Protesto no hospital da Feira contra “funções deturpadas” e milhares de euros em dívida
Profissionais do Hospital São Sebastião, em Santa Maria da Feira, reuniram-se hoje à entrada da unidade em greve contra a imposição de “funções deturpadas” a cerca de 500 trabalhadores e milhares de euros de retroativos em dívida.
Redação
A justificação para o protesto é explicada à Lusa por Mário Rui Cunha, presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Serviços e de Entidades com Fins Públicos (STTS), que disse que a legislação da nova carreira de Técnico Auxiliar de Saúde (TAS), em vigor desde janeiro de 2024, continua a não ser cumprida, não só nesse hospital do distrito de Aveiro e da Área Metropolitana do Porto, mas “em todo o país”.
“O Governo tem que olhar de forma séria para a carreira dos TAS, porque a nova lei já está a vigorar há quase um ano e dois meses, mas as funções desses profissionais ainda estão deturpadas. As unidades locais de saúde não se atualizaram em relação às contratações e neste momento há muitos constrangimentos no trabalho dessas pessoas, que estão a ser obrigadas a exercer funções que não são suas e sim dos assistentes operacionais”, declarou o líder do sindicato.
Catarina Magalhães, também dirigente do STTS, afirmou que essa “deturpação” se aplica sobretudo a funções de limpeza e deu exemplos concretos do que se passa na Unidade Local de Saúde do Entre Douro e Vouga (ULS EDV), que, entre dezenas de centros de saúde e outras estruturas, integra os hospitais da Feira, Ovar, São João da Madeira e Oliveira de Azeméis.
“Os TAS estão a ser obrigados a fazer limpezas de casas de banho, copas e espaços comuns, até porque o Hospital da Feira não tem equipa de limpeza. Certas colegas ainda deram um ano de tolerância à situação, mas avisaram que se recusariam a fazer esse serviço a partir de janeiro de 2025, e o que aconteceu foi que ficaram sujeitas a um clima de intimidação, ameaças e processos disciplinares”, revelou a sindicalista.
Uma das técnicas afeta ao São Sebastião instaurou um processo judicial contra essa unidade, porque, segundo o STTS, após a sua recusa em exercer funções que não são da sua categoria profissional, “foi transferida para o Hospital de Ovar, a uma distância muito maior”.
Mário Rui Cunha disse que outro problema a motivar a greve de hoje é o atraso na reposição dos retroativos que o Estado tem em dívida para com “milhares de trabalhadores em todo o país” devido a “pontos retirados à sua avaliação e não contabilizados para efeito da sua progressão remuneratória”.
No caso da ULS EDV, o presidente do sindicato não pôde adiantar o montante exato em dívida, mas referiu que, no caso da congénere da Covilhã, o problema afeta “uns 4.00 trabalhadores, o que representa 10 milhões de euros”.
“Agora imaginem hospitais da dimensão do São João, no Porto, ou do Santa Maria, em Lisboa”, realçou.
O STTS quer, por isso, uma “intervenção urgente do Governo” para resolver o impasse entre as diferentes estruturas do Estado envolvidas no pagamento dessa dívida e promete: “Se isto não se resolver rapidamente, além das próximas greves que já temos anunciadas, também vamos convocar uma manifestação em frente à Assembleia da República”.
A Lusa contactou a ULS EDV para obter esclarecimentos sobre as acusações do sindicato e aguarda uma resposta.
A estrutura sindical adiantou que, cerca das 10:00, registava já “70% de adesão à greve”, contando que essa participação aumentasse por volta da hora de almoço, por altura da mudança de turnos.
Outras reivindicações do protesto são a aplicação do subsídio de risco na carreira de TAS, assim como a revisão do sistema integrado de gestão e avaliação do desempenho na Administração Pública e ainda a instituição do cartão refeição para trabalhadores desse setor no Acordo Coletivo de Empregador Público, pelo valor de 10 euros diários, livres de impostos.
