Direção do SC Beira-Mar anuncia pré-acordo com empresário brasileiro Breno Silva para criação da SAD
Breno Dias Silva, um empresário de nacionalidade brasileira, residente em Londres, com “vasta experiência na orientação de empresas em processos de expansão internacional” – segundo a nota de imprensa enviada pelo clube, foi o investidor escolhido para a constituição da sociedade desportiva pela direção do SC Beira-Mar. O nome foi revelado, no final do jogo deste domingo, 19 de janeiro, em conferência de imprensa no Auditório António José Bartolomeu, no Estádio Municipal de Aveiro - Mário Duarte, por Nuno Quintaneiro, presidente do clube aveirense.
Redação
Segundo Nuno Quintaneiro, a proposta apresentada por Breno Silva destacou-se pelo “amplo consenso dentro do clube”. “A partir daí, encetamos os nossos contactos e tivemos várias reuniões. De destacar o grande envolvimento do Breno e da sua equipa (…) que desde logo procurou envolver-se connosco para perceber muito bem o trabalho do Beira-Mar, o projeto e as pessoas… (…) Todo este somatório fez com que não tivéssemos dúvidas de abraçar a proposta (…)”, explicou.
Neste momento, de acordo com o presidente do SC Beira-Mar existe já um “pré-acordo” para a constituição da sociedade, sendo que o processo deverá estar concluído até “ao final do mês de abril”, tal como, anteriormente, avançado pela Ria.“Aquilo que vamos fazer ao longo dos próximos meses (…) é começar a trabalhar juntos no presente para reestruturar a questão da negociação do passivo, dos recursos humanos, de dotar o clube de alguns equipamentos (…) e de libertar também alguns recursos financeiros do clube para apoiar as modalidades que também têm sentido algumas dificuldades”, desvendou. “Portanto, há um caminho, há um plano estratégico em que estamos absolutamente alinhados e a partir daqui queremos trabalhar juntos (…)”, continuou.
Para a SAD ser constituída, Nuno Quintaneiro relembrou que é necessário que os associados do clube aprovem os instrumentos jurídicos que irão regular o funcionamento da mesma. “Aquilo que agora vamos ter de fazer é preparar esses instrumentos jurídicos (…)”, avançou. “Para nós ‘Beira-Mar’ este é um momento muito importante da nossa história. Acreditamos que numa altura em que ainda estamos na ressaca dos 100 anos já estamos a construir o Beira-Mar dos próximos 100 anos (…)”, esperançou.
Breno Silva, começou por assegurar, na conferência de imprensa, que “Aveiro já é uma cidade e uma região que está no meu coração por vários motivos, seja pelos empreendimentos que já temos aqui [das suas empresas], seja pelo acolhimento das pessoas” e garantiu aos adeptos e sócios do SC Beira-Mar que podem esperar “muito trabalho”. “Não queremos fazer falsas promessas, mas vamos ter muito trabalho e muito suor porque há muito a fazer pela frente. Nós temos um grupo que é qualificado para este desafio (…)”, assegurou. Nesse grupo de trabalho, o empresário brasileiro destacou os seus sócios, as pessoas da direção do SC Beira-Mar e outros que “vamos trazer para trabalharem connosco ao longo da jornada”, afirmou.
Questionado pelos jornalistas sobre a sua experiência no mundo do futebol, Breno realçou que já teve, anteriormente, experiência com o futebol através do agenciamento de alguns jogadores e no futebol semi-profissional no Brasil. “Esta vai ser a nossa primeira experiência no futebol profissional europeu, mas trazendo pessoas qualificadas e com experiência que trabalham connosco”, frisou. Sobre como surgiu o contacto com o SC Beira-Mar, o empresário brasileiro explicou que foi por intermédio de um dos seus sócios, neste caso de Simão Calado [natural da região de Aveiro] que conhecia um dos ex-presidentes do clube beiramarense, Hugo Coelho, tendo sido “através dele que chegamos ao contacto com o Nuno [Quintaneiro]”.
Relativamente ao valor do investimento no clube aveirense, Breno Silva revelou que rondará os “dez milhões de euros”, sendo que este valor inclui “assumir o passivo do clube”, um “investimento até 3,5 milhões de euros para constituição de um centro de excelência e performance e um investimento de 5 milhões de euros no futebol sénior ao longo de 5 anos”, conforme consta nos prossupostos para a constituição da sociedade. O empresário adiantou ainda que sua participação na SAD do SC-Beira-Mar será “maioritária”.
Breno Silva garantiu ainda que, no plano desportivo, pretende “potenciar o que está a ser feito”, reconhecendo, no entanto, que “o futebol é global” e que “não podemos perder boas oportunidades no mercado internacional, mas a ideia é que essas oportunidades também venham para agregar valor e potenciar o nosso trabalho local, regional e nacional”.
