A ouvir e a agir: o balanço de Pedro Lages como provedor do estudante da UA
Corria o ano de 2014 quando Pedro Lages concluía o curso de Biotecnologia na Universidade de Aveiro (UA). Nove anos depois, regressava à sua antiga ‘casa’, desta vez, para assumir o papel de provedor do estudante até 2026. A um ano de terminar o seu mandato, Pedro Lages foi o mais recente convidado do podcast Ria Co(m)vida.
Isabel Cunha Marques
JornalistaNomeado por unanimidade pelo Conselho Geral, o também antigo dirigente associativo e alumni UA começou por explicar à Ria que aceitou o convite para esta entrevista “por acreditar que é relevante poder prestar contas sobre aquilo que tem sido o seu trabalho (…), mas também [para] promover um pouco mais a figura do provedor”. Este “é um dos objetivos que acabei por definir quando aceitei este desafio”, assegurou.
Ao refletir sobre a sua missão, Pedro Lages avançou que a tem encarado de uma “forma tranquila” para “conhecer bem os problemas que são transmitidos pelos estudantes”. “Isso também acredito que é um garante da independência que esta função pode ter. É escutar os problemas que os estudantes nos transmitem, estudá-los de certa forma e enquadrá-los na realidade da UA, para depois poder promover mudanças ou resoluções que possam ir de encontro às suas expectativas”, sintetizou.
Apesar da importância do cargo, o provedor reconheceu que a maioria dos estudantes desconhece a sua existência. “Se nós atentarmos no número de estudantes da nossa universidade e no número de requisições que o provedor do estudante tem ao longo dos tempos, desde a sua criação, reparamos que não ultrapassamos o 1% dos estudantes a recorrerem ao provedor. Isto não pode ser por não existirem situações a carecer de apoio, porque elas acontecem diariamente e não quer dizer que a universidade esteja a falhar na sua missão”, refletiu.
Para Pedro Lages a curta duração dos ciclos de estudo pode ser uma das razões que contribuiu, ao longo dos tempos, para esse afastamento. “Se não houver um esforço constante de promoção dos órgãos e dos serviços da universidade... Eles não vão conhecê-los durante a sua passagem. [Os estudantes] passam por cá em ciclos cada vez mais curtos. As licenciaturas têm três anos, os novos públicos que conseguimos atrair vêm cá em formações cada vez mais reduzidas e, portanto, este esforço de difusão desta figura deve ser constante”, reforçou.
Pedro considera ainda o provedor do estudante como o “último recurso” dentro da universidade “para resolver situações que os estudantes possam considerar injustas, eventuais conflitos com serviços, docentes, colegas”. Embora não tenha poder deliberativo, o provedor tem a capacidade de “mediar (…) junto dos órgãos ou dos serviços da universidade”. “[É] quase um soft power, que é, não tendo capacidade de decidir, as suas recomendações são ou carecem de uma justificação em caso de não serem seguidas por parte da entidade que recebe a recomendação”, expôs.
Ao longo do seu mandato, um dos eixos prioritários tem sido a proteção dos estudantes com atividades extracurriculares, entre os exemplos, dirigentes associativos ou trabalhadores-estudantes. “A universidade não é apenas uma instituição de formação académica, é também um espaço de cidadania. (…) Portanto, todos estes estudantes carecem de uma maior proteção”, vincou.
Ao longo da entrevista, Pedro Lages analisou ainda o último relatório de atividades disponível de 2023 onde foram identificadas como principais áreas de atuação os temas académico-administrativos, pedagógicos e de ação social. Apesar do relatório de 2024 ainda não estar disponível, publicamente, o provedor adiantou que o número de exposições “aumentou” e que, apesar dos temas serem transversais [aos de 2023], há uma “grande prevalência nos temas académico-administrativos”. Dentro destes temas, destacam-se assuntos relacionados com dívidas de propinas, concessão de estatutos especiais e pedidos para inscrição em unidades curriculares adicionais.
