RÁDIO UNIVERSITÁRIA DE AVEIRO

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São precisas novas agriculturas porque planeta vai por maus caminhos

O especialista em segurança alimentar Carlos Gonçalo das Neves defende para o mundo novos tipos de agricultura e diz ser importante que se experimentem outras ferramentas, porque, agora, o planeta “não está no bom caminho”.

São precisas novas agriculturas porque planeta vai por maus caminhos
Redação

Redação

27 out 2024, 12:15

Cientista chefe da Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA, na sigla original), Carlos das Neves, em entrevista à agência Lusa, afirma que a agricultura tem sempre evoluído, acompanhada pela inovação e tecnologia, lembrando que não se faz hoje a agricultura que se fazia há 50 anos, nomeadamente pela introdução de máquinas.

Atualmente há “novas soluções criativas”, a agricultura regenerativa, a hidroponia, o cultivo multitrófico, novas ferramentas genéticas que permitem “editar um bocadinho o genoma e fazer alterações”.

“Tudo isto são ferramentas à disposição. A nós, na EFSA o que nos compete é garantir que estas ferramentas, que estes produtos feitos desta maneira são seguros. Depois existe uma componente política, social, cultural, sobre se devem ou não ser aprovados, se devemos utilizar mais ou menos”, explicou.

Mas as novas soluções “é importante que as abracemos, e experimentemos, porque penso que o planeta nos mostra que como está neste momento não está no bom caminho”.

Questionado pela Lusa, Carlos das Neves aponta problemas que precisam de ser resolvidos, um deles o desperdício alimentar, que tem de ser “reduzido ao mínimo” para manter o “sonho da sustentabilidade”.

Para o cientista, não se pode desperdiçar alimentos olhando para as situações dramáticas do planeta.

É preciso, adianta, alterações nas escolhas de cada consumidor, consciencializá-lo para opções diferentes, educá-lo desde a infância.

“Hoje ensinamos as crianças a separar o lixo, é preciso fazer o mesmo sobre o que é saudável, o que não se deve estragar. E também há uma consciencialização a fazer naqueles que produzem alimentos. Toda a cadeia tem de contribuir, não é só o consumidor que pode evitar os estragos”, diz, enfatizando que é preciso que nesta matéria deixe de ser só palavras e que se passe à ação.

Atualmente, avisam os cientistas, vive-se uma tripla crise planetária, as alterações climáticas, a perda de biodiversidade e a poluição e resíduos, motivada em parte pelo sistema agroalimentar. Mas Carlos das Neves salienta que o sistema é tanto vilão como vítima.

Se é verdade, explica, que algumas práticas de produção de alimentos contribuem para o aumento de gases com efeito de estufa, que se destroem florestas para produzir alimentos, também as alterações climáticas, a erosão, as secas e os fogos afetam a capacidade de produção.

Otimista, Carlos das Neves refere que os problemas deviam motivar ainda mais para “algo diferente”, porque as pessoas não podem viver sem alimentos e é preciso que todas juntas encontrem soluções.

E dá o exemplo do que acredita ser uma solução, o movimento “Uma só saúde”, (“One Health”).

“É uma consciencialização de que este planeta é só um, que partilhamos com animais, plantas, espécies selvagens… e há que manter este balanço. Muitas vezes aquilo que nos afeta a nós também afeta os outros, e às vezes o que fazemos às florestas afeta-nos a nós”, afirma o defensor do movimento que tem como base a abordagem integrada da saúde das pessoas, dos animais, das plantas e do ambiente.

Perceber que está tudo interconectado devia mostrar, afirma o professor e cientista, que a solução dos problemas tem de ser global, que é preciso olhar para todos os elementos, do homem ao ambiente, e que se pense em soluções.

Lembrando a transmissão de doenças e a última pandemia avisa: “uma solução só focada em nós humanos provavelmente não vai resultar”.

Sempre positivo e otimista Carlos das Neves afirma que o “One Health” está a criar raízes, impulsionado também pela pandemia de covid-19, e acredita que fará parte das conferências da ONU sobre biodiversidade (a decorrer na Colômbia) e sobre o clima, no próximo mês no Azerbaijão.