Nuno Quintaneiro, em resposta à comunicação social, assegurou ainda que também a autarquia esteve envolvida, “ao longo dos últimos meses”, neste processo. “Aquilo que nós apresentamos à Câmara Municipal acaba por ser um desafio grande porque a nossa sociedade desportiva (…) foge um pouco dos parâmetros normais que em Portugal estamos habituados. Geralmente o padrão é chega um investidor, paga um x, assume a gestão e o clube fica ali a acenar na porta como se fosse a ‘rainha de Inglaterra’, mas que deixa de ter aqui uma participação e um envolvimento direto na gestão. Neste caso, não. Desde o início houve esse alinhamento e houve uma disponibilidade nossa e houve um interesse do Breno em termos uma gestão partilhada (…) E a Câmara Municipal neste processo também tem de entrar com esta perspetiva que é ajudar o clube e a sociedade desportiva, numa relação tripartida, a ter sucesso”, frisou.
No caso dos associados do clube não aprovarem os instrumentos jurídicos do clube, o presidente do SC Beira-Mar frisou que um “eventual chumbo” será uma “traição” por parte dos sócios perante os atuais órgãos sociais. “O que significa que não confiam no trabalho da atual direção e, portanto, eu desde logo, ditarei que, com um cenário hipotético desses, dará eleições antecipadas no clube”, garantiu, comprometendo-se que “não endividará o clube”.
Os pressupostos para a constituição da sociedade desportiva para o SC Beira-Mar foram aprovados, na Assembleia Geral do dia 22 de novembro de 2024, no Auditório António José Bartolomeu [Estádio Municipal de Aveiro - Mário Duarte] com um voto contra e duas abstenções.
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Durante a noite escura, o 'Moliceiro Solidário' leva comida e afeto a cerca de 40 sem-abrigos
Sábado.19h05. Pelas traseiras da Estação de Comboios de Aveiro avista-se um grupo de três pessoas vestidas com um colete refletor. Parecem estar a preparar-se para a noite que se avizinha. Aproximamo-nos para perceber quem são. Dizem-nos que são escuteiros da Gafanha da Nazaré e que vieram ajudar o projeto do “Moliceiro Solidário”. Um projeto feito por pessoas voluntárias que todos os sábados e domingos sai à rua para distribuir comida às pessoas em situação de sem-abrigo em Aveiro. Alertam-nos que este é sempre o ponto de partida, mas que ainda ninguém da organização do projeto chegou. Confidenciam-nos também que ainda é cedo, visto que a volta sairá, como sempre, pelas 19h30. Restavam 25 minutos. Mantemo-nos com este grupo à conversa. Entretanto, começamos a ver um conjunto de pessoas a aproximarem-se de nós. Cada uma delas fazia-se a acompanhar de um ou dois sacos de compras. Uns vinham a pé, outros de bicicleta. Era notória a felicidade na cara destas pessoas. Mal nos avistaram, vieram diretamente ao encontro dos escuteiros. Tal como a Ria, também eles os identificaram pelos coletes amarelos que vestiam. Não tardaram em perguntaram-lhes: “já não há comida?”. Um dos escuteiros respondeu-lhes, prontamente, que a Sónia, uma das atuais responsáveis pelo “Moliceiro Solidário”, ainda não tinha chegado. Imediatamente, afastaram-se de nós e juntaram-se em grupo um pouco mais atrás. A cinco minutos da hora marcada eram já mais de uma dezena de pessoas que por ali aguardava. No entretanto, uma dessas pessoas decidiu pegar na sua pequena coluna de som e pôr música para alegrar os restantes. A maioria começou a dançar. A um minuto para as 19h30 começamos a avistar um carro preto. Automaticamente, um elemento desse grupo sai e aguarda pela chegada desse carro junto a um estacionamento que por lá se encontrava. Começa a fazer gestos como se fosse um arrumador de carros. Mal esse carro preto estaciona, percebemos que se tratava de Sónia. Se o ambiente já era de ‘festa’, assim que a viram passou a ser ainda mais. A maioria foi até abraçá-la, como se fosse já uma amiga de longa data. E era. Sónia Corujo está no projeto do Moliceiro Solidário desde “novembro de 2022”. Conta-nos que a ideia começou através de uma publicação do “Diogo [Torres]”, na rede social ‘Facebook’, onde partilhou que estava com a ideia de iniciar um projeto, porque se tinha apercebido que “havia muitos sem-abrigos” em Aveiro. “Na altura, até tínhamos aqui vários sítios com vidros [no chão] e estava muita gente a morar [aqui]. Entretanto, [esse grupo] até foi desmantelado”, recordou. Se ao início aceitou o desafio, juntamente com o seu marido pela “carolice”, rapidamente, apercebeu-se que a situação “era mais grave” do que imaginava. “De dia não víamos assim uma coisa tão grande. As pessoas em