Ana Maria, um dos rostos por detrás do licor de alguidar
O licor de alguidar é, a par das cavacas, um dos símbolos mais fortes - e das tradições mais enraizadas - das festas de São Gonçalinho. Ana Maria Garcia é uma das mulheres do bairro da Beira-Mar que continua a produzir a bebida de forma tradicional.
Ana Patrícia Novo
JornalistaDurante todo o ano é vendido nas lojas o Licor de Aveiro. Nas casas do bairro da Beira-mar, em especial pela altura da Festa de São Gonçalinho, faz-se licor de alguidar. Ana Maria Garcia faz “licor do Santo”.
Mora no bairro da Beira-mar “desde sempre”. É uma das mulheres do bairro que ainda faz o famoso licor de alguidar em casa. “Para mim é licor do Santo”, partilha entre sorrisos. “Tradição e pura cavaqueira” é o que move a técnica auxiliar de saúde no Hospital de Aveiro a continuar a produzir o licor.
Tira dias de férias em janeiro para viver a festa de São Gonçalinho, uma tradição de quem vive desde sempre as Festas. Aprendeu a arte do licor de alguidar com as matriarcas da família e com as vizinhas. “As vizinhas juntavam-se todas para fazer licor”, recorda.
Em pequena ficava a assistir enquanto as mulheres da família e do bairro produziam o licor. Mais tarde, começou naturalmente a ‘pôr a mão na massa’. Agora ninguém a para.
Muitas coisas mudaram. Antigamente o licor era feito em alguidares de barro, da mesma forma que salgavam as carnes e peixes para não apodrecerem, explica Ana Maria. “Não havia os meios que há agora”, sublinha. A essência da bebida continua, no entanto, a ser a mesma.
Calda de açúcar, aguardente, cor e essência de menta
Ana Maria tenciona continuar a fazer licor. Faz para a sua família, para os amigos que lhe pedem e para as barraquinhas da Festa de São Gonçalinho. Este ano o seu licor pode ser saboreado na barraquinha do S.C. Beira-Mar. “O nosso clube de tradição”, sublinha.
Registar a patente do seu licor é uma hipótese que não descarta. O incentivo vem da parte do filho e dos amigos. “Tenho uma pessoa muito minha amiga que diz que me quer oferecer a patente”, partilhou.
Calda de açúcar, aguardente, cor e essência de menta são os ingredientes que Ana Maria transforma num licor de cor verde-esmeralda e sabor de menta forte. A calda de açúcar, conta, “tem de estar muito mais do que uma hora a ferver para apurar muito bem”.
Depois juntam-se os restantes ingredientes. No final há que coar o líquido. “Muitas aguardentes, como são caseiras, trazem sempre resíduos e tem de se coar”, ensina Ana Maria.
Agosto é quando começa a fazer licor para a altura do São Gonçalinho. Para a festa que está por estes dias a decorrer, assegurou a produção de mais de 200 litros da bebida caseira. Em anos anteriores (quase todos), a procura foi mais alta do que a oferta e Ana Maria deu por si a fazer o licor durante os dias de festa.
O licor feito em agosto é diferente do que faz nos dias de festa, quando o fluído verde não é suficiente para aquecer as pessoas que correm a festa. Não tem tempo para apurar. “Não quer dizer que este agora não fique bem, fica. Mas não tem aquele corpo que devia ter”, explica.
“Na zona da Beira-Mar toda a gente faz licor”, garante. “Nas casas, a nível particular, as pessoas fazem questão de quando há a arruada abrirem as portas e terem uma garrafa de cada licor”, refere.
A tradição é tão grande que na arruada característica da Festa, as pessoas entram nas casas e bebem o licor que é oferecido pelos residentes. Apesar do licor verde de sabor a menta ser o mais tradicional, não é o único sabor que existe, conta-nos Ana Maria. “Também se faz licor de ananás, de morango, de café, (...) fazem vários licores”, aponta.
As cavacas, a devoção e a mordomia também fazem parte da vivência da Festa para Ana Maria
“A gente faz tudo pelo santinho”, afirma. A produção do licor é apenas um dos laços que a liga às festas. Apesar da devoção a São Gonçalinho, admite não ter promessas. Mas atira cavacas. “O meu pai todos os anos, penso que tinha promessa, atirava cinco quilos”, conta. Hoje em dia o pai já cá não está, mas Ana Maria continua a atirar pela sua vez. “É tradição mesmo”, refere.
A tradição manda também que os homens do bairro – mas não só – façam parte da Mordomia de São Gonçalinho. Recorda ser filha, esposa e mãe de homens que serviram a São Gonçalinho com orgulho. Mas o que gostava mesmo era de ela mesma fazer parte do grupo.
Apesar de existir uma mordomia composta por mulheres, responsáveis por adornar e guardar a capela durante todo o ano, Ana Maria é assertiva quando afirma que “se tivesse de fazer parte de uma mordomia, tinha de ser a dos homens”. Afinal, o sonho de toda a gente da Beira-Mar é mesmo fazer parte da mordomia.