Lembrando que a redução de habitats pode levar a problemas de zoonoses, doenças de animais transmitidas ao ser humano, o professor fala que é preciso vontade de “fazer algumas alterações”, de encontrar um equilíbrio entre a criação intensiva de gado e a destruição de florestas, sem nunca esquecer que há quase nove mil milhões de pessoas para alimentar.

É aqui que entra o papel do consumidor. É fundamental, um consumidor informado para que possa tomar as decisões acertadas, sobre o que comer e sobre como isso afeta “muito mais do que a sua própria saúde”.

Carlos das Neves participou em Portugal nas “Conferências do Estoril”, que durante dois dias reuniram na Universidade Nova conferencistas de todo o mundo para debaterem grandes desafios da humanidade.

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De acordo com dados do Banco de Portugal (BdP), em resposta a questões colocadas pela Lusa, as pessoas até aos 35 anos representaram em média 41% dos novos contratos de crédito para a compra de habitação própria e permanente realizados ao longo do primeiro semestre. Em julho, recuaram para os 30%, tendo aumentado para os já referidos 54% em agosto, mês em que as pessoas até aos 35 anos passaram a beneficiar de isenção total ou parcial (em função do valor de aquisição da casa) de IMT e de Imposto do Selo na compra da primeira habitação. Os dados do BdP não indicam o montante médio dos empréstimos concedidos por segmento etário, mas a evolução registada vai ao encontro dos sinais que foram sendo dados pelos agentes do mercado imobiliário, nomeadamente de que após tentativas para adiar a formalização da compra da casa de forma a beneficiarem do IMT Jovem e da isenção do Imposto do Selo, há mais pessoas até aos 35 anos a adquirir imóveis. O 'peso' dos mais novos na compra de habitação própria e permanente continuou a sentir-se em setembro, mês em que representaram exatamente metade dos novos empréstimos concedidos para este fim. Estes dados, refira-se, dizem respeito a novos contratos de crédito à habitação própria e permanente 'puros', ou seja, excluem renegociações, consolidações de crédito e transferências de crédito de um banco para outro. Dados facultados à Lusa pelo Ministério da Juventude e Modernização no início deste mês indicavam que no primeiro mês e meio (entre 01 de agosto e 18 de setembro) do IMT Jovem beneficiaram da medida 3.098 pessoas, tendo sido transacionadas 2.141 casas. Ao abrigo desta medida, as pessoas até aos 35 anos têm isenção do IMT e do Imposto do Selo na compra da primeira habitação própria e permanente, sendo aquela isenção total para imóveis até 316.772 euros (4.º escalão do imposto) e parcial entre este valor e os 633.453 euros (parcela em que se aplica a taxa de 8% correspondente a este escalão). Estes intervalos vão ser atualizados em 2025, segundo a proposta do Orçamento do Estado para 2025 (OE2025). A Lusa questionou o Ministério das Finanças sobre o valor médio de isenção naqueles dois impostos de que beneficiaram até agora as pessoas abrangidas pela medida e sobre o número atualizado de beneficiários, mas até ao momento não obteve resposta.

