. Recorde-se que Luís Souto de Miranda, candidato da ‘Aliança com Aveiro’ foi eleito no passado domingo, 12 de outubro, na sequência das eleições autárquicas, presidente de Câmara. A obra será apresentada no próximo fim de semana, sábado, 25 de outubro, no Teatro Aveirense e conta com prefácios de Luís Montenegro, primeiro-ministro, e de António Costa, presidente do Conselho Europeu. Recorde-se que ao longo dos últimos meses a autarquia tem vindo a lançar um conjunto de obras, nomeadamente “Rossio de Aveiro”, que aborda a requalificação urbana do Rossio (16.115,00€ para impressão, mais 9.482,00€ para “aquisição de serviços de design e conceção gráfica do livro”), “Avenida: Uma história com futuro”, que explica a requalificação da Avenida Dr. Lourenço Peixinho (7.290,00€), “Aveiro 2024 até ao infinito”, que eterniza Aveiro Capital Portuguesa da Cultura 2024 (19.950,00€ de custos com impressão, mais 11.500,00€ de “serviços de desenvolvimento do livro”), e ainda “A Sagres em Aveiro 2024”, que aborda a passagem do navio-escola Sagres pela cidade de Aveiro, durante as comemorações do Dia da Marinha em 2024 (23.462,00€) Mas há uma particularidade que salta à vista na nova obra lançada em relação às anteriores: a autoria é de José Ribau Esteves, sendo o próprio presidente da autarquia a imagem de destaque na capa do livro. A obra, que resulta de uma edição conjunta da Câmara Municipal de Aveiro e da Editora ‘Afrontamento’, pretende contar os “12 anos de gestão autárquica” de Ribau Esteves. O livro representou um custo inicial para o Município de “9.200,00 euros”, mas acabou por ser alterado, face a “serviços complementares” na passada sexta-feira, 10 de outubro, para “13.350,00 euros”, segundo o contrato disponível na plataforma base gov. Consultando a informação disponível no contrato, neste caso, a autarquia optou por encomendar “2000 exemplares”. No caso dos livros do Rossio e da Avenida esse número não tinha ultrapassado os 500 exemplares. Somando-se o custo deste livro aos restantes, só no último ano, a Câmara Municipal de Aveiro gastou 101.149,00€ na produção de livros, segundo dados disponíveis na plataforma base gov. Citado numa nota de imprensa enviada à Ria, esta quinta-feira, Ribau Esteves esclareceu que optou por escrever esta obra por “determinação de consciência e ato solidário para com o futuro”. Nesse livro, explica que dá a conhecer em “formato simples” a história de “12 anos de trabalho como presidente da Câmara Municipal de Aveiro, contando histórias de um tempo desafiante e marcante, e partilhando reflexões sobre o futuro do poder local, de Portugal, da Europa e do Mundo”. Saliente-se que este não é o primeiro livro escrito pelo autarca. A primeira vez que o fez era ainda presidente da Câmara de Ílhavo e, na altura, lançou a obra: “10 Anos de Mudança - Município de Ílhavo”. Segundo uma notícia do Correio da Manhã, datada de 18 de janeiro de 2008, a obra gerou polémica já que os partidos da oposição acusaram Ribau Esteves de se “autopromover gastando 2800 euros ao erário público”. Naquela época, o autarca desvalorizou a polémica e afirmou que era “um livro como tantos outros custeados pela autarquia”, sublinhando que se trata de “um documento importante e útil que assinala o trabalho extraordinário dos últimos dez anos no Município de Ílhavo”. A verdade é que após 17 anos, o livro agora lançado em Aveiro, por Ribau Esteves, quando está de saída do Município por ter atingido o número limite de mandatos, também tem vindo a ser alvo de críticas por parte da oposição. Pedro Pires da Rosa, deputado municipal pelo PS, escreveu ontem nas suas redes sociais que não tinha “nada contra o livro”, mas questionou o facto de a obra ser paga pela autarquia. “Acho sinceramente que se o Município pagou o livro, no mínimo, é inapropriado”, opinou. Também Diogo