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Luís Montenegro: "Quem convive mal com tolerância não é digno de viver o 25 de Abril"
“O 25 de Abril é uma data que nos transmite o sentimento de liberdade, o sentimento de respeito e tolerância pelo pensamento diferente, isso é a essência do 25 de Abril, é a essência da democracia e, portanto, todos aqueles que convivem mal com a diferença, com a tolerância, não são, efetivamente, dignos de poder viver plenamente o 25 de Abril e o seu significado. E eu lamento isso”, afirmou. O primeiro-ministro falava aos jornalistas após cruzar a meta da caminhada dos cinco quilómetros, uma das provas da 5.ª edição da Maratona da Europa, que se realizou hoje em Aveiro. Sobre os confrontos registados na sexta-feira, em Lisboa, que envolveram participantes de uma manifestação de extrema-direita, não autorizada, Montenegro disse que quando há excessos, tem de haver alguém que ponha ordem e que garanta a liberdade de todos. “Eu creio que as autoridades fizeram aquilo que se impunha para manter a tranquilidade e a ordem pública. Agora quando há comportamentos que são de excesso e que extravasam o cumprimento das regras, isso responsabiliza os autores desses comportamentos”, referiu. O primeiro-ministro disse ainda não temer que a campanha eleitoral fique marcada por este tipo de movimentos, considerando que, apesar de algumas exceções, a democracia em Portugal funciona e os partidos políticos e os agentes políticos respeitam-se. “Evidentemente que há fenómenos extremos que devem ser acompanhados, devem ser também combatidos democraticamente e nós não os subestimamos nem desvalorizamos, mas também não entramos agora em depressão porque há esses epifenómenos relativamente àquilo que é a generalidade das pessoas, dos portugueses e a generalidade dos partidos políticos também”, observou. Segundo a PSP, a operação policial associada ao 25 de Abril em Lisboa, na sexta-feira, terminou com três detidos, inclusive os líderes do Ergue-te e do grupo de extrema-direita 1143, quatro pessoas identificadas e dois polícias com ferimentos ligeiros. Num balanço ao final do dia, o comandante da 1.ª Divisão Policial do Comando Metropolitano da PSP de Lisboa, Iúri Rodrigues, realçou a realização de “dois eventos que foram comunicados e que foram proibidos pela autoridade competente”, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), referindo-se a duas concentrações marcadas para o Martim Moniz, uma promovida pelo partido Ergue-te e grupos de extrema-direita e uma contramanifestação a essa mesma iniciativa. Esses dois eventos justificaram a mobilização de um dispositivo policial para “fazer cumprir a ordem da autoridade administrativa, portanto a proibição” da realização dessas iniciativas, explicou Iúri Rodrigues, referindo que o partido Ergue-te tentou realizar a iniciativa no Largo de São Domingos, junto ao Rossio, e foi nesse local que se verificaram dois momentos de “elevada tensão”, que exigiram a intervenção da PSP. Quanto ao tradicional desfile das celebrações do 25 de Abril, desde a Praça Marquês de Pombal até à Avenida Liberdade, “decorreu praticamente sem quaisquer incidentes”, afirmou Iúri Rodrigues. Em reação às críticas do líder do PS, que referiu que agora há mais serviços de urgência encerrados do que no ano passado, Luís Montenegro aponta que a situação na Saúde é melhor do que há um ano atrás. “Há um ano atrás a saúde estava pior do que está agora. Não quer dizer que agora esteja bem, nós sabemos que há muita coisa para fazer”, disse Luís Montenegro. Questionado pelos jornalistas sobre a situação na saúde, Montenegro referiu ainda que o Governo tem vindo a trabalhar para resolver um problema com muitos anos, realçando que atualmente “espera-se menos tempo para ter uma consulta e para ter uma cirurgia e também há menos urgências fechadas do que havia há um ano atrás, nas mesmas circunstâncias”. “Isto não quer dizer que está tudo bem, mas quer dizer que nós estamos a resolver os problemas à medida que o tempo nos permite que eles sejam resolvidos. Agora, não nos podem exigir que façamos em 11 ou 12 meses aquilo que outros não fizeram em mais de 20 anos. Não foram só os oito anos que nos antecederam, o PS governou 22 dos últimos 30 anos”, observou. Montenegro disse ainda que espera que os portugueses tenham sentido de justiça de fazer uma apreciação sobre aquilo que cada um foi capaz de fazer no seu período, adiantando que o juízo será feito na campanha eleitoral e depois culminará no dia das eleições. Recorde-se ainda que Luís Montenegro foi desmentido por José Ribau Esteves relativamente ao ponto de situação do hospital de Aveiro, depois de ter afirmado na apresentação da candidatura de Luís Souto de Miranda que espera que as obras de ampliação do hospital de Aveiro avancem até outubro.