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Este valor representou um crescimento de 5,6% face ao primeiro trimestre e uma aceleração da variação homóloga face aos 5,0% entre janeiro e março. No período em análise, o preço mediano da habitação aumentou, face ao período homólogo, em 21 das 26 sub-regiões NUTS III, tendo o INE destacado Viseu Dão Lafões como o maior crescimento (17,2%). Grande Lisboa, Algarve, Região Autónoma da Madeira, Península de Setúbal e Área Metropolitana do Porto foram as cinco sub-regiões com preços medianos da habitação mais elevados e “apresentaram também os valores mais elevados em ambas as categorias de domicílio fiscal do comprador (território nacional e estrangeiro)”. Em especial na Grande Lisboa e na Área Metropolitana do Porto, o preço mediano das transações efetuadas por metro quadrado por compradores com domicílio fiscal no estrangeiro superou, respetivamente em 80,4% e 53,4%, o preço das transações por compradores com domicílio fiscal em território nacional. No período em análise, o valor mediano de alojamentos familiares transacionados em Portugal que envolveram compradores com domicílio fiscal no estrangeiro subiu 1,9% em termos homólogos, para 2.454 euros por metro quadrado, que compara com a mediana de 1.702 euros por metro quadrado nas transações envolvendo compradores com domicílio fiscal nacional (subida de 7,2%). Entre abril e junho, a Grande Lisboa (2.801 euros por metro quadrado), o Algarve (2.735), a Região Autónoma da Madeira (2.080), a Península de Setúbal (2.048) e a Área Metropolitana do Porto (1.957) “registaram preços da habitação superiores aos do país”, tendo, entre estas, apenas Algarve (5,9%) e Grande Lisboa (1,4%) registado taxas de variação homóloga inferiores à nacional. No segundo trimestre, e contrastando com a evolução de Viseu Dão Lafões, a região do Douro registou a maior diminuição homóloga dos preços da habitação (5,6%), enquanto a Beira Baixa apresentou o menor preço mediano de venda de alojamentos familiares, com 562 euros por metro quadrado. No mesmo período, todos os municípios com mais de 100 mil habitantes da Grande Lisboa, Península de Setúbal e Área Metropolitana do Porto, com exceção de Santa Maria da Feira e Gondomar, “registaram preços medianos de habitação superiores ao valor nacional (1.736 euros por metro quadrado)”. No segundo trimestre de 2024, houve uma aceleração dos preços da habitação em 12 dos 24 municípios com mais de 100 mil habitantes (14 no primeiro trimestre de 2024), tendo Barcelos apresentado o maior acréscimo, de 16,6 pontos percentuais, contrastando com as maiores diminuições na taxa de variação homóloga, que ocorreram em Matosinhos (-17,6 pontos) e Coimbra (-15,9 pontos).

Autoridades voltam à estrada com campanha nacional “Ao volante o telemóvel pode esperar”
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Esta campanha, organizada pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), PSP e GNR, vai executar ações, inseridas no Plano Nacional de Fiscalização (PNF) 2024, até à próxima segunda-feira, com o objetivo de "alertar os condutores para as consequências negativas e mesmo fatais do uso indevido do telemóvel durante a condução". “A 50 km/h, olhar para o telemóvel durante três segundos é o mesmo que conduzir uma distância de 42 metros com os olhos vendados, o equivalente a uma fila de 10 carros”, sublinha a ANSR, em comunicado, salientando que “a utilização do telemóvel durante a condução aumenta em quatro vezes a probabilidade de ter um acidente e provoca um aumento no tempo de reação a situações imprevistas superior ao efeito de uma taxa de álcool no sangue de 0,8 g/l”. A campanha “Ao volante, o telemóvel pode esperar” integra ações de sensibilização da ANSR no continente e ilhas, e operações de fiscalização realizadas pela GNR e PSP, que vão sobretudo incidir em estradas com elevado fluxo rodoviário e seguir o PNF de 2024, “de forma a contribuir para a diminuição do risco de ocorrência de acidentes e para a adoção de comportamentos mais seguros por parte dos condutores no que respeita ao manuseamento do telemóvel durante a condução”. As ações de sensibilização ocorrerão em simultâneo com operações de fiscalização em várias localidades. Segundo o comunicado, a ação de prevenção tem lugar, a partir das 14:00 de hoje na Rua Francisco Salgado Zenha, na Guarda, seguindo-se na quarta-feira uma outra operação, a partir das 08:00, na rotunda dos "Móveis Torres", em Castelo Branco. Na quinta-feira, a ação terá lugar, desde as 14:00 em Vila Real, na Rua de Santa Iria, no dia seguinte realiza-se, às 08:00, no Parque Descanso na A4, Quintanilha e no dia 21, às 16:00, na Avenida São Lourenço da Barrosa, em Portimão. A ANSR, GNR e PSP relembram que o uso do telemóvel ao volante “é um risco para a segurança do próprio e dos outros”. “Os condutores que utilizam o telemóvel durante a condução são mais lentos a reconhecer e a reagir a perigos; a distração ocorre quando duas tarefas mentais, conduzir e utilizar o telemóvel, são executadas ao mesmo tempo, o que provoca lapsos de atenção e erros de avaliação e o uso de aparelhos eletrónicos durante a condução causa dificuldade na interpretação da sinalização e desrespeito pelas regras de cedência de passagem, designadamente em relação aos peões”, destaca a ANSR. Esta é a décima das 12 campanhas de sensibilização e de fiscalização planeadas para este ano no âmbito do PNF de 2024. Até ao final do ano, serão realizadas mais duas campanhas, uma por mês, com ações de sensibilização e de fiscalização. Inseridas nos planos nacionais de fiscalização, estas ações são realizadas anualmente pela ANSR, GNR e PSP, desde 2020, com temáticas definidas com base nas recomendações europeias estabelecidas para cada um dos anos.