Soares Machado, candidato do Chega à Câmara de Aveiro, escreveu esta quinta-feira: “É um fartar vilanagem até ao último segundo”. “A falta de vergonha na cara assume foros de narcisismo doentio e de sério delírio, para além de muito pouca, ou nenhuma, seriedade e honestidade na gestão dos dinheiros públicos”, continua. No seguimento, o candidato do Chega afirmou que o partido “fará o que estiver ao seu alcance para que este conjunto de palavras justapostas, a que o Sr. Ribau decidiu chamar livro, seja devidamente cobrado ao autor, até ao último cêntimo”. Diogo Soares Machado avançou ainda que apresentará essa proposta “na primeira reunião de Câmara, depois da tomada de posse”. “Seremos inflexíveis nela: quer mandar escrever e publicar um livro, pague-o, tal como o seu antecessor fez quando lançou o ‘Prestar Contas’. Já chega de usar o dinheiro dos aveirenses a seu bel-prazer, sem outro critério que não o de massajar o próprio ego”, atentou. Recorde-se que também Élio Maia, ex-presidente da Câmara de Aveiro, lançou o livro “Prestar Contas: 2005-2013”, que tinha como objetivo fazer um balanço da sua governação, na altura, escrito e pago por si. A Ria tentou contactar Ribau Esteves, mas até ao momento não obteve resposta.
Autárquicas: Isabel Tavares reconhece resultado insatisfatório e garante trabalho em São Jacinto
Tal como há quatro anos, a CDU (coligação PCP-PEV) voltou a apresentar-se a votos para os três órgãos autárquicos- Câmara Municipal, Assembleia Municipal e Assembleia de Freguesia. Na corrida à Câmara Municipal, a coligação registou uma quebra face às autárquicas de 2021, contabilizando menos 562 votos. Já na Assembleia Municipal, a CDU perdeu o único deputado que detinha, obtendo 812 votos, o que corresponde a 2,10% do total. Apesar da descida na votação para a Assembleia de Freguesia, a CDU conseguiu manter o mandato em São Jacinto. Em entrevista à Ria, Isabel Tavares admitiu que o resultado “não foi satisfatório” para o partido. “Trabalhamos no esclarecimento da população no sentido de apresentar as nossas propostas e de fazer perceber que Aveiro precisava de um rumo diferente e que a CDU poderia ser essa força”, afirmou. Sobre a perda do deputado municipal, a candidata assegurou que isso trará “consequências para os aveirenses”. “É menos uma voz que vai estar presente na defesa dos seus interesses, mas nós não vamos estar ausentes do trabalho e vamos continuar (…) a trabalhar para que os aveirenses tenham uma vida melhor”, garantiu. Questionada sobre a perda de votos, Isabel Tavares exprimiu que, na sua opinião, “as pessoas continuam não perceber a política como um fator determinante nas suas vidas e, por vezes, embarcam em modas e naquilo que é a divulgação da comunicação social, a nível mais geral, e não se focam nos aspetos da sua região e nas pessoas que trabalham para que tenham melhores condições de vida em resposta aos seus problemas”. Sem esquecer a relação de irmãos, que marcou também estas eleições, entre Alberto Souto de Miranda, candidato do PS à Câmara de Aveiro, e Luís Souto de Miranda, candidato da ‘Aliança com Aveiro’ ao Município, Isabel acrescentou que o “contexto familiar que estava inerente também abarcou aqui alguma dinâmica de votos”. Recorde-se que no passado domingo, Luís Souto de Miranda venceu a Câmara Municipal sem maioria e elegeu quatro elementos face a outros quatro do PS e um do Chega. Apesar do resultado, a CDU acaba por manter o mandato na Junta de Freguesia de São Jacinto, um compromisso que Isabel Tavares garante que o partido continuará a honrar. “A população de São Jacinto pode esperar da CDU aquilo que teve sempre e até ao momento: Procurar conhecer quais são as dificuldades de cada um dos habitantes de São Jacinto e levar aos órgãos propostas que respondam à resolução desses problemas”, relembrou.