Câmara de Aveiro vai investir 2,5 ME na reabilitação da Escola Básica da Alumieira
Segundo uma nota camarária, o concurso público para a empreitada de reabilitação e ampliação da Escola Básica da Alumieira tem o valor base de 2.536.852,62 euros e um prazo de execução de 540 dias. "Esta empreitada contempla uma intervenção profunda no edifício atualmente em funcionamento, construído nos anos 40 do século XX, e que acolhe os alunos do Pré-escolar e do 1.º Ciclo do Ensino Básico", refere a mesma nota. Segundo a autarquia, o projeto de execução prevê trabalhos de requalificação global dos principais elementos estruturais e de infraestruturas da escola, incluindo a cobertura, paredes e vãos exteriores, bem como as redes de abastecimento de água, saneamento, gás, eletricidade e telecomunicações. A intervenção vai abranger também os pavimentos interiores, pinturas, equipamentos de aquecimento, componentes sanitários, entre outros. Será ainda construído um novo edifício, que permitirá colmatar valências em falta na escola, nomeadamente com a criação de um refeitório/polivalente e de uma biblioteca, reforçando a qualidade da oferta educativa e o conforto das condições de ensino para toda a comunidade escolar.
Lucinda Rigueira apresenta este sábado livro sobre linguajar do Bairro da Beira Mar
De autoria de Lucinda Rigueira, a obra literária “nasceu de uma brincadeira” como dá nota a mesma ao Diário de Aveiro. O livro pretende registar para a posteridade o “linguajar cantado” e a “musicalidade” da forma “muito caraterística do bairro” da Beira Mar, lê-se na sinopse do livro. Lucinda Rigueira é “«cagaréu» de gema”, tirou o curso de professora no Magistério Primário de Aveiro e fez o Complemento de Formação Científica e Pedagógica na Universidade de Aveiro. Agora “abre uma gaveta de memórias que a levaram a escrever ‘Conversas no linguajar do Bairro da Beira-Mar’”, lê-se na nota sobre a autora no site da editora do livro. A sessão de apresentação decorre este sábado, dia 26, no Salão Nobre dos Bombeiros Novos de Aveiro.
“Não queriam lá saias”: as barreiras que as mulheres começaram a derrubar depois do 25 de Abril
Era sábado. A conversa estava marcada para as 11h00 no pequeno ‘auditório’ da VIC Aveiro Arts House. Trata-se da antiga residência de Vasco Branco, uma figura ímpar da cultura aveirense que se evidenciou no campo das artes plásticas, no cinema e na literatura. Espaço esse que agora foi transformado em casa-museu, residência artística e alojamento local por iniciativa do neto, Hugo Branco. Começo por lhes questionar se alguma vez tinham entrado naquele auditório. Respondem-me prontamente que não. Explico que ali já haviam sido exibidos filmes censurados pelo Estado Novo. Não se mostram surpreendidas com a explicação ainda que admitam que “naquela época” não sabiam. “Para mim era uma casa, completamente, normal”, desabafa Maria do Carmo Costa que prefere que para esta conversa a chame “só” de Carmo. Provoco-as para perceber como era o cinema antes do 25 de Abril. Carmo responde-me que não tinha sequer possibilidades para tal. “Por exemplo, para ver televisão vinha da Beira-Mar. A minha tia morava aqui atrás do Teatro Aveirense numa casa que só tinha uma porta e uma janela. Era a única que tinha televisão da família”, partilha. Entre os filmes que se lembra de ver estava o dos “Dez Mandamentos”. Só mais tarde, quando começou a trabalhar, é que se recorda de pedir à sua mãe se podia ir ao cinema, durante o fim de semana, “à sessão da tarde”. “Havia uma seleção muito grande relativamente a idades. Eu lembro-me que tinha 11 anos e fui ver um filme para 12 anos. Na altura, fui com a minha prima. Como eu era mais alta do que ela - apesar de ela ter 15 anos - acabou por não entrar e ficou na porta”, conta. “Só depois do 25 de Abril é que começou a haver assim coisas diferentes”, reforça. Eugénia partilha da mesma ideia e refere que “aos 14 anos” os filmes que se recorda de ver eram também “muito aqueles filmes bíblicos, históricos e a música no coração”. Apesar de ter televisão em casa refere que aquilo girava à volta “do canal um e do canal dois”. Rosa diz-nos também que “nunca teve nada disso” e que ir ao cinema era “uma coisa excecional porque os bilhetes não eram acessíveis a toda a gente”. “Para quem tinha televisão, realmente, era a fuga”, aponta. “Recordo-me que havia filmes que passavam em determinadas épocas, anos seguidos e lembro-me de um filme que passava sempre, na altura da Páscoa, que era o “São Francisco de Assis”. Nós já não podíamos ver aquele filme… Um dia vai uma locutora com um ar muito pesaroso informar que o filme tinha sofrido um acidente e tinha ardido. Bem, a malta mais nova levantou-se toda a festejar”, conta com uma gargalhada. Partilha ainda uma “situação particular” passada pelo seu marido. “O meu sogro era amigo do senhor que projetava filmes no Cinema Avenida. E, portanto, eles tinham entrada facilitada para a cabine de projeção. Havia uma fita original e eles recebiam instruções para