Associação Zero propõe medidas para frigoríficos velhos não irem para sucatas
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A taxa de recolha de frigoríficos e ares condicionados é muito baixa, só 20,5% em 2022, segundo os últimos dados disponíveis. Por norma, explica a Zero, as empresas transportadoras que recolhem frigoríficos velhos vendem-nos a sucateiros ilegais e não os entregam a operadores licenciados, que fariam a separação e armazenamento dos fluidos refrigerantes dos equipamentos. Lembra a associação que tal tem implicações ambientais, porque os gases de refrigeração, quando libertados para a atmosfera, são muito prejudiciais para o clima, porque têm um potencial de aumento global da temperatura muito superior ao do dióxido de carbono. Empresas ilegais não fazem a separação e querem essencialmente o cobre do motor. Perante a situação, que a Zero e outras associações recordam com regularidade, e aproveitando a comemoração hoje do Dia Internacional dos Resíduos dos Equipamentos Elétricos e Eletrónicos, a associação apresentou duas propostas ao Governo que podem “fazer Portugal dar um passo muito grande no sentido de melhorar a gestão” dos resíduos em causa e reduzir as emissões de gases, diz no comunicado Rui Berkemeier, da Zero. Uma das propostas é o sistema de controlo da recolha de frigoríficos por GPS, que foi feito apenas em 2021 e que teve o envolvimento de entidades fiscalizadoras e das entidades gestoras de fluxos. Diz a Zero que até hoje os dados nunca foram divulgados pela Agência Portuguesa do Ambiente, explicando que a proposta é que se retome essa campanha, mas de forma contínua. A segunda medida é a criação de um incentivo económico aos consumidores para entrega dos frigoríficos usados. Os consumidores terão de informar o vendedor de que têm um frigorífico velho para entregar e só recebem o incentivo depois da receção do aparelho nas instalações do vendedor. “Desta forma, as empresas transportadoras já não poderiam desviar os frigoríficos velhos para os destinos ilegais, uma vez que, face ao registo prévio feito pelo consumidor, todo o processo passaria a estar registado, pelo que qualquer desvio seria fácil de identificar”, explica a Zero.

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Marc Torra, aos 33 minutos, Lucas Martínez, aos 41 e 42, e Xavi Cardoso, aos 50, marcaram os golos da formação da casa, enquanto Matías Platero, aos 36, e Roc Pujadas, aos 48, faturaram para o conjunto ‘leonino’. O conjunto de Oliveira de Azeméis repetiu o triunfo de 2017 e igualou os dois cetros de Sporting e FC Porto, sendo que o Benfica lidera entre os portugueses, com três (2011, 2013 e 2016). O ‘ranking’ é comandado pelos catalães do FC Barcelona, com 18.