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Novo Governo: Salvador Malheiro entra, Emídio Sousa, Silvério Regalado e Carla Rodrigues continuam
Silvério Regalado é reconduzido como secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, enquanto Emídio Sousa deixar de ser secretário de Estado do Ambiente e passa a ser o novo Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. Carla Rodrigues, ex-deputada e vereadora da oposição na Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis até ao início deste ano, mantém-se também no Governo, como Secretária de Estado Adjunta da Juventude e da Igualdade. Com as nomeações conhecidas esta noite, há novas alterações na lista de deputados do PSD, pelo círculo de Aveiro, que integram a Assembleia da República. Gonçalo Breda Marques, ex-deputado à Assembleia da República e ex-vereador da Câmara Municipal da Mealhada, deverá assumir funções nos próximos dias. Note-se que Firmino Ferreira, atual presidente do PSD-Aveiro e da Junta de Freguesia de Oliveirinha, apesar de não ter sido eleito como deputado, já tinha iniciado funções na Assembleia da República no início desta semana, em virtude de Luís Montenegro, Emídio Sousa e Silvério Regalado integrarem o Governo. A nova composição governativa e parlamentar reforça a presença do distrito de Aveiro nos centros de decisão política nacional, com figuras com percurso autárquico relevante e ligação direta à região.
População de Águeda desafiada a integrar projeto de pintura corporal
O convite é feito através do AgitLab, programa de residências artísticas do Município, e culminará numa performance no AgitÁgueda – Art Festival 2025. A iniciativa procura que a comunidade partilhe histórias e vivências de Águeda, e que os participantes se candidatem como modelos e bailarinos para a performance. O projeto, concebido pela bicampeã mundial de ‘bodypainting’ Vilija Vitkute e pela coreógrafa Małgorzata Suś, baseia-se em narrativas reais da população para criar uma performance única. “Estamos à procura de modelos com interesse em ‘bodypainting’, dispostos a participar numa criação colaborativa e, simultaneamente, o município convida a comunidade a relatar as suas memórias sobre Águeda”, explicou o vice-presidente da Câmara, Edson Santos, citado numa nota de imprensa sobre o evento. As histórias, que podem ser sobre lugares, tradições ou experiências marcantes, devem ser enviadas até 15 de junho para [email protected], por escrito, áudio ou vídeo, adianta a mesma nota. Com base nessas narrativas, as artistas criarão o espetáculo visual "Onde os mundos se encontram". Para a performance, que será apresentada a 05 e 06 de julho, procuram-se pessoas maiores de 18 anos, residentes em Águeda ou arredores, “sendo desejável que tenham experiência em movimento e se sintam confortáveis com a exposição do corpo”. “As candidaturas para modelos e bailarinos devem ser enviadas até 15 de junho para [email protected], e os ensaios decorrem de 27 de junho a 06 de julho, no Parque Municipal de Alta Vila”, explica a nota.
Sónia Fernandes lidera candidatura do PS em Ílhavo com propostas para habitação e mobilidade
De acordo com uma nota de imprensa enviada à Ria, a candidata à presidência da Câmara Municipal de Ílhavo assumiu que se disponibiliza para esta missão porque acredita “nas pessoas, na força do trabalho sério e na diferença que podemos fazer juntos". “Não trago promessas por cumprir, nem faço parte dos jogos de sempre. Trago a força da renovação, a liberdade de pensar diferente, a coragem de fazer melhor. Não peço confiança por ter um nome feito, peço-a porque tenho um caminho limpo, porque sou um de vós e porque quero fazer parte da mudança que Ílhavo precisa. Acredito que a política se faz com pessoas reais, com verdade, com entrega, com empatia. Com respeito por cada voto, por cada voz, por cada vida”, vincou Sónia Fernandes. Entre as principais prioridades da sua candidatura, Sónia Fernandes apontou a “garantia de creches com vagas para todas as crianças; a promoção de habitação a custos controlados, para que os jovens e famílias possam viver com dignidade, perto da sua terra; a implementação de medidas na área da atração de investimento que promova emprego local, estável, digno e sustentável (…) o apoio à construção de lares, centros de dia e de uma Rede Municipal de Apoio Domiciliário em Proximidade e a promoção de uma rede de transportes públicos que una todo o concelho”. A candidata lembrou ainda que o PS nasceu da luta por liberdade, justiça e igualdade. “Queremos estar com as pessoas, pelas pessoas, com humildade, com verdade, com trabalho. Não para falar por cima, mas para ouvir de perto, porque a política só faz sentido quando é um exercício de proximidade. E é esse o Partido Socialista que quero representar: o que está no terreno, ao lado das famílias, dos trabalhadores, dos jovens, dos idosos”, vincou. A iniciativa contou também com as intervenções de Luís Leitão, candidato à presidência da Assembleia Municipal, Susana Correia, deputada e presidente da Mesa da Comissão Política da Federação de Aveiro do PS, Hugo Oliveira, presidente da Federação de Aveiro do PS, e Sónia Fernandes, candidata à presidência da Câmara Municipal. Militante do Partido Socialista desde 2005, Sónia Fernandes exerce, atualmente, funções na Assembleia Municipal de Ílhavo e é presidente da Comissão Política Concelhia do PS Ílhavo.