cortar determinadas coisas. (…) Uma cena em que houvesse um beijo ou um contacto físico mais próximo tinha de ser tudo cortado porque eles estavam sujeitos aquelas regras”, partilha. “O meu marido e os meus cunhados contam que um dos divertimentos que tinham era antes de aquilo ser queimado poderem ver essas cenas”, relembra com uma risada. Face a estas partilhas, pedi a cada uma destas mulheres que se identificasse. Eugénia responde prontamente que é da “Mamarrosa, concelho de Oliveira de Bairro”. Contra todas as expectativas, Rosa partilha que é de Aveiro e que nasceu “muito pertinho desta casa”. “Aliás, este sítio onde estamos é uma referência importante para mim”, assegura com um sorriso evidente no rosto. Diz que cresceu e brincou numa praceta com os filhos de Vasco Branco. “Era muito criança… Depois perdemo-nos pela vida fora, não é? Mas lembro-me perfeitamente de o pai ser uma pessoa diferente dos homens daquela época. (…) Para nós crianças tinha uma atitude gira, solta que os homens naquela altura não tinham muito”, partilha. Aos oito anos, Rosa conta ainda que foi viver para a aldeia da sua mãe em “Frossos, concelho de Albergaria-a-Velha” e que regressou a Aveiro, “dois anos depois”, quando começou a estudar. No caso de Carmo partilha que até aos nove anos cresceu no Brasil, “em Leblon”. Refere, com um especial brilho nos olhos, que apesar de também lá ter vivido a ditadura era muito mais “soft” do que em Portugal. “Nós também éramos imigrantes, não vivíamos tanto o que se passava por lá”, explica. Entretanto, o pai falece e ela, o seu irmão mais pequeno e a mãe acabam por regressar a Portugal já que esta era natural do Bairro da Beira-Mar [em Aveiro] e era professora. Carmo acabou por vir de Leblon para Ouca e mais tarde para Aveiro onde estudou na “Vera Cruz”. “A professora primária todos os dias me batia porque queria-me fazer tão boa a português como era a matemática… E escrevia em brasileiro. Passei horrores. Cheguei a ter vómitos e diarreia na hora de ir para a escola”, confidencia. Mais tarde, um dos seus tios acabaria por a colocar num colégio interno, no Porto. Do Porto regressou a Aveiro tendo passado também por Águeda. “Andei por aí…Agora é que estou aqui para sempre”, resume com uma risada ainda que admita que, até aos dias de hoje, o seu sonho era morar no Alentejo. Para esta conversa pedi a cada convidada que trouxesse um objeto que as fizesse recordar o período do 25 de Abril. Eugénia trouxe um rádio azul da marca Panasonic, que tinha vindo diretamente dos Estados Unidos e uma caneca onde se lia “25 de abril sempre”, juntamente, com um cravo. No dia 25 de abril, Eugénia tinha 14 anos. Descreve-se como “aquela geração que só teve noção da ditadura depois dela ter terminado”. Sobre o rádio que trouxe – que tinha a forma de um telefone - partilha que foi onde ouviu a emissão. Na altura, encontrava-se no colégio de freiras Sagrado Coração de Maria, na Avenida Lourenço Peixinho, numa aula de português com o “professor Mário Rocha”. “Lembro-me perfeitamente de estar na fila ao lado da janela e de ver os aviões todos a sobrevoar”, relembra. Durante a aula, o professor perguntou se alguém tinha um rádio e Eugénia respondeu que “sim”. Naquele dia, foi buscá-lo e relata que o estiveram a ouvir “toda a manhã”. “O rádio ficou porque este Panasonic que veio dos Estados Unidos, no Natal, foi a nossa ligação ao mundo, nesse dia, se bem que a maior ligação foi o testemunho de pessoas com o doutor Mário da Rocha”, aponta enquanto olhava para o rádio com um sorriso. “Eu acho que ele o quis ouvir mais do que nós. Na altura, nós não estávamos a perceber o que ele queria ouvir. Mas ele sabia…”, reflete. Sobre o que ouviu naquele dia? Eugénia responde que se lembra “perfeitamente” de começarem a surgir “aqueles comunicados do Movimento das Forças Armadas (MFA)” e de uma música de fundo “sem letra”. “Apelava à serenidade e que estava controlado. (…) Fazia-nos logo ficar em silêncio”, descreve. “E, para além disso, foi [a música] do ‘Depois do Adeus’ que nesse dia também acho que nos marcou”, continua Eugénia. Rosa já tinha 20 anos quando se deu o 25 de Abril. Ao contrário de Eugénia optou por não trazer uma memória daquele dia, mas sim uma fotografia da “carta de serviço” da Escola de Socorrismo da Cruz Vermelha Portuguesa. Pergunto-lhe o porquê. Responde-me, imediatamente, que a “condição da mulher antes do 25 de Abril era repleta de constrangimentos e restrições”. “No pós 25 de Abril (…) surgiu a hipótese de eu fazer um curso de primeiros socorros. Como ia ser professora achei que era uma coisa que podia ser útil. (…) A coisa correu-me muito bem e propuseram-me, no final, que fizesse um curso de formadora. Eu alinhei”, conta. Quando terminou o curso Rosa diz que começou a fazer formação em vários locais como na “GNR” ou nos “quartéis”. “Mas isto de fazer formação… A gente quer é pôr a mão na massa. Juntámo-nos quatro raparigas e fomos à corporação de bombeiros, onde tínhamos feito estes três meses de