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Caixa UA recebe Campeonato Nacional Universitário de Basquetebol 3x3 na próxima semana
Segundo uma nota de imprensa enviada à Ria, a UA vai acolher a competição na próxima terça-feira, 21 de outubro, das 10h00 às 19h00, e na quarta-feira, 22 de outubro, das 10h00 às 17h00 e das 20h00 às 23h00. Além da competição, terão ainda lugar um “leque de iniciativas com o objetivo de reforçar a ligação entre a Universidade, a comunidade escolar e as instituições desportivas na promoção do desporto e, em particular, do basquetebol, em Aveiro”. A organização do Campeonato Nacional Universitário de Basquetebol 3x3 está a cargo da UA, da Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB), da Federação Académica do Desporto Universitário (FADU), da Associação Distrital de Basquetebol de Aveiro (ABA), do Desporto Escolar (DE) e da Associação Académica da Universidade de Aveiro (AAUAv).
Firmino Ferreira elogia desempenho da ‘Aliança’, mas já se discute o futuro dentro do PSD-Aveiro
No passado domingo, 12 de outubro, Luís Souto de Miranda, candidato da ‘Aliança com Aveiro’ (PSD/CDS-PP/PPM) à Câmara de Aveiro, venceu as eleições autárquicas, mas perdeu a maioria para o partido, elegendo quatro vereadores face a outros quatro do PS e um do Chega. Em comparação com as autárquicas de 2021, a candidatura de Luís Souto viu a diferença para o Partido Socialista passar de 9.000 para 2.000 votos. Recorde-se que até agora o município era liderado por José Ribau Esteves, atual presidente da Câmara, que não se recandidatou por ter atingido o limite de mandatos. No que respeita às juntas de freguesia, onde até agora todas eram lideradas pela coligação, o resultado traduziu-se também em algumas perdas. A ‘Aliança’ perdeu a União de Freguesias de Glória e Vera Cruz, agora conquistada pelo Partido Socialista (PS), e deixou de ter maioria em três juntas do concelho: Esgueira, Eixo e Eirol e Aradas. Em declarações à Ria, Firmino Ferreira afirmou não estar surpreendido com o resultado eleitoral, reconhecendo que se tratava de “eleições autárquicas muito disputadas”. “Por isso, é que todos se empenharam até ao último dia para a obtenção dos melhores resultados”, exprimiu. Ainda assim, considerou o resultado “excelente”. “Sabemos que os fins de ciclo suscitam sempre algumas dúvidas. (…) Gostava que tivéssemos vencido as dez freguesias e que tivéssemos segurado a maioria na Câmara e, infelizmente, não conseguimos”, lamentou. Sobre a perda da União das Freguesias de Glória e Vera Cruz para o PS, o presidente da concelhia do PSD-Aveiro atribuiu o resultado ao candidato socialista Bruno Ferreira, que anteriormente integrara as listas da ‘Aliança’ nas autárquicas de 2021. “Ele estando em serviço e em permanência é natural que isso lhe tenha dado alguma vantagem. A professora Glória Leite estava completamente fora da área política e, portanto, teve um trabalho muito mais difícil pela frente e isso terá sido a desvantagem. Não foi qualquer outro motivo”, assegurou. Confrontado sobre se, após o ato eleitoral, a concelhia do PSD-Aveiro iria a votos face à instabilidade verificada ao longo destas eleições autárquicas, Firmino Ferreira afastou essa hipótese "para já”, defendendo que “a estrutura está consolidada”. Ainda assim, deixou a nota que, por imposição “da própria nacional, que terá em breve um Conselho Nacional, que irá determinar o calendário eleitoral das concelhias e das distritais, vamos ter que (…) convocar novas eleições, porque serão eventualmente realizadas em todo o país”. Interpelado sobre quando ocorrerão, Firmino