situação de sem-abrigo, em Aveiro, não estão aqui ao descoberto. Não estão aqui com mantas. Não fazem isso. Eles escondem as coisas durante o dia e à noite é que os vemos dentro de prédios, debaixo das escadas, com cobertores, com mantas, com frio. Mais atrás daqui temos pessoas com tendas que não têm mesmo sítio onde estar e onde viver”, descreveu. Atualmente, este grupo complementa o trabalho também realizado pelas “Florinhas do Vouga”, uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) que apoia também pessoas em situação de sem-abrigo. “Nós no início não sabíamos onde eles estavam especificamente. Eles não nos conheciam. Só conheciam as Florinhas do Vouga. [Esta IPSS] trabalhava de segunda a sexta e nós começamos a fazer os sábados e os domingos”, explicou. Depois, “foi mais a palavra puxa a palavra (…). Nós íamos mesmos aos pontos onde os víamos passar… Era sempre durante a noite escura que os conseguíamos encontrar”, continuou. Logo após ser abraçada por este grupo, Sónia dirigiu-se à mala do seu carro onde se viam diferentes tupperware’s com comida, água e até café. Disse-nos que tinha trazido para este sábado “40 refeições” e que amanhã seriam mais “40” para distribuir pelas cerca de quatro dezenas de pessoas em situação de sem-abrigo em Aveiro. “Este fim de semana tivemos muita sorte, porque houve uma entidade pública que teve um evento e sobraram muitas coisinhas como croissants, pão, rissóis, croquetes, bolinhos de bacalhau e doces”, desabafou. Nos dias em que não há restos de comida são os próprios voluntários que cozinham. “Normalmente, faço eu vinte e outras duas colegas fazem cada uma também vinte refeições”, apontou. Há medida em que ia distribuindo os alimentos, em conjunto com os escuteiros da Gafanha da Nazaré, juntava-se o grupo que tínhamos visto inicialmente. No total, naquele ponto, acabaria por distribuir “25 refeições”. As restantes 15 seriam para distribuir por mais três pontos da cidade que Sónia prefere que não sejam revelados nesta reportagem. Com os sacos de compras cheios, rapidamente aquele grupo de 25 pessoas desapareceu dali. Sónia alerta-nos que aquelas pessoas “não têm sítio certo para dormir” e que, atualmente, são “postos de lado pela própria Câmara”. “Nós aqui devíamos ter um sítio, pelo menos, onde eles pudessem guardar as mochilas e a roupa, durante o dia, uma vez que eles não têm sítio certo para dormir”, reconheceu. A Ria tentou ainda contactar a autarquia para apurar dados e esclarecer que tipo de apoio está a ser prestado às pessoas em situação de sem-abrigo em Aveiro, mas até à data de publicação desta reportagem não obteve resposta. Terminado o primeiro local, seguiu-se um segundo ponto de distribuição, desta vez, numa casa abandonada ocupada por cerca de cinco pessoas em situação de sem abrigo. Recebem também eles comida e questionam-nos se queremos entrar. Reforçam-nos que aqui “há limpeza” e para “não termos medo”. Dizem que habitam naquela casa há cerca de dois anos e que os proprietários sabem da presença deles ali. Referem-nos que os donos nunca se importaram até porque “nunca foram mal-educados com ninguém”. Temos a oportunidade de conversar com um deles. Rúben, nome fictício, fala-nos com um especial brilho nos olhos sobre o projeto do “Moliceiro Solidário”. “Se a pessoa tivesse assim uma companhia durante todo o dia ainda era melhor… Eles vêm aqui, a gente já fala e já ficamos um bocado mais alegres a falar com outras pessoas lá de fora. Eu saio à rua, não falo com ninguém...”, lamentou. Rúben é de Aveiro, tem cerca de 50 anos, o quarto ano de escolaridade e adianta-nos que sabe ler e escrever. Acrescenta-nos que trabalhou durante muitos anos nas obras, no estrangeiro e que foi isso que o fez perder grande parte da sua saúde. Diz que, atualmente, recebe “200 e poucos euros por mês” de apoio da segurança social e que está à procura de emprego há vários anos. “Há muito preconceito. Vou pedir trabalho e não aceitam… As pessoas não têm confiança uma nas outras, não se falam… Eu se disser bom dia ninguém me responde sequer”, desabafou. “Se não são vocês, os moliceiros e as pessoas que sabem que estamos por aqui, não sei onde a gente iria chegar… Roubar não sei, fazer mal também não sei”, continuou. “Estas pessoas todas já estiveram bem na vida (…). Eu tenho duas filhas e não queria que acontecesse a elas o que aconteceu comigo. Os dias não são todos iguais… Um dia estamos bem, no outro dia pode ir tudo por água abaixo”, alertou um outro ‘colega’ que se encontra com Rúben naquela casa. “Nós temos de respeitar o próximo. Foi