estágio nas ambulâncias. Ora, se nós tínhamos servido durante três meses para responder às necessidades das ambulâncias, provavelmente, podíamos dar jeito às corporações… E lá fomos”, relata. Na altura, acabaram por receber uma resposta que as “dececionou imenso”. “Disseram-nos que não queriam lá saias”, descreve com tristeza. No entretanto, Rosa, juntamente, com as suas “quatro” colegas ainda tentou “rebater” a decisão, mas sem sucesso. “Não conseguimos. Como havia outra corporação [a dos Bombeiros Novos] fomos lá e, curiosamente, fomos recebidas de braços abertos. Foi espetacular”, exprime. Apesar de terem sido aceites nesta corporação, Rosa Gadanho conta que, na altura, os estatutos dos Bombeiros Novos ainda não contemplavam a figura feminina. “Não havia mulheres nessas coisas. Nem nessas, nem outras. E, portanto, arranjaram um subterfúgio nos estatutos e disseram-nos que nós ficaríamos a pertencer a uma coisa que se chamava corpo auxiliar… Nós não gostávamos muito de ser só auxiliares, mas pronto era o que era e não conseguíamos ultrapassar isso”, salienta. Mesmo assim, Rosa conta que acabou por fazer a recruta exatamente “como fizeram os outros” e que começou a “sair” para o campo. “O serviço de ambulâncias começámos logo a fazer. Os incêndios foi depois mais tarde porque não tínhamos ainda competência para atuar. Íamos como suporte para as ambulâncias, mas não passamos muito disso”, diz. “Pessoalmente, foi uma escola de vida para mim, porque contactei com pessoas variadíssimas, homens, com quem normalmente nós não trocávamos, que eram operários em fábricas e que alimentavam os bombeiros voluntários”, recorda Rosa. Ao ouvir a história de Rosa, Eugénia lembra automaticamente: “Quando disseste que eles se mostraram muito conservadores… Eu não me esqueço que quando entrei na universidade aqui, em Aveiro, em 1978, houve um professor de um dos cursos mais masculinos que, perante uma aluna, perguntou-lhe se ela não devia estar em casa a coser meias”. Para esta conversa, Carmo trouxe um conjunto de fotografias suas (quase) todas a preto e branco. Umas de quando era mais nova, outras de quando já era mais velha. “Há aqui umas fotografias a preto e branco que são as primeiras. Para mim são as mais coloridas porque foi a fase em que vivi no Brasil, tinha os meus pais, etc”, começa por explicar enquanto revê uma por uma. “No Brasil era uma ditadura militar, mas tínhamos uma moradia com casa de banho… Chego aqui e não tenho uma casa de banho. Quer dizer, a casa de banho era o fundo do quintal… À mesa era uma bacia grande e toda a gente picava da mesma”, recorda. À medida que a conversa ia decorrendo, Carmo repara ainda, ao observar as fotografias a preto e branco, para a forma como as mulheres se vestiam naquela altura: “Todas vestidas de preto…. E a minha mãe que tinha ficado viúva foi obrigada a vestir-se de preto. Nós vimo-nos gregos, eu, o meu irmão e a família, para que ela pusesse uma cor. Quando pôs uma cor foi uma blusa, branquinha com os riscos pretos... Ela dizia-me: ‘ai não porque as pessoas vão falar mal porque eu sou viúva’, expõe. No 25 de Abril, Carmo estava prestes a completar 21 anos em junho. Já era professora em Estarreja. Nesse dia, recorda que o marido, engenheiro em Águeda, saiu de casa “de manhã cedo”, enquanto ela, com aulas apenas às nove, aproveitou para descansar um pouco mais. “Liguei o rádio e deixei-me estar…Música clássica que eu adoro e estava a ouvir e de repente começou a tocar o ‘Grândola’. Eu perguntei-me como é que era possível? Isto está proibido….”, consta. Do locutor de rádio lembra, de forma particular, a palava “revolução”. “Epá, levantei-me, fui para a rua saber o que é que se passava, porque já estava a praça em Estarreja cheia porque nós não sabíamos o que se passava… Revolução, ouço a palavra revolução… Aquilo mexia um bocadinho connosco”, salienta. A 25 de abril de 1975, um ano após o derrube da ditadura, foram realizadas as primeiras eleições livres, por sufrágio direto e universal. Foram as “mais concorridas e participadas eleições da história da democracia portuguesa, com uma afluência de 92% dos cidadãos recenseados, sendo a primeira vez na história em que todos os portugueses, mulheres e homens, maiores de 18 anos tinham o direito de voto”. No ano em que se assinalam os 50 anos das primeiras eleições livres em Portugal, Rosa, Eugénia e Carmo partilham o descontentamento que sentem ao ver as altas taxas de abstenção de atualmente. “Aquilo era uma conquista para os mais velhos, mas para os mais novos também era o princípio de qualquer coisa”, exprime Rosa enquanto recorda um episódio de quando ainda era bombeira. “Eu lembro-me que houve umas eleições [a seguir às primeiras livres] em que eu passei o dia a transportar gente para ir votar (…). Ninguém ficava em casa. Toda a gente queria ir votar… Nós tínhamos de nos virar e levá-los. Eu fui votar cinco minutos antes das urnas fecharem”, relembra. “Era assim. Não havia abstenção… Isso é que é o pior partido: é a