“No ano de 2024 eu posso destacar um aumento da procura por estudantes de doutoramento, associada a temas de pressão académica, que devemos estar atentos e analisar com a calma necessária, mas que devem merecer aqui a nossa atenção”, adiantou. “Há alguns conflitos conducentes, alguma incompatibilidade com orientadores, mas são temas que carecem também de calma, de reflexão, para percebemos como é que conseguimos ultrapassar estas situações”, continuou o provedor estudante.
Já com um olhar crítico sobre o perfil de um provedor de provedor do estudante, Pedro Lages afirmou que se revê com o modelo utilizado na UA já que este prevê a escolha de um provedor sem vínculo formal à universidade. “Eu acredito que este modelo mais facilmente salvaguarda esta independência. E é uma independência que, ao mesmo tempo, deve uma responsabilidade diretamente aos estudantes”, sublinhou. Também sobre a duração do número de anos do mandato [três anos], o provedor opinou ser “relevante” e “adequada”. “Seria, na minha opinião, muito mais relevante definir quantos mandatos é que um provedor pode fazer limitando-os. Acredito que essa renovação acaba por ser muito importante no exercício das funções, ou seja, traz dinamismo, novas ideias e impede quem está no exercício do cargo de se acomodar ao normal funcionamento”, exprimiu. Note-se que na revisão dos estatutos da UA não foi definido nenhum limite de mandatos para a figura do provedor do estudante, mas a proposta do Governo para o novo RJIES aponta a um limite de dois mandatos de três anos.
Questionado ainda sobre a relação com a Associação Académica da Universidade de Aveiro (AAUAv), o provedor definiu-a como “extraordinária”. “Pela minha experiência não me faria sentido, exercendo estas funções, não ter uma relação próxima com a Associação Académica. (…) A relação com a AAUAv tem sido extraordinária, tem vindo a melhorar ao longo do tempo, fruto também dessa maior proximidade que eu tenho tentado assumir junto da Associação”, disse.
A um ano para terminar o mandato, Pedro Lages exprimiu que sente que tem sido “útil” à comunidade e que “essa é uma das grandes satisfações” que leva do exercício destas funções. Sobre uma eventual continuidade no cargo, responde com ponderação: “Naturalmente, tendo exercido um mandato, ou estando a chegar próximo do final do mandato, tenho disponibilidade, naturalmente, para continuar, porque também tenho mais conhecimento e acredito que (…) posso aportar um maior valor”, considerou.
Recomendações
Desfile do Enterro: Milhares de estudantes encheram as ruas de Aveiro com crítica e criatividade
O fim da tarde do Dia do Trabalhador trouxe ao centro comercial ‘Glicínias Plaza’ um maior fluxo de pessoas. Estudantes e familiares apressavam-se para assistirem ao arranque do desfile dos estudantes da Universidade de Aveiro. Eram cerca de 19h quando os carros começaram a sair do piso -1 do estacionamento do espaço comercial – onde os estudantes se reuniram durante os últimos sete dias para se prepararem para percorrer as ruas de Aveiro. Desfilaram pela Rua Mário Sacramento, com destino ao Cais da Fonte Nova, onde se encontrava o júri que daqui a cerca de uma semana anuncia o resultado do desfile deste ano. O curso de Ciências Biomédicas venceu o desfile do ano passado, o que lhe deu a possibilidade de ser o primeiro curso a desfilar este ano. Criticam a “partilha de informações falsas e enganadoras nas redes sociais que podem levar a uma má informação da população no que diz respeito à saúde”, enquanto alertam, simultaneamente, para o perigo da “confiança cega” dos conteúdos que consomem. Quem o diz é Miguel Marques, aluno do primeiro ano de Ciências Biomédicas da UA. O carro leva atrelado um boneco vendado a bordo de um moliceiro. É a “metáfora para a confiança cega que as pessoas depositam na informação que retiram das redes sociais”, explica o estudante. A parte de trás é um monte de areia, onde estão elementos que remetem para o conhecimento científico e para a razão. “O moliceiro desloca-se para fora da areia”, aponta Miguel Marques, numa clara alusão ao afastamento da valorização do conhecimento científico por parte da população. Mas Ciências Biomédicas não é o único curso que traz a Saúde às ruas aveirenses. O carro da Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro (ESSUA) – e dos vários cursos da escola – critica também matérias relativas à Saúde. Apostaram na “emigração dos profissionais de saúde e, por consequência, a falta de mão-de-obra em Portugal que leva