Ferreira garantiu que terão de ser marcadas “para o próximo ano”. Interpelado ainda sobre uma eventual candidatura sua à liderança da concelhia do PSD-Aveiro, Firmino Ferreira não descartou nem confirmou a hipótese. “Eu acho que não é o momento certo”, respondeu. “Eu não quero falar sobre decisões, porque essas só virão posteriormente. Portanto, prefiro, neste momento, ter tudo em aberto”, continuou. A Ria apurou que, tal como acontece no PS-Aveiro, também no seio do PSD-Aveiro começaram a surgir conversas nos bastidores sobre o futuro do partido. Depois da escolha de Luís Souto ter provocado uma vaga de demissões e um clima de instabilidade interna, vários militantes sociais-democratas optaram, nos últimos meses, por afastar-se da vida partidária ativa - uma decisão tomada com o objetivo de não prejudicar a candidatura à Câmara Municipal. Agora, com as eleições concluídas, muitos consideram ter chegado o momento de promover uma reflexão interna e preparar o futuro do PSD no concelho. Entre os militantes, há um consenso crescente de que os presidentes de junta terão um papel determinante nessa nova fase. No rescaldo das eleições autárquicas, é amplamente reconhecido que, na larga maioria das freguesias do concelho, Luís Souto obteve menos votos para a Câmara Municipal do que os candidatos às respetivas juntas de freguesia. Para muitos sociais-democratas, esta situação representa uma inversão face às últimas autárquicas e demonstra que a quebra do PSD só não foi maior graças à força e à implantação local dos candidatos às juntas, cuja popularidade terá sido crucial para conter a ascensão de Alberto Souto. Paralelamente, os críticos internos sublinham que, nos poucos casos em que os candidatos às juntas foram escolhidos diretamente por Luís Souto, os resultados ficaram aquém das expectativas - uma leitura que coincide com a análise feita por Ribau Esteves, que, logo após as eleições, destacou precisamente esse fator. O exemplo mais referido é o da União de Freguesias da Glória e Vera Cruz, onde a candidatura de Glória Leite é apontada como um dos casos em que a estratégia de Luís Souto “não resultou”. Por outro lado, há uma preocupação evidente no seio do partido relativamente à perda das maiorias nas freguesias de Esgueira, Eixo e Eirol e Aradas, onde o PSD enfrenta agora cenários de governação minoritária, não sendo garantido que o partido consiga aprovar os executivos. Entre os militantes, cresce o descontentamento com a forma como o partido - e o próprio Luís Souto - têm gerido este dossier. Logo após a vitória nas eleições, Luís Souto entrou num período de férias, deixando instruções para que cada presidente de junta eleito definisse autonomamente a estratégia política a adotar na sua freguesia. Esta decisão, vista internamente como uma forma de dissociar a governação da Câmara Municipal das juntas de freguesia, tem gerado críticas dentro do partido: vários sociais-democratas consideram que Luís Souto está a deixar os presidentes de junta “à sua sorte”, num momento em que a articulação política seria essencial para consolidar o poder local do PSD no concelho. Por tudo isto, anteveem-se meses politicamente intensos dentro do PSD-Aveiro, com vários militantes a reconhecer que não está afastada a hipótese de uma disputa interna pela liderança da concelhia. O futuro político de Luís Souto será, aliás, um dos fatores determinantes nesse processo: a forma como gerir a instabilidade em várias freguesias - e até a governabilidade muito frágil na Câmara Municipal - poderá ser decisiva na reflexão que o partido se prepara para fazer nas suas bases.