abstenção”, concorda, prontamente, Carmo destacando que na sua casa “toda a gente vai votar, obrigatoriamente”. “Eu fui obrigada a pôr a cruz onde não queria”, revela. “Eu vou lá nem que seja para desenhar um bonequinho das caldas… Eu vou. Se as pessoas forem todas votar, se a abstenção não fosse tão grande, pelo menos, a gente dizia que as taxas estão a virar. Assim, a gente não sabe. Estão amorfos”, reforça Carmo. “Assim a legitimidade é sempre questionável. E eu posso sempre dizer que não fui eu que contribui para isto”, finaliza Eugénia. Foi da memória viva do avô - um jovem enviado para a Guerra do Ultramar aos 19 anos - que nasceu a vontade de criar um projeto que desse voz às histórias silenciadas do passado. “O meu avô foi para a Guerra do Ultramar com 19 anos, e eu quando tinha 19 anos não conseguia sequer estrelar um ovo sozinho em casa”, partilha Bernardo Afonso Vicente da Associação Agora Aveiro. “Ele esteve, inclusive, numa operação militar que está bem documentada, que é a Operação Tridente, na Ilha do Como”, recorda. A partir dessa ligação pessoal e da vontade de assinalar os 50 anos da Revolução dos Cravos nasceu um projeto que une a preservação da memória à valorização do papel feminino na sociedade portuguesa no pós-25 de Abril. “Se é importante a perspetiva do homem que foi ao Ultramar e do político que ficou em Lisboa, também é importante a perspetiva da mulher que não foi ao Ultramar”, frisa Bernardo. Assim, nasceu o livro “Histórias Cravadas - As conquistas das mulheres no pós 25 de Abril”. Eugénia Pinheiro, Rosa Gadanho e Maria do Carmo Costa [com quem a Ria conversou] foram três das 11 mulheres da comunidade aveirense que deram vida a esta obra. O projeto “que começou no ano passado” culminou com o lançamento oficial do livro, no passado dia 6 de abril, na FNAC Aveiro e com uma exposição fotográfica que já passou por diversos espaços culturais da região, incluindo o Museu de Santa Joana. “No fundo, eu acho que (…) o que é realmente interessante aqui é alguém poder pegar neste livro (…) e fazer uma introspeção para: e a minha avó? E o meu avô?”, esperança Bernardo Vicente. Mais do que um exercício de memória histórica, a obra procura fomentar o diálogo intergeracional. “Estas histórias estão a acabar (…) É preciso ir atrás destas histórias e recordá-las desta forma, acho que é incrível, para as senhoras, para nós, para todos os envolvidos”, reflete. O livro está disponível por “12 euros” e pode ser encomendado diretamente à associação através das redes sociais ou do site oficial da Agora Aveiro. Recorde-se ainda que, em abril, a Agora Aveiro lançou uma curta-metragem que deu voz a este projeto no largo da Capela de São Gonçalinho, em Aveiro.
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Em atualização: "Apagão" de eletricidade afeta Portugal de norte a sul
A falha está a afetar várias cidades, de norte a sul do país. O jornal Observador já adiantou que pelo menos em Espanha também não há eletricidade. As operadoras de comunicação dão nota de que estão também a ser afetadas e as ligações da Vodafone, Nos e Meo estão com ligações instáveis, avança o Observador. Também ao Observador, António Leitão Amaro, ministro da Presidência, dá nota que “o Governo está acompanhar” a situação “desde os primeiros segundos” entre si e com as autoridades e empresas dos principais serviços públicos essenciais, sublinhando que “ainda não há confirmação” sobre a possibilidade de se tratar de um ciberataque. O ministro Adjunto e da Coesão Territorial admitiu hoje que o apagão energético que afeta Portugal possa ser devido a um ciberataque, adiantando que está também a afetar Espanha, França e Alemanha. Em declarações à RTP 3, Manuel Castro Almeida, questionado sobre a possibilidade de se tratar de um ciberataque, respondeu que “há essa possibilidade, mas não está confirmada”. “Há essa possibilidade, de facto”, referiu o ministro, salientando que tinha ainda pouca informação e que a que dispunha não era confirmada. “Sei que abrange vários países da Europa - Portugal, Espanha, França e Alemanha e creio que também Marrocos”, referiu Castro Almeida, para quem em causa está uma “coisa em grande escala que, pela dimensão que tem, é compatível com um ciberataque”, “Mas é uma informação não confirmada”, reiterou. O Governo criou um grupo de trabalho para acompanhar o apagão que afeta Portugal de Norte a Sul e outros países europeus e aponta que o problema “terá tido origem” fora de Portugal. “Terá sido, aparentemente, um problema na rede de transporte, cuja razão ainda está a ser identificada, aparentemente, em Espanha”, disse à Lusa o ministro da Presidência, António Leitão Amaro. O ministro disse ainda que o Governo está a trabalhar, em conjunto com agentes públicos e privados, para “o mais rapidamente possível” retomar a situação de normalidade no fornecimento de energia, embora sem apontar prazo. “O Governo está a trabalhar em conjunto num grupo de acompanhamento que foi imediatamente acionado. Trata-se de um