ao fecho de alguns serviços de saúde”, explica Samuel Cruz, estudante de Imagem Médica e Radioterapia. Psicologia – um curso também ligado à Saúde - muda ligeiramente a temática e critica a utilização da inteligência artificial como substituição de aconselhamento psicológico. “ChatGPT versus psicológos” é o tema do carro, aponta Beatriz Moreira, estudante do primeiro ano do curso. O objetivo “é tentar mostrar às pessoas que a inteligência artificial não faz o mesmo trabalho que nós”, aponta a estudante. Na linha da tecnologia, também o curso de Multimédia e Tecnologias da Comunicação (MTC) decidiu criticar a inteligência artificial, juntamente com a liberalização do acesso às tecnologias dos mais novos. “Infância digital: já não se brinca no parquinho” é o tema do carro, aponta Carolina Pereira, estudante do terceiro ano de MTC. Querem “alertar para o facto das crianças já numa idade muito nova estarem logo em contacto com as tecnologias” e, pelo caminho, levantam, enquanto futuros profissionais da área, a “preocupação em relação à forma como as tecnologias são utilizadas”. Saindo da tecnologia, o curso de curso de Línguas, Literaturas e Culturas apresenta um carro sobre o abuso contra as mulheres e o machismo. “Apesar de estarmos no século 21, acho que ainda é um tema muito recorrente e acho que toda a gente deve lutar contra isso”, nota Rafaela Silva, estudante do curso. Ao seu argumento junta que a escolha partiu muito também pelo facto de serem “um curso maioritariamente de raparigas” e o caso recente da demissão de dirigentes associativos da Universidade do Porto, por alegadamente captarem imagens de colegas sem autorização. Ainda no campo social, o curso de Engenharia e Gestão Industrial explica que a temática escolhida se foca na “injustiça social”. “É um tema que é básico, mas a verdade é que está sempre presente na nossa na nossa sociedade, é algo que já é muito antigo, mas nunca há soluções eficientes”, apontam duas estudantes do primeiro ano do curso que preparavam uma faixa onde se iria ler “onde uns jantam, outros sobrevivem”. “É o nosso slogan”, aponta Laura. “A nossa mesa tem uma balança que está muito caída para o lado «rico», tem muitas coisas lá e do outro lado não tem quase nada e mesmo na mesa o pobre tem ali um um pãozito e um banquito para se sentar, enquanto o rico vai ter uma garrafa de vinho. um jantar todo completo, um trono para se sentar”, sublinham as estudantes. Mas nem só de crítica foi feito o desfile. Os cursos de Design e Engenharia Mecânica foram dois cursos que mantiveram vivas tradições. Em Design não houve carro – a estrutura do curso foi carregada às costas. Em Engenharia Mecânica foi literalmente quase construído um carro que, avisam os estudantes com orgulho, “nunca chega ao fim do percurso” e “é sempre desqualificado”. Um coração gigante pintado de vermelho assente numa estrutura de canas foi o carro de Design. Não têm propriamente uma crítica, mas sim a pretensão de exaltar o curso. “o nosso tema é vermelho nas veias”, começa por explicar Alice Silva, estudante do primeiro ano de design. “Todos nós viemos ter aqui a Design por algum motivo e esse motivo corre-nos nas veias, está no nosso sangue (…), mesmo sendo todos pessoas muito diferentes, (…) temos isto em comum”, repara Alice. A estrutura em canas de bambu foi carregada aos ombros, uma tradição que, pensa Alice, dura “há 26 anos”. Engenharia Mecânica, por sua vez, começou a preparação do carro com uma ida à sucata há já “um ou dois meses”. É Carlos Santos, estudante de Engenharia Mecânica que conta a história do único carro do desfile que não é totalmente preparado no parque de estacionamento subterrâneo do Glícinias Plaza. “Nós vamos à sucata, eles oferecem-nos o carro e depois vêm-no buscar no fim”, começa por contar o estudante. “É a mesma sucata já há 20 e tal anos”, frisa. “Escolhemos o carro, o que estiver disponível para nos dar (…) e nós depois inventamos o escape e os miúdos fazem as pinturas e as construções das coisas e pronto, tenta-se depois fazer o máximo de barulho”, aponta. Este ano o carro queria ser uma espécie de crítica aos casinos ilegais, mas o objetivo dos estudantes fica-se mais pelo “carro ‘fazer’ o máximo de cenário possível”, explica. O final do desfile fica marcado para os estudantes do curso pela destruição do trabalho feito no carro, que é devolvido à sucata. “Nós somos sempre desqualificados porque na teoria isto não se pode fazer, mas o nosso carro é o melhor na mesma: só não tem prémio”, aponta.