IL Aveiro: “A política local precisa de mais transparência, (…) não de livros pagos pelos munícipes”
Na nota, a IL Aveiro refere que se trata de um “ato de autopromoção política à custa dos contribuintes, num momento em que o autarca cessou funções por limitação de mandatos”. O partido vai mais além e afirma que a “utilização de dinheiros públicos para enaltecer o legado pessoal de um político é eticamente reprovável e contrária aos princípios de transparência e responsabilidade que devem pautar a gestão pública”. “O respeito pelos cidadãos exige que os recursos municipais sejam usados em benefício da comunidade, em obras, serviços e políticas públicas com impacto real, e não em publicações de natureza laudatória e claramente política”, afirma a IL. No comunicado, o partido sugere que o balanço dos mandatos de um autarca “deve ser feito pela história, pelos resultados e, sobretudo, pelos cidadãos que viveram as consequências das suas decisões, e não através de uma narrativa financiada pelo erário público”. “A Iniciativa Liberal Aveiro considera este episódio um símbolo da cultura política que urge mudar: uma cultura que confunde o interesse público com o interesse pessoal e que utiliza os meios da autarquia para perpetuar a imagem de quem nela exerceu cargos”, continua. Num apelo direto a Luís Souto de Miranda, candidato da ‘Aliança com Aveiro’ que venceu as eleições autárquicas no passado domingo, a IL apela que o mesmo se “demarque publicamente desta situação, garantindo que este tipo de práticas não voltará a repetir-se”. “A política local precisa de mais transparência, rigor e prestação de contas, não de livros pagos pelos munícipes”, remata a nota. Recorde-se que, tal como noticiado pela Ria, o Município de Aveiro anunciou esta quinta-feira, 16 de outubro, que irá lançar um novo livro, desta vez, com o título “Aveiro, Coragem de Mudar, com Ribau Esteves”. Trata-se do último livro - lançado e pago pela autarquia - de José Ribau Esteves enquanto presidente cessante da Câmara de Aveiro.
Livro de Ribau Esteves pago pela Câmara de Aveiro motiva críticas da oposição
O Município de Aveiro anunciou esta quinta-feira, 16 de outubro, que irá lançar um novo livro, desta vez, com o título “Aveiro, Coragem de Mudar, com Ribau Esteves”. Trata-se do último livro - lançado e pago pela autarquia - de José Ribau Esteves enquanto presidente cessante da Câmara de Aveiro. Recorde-se que Luís Souto de Miranda, candidato da ‘Aliança com Aveiro’ foi eleito no passado domingo, 12 de outubro, na sequência das eleições autárquicas, presidente de Câmara. A obra será apresentada no próximo fim de semana, sábado, 25 de outubro, no Teatro Aveirense e conta com prefácios de Luís Montenegro, primeiro-ministro, e de António Costa, presidente do Conselho Europeu. Recorde-se que ao longo dos últimos meses a autarquia tem vindo a lançar um conjunto de obras, nomeadamente “Rossio de Aveiro”, que aborda a requalificação urbana do Rossio (16.115,00€ para impressão, mais 9.482,00€ para “aquisição de serviços de design e conceção gráfica do livro”), “Avenida: Uma história com futuro”, que explica a requalificação da Avenida Dr. Lourenço Peixinho (7.290,00€), “Aveiro 2024 até ao infinito”, que eterniza Aveiro Capital Portuguesa da Cultura 2024 (19.950,00€ de custos com impressão, mais 11.500,00€ de “serviços de desenvolvimento do livro”), e ainda “A Sagres em Aveiro 2024”, que aborda a passagem do navio-escola Sagres pela cidade de Aveiro, durante as comemorações do Dia da Marinha em 2024 (23.462,00€) Mas há uma particularidade que salta à vista na nova obra lançada em relação às anteriores: a autoria é de José Ribau Esteves, sendo o próprio presidente da autarquia a imagem de destaque na capa do