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Embaixadora climática diz que portugueses vivem para impressionar pessoas de que não gostam
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Essa será uma das perspetivas abordadas pela socióloga especialista em “slow living” – expressão que pode traduzir-se por “viver lentamente” – no worskhop sobre redução de consumos supérfluos que dirigirá esta tarde no encontro mundial “Planetiers”, que desde sexta-feira está a decorrer no Centro de Congressos de Aveiro. “A sociedade portuguesa tem a necessidade de ‘mostrar’ e precisa de um carro bom mesmo que a sua casa não esteja a nível idêntico. É por isso que costumo dizer que os portugueses compram coisas de que não precisam, com dinheiro que não têm, para impressionar pessoas de que não gostam”, explica. Essa postura é ainda mais evidente quando comparada à dos países nórdicos, onde a população “ganha muito mais, mas as habitações têm menos tralha, os carros são mais modestos e se compra muito menos roupa”. Ana Milhazes admite, contudo que o apego aos bens materiais por parte dos portugueses nascidos até meados do século XX pode ser particularmente motivado pela memória da pobreza a que estiveram sujeitos nas suas primeiras décadas de vida – o que justifica também a resistência a práticas como a da reutilização de vestuário, que reabre a ferida da carência ao lembrar o tempo em que a mesma peça de roupa passava de irmão a irmão, de primo a primo e até de patrões a empregados até estar totalmente inutilizada. Já o consumo excessivo por parte das gerações mais jovens resultará, segundo a especialista, do excesso de exposição a conteúdos viabilizados pelo avanço da tecnologia, já que “publicidade e redes sociais criam a constante sensação de que tudo é necessário, de que não se pode perder nada”, de que se é menos se não se tiver mais. Ana Milhazes reconhece que, ela própria, já teve essa fase: até 2011 era “completamente viciada” em roupa e sapatos, vivia num T2+1 que demorava todo um fim de semana a limpar, comprava soluções de arrumação para coisas a que nunca dava uso. Só quando se pôs a analisar a sensação de que 24 horas não lhe chegavam para tudo e de que a sua vida era apenas “casa-trabalho, trabalho-casa” é que decidiu implementar pequenas mudanças: deu tudo o que não usava, destralhou os móveis, trocou a compra de peças novas por aquisições em segunda mão, começou a frequentar lojas com mais opções a granel, passou a enviar o lixo biológico para compostagem e ainda criou listas de estabelecimentos adeptos dessas práticas e de truques de ‘slow living’ para partilhar com terceiros. Agora que a sua casa se limpa numa hora, a embaixadora do Pacto Climático Europeu identifica ainda outra vantagem ao estilo de vida mais saudável e sustentável em que se tornou uma referência: “Quando se passa a escolher apenas o essencial, também se começa a dizer mais vezes ‘não’ e a fazer menos fretes. Ficamos com tempo para reparar no que de facto nos faz bem e a prioridade passa a ser fazer aquilo de que realmente gostamos, com as pessoas que verdadeiramente importam”. É por isso que Ana Milhazes realça que “viver mais devagar não é privação, ascetismo ou sofrimento”. Garante: “É apenas escolher melhor o que temos – e até podem ser coisas materiais, consoante o gosto de cada um – para nos sobrar mais tempo para estar com as pessoas de que gostamos e a fazer o que nos dá gosto”. Que uma mudança desta dimensão gere reações críticas e enfrente preconceitos é de esperar. Mas o foco tem que ser sempre no facto de que esta “é uma opção pessoal, individual, sem tentativas de evangelizar ninguém ou forçar algo que só vai criar resistência e afastamento”. Quando os outros repararem no efeito positivo da mudança operada em determinada pessoa é que “então pode haver abertura” para ela explicar como o conseguiu e em que medida isso melhorou a sua vida. “Estamos num tempo em que ainda podemos fazer escolhas confortáveis”, diz Ana Milhazes. “Não temos uma arma apontada à cabeça, com alguém a dizer-nos que vamos perder tudo, de repente, sem poder de escolha, portanto podemos começar devagar, uma pequena mudança de cada vez… E depois de se entrar nesse círculo virtuoso, então já não se volta atrás”, promete.

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A campanha "Natal + Local” visa “incentivar os consumidores a realizarem as suas compras nas lojas de rua do concelho, promovendo o comércio e a produção local, e impulsionando o desenvolvimento económico do município de Ílhavo e da região”. No âmbito desta campanha, serão emitidos dois mil vales de desconto de cinco euros, em compras iguais ou superiores a 25 euros, a descontar em outros estabelecimentos aderentes, com compras de valor igual ou superior.