FFMS promove debate na UA: como mudaram as famílias portuguesas depois do 25 de Abril
“E depois da revolução: população e famílias” é o tema do debate que acontece já na próxima segunda-feira, dia 5 de maio, pelas 17h30, no Auditório Renato Araújo, na Reitoria da UA. Com o ponto de partida em dois minidocumentários da Fundação, a sessão pretende explorar como é que as famílias evoluíram nos últimos 50 anos. O evento é gratuito, mas a lotação é limitada. As inscrições deverão ser feitas através do site oficial da FFMS. A conversa é aberta ao público e conta com três convidados que têm nos últimos anos explorado estes temas: Alda Azevedo, demógrafa e investigadora auxiliar no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Pedro Góis, sociólogo e professor na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Tomás Magalhães, comunicador e host do podcast “Despolariza”, como moderador. O evento faz parte do ciclo “Cinco Décadas de Democracia”, organizado pela FFMS.
Porque há tão poucos jovens no Parlamento? Investigadora da UA explica o que está a falhar
A idade média dos deputados da nação tem vindo a subir, segundo o estudo ‘Jovens com asas cortadas: Colmatar o fosso entre o recrutamento e a representação jovem nas listas de candidatos’, de Carlos Jalali (DCSPT-UA), Patrícia Silva (DCSPT-UA) e Edna Costa (UMinho). “A idade média dos membros do parlamento tem vindo a aumentar. Nós fizemos esse levantamento em 2013: a idade média era 45,9; em 2022 era 49 (…) e a taxa de jovens, com menos de 35 anos, tem vindo a cair (…), com menos de 30 anos é baixíssima, são 5%, são muito, muito poucos os jovens que conseguem garantir esse caminho”, dá nota a docente e investigadora Patrícia Silva. Se considerarmos que os resultados das próximas legislativas, pelo círculo de Aveiro, serão semelhantes aos das últimas eleições, nenhum jovem será eleito neste círculo. O quadro pode, contudo, alterar-se, com as habituais suspensões de mandatos de alguns deputados que acabam por integrar o Governo. Nesse cenário, assumindo que voltarão a existir vários deputados que irão ocupar funções governativas, Carolina Marques, jovem de 27 anos da distrital da JSD-Aveiro que ocupa o nono lugar da lista da AD – Coligação PSD/CDS, poderá tomar posse como deputada. No segundo partido mais votado no círculo de Aveiro nas últimas eleições legislativas – o Partido Socialista (PS) – o cenário é idêntico ao da lista da AD e Catarina Gambelas, da distrital da JS-Aveiro, ocupa também o nono lugar. Note-se que em nenhuma eleição para a Assembleia da República, neste círculo, PSD ou o PS elegeram mais do que oito deputados. O Livre é, na atual eleição, o partido com mais jovens na sua lista, com dez dos 16 elementos a terem idades compreendidas entre os 22 e os 33 anos. O estudo dá conta de que as juventudes partidárias têm o “papel formal” de fazer a ligação “entre os jovens e os partidos neste processo fundamental para a seleção de candidatos, que é o momento mais importante na vida dos partidos”, aponta a investigadora Patrícia Silva. E, embora dentro da estrutura ocupem uma grande parte dos lugares – no estudo referido como a parte não visível de um iceberg - continuam a não ser “escolhidos” para integrarem as listas e, por consequência, a não conseguirem a eleição e a representação na AR. Mas o que é considerado “ser jovem” em política? Na política portuguesa a idade “limite” para se poder pertencer às juventudes partidárias são os 30 anos. “Tendo em conta os estatutos dos partidos, o ano que consideram são os 30 anos e, portanto, para efeitos daquilo que é considerado a juventude, nós consideramos 30 anos”, aponta Patrícia Silva. Logo aí, levantam-se questões sobre a representatividade dos próprios jovens dentro das juventudes partidárias. Além de só poderem permanecer nas ‘jotas’ até aos 30 anos, a professora destaca ainda que a maioria destes jovens “são de espaço urbano, maioritariamente com Ensino Superior, que têm tempo e muitos deles já foram socializados com os pais mobilizados em partidos políticos”. “Não são