Feira abre ensino secundário na EB 23 de Paços de Brandão e lança obras de 8,5 ME
Segundo essa autarquia do distrito de Aveiro e da Área Metropolitana do Porto, a mudança já foi confirmada pelo Ministério da Educação e o novo ciclo de escolaridade ficará disponível logo em setembro, no arranque do ano letivo 2025/2026. O referido estabelecimento do Agrupamento de Escolas de Paços de Brandão passará assim a contar com duas turmas do 10.º ano, uma para o Curso de Ciências e Tecnologias, e outra para o de Línguas e Humanidades, o que abrirá “novas oportunidades para os jovens do território”. A perspetiva é de Amadeu Albergaria, presidente da Câmara Municipal da Feira, que afirma que a medida do Ministério da Educação vem dar resposta à crescente procura por ensino secundário nesse concelho de 213,4 quilómetros quadrados e cerca de 137.000 habitantes, e reflete “um reforço estratégico” da rede de ensino pública. “A abertura do Ensino Secundário em Paços de Brandão é uma conquista há muito desejada pela comunidade e uma das prioridades que identifiquei quando assumi a presidência da Câmara”, declara o autarca social-democrata. “Em 15 meses, fizemos o caminho certo, com trabalho, persistência e um diálogo direto e exigente com o Governo”, acrescenta, defendendo que o alargamento “reforça a coesão do território, valoriza a escola pública” e dá aos jovens do concelho “a oportunidade de permanecerem e crescerem na sua comunidade”. Quanto às obras de adaptação anunciadas para os anos seguintes, visam “uma requalificação profunda da escola”, o que implicará modernizar os espaços do recinto, renovar o seu pavilhão gimnodesportivo e construir de raiz um novo edifício. No ano letivo 2025/2026, enquanto o estabelecimento só ministrar o 10.º grau de escolaridade, Câmara propõe-se avançar com o projeto de arquitetura e com o concurso público para adjudicação da empreitada. Em 2027, quando a escola já acolher turmas de 10.º e 11.º anos, deverão então iniciar-se os trabalhos concretos no terreno, com as aulas a decorrerem em paralelo à intervenção. Dos 8,5 milhões de euros que a autarquia contagastar na empreitada que se prevê de12 meses, “cerca de seis milhões serão financiados por fundos comunitários e 2,5 milhões pelo próprio orçamento municipal”.