problema de interrupção de energia que estará a afetar muitos países da Europa, terá tido origem na rede de transporte e é um problema de origem exterior a Portugal”, afirmou. A primeira prioridade do Governo é, “em conjunto com as várias autoridades nacionais e as empresas prestadoras dos serviços essenciais”, assegurar “uma retoma o mais rápida possível do fornecimento de energia elétrica em Portugal”. “Segundo, assegurar a continuidade ou a mínima disrupção possível nos serviços públicos, em particular nos mais essenciais e nas infraestruturas críticas. Estamos, obviamente, em contacto com todos estes serviços e entidades que as coordenam”, afirmou. Finalmente, prosseguiu Leitão Amaro, o Governo está também empenhado em “garantir a ordem pública”. “Estamos a trabalhar em conjunto desde o primeiro segundo, e estamos confiantes que, com a cooperação de todos - agentes públicos e privados e Governo - consigamos o mais rápido possível retomar a normalidade na vida dos portugueses para um fenómeno que não é nacional”, assegurou. Questionado se o Governo tem conhecimento de problemas concretos, o ministro da Presidência afirmou que “há disrupção de alguns serviços e perturbação na vida de várias pessoas”. “Nós estamos focados nos serviços mais essenciais: assegurar a segurança nos aeroportos, assegurar a continuidade dos serviços de saúde, também as restantes vias e redes de transportes”, disse. Leitão Amaro admite que há desenvolvimento “a cada segundo” e serão feitas atualizações ao longo do dia. A Ria tentou contactar as autoridades de Aveiro mas não conseguiu, até ao momento, obter declarações. *última atualização às 12:59
Concurso de Bandas de Garagem com inscrições abertas até 30 de maio
O Concurso de Bandas de Garagem é dirigido a bandas com três ou mais elementos, com idades compreendidas entre os 16 e os 35 anos, sem qualquer contrato discográfico e com pelo menos um elemento residente no Município de Ílhavo. Não serão consideradas inscrições de bandas vencedoras de edições anteriores, nem bandas que integrem elementos comuns. Para efetivar a inscrição é necessário preencher o formulário online disponível no site do município, com a identificação de todos os elementos da banda, fotocópia do documento de identificação civil e comprovativo de morada de todos os elementos. É necessário ainda a submissão da maqueta com os temas a concurso, biografia da banda e rider técnico. A maqueta das músicas a concurso deve ser entregue em suporte digital, devidamente identificada, não excedendo os 10 minutos de duração, com um cover e um tema original. Esta apresentação áudio deve ser acompanhada da letra datilografada do tema original com o nome dos autores da letra e música. Pelo menos um dos temas apresentados a concurso deve ser cantado em português. Este concurso integra a programação do Festival Mareato, realizando-se numa única eliminatória, a 3 de julho. A ordem de atuação das bandas, de 20 minutos cada, será definida através de sorteio. A avaliação das bandas, realizada pelo júri, será feita com base nos critérios de originalidade, presença em palco, interação com o público, execução técnica e musical, interpretação e composição. A banda vencedora receberá um prémio monetário no valor de 1000 euros e integrará a programação do Palco Bombordo no Festival do Bacalhau 2025. A segunda e terceira classificadas recebem prémios de 500 e 250 euros, respetivamente. O Concurso de Bandas de Garagem é uma iniciativa do Município de Ílhavo que "visa estimular a capacidade artística dos jovens, proporcionando-lhes a oportunidade de pisar um palco e conferindo uma maior visibilidade ao trabalho desenvolvido", aponta a autarquia em nota enviada às redações.
XPERIMENTA e Competições Nacionais de Ciência trazem à UA alunos das escolas de todo o país
No XPERiMENTA de 2025 os participantes vão contar com cerca de 380 atividades, entre workshops, visitas e demonstrações científicas, distribuídas pelos 16 departamentos e quatro escolas politécnicas da UA. Além da participação no evento, a iniciativa surge como uma oportunidade para os jovens descobrirem tudo sobre o mundo da Ciência, colocando jovens de todo o país a participarem em atividades experimentais, visitas e espetáculos de ciência. Nesta edição, a Nave Multiusos Caixa UA será o palco das Competições Nacionais de Ciência, onde milhares de estudantes (dos 1º, 2º e 3º ciclos do ensino básico (CEB) e ensino secundário) irão colocar à prova os seus conhecimentos nas áreas da matemática, português, inglês, química, física, geologia, biologia, literacia financeira, ecologia cidadania e cultura geral, depois de quase 13 000 estudantes terem participado nas CNC em Rede, em fevereiro. Todos os dias são distinguidas as melhores equipas e escolas participantes nas competições. A cerimónia de entrega de prémios terá lugar no palco instalado junto ao Complexo Pedagógico, Científico e Tecnológico da UA. O calendário com todas as atividades pode ser consultado através do site oficial.