jovens que têm dificuldades financeiras, não são jovens em contextos menos urbanos e, portanto, não são jovens que se situam em locais do país onde não existem estruturas partidárias”, atenta Patrícia. O estudo refere ainda que os jovens que aderem a estas estruturas “aspiram frequentemente a uma carreira política, sendo a ambição política dos seus membros amplamente reconhecida”. Já relativamente à razão pela qual os jovens parecem ficar de fora na corrida a lugares elegíveis nas listas, a resposta é mais complexa. Patrícia Silva aponta que há um “aperto (…) no processo de seleção de candidatos” que faz com que os jovens “desapareçam” desse processo, mesmo que sejam uma “massa (…) muito considerável”, considera Patrícia Silva. “Os jovens não aparecem nas listas naquilo que nós consideramos lugares vencedores. Aparecem nas listas – até porque as juventudes vão tentando fazer esse trabalho – mas são empurrados para posições onde (…) têm muita dificuldade em garantir essa eleição”, aponta a investigadora. “Não conseguem ultrapassar esta barreira entre ser potencial candidato e ser um candidato efetivo, quer por conta da forma como se organizam os partidos, quer por conta do próprio sistema eleitoral que dá às lideranças” o poder para “estabelecer quem é que integra [a lista] e qual é o ranking das pessoas dentro das listas dos partidos”, explica Patrícia Silva. Pode-se, por isso, concluir que fazer parte de uma juventude partidária não só não é o único critério para que os jovens consigam entrar na política, como não é suficiente. O estudo mostra mesmo que são os processos informais que parecem ter um maior peso para que seja possível aos jovens escaparem do tal “gargalo” que existe na seleção dos candidatos às listas. “O nome dos jovens aparece muito [no processo de discussão das listas], porque os jovens fizeram um trabalho de estabelecer relações com a liderança da juventude partidária, com a liderança do próprio partido, construíram a sua carreira política que lhes permitiu construir redes dentro dos partidos e são essas redes e mecanismos mais informais que permitem aos jovens superar essa barreira, esse tal ‘gargalo’, esse aperto no processo de seleção”, explica Patrícia Silva. Isso faz com que os jovens, que já não sentem afeto pelos partidos nem pelas estruturas juvenis dos mesmos, “fujam” para outras formas de fazer política. Patrícia Silva aponta mesmo à Ria que “a participação jovem [na política] não está necessariamente em declínio, mas sim a ser reinventada, com jovens a envolverem-se em novas formas de participação política”. “Do ponto de vista de participação em manifestações, assinar petições (…), outro tipo de formas de contestar a política, os jovens estão a aproximar-se dos padrões europeus, estão muito ativos”, salienta a investigadora. Contudo, no caso português, apesar de um contexto onde as juventudes partidárias têm sido historicamente relevantes, o sistema de representação proporcional com listas fechadas, aliado ao monopólio formal dos partidos na apresentação de candidaturas, torna a seleção partidária de jovens muito restrita. Para além disso, segundo o estudo, “Portugal é uma das poucas democracias europeias (juntamente com Espanha e Roménia, no seio da União Europeia) com eleições parlamentares baseadas num sistema de representação proporcional com listas fechadas”. Este sistema faz com que a posição na lista seja o fator determinante na composição do parlamento. Se o nosso sistema eleitoral fosse um sistema aberto, os candidatos poderiam “mobilizar o eleitorado para ultrapassar uma colocação desfavorável na lista”. Não alterando esta realidade do nosso sistema eleitoral, resta então que os partidos se aproximem dos jovens, ou os jovens dos partidos. Patrícia Silva salienta, além da falta de representação anteriormente identificada, duas outras problemáticas que estão a dificultar essa aproximação. A primeira prende-se com a “perceção da existência de problemas e corrupção entre os partidos políticos”, o que leva a que seja feita uma “associação muito negativa