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Novo alerta para mensagens fraudulentas enviadas em nome da Autoridade Tributária
“Prezado(a) contribuinte: informamos que o sistema informático identificou um reembolso de imposto pendente associado ao seu NIF (Número de Identificação Fiscal). Para evitar atrasos no processamento, confirme os seus dados bancários através do portal seguro. O procedimento é rápido e obrigatório para a validação do reembolso”, refere o corpo de uma dos ‘emails’ falsos que a AT partilhou hoje no seu portal, e que, de seguida, fornece um 'link' malicioso. Este novo alerta de fraude – o sétimo que a AT efetua desde o início do ano – mostra vários exemplos de ‘emails’, sendo que quase todos usam o logótipo da AT e a maioria acena com o pagamento de reembolsos, fornecendo ‘links’ maliciosos que, se abertos, poderão dar acesso a dados relevantes do visado, nomeadamente bancários. Num outro exemplo de ‘email’ fraudulento partilhado pela AT neste novo alerta, a mensagem inclui mesmo ‘campos’ para as pessoas colocarem os dados do seu cartão bancário (número, data de validade e CVV). Perante estas situações a AT reitera que as mensagens em causa devem ser ignoradas e apagadas, pois o seu objetivo “é convencer o destinatário a aceder a páginas maliciosas carregando nos ‘links’ sugeridos ou a efetuar pagamentos indevidos”.
Filmes portugueses conseguiram este ano 1% dos 4,5 milhões de espectadores das salas de cinema
As estatísticas mensais de exibição comercial de cinema, divulgadas hoje pelo ICA, dão conta de que este ano, até maio, os cinemas portugueses acolheram 4.525.468 espectadores, ou seja, mais 13% do que igual período de 2024. Em termos de receita de bilheteira, somaram-se 28,5 milhões de euros, num aumento de 16,5% (cerca de quatro milhões de euros) face ao mesmo período de 2024. Os filmes portugueses ou com coprodução nacional, estreados este ano, foram vistos por 48.449 espectadores, o que significa que representaram 1,1% da quota total do mercado. Em receitas de bilheteira, a quota é de 0,8%, com um total de 228 mil euros. Dos 172 filmes estreados nos cinemas entre janeiro e maio, apenas 44 (25,6%) foram de produção ou coprodução norte-americana, mas são os que têm mais sucesso, ultrapassando a quota dos 67% do total da exibição, tanto em receita de bilheteira como em audiência. Comparando apenas a prestação do mês de maio, este ano houve um aumento de 27,4% no número de espectadores face a 2024, para um total de 852.584 entradas, e uma subida de 37% em receitas de bilheteira, somando 5,3 milhões de euros. Esta subida pode justificar-se pela realização da iniciativa “Cinema em Festa”, organizada durante três dias de maio pela Associação Portuguesa de Empresas Cinematográficas, com a venda de bilhetes a 3,5 euros em mais de 420 salas. Este ano, e com dados contabilizados até maio, o filme mais visto nos cinemas foi “Um Filme Minecraft”, de Jared Hess, com 498.120 espectadores e três milhões de euros de receita. O segundo filme mais visto continua a ser “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, com 383.829 entradas e 2,4 milhões de euros de bilheteira. “On Falling”, de Laura Carreira, é o filme português mais visto este ano, com 12.531 espectadores e cerca de 75 mil euros de receita.
Diretor da PJ alerta para aumento da violência contra as mulheres mais jovens
À margem do seminário sobre violência doméstica, que decorre hoje no edifício da PJ, Luís Neves defendeu que é necessário combater este tipo de violência contra as mulheres, crime que considerou “absolutamente intolerável”, e deu como exemplo jogos ‘online’ em que o alvo são precisamente as mulheres e em que o objetivo é violar, abater e perseguir mulheres. “Isto é absolutamente inqualificável, sobretudo quando estamos a falar de gente jovem”, referiu o diretor nacional da PJ, dando como exemplo três detenções feitas por esta polícia e relacionadas com o crime de violação em apenas dez dias. “Estamos a falar de violações de gente muito jovem em relações de proximidade. É intolerável termos mulheres como alvo a abater”, acrescentou. Luís Neves falou ainda sobre a investigação relacionada com o jovem de Santa Maria da Feira, de 17 anos, que foi recentemente acusado pelo Ministério Público de vários crimes, incluindo o de instigar um massacre no Brasil, em 2023. Este jovem, descreveu o diretor nacional da PJ, recrutou e incentivou, sempre ‘online’, jovens no Brasil para que fosse feito um ataque em massa numa escola, sendo que neste momento a Polícia Judiciária está a trabalhar com a Polícia Federal do Brasil para que sejam identificados todos os autores do massacre que resultou na morte de uma jovem. Além deste massacre, o jovem de Santa Maria da Feira, que vivia com os pais e se encontra detido desde o ano passado, estaria a planear matar pessoas em situação de sem-abrigo em direto para vender as imagens em ‘streaming’. “Foram também cometidas agressões sexuais a jovens mulheres, adolescentes, que foram violadas em grupo, incentivadas a partir da ‘internet’. Essas mesmas vítimas, que foram duplamente vitimizadas, acabaram depois por ser pressionadas para se automutilarem sob pena de as imagens das violações serem difundidas”, explicou ainda Luís Neves a propósito deste jovem de Santa Maria da Feira. Para o diretor nacional da Polícia Judiciária, estes crimes “são sinais de que há um foco muito especial na mulher, nas mulheres jovens, em que são tratadas como coisas, são abusadas, são agredidas e violentadas”.