livro. A obra, que resulta de uma edição conjunta da Câmara Municipal de Aveiro e da Editora ‘Afrontamento’, pretende contar os “12 anos de gestão autárquica” de Ribau Esteves. O livro representou um custo inicial para o Município de “9.200,00 euros”, mas acabou por ser alterado, face a “serviços complementares” na passada sexta-feira, 10 de outubro, para “13.350,00 euros”, segundo o contrato disponível na plataforma base gov. Consultando a informação disponível no contrato, neste caso, a autarquia optou por encomendar “2000 exemplares”. No caso dos livros do Rossio e da Avenida esse número não tinha ultrapassado os 500 exemplares. Somando-se o custo deste livro aos restantes, só no último ano, a Câmara Municipal de Aveiro gastou 101.149,00€ na produção de livros, segundo dados disponíveis na plataforma base gov. Citado numa nota de imprensa enviada à Ria, esta quinta-feira, Ribau Esteves esclareceu que optou por escrever esta obra por “determinação de consciência e ato solidário para com o futuro”. Nesse livro, explica que dá a conhecer em “formato simples” a história de “12 anos de trabalho como presidente da Câmara Municipal de Aveiro, contando histórias de um tempo desafiante e marcante, e partilhando reflexões sobre o futuro do poder local, de Portugal, da Europa e do Mundo”. Saliente-se que este não é o primeiro livro escrito pelo autarca. A primeira vez que o fez era ainda presidente da Câmara de Ílhavo e, na altura, lançou a obra: “10 Anos de Mudança - Município de Ílhavo”. Segundo uma notícia do Correio da Manhã, datada de 18 de janeiro de 2008, a obra gerou polémica já que os partidos da oposição acusaram Ribau Esteves de se “autopromover gastando 2800 euros ao erário público”. Naquela época, o autarca desvalorizou a polémica e afirmou que era “um livro como tantos outros custeados pela autarquia”, sublinhando que se trata de “um documento importante e útil que assinala o trabalho extraordinário dos últimos dez anos no Município de Ílhavo”. A verdade é que após 17 anos, o livro agora lançado em Aveiro, por Ribau Esteves, quando está de saída do Município por ter atingido o número limite de mandatos, também tem vindo a ser alvo de críticas por parte da oposição. Pedro Pires da Rosa, deputado municipal pelo PS, escreveu ontem nas suas redes sociais que não tinha “nada contra o livro”, mas questionou o facto de a obra ser paga pela autarquia. “Acho sinceramente que se o Município pagou o livro, no mínimo, é inapropriado”, opinou. Também Diogo Soares Machado, candidato do Chega à Câmara de Aveiro, escreveu esta quinta-feira: “É um fartar vilanagem até ao último segundo”. “A falta de vergonha na cara assume foros de narcisismo doentio e de sério delírio, para além de muito pouca, ou nenhuma, seriedade e honestidade na gestão dos dinheiros públicos”, continua. No seguimento, o candidato do Chega afirmou que o partido “fará o que estiver ao seu alcance para que este conjunto de palavras justapostas, a que o Sr. Ribau decidiu chamar livro, seja devidamente cobrado ao autor, até ao último cêntimo”. Diogo Soares Machado avançou ainda que apresentará essa proposta “na primeira reunião de Câmara, depois da tomada de posse”. “Seremos inflexíveis nela: quer mandar escrever e publicar um livro, pague-o, tal como o seu antecessor fez quando lançou o ‘Prestar Contas’. Já chega de usar o dinheiro dos aveirenses a seu bel-prazer, sem outro critério que não o de massajar o próprio ego”, atentou. Recorde-se que também Élio Maia, ex-presidente da Câmara de Aveiro, lançou o livro “Prestar Contas: 2005-2013”, que tinha como objetivo fazer um balanço da sua governação, na altura, escrito e pago por si. A Ria tentou contactar Ribau Esteves, mas até ao momento não obteve resposta.