dos partidos políticos a questões de corrupção”. Este é um dos fatores que mais “preocupa” os jovens que não se identificam com práticas corruptas e rejeitam qualquer associação a esse tipo de conduta. A segunda problemática é a forma como os jovens são vistos dentro dos próprios partidos. “É quase como se nós tivéssemos uma ponte que só tem um sentido. É assim que os partidos funcionam, utilizam estas estruturas [juventudes partidárias] numa lógica de ‘esta é a nossa mensagem: transmitam-na aos mais jovens’”, aponta a investigadora. Apesar disso, o eleitorado jovem é uma peça importante para a democracia. “O afastamento dos jovens das listas dos partidos impede a representação descritiva e dificulta essa representação substantiva. (…) Se estas duas são importantes para o eleitorado, o efeito que isto tem é que este eleitorado não participa e sente-se afastado, porque sente que os partidos não ouvem, não falam para pessoas como nós. E então, por que motivo deveria eu mobilizar-me para um partido que não está a falar para pessoas como eu?”, termina a investigadora.
Frossos recebe estágios da Universidade de Aveiro
Os acordos de cooperação celebrados entre o Município de Albergaria-a-Velha e a Universidade de Aveiro “possibilitam a receção regular de estudantes de licenciatura e mestrado para a realização de estágios curriculares em diversas áreas”. O acordo com o Departamento de Biologia tem como objetivo “transformar a Pateira de Frossos num laboratório vivo para futuros cientistas, tornando esta zona húmida numa ferramenta pedagógica relevante”, explica uma nota de imprensa. “Serão aprofundados os estudos científicos sobre o ecossistema da Pateira, em parceria com instituições académicas”, adianta o texto sobre o Centro de Interpretação que, nos seus três primeiros anos, dinamizou 187 atividades, com a participação de 3.440 pessoas, de acordo com os números divulgados pela autarquia.
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Município de Ílhavo reforça apoio ao Illiabum Clube em cerca de 32.000 euros
A adenda, de 32.000 euros, assinada pelo presidente da Câmara Municipal de Ílhavo, João Campolargo, e pelo presidente da Comissão Administrativa do Illiabum Clube, Bruno Bizarro, destina-se à “melhoria das condições do pavilhão, nomeadamente, do ginásio, com aquisição de equipamento de treino e substituição da porta de entrada norte e da porta do ginásio por portas automáticas”, aponta a autarquia. O investimento é considerado pelo município como “um reforço do apoio” que tem sido prestado pela autarquia “nos últimos nove meses” e que “representam um investimento” de cerca de 370.000 euros. Com esta adenda, o Município de Ílhavo aponta que “reforça o seu papel enquanto parceiro ativo no desenvolvimento do desporto, da saúde e da coesão social no território”.
Maratona da Europa 2025 confirma “afirmação internacional” e “impacto positivo no território”
A nota enviada às redações aponta que a iniciativa contou com a participação de “cerca de 20 mil” pessoas de “77 nacionalidades”, uma participação que o município aponta como tendo sido “recorde”. A CMA aponta que a iniciativa reforçou, assim, “a promoção e marketing territorial de Aveiro, Município e Região”. “A Maratona da Europa é hoje uma marca afirmada de Aveiro, que alia desporto, turismo, ambiente e cidade. A edição de 2025 foi particularmente especial, ao acontecer no mesmo dia do encerramento da Feira de Março, permitindo um momento de grande mobilização popular e de afirmação da nossa capacidade organizativa”, reparou Ribau Esteves, presidente da CMA. A nota da autarquia repara ainda que a iniciativa se revelou como “uma forte alavanca de promoção económica e turística da Região de Aveiro e da Região Centro, com a presença de milhares de pessoas (…) que usufruíram da restauração, hotelaria e comércio local durante o fim de semana”. A atividade teve o Cais da Fonte Nova como ponto de partida e de chegada e “voltou a destacar os principais ícones naturais e urbanos dos Municípios de Aveiro e Ílhavo”, destaca o município.