São Gonçalinho: entre amizades, amores e a marca da Universidade de Aveiro
Estávamos no ano de 2011. Ricardo Torres e Diogo Matos, dois amigos de infância, deixavam a sua terra natal - a Guarda - para rumarem a Aveiro para ingressarem no curso de mestrado integrado em Engenharia Eletrónica e Telecomunicações na UA. O objetivo era simples para ambos: terminar o curso e regressar à Guarda. A verdade é que após 14 anos esse objetivo foi em parte cumprido já que ambos continuam, atualmente, na cidade de Aveiro. Ricardo a trabalhar e a concluir o doutoramento na UA na área das telecomunicações. Diogo só a trabalhar. Foi também no curso que ambos se apaixonaram e conheceram as suas atuais companheiras. Por sinal, aveirenses. Ironia do destino, no ano passado, sem que se apercebessem, foram ainda ambos desafiados, por diferentes mordomos, a integrar a mordomia de São Gonçalinho ao longo dos próximos dois anos. Manda a tradição que, no final do segundo ano, cada mordomo em funções escolhe a quem quer entregar o seu ramo. O mesmo acontece com o gabão. Assim aconteceu com estes dois jovens. Ricardo recebeu o convite “em finais de outubro/inícios de novembro” do ano passado por parte do “Vasco”. Nega-se a dizer que quem o convidou foi um “ex-mordomo”. “Uma vez que somos mordomos, somos mordomos para sempre”, justificou prontamente. Prefere referir-se ao “Vasco” como um “mordomo da antiga mordomia”. Partilha que aceitou o convite só depois de conversar com a sua família. É a primeira vez que vai assumir o papel de mordomo de uma festividade. Contra todas as previsões, em Aveiro. “Na Guarda participei em uma ou duas [festividades], mas mais naquela situação de ajudar amigos em que eles é que, efetivamente, eram os mordomos e eu estava lá para ajudar (…). Nunca na vida pensei numa coisa destas. Eu apenas coloquei Aveiro [nas candidaturas ao Ensino Superior] porque o meu pai me disse que Eletrónica poderia ser um curso com muita saída”, recordou. Diz que sentiu a “responsabilidade” de assumir o ‘cargo’ no dia em que as Festas de São Gonçalinho 2025 terminaram. “Até ao dia da passagem do ramo, eu era um aveirense emprestado por assim dizer. Quando entramos na capela já com o ramo na mão aí sim, deu-me um arrepiozinho de receio com satisfação”, descreveu. Até hoje, Ricardo Torres não consegue associar a um único episódio a ligação “especial” que sente por São Gonçalinho, mas sim a um conjunto de momentos e pessoas. A maioria associado ao contexto de estudante e da UA. Ainda assim, não deixa de reconhecer que uma das peças “mais relevantes” foi a sua namorada. Uma pessoa que descreve como “extremamente devota ao santo”. “Ela apresentou-me o santo não da forma festiva como eu o conhecia. Apresentou-me a parte mais devota e mais brincalhona do santo, por assim dizer. Eu comecei-me a enturmar e a gostar bastante e, entretanto, este ano, alguém decidiu, por obra e graça do santo, como nós dizemos, que eu era merecedor desta honra e deste convite”, partilhou. Conhecido também como o santo casamenteiro, Ricardo acredita que, até aos dias de hoje, este foi o santo que deu o “empurrãozinho” para conhecer a sua companheira. Diogo estava a organizar o almoço de aniversário da sua namorada quando recebeu o convite para a Mordomia de São Gonçalinho “em meados de novembro” do ano passado. Confidencia que não esperava o convite “num futuro tão próximo” já que sabia o que significava aceitar um “desafio destes” num ano em que tem também planeado casar. Conta, entre risos, que ficou em “estado de choque”. “Fiquei sem saber o que é que ia fazer. Não estava nada à espera disto. Entretanto, quando aceitei, liguei [ao Ricardo] e foi quando soube que ele também tinha sido convidado”, relembrou. Recorda que o primeiro contacto que teve com o São Gonçalinho surgiu logo “nos primeiros anos” quando chegou a Aveiro enquanto estudante. Na altura, numa abertura do Festival Internacional de Tunas da Universidade de Aveiro (FITUA) que decorreu na capelinha de São Gonçalinho. “Não conhecia de todo o São Gonçalinho. Ouvi falar que era uma festa de atirar cavacas…”, partilhou. Das Festas de São Gonçalinho, enquanto estudante, relembra ainda os tempos em que tinha de fazer “um jogo de cintura” para conseguir ir às festividades já que “coincidiam sempre com a época de exames”. “Foi engraçado ver essa evolução e o crescimento das festas. As festas antes eram num pequeno palco no antigo Rossio, que agora está todo remodelado. Agora temos uma tenda que está ao nível das semanas académicas. Eu acho que isso foi engraçado de se ver”, sublinhou com um orgulho evidente no olhar. A relação “mais próxima” com o São Gonçalinho acabaria por surgir “nestes últimos quatro ou cinco anos”. “Foi quando o pessoal mais próximo de mim e do Ricardo fez parte da mordomia. Foi aí que começamos a viver um bocadinho mais de próximo e mais intensamente estas festividades aqui da Beira Mar e mais relacionadas com o santo”, contou. Sobre o que representa para si o São Gonçalinho? Diogo diz ser “complicado de responder”. “Para mim representa amizade e família. Foi aqui no São Gonçalinho que cresceram várias relações, nomeadamente, da minha namorada e dos meus amigos. É o significado de estar em família. Acho que é um bocadinho a definição que consigo pôr em palavras de forma mais concisa”, assegurou. Osvaldo Pacheco foi o juiz da mordomia escolhido, este ano, pelos 21 novos mordomos das Festas de São Gonçalinho. É, atualmente, a figura máxima dentro do grupo. Curiosamente, também ele tem ligação à UA e ao Departamento de Eletrónica, Telecomunicações e Informática (DETI) enquanto professor auxiliar. Foi também pró-reitor da UA durante oito anos. A única diferença entre Ricardo e Diogo é que Osvaldo nasceu e sempre viveu em Aveiro. Atribui os seus 14 anos como a idade de descoberta da festividade já que passou a sua infância na freguesia de Glória. “Na altura, vinha à festa com a família, mas não da forma como as pessoas do Bairro da Beira-Mar a viviam. Eu visitava as festas… Era uma coisa diferente”, reconheceu. Sublinha que antes o São Gonçalinho “era algo muito pequeno”. “Tenho poucas memórias, mas recordo-me que havia um coreto e que já havia o lançamento das cavacas. Lembro-me de uma fogueira, algures por aí, e que era uma festa muito mais pequena, com uma dimensão que não tinha nada a ver”, relembrou. Tal como Ricardo e Diogo, também Osvaldo recebeu o convite para ser mordomo. Explica que foi o grupo atual que, posteriormente, o “escolheu” para ser o juiz da mordomia. “Nós não vimos para a mordomia por causa do cargo. Vimos para servir aquilo que é o bem maior, que são as festividades em torno de São Gonçalinho”, vincou. À Ria, recorda que recebeu o convite para ser mordomo “um ano antes” e que demorou “muito tempo a aceitar” por saber que a tarefa exigia uma “grande disponibilidade mental e física”. “Eu