Luís Montenegro: "Quem convive mal com tolerância não é digno de viver o 25 de Abril"
“O 25 de Abril é uma data que nos transmite o sentimento de liberdade, o sentimento de respeito e tolerância pelo pensamento diferente, isso é a essência do 25 de Abril, é a essência da democracia e, portanto, todos aqueles que convivem mal com a diferença, com a tolerância, não são, efetivamente, dignos de poder viver plenamente o 25 de Abril e o seu significado. E eu lamento isso”, afirmou. O primeiro-ministro falava aos jornalistas após cruzar a meta da caminhada dos cinco quilómetros, uma das provas da 5.ª edição da Maratona da Europa, que se realizou hoje em Aveiro. Sobre os confrontos registados na sexta-feira, em Lisboa, que envolveram participantes de uma manifestação de extrema-direita, não autorizada, Montenegro disse que quando há excessos, tem de haver alguém que ponha ordem e que garanta a liberdade de todos. “Eu creio que as autoridades fizeram aquilo que se impunha para manter a tranquilidade e a ordem pública. Agora quando há comportamentos que são de excesso e que extravasam o cumprimento das regras, isso responsabiliza os autores desses comportamentos”, referiu. O primeiro-ministro disse ainda não temer que a campanha eleitoral fique marcada por este tipo de movimentos, considerando que, apesar de algumas exceções, a democracia em Portugal funciona e os partidos políticos e os agentes políticos respeitam-se. “Evidentemente que há fenómenos extremos que devem ser acompanhados, devem ser também combatidos democraticamente e nós não os subestimamos nem desvalorizamos, mas também não entramos agora em depressão porque há esses epifenómenos relativamente àquilo que é a generalidade das pessoas, dos portugueses e a generalidade dos partidos políticos também”, observou. Segundo a PSP, a operação policial associada ao 25 de Abril em Lisboa, na sexta-feira, terminou com três detidos, inclusive os líderes do Ergue-te e do grupo de extrema-direita 1143, quatro pessoas identificadas e dois polícias com ferimentos ligeiros. Num balanço ao final do dia, o comandante da 1.ª Divisão Policial do Comando Metropolitano da PSP de Lisboa, Iúri Rodrigues, realçou a realização de “dois eventos que foram comunicados e que foram proibidos pela autoridade competente”, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), referindo-se a duas concentrações marcadas para o Martim Moniz, uma promovida pelo partido Ergue-te e grupos de extrema-direita e uma contramanifestação a essa mesma iniciativa. Esses dois eventos justificaram a mobilização de um dispositivo policial para “fazer cumprir a ordem da autoridade administrativa, portanto a proibição” da realização dessas iniciativas, explicou Iúri Rodrigues, referindo que o partido Ergue-te tentou realizar a iniciativa no Largo de São Domingos, junto ao Rossio, e foi nesse local que se verificaram dois momentos de “elevada tensão”, que exigiram a intervenção da PSP. Quanto ao tradicional desfile das celebrações do 25 de Abril, desde a Praça Marquês de Pombal até à Avenida Liberdade, “decorreu praticamente sem quaisquer incidentes”, afirmou Iúri Rodrigues. Em reação às críticas do líder do PS, que referiu que agora há mais serviços de urgência encerrados do que no ano passado, Luís Montenegro aponta que a situação na Saúde é melhor do que há um ano atrás. “Há um ano atrás a saúde estava pior do que está agora. Não quer dizer que agora esteja bem, nós sabemos que há muita coisa para fazer”, disse Luís Montenegro. Questionado pelos jornalistas sobre a situação na saúde, Montenegro referiu ainda que o Governo tem vindo a trabalhar para resolver um problema com muitos anos, realçando que atualmente “espera-se menos tempo para ter uma consulta e para ter uma cirurgia e também há menos urgências fechadas do que havia há um ano atrás, nas mesmas circunstâncias”. “Isto não quer dizer que está tudo bem, mas quer dizer que nós estamos a resolver os problemas à medida que o tempo nos permite que eles sejam resolvidos. Agora, não nos podem exigir que façamos em 11 ou 12 meses aquilo que outros não fizeram em mais de 20 anos. Não foram só os oito anos que nos antecederam, o PS governou 22 dos últimos 30 anos”, observou. Montenegro disse ainda que espera que os portugueses tenham sentido de justiça de fazer uma apreciação sobre aquilo que cada um foi capaz de fazer no seu período, adiantando que o juízo será feito na campanha eleitoral e depois culminará no dia das eleições. Recorde-se ainda que Luís Montenegro foi desmentido por José Ribau Esteves relativamente ao ponto de situação do hospital de Aveiro, depois de ter afirmado na apresentação da candidatura de Luís Souto de Miranda que espera que as obras de ampliação do hospital de Aveiro avancem até outubro.