Município de Aveiro afirma que Feira de Março 2025 recebeu mais de meio milhão de visitantes
José Ribau Esteves, presidente da Câmara Municipal de Aveiro (CMA) sublinha que a Feira de Março de 2025 “foi mais uma edição de excelência, que consolidou o evento como um dos maiores e mais relevantes do panorama nacional”. “A diversidade da programação, a qualidade da oferta e a forte adesão popular demonstram que a Feira continua a crescer e a reinventar-se com sucesso”, frisa o autarca. Segundo nota enviada às redações, a edição deste ano da Feira de Março recebeu “cerca de 550.000 visitantes” ao longo do mês em que decorreu. O município destaca ainda que “esta edição voltou a contar com uma forte componente de animação cultural e musical, tendo os concertos noturnos registado grande sucesso de público, com especial destaque para o concerto do Plutónio que registou lotação esgotada, com milhares de pessoas a marcar presença em cada espetáculo”. A nota deixa ainda uma palavra de agradecimento “a todos os que contribuíram para o êxito da Feira de Março 2025 — visitantes, expositores, patrocinadores, parceiros, artistas, associações, toda a equipa técnica gestora, e muito em especial aos Cidadãos que a viveram”.
Desfile do Enterro: Milhares de estudantes encheram as ruas de Aveiro com crítica e criatividade
O fim da tarde do Dia do Trabalhador trouxe ao centro comercial ‘Glicínias Plaza’ um maior fluxo de pessoas. Estudantes e familiares apressavam-se para assistirem ao arranque do desfile dos estudantes da Universidade de Aveiro. Eram cerca de 19h quando os carros começaram a sair do piso -1 do estacionamento do espaço comercial – onde os estudantes se reuniram durante os últimos sete dias para se prepararem para percorrer as ruas de Aveiro. Desfilaram pela Rua Mário Sacramento, com destino ao Cais da Fonte Nova, onde se encontrava o júri que daqui a cerca de uma semana anuncia o resultado do desfile deste ano. O curso de Ciências Biomédicas venceu o desfile do ano passado, o que lhe deu a possibilidade de ser o primeiro curso a desfilar este ano. Criticam a “partilha de informações falsas e enganadoras nas redes sociais que podem levar a uma má informação da população no que diz respeito à saúde”, enquanto alertam, simultaneamente, para o perigo da “confiança cega” dos conteúdos que consomem. Quem o diz é Miguel Marques, aluno do primeiro ano de Ciências Biomédicas da UA. O carro leva atrelado um boneco vendado a bordo de um moliceiro. É a “metáfora para a confiança cega que as pessoas depositam na informação que retiram das redes sociais”, explica o estudante. A parte de trás é um monte de areia, onde estão elementos que remetem para o conhecimento científico e para a razão. “O moliceiro desloca-se para fora da areia”, aponta Miguel Marques, numa clara alusão ao afastamento da valorização do conhecimento científico por parte da população. Mas Ciências Biomédicas não é o único curso que traz a Saúde às ruas aveirenses. O carro da Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro (ESSUA) – e dos vários cursos da escola – critica também matérias relativas à Saúde. Apostaram na “emigração dos profissionais de saúde e, por consequência, a falta de mão-de-obra em Portugal que leva ao fecho de alguns serviços de saúde”, explica Samuel Cruz, estudante de Imagem Médica e Radioterapia. Psicologia – um curso também ligado à Saúde - muda ligeiramente a temática e critica a utilização da inteligência artificial como substituição de aconselhamento psicológico. “ChatGPT versus psicológos” é o tema do carro, aponta Beatriz Moreira, estudante do primeiro ano do curso. O objetivo “é tentar mostrar às pessoas que a inteligência artificial não faz o mesmo trabalho que nós”, aponta a estudante. Na linha da tecnologia, também o curso de Multimédia e Tecnologias da Comunicação (MTC) decidiu criticar a inteligência