tenho uma atividade profissional também muito impactante e com muita dedicação. Portanto, conciliar tudo isto significa que os dias passam a ser mais longos e que são mais as horas que eu não dedico à família e a outras coisas que eu gosto… Ao meu Benfica e ao meu Beira-Mar”, brincou. Apesar da hesitação inicial, Osvaldo Pacheco acabou por aceitar ser mordomo e, posteriormente, ser juiz. Sublinha que o fez por uma única razão: a “paixão”. “Isto é o concretizar de um namoro e que depois se transforma em casamento (…) A mim aconteceu um pouco o mesmo sendo que a minha família também é devota do São Gonçalinho. A minha filha e a minha mulher foram as primeiras a dizer-me que tinha de ser mordomo e a empurrarem-me para ser mordomo”, contou com um sorriso rasgado. Este ano, dos 21 novos mordomos de São Gonçalinho, Osvaldo realça, com orgulho, que “oito ou nove” são alumnis da UA. “Muitos deles são nascidos e criados aqui no Bairro. Outros vieram de fora, como o Diogo e o Ricardo e depois vivenciam o Bairro como se fosse deles… E é o bairro de todos. Portanto, não só respeitam as tradições como as querem manter, como querem ser os curadores dessas tradições”, exprimiu. “Isso do meu ponto de vista é muito bom, porque só enriquece quer o bairro, quer as Festas de São Gonçalinho”, continuou. Satisfeito com o que já foi feito, Osvaldo Pacheco diz querer dar “continuidade” ao “legado” que as anteriores mordomias deixaram. “Queremos fazer as festas com pequenos toques pessoais, mas fazer da mesma maneira, para criar, no fundo, o hábito de existir certas atividades para que a comunidade se reveja nelas. Nós não podemos esquecer que o São Gonçalinho é mais do que uma festa religiosa. É multidimensional”, recordou. Entre os “toques pessoais” aponta um dia dedicado à UA. “A Universidade de Aveiro é obviamente uma das grandes instituições da cidade e do país. Essa ligação [entre a UA e o São Gonçalinho] existe mais do que nós pensamos. As Tunas Universitárias – feminina e masculina - da Associação Académica da Universidade de Aveiro (AAUAv) têm como padroeiro o São Gonçalinho. (…) Eu gostava que essa ligação se estendesse à universidade… Aí ainda não estamos no ponto que gostava que estivéssemos”, confidenciou. Também nos desejos desta mordomia está em fazer com que a festa se estenda a todo o Bairro da Beira-Mar. “Ela já lá está, mas podemos ter novas centralidades dentro do bairro, com outros eventos mais pequenos, em que aproxime toda a gente da festa”, apontou. Os restantes desejos? Osvaldo prefere não os revelar sublinhando que “o segredo é a alma do negócio”. No final da festividade, Osvaldo Pacheco partilha ainda à Ria que “gostava muito” que os 21 mordomos que iniciaram em janeiro terminassem com o sentimento de que constituíram “uma família”. Sobre se gostará mais do São Gonçalinho, nos próximos dois anos, do que do seu Beira-Mar ou do seu Benfica? Osvaldo responde-nos com uma gargalhada: são “coisas complementares”. “Diria que, nestes dois anos, a minha prioridade, para além da parte profissional e familiar (…) onde eu vou dedicar grande parte do meu tempo, é esta causa. Tem de ser. Não há outra forma de lidar com estas coisas”, reconheceu. Até janeiro de 2026, altura em que ocorrem, novamente, as Festas de São Gonçalinho, os 21 novos mordomos vão afinando a voz, por aqui e acolá, ensaiando com devoção a marcha que todos esperam ouvir: a “Marcha de São Gonçalinho”.