artificial, juntamente com a liberalização do acesso às tecnologias dos mais novos. “Infância digital: já não se brinca no parquinho” é o tema do carro, aponta Carolina Pereira, estudante do terceiro ano de MTC. Querem “alertar para o facto das crianças já numa idade muito nova estarem logo em contacto com as tecnologias” e, pelo caminho, levantam, enquanto futuros profissionais da área, a “preocupação em relação à forma como as tecnologias são utilizadas”. Saindo da tecnologia, o curso de curso de Línguas, Literaturas e Culturas apresenta um carro sobre o abuso contra as mulheres e o machismo. “Apesar de estarmos no século 21, acho que ainda é um tema muito recorrente e acho que toda a gente deve lutar contra isso”, nota Rafaela Silva, estudante do curso. Ao seu argumento junta que a escolha partiu muito também pelo facto de serem “um curso maioritariamente de raparigas” e o caso recente da demissão de dirigentes associativos da Universidade do Porto, por alegadamente captarem imagens de colegas sem autorização. Ainda no campo social, o curso de Engenharia e Gestão Industrial explica que a temática escolhida se foca na “injustiça social”. “É um tema que é básico, mas a verdade é que está sempre presente na nossa na nossa sociedade, é algo que já é muito antigo, mas nunca há soluções eficientes”, apontam duas estudantes do primeiro ano do curso que preparavam uma faixa onde se iria ler “onde uns jantam, outros sobrevivem”. “É o nosso slogan”, aponta Laura. “A nossa mesa tem uma balança que está muito caída para o lado «rico», tem muitas coisas lá e do outro lado não tem quase nada e mesmo na mesa o pobre tem ali um um pãozito e um banquito para se sentar, enquanto o rico vai ter uma garrafa de vinho. um jantar todo completo, um trono para se sentar”, sublinham as estudantes. Mas nem só de crítica foi feito o desfile. Os cursos de Design e Engenharia Mecânica foram dois cursos que mantiveram vivas tradições. Em Design não houve carro – a estrutura do curso foi carregada às costas. Em Engenharia Mecânica foi literalmente quase construído um carro que, avisam os estudantes com orgulho, “nunca chega ao fim do percurso” e “é sempre desqualificado”. Um coração gigante pintado de vermelho assente numa estrutura de canas foi o carro de Design. Não têm propriamente uma crítica, mas sim a pretensão de exaltar o curso. “o nosso tema é vermelho nas veias”, começa por explicar Alice Silva, estudante do primeiro ano de design. “Todos nós viemos ter aqui a Design por algum motivo e esse motivo corre-nos nas veias, está no nosso sangue (…), mesmo sendo todos pessoas muito diferentes, (…) temos isto em comum”, repara Alice. A estrutura em canas de bambu foi carregada aos ombros, uma tradição que, pensa Alice, dura “há 26 anos”. Engenharia Mecânica, por sua vez, começou a preparação do carro com uma ida à sucata há já “um ou dois meses”. É Carlos Santos, estudante de Engenharia Mecânica que conta a história do único carro do desfile que não é totalmente preparado no parque de estacionamento subterrâneo do Glícinias Plaza. “Nós vamos à sucata, eles oferecem-nos o carro e depois vêm-no buscar no fim”, começa por contar o estudante. “É a mesma sucata já há 20 e tal anos”, frisa. “Escolhemos o carro, o que estiver disponível para nos dar (…) e nós depois inventamos o escape e os miúdos fazem as pinturas e as construções das coisas e pronto, tenta-se depois fazer o máximo de barulho”, aponta. Este ano o carro queria ser uma espécie de crítica aos casinos ilegais, mas o objetivo dos estudantes fica-se mais pelo “carro ‘fazer’ o máximo de cenário possível”, explica. O final do desfile fica marcado para os estudantes do curso pela destruição do trabalho feito no carro, que é devolvido à sucata. “Nós somos sempre desqualificados porque na teoria isto não se pode fazer, mas o nosso carro é o melhor na mesma: só não tem prémio”, aponta.