aquilo que sempre me ensinaram. Um sem-abrigo perante a sociedade rouba, é bêbado, etc”, reforçou com tristeza. Já no terceiro local, mais uma vez, encontramos um conjunto de pessoas em situação de sem-abrigo. Não conseguimos perceber bem quantas são, já que estava escuro no local. Ao contrário de Rúben, não estão a pernoitar numa casa, mas sim ao ar livre. Abrigam-se junto a uns tanques onde, antigamente, se chegou a lavar roupa. Nesse local há um som que impera: o som da rádio. Enquanto distribui comida também por eles, Sónia comenta-nos que, desta vez, não vai ser fácil falar com ninguém, exceto, se aparecesse o Fernando, o que já não acontecia há bastante tempo. Por sorte nossa, nessa noite, Fernando veio e aceitou conversar connosco. Fazia-se acompanhar de uma bicicleta. Começa por nos dizer prontamente que não tem problema em que seja revelado a sua identidade já que é “conhecido em todo lado” e que “não deve nada a ninguém”. Avança-nos que tem “54 anos” e que está em situação de sem-abrigo há “12 anos”. Atualmente, vive encostado ao terreno da Universidade de Aveiro (UA) numa das casas que está, neste momento, isolada com as obras das novas residências do Crasto. Há cerca de um ano e meio que não recebe qualquer ajuda e partilha que se “desenrasca” a fazer “biscates, a limpar terrenos ou a apanhar material para vender para o ferro velho”. Fernando sente que “não é invisível na cidade”, mas que faltam “ajudas como deve ser”. “Se eu andasse metido na droga até ao pescoço eu tinha tudo o que queria. Eu não me meto na droga, não tenho nada”, expôs. Sobre o projeto do “Moliceiro Solidário” assegura-nos que pode chegar ali “maldisposto que a má disposição desaparece logo”. Perto das 21h30 chegamos, finalmente, ao último ponto. Curiosamente foi o local onde menos pessoas em situação de sem abrigo apareceram. Ali encontravam-se apenas três pessoas: dois adultos e uma criança que se fazia acompanhar com uma bola de futebol. Sónia reforça-nos que aqui não será possível conversar com ninguém para a reportagem. Aproveitamos apenas para ouvir as suas histórias e para dar uns ‘toques’ na bola com esta criança. A volta do “Moliceiro Solidário” terminou já perto das 22h00. No final, Sónia pergunta-nos se a queremos acompanhar até ao restaurante “Cozinha do Rei”. Tinha recebido uma chamada do gerente a informar que tinha sobras de comida para doar. Este é um dos dois espaços de restauração que, atualmente, se associa a este projeto. Aceitamos ir com ela. Mal chegamos somos recebidos por Carlos Santos, gerente do “Cozinha do Rei”, que nos explica que sempre que terminam os jantares de grupo ligam “logo” para o projeto. “Já é um hábito”, partilhou. Muitas vezes, chegam a doar ao “Moliceiro Solidário” até “seis quilos [de comida] de cada vez”. Independentemente da quantidade doada, a verdade é que no final da noite a mala do carro de Sónia voltou a ficar cheia. Isso significava que no dia seguinte as cerca de 40 pessoas em situação de sem-abrigo, identificadas pelo projeto, em Aveiro, teriam novamente refeição. Assim aconteceu.
Município de Aveiro aprova Plano Municipal de Habitação e Alojamento com críticas do PS
O PMHAA integra a Estratégia Local de Habitação, o Programa Municipal de Desenvolvimento Habitacional e a Carta de Territorialização da Estratégia de Habitação, “criando uma abordagem integrada e sustentada para a resolução das questões habitacionais no Município, no quadro de crescimento demográfico em que nos encontramos”, lê-se na nota. Com este plano, o Município pretende reafirmar o compromisso político com “a boa gestão do direito à habitação, priorizando uma intervenção pública estruturada, em conjunto com um investimento privado significativo”. “O plano reflete também a visão estratégica da Câmara para um território mais inclusivo, coeso e sustentável, colocando a habitação como pilar central de cidadania, dignidade e bem-estar”, destaca. O documento será agora sujeito a consulta pública “por um período de 30 dias” e, após a análise dos contributos, será submetido à apreciação e votação pela Assembleia Municipal. Apesar da aprovação, o documento contou com a abstenção do Partido Socialista (PS), no período da ordem do dia, na reunião camarária desta quinta-feira. “Achamos que era preciso aferir melhor aquilo que é o resultado destas políticas de incentivo de urbanização, de construção e de, ao mesmo tempo, de turistificação”, começa por referir Fernando Nogueira, vereador do PS. “O que nós temos é que os T0 e os T1 cresceram de uma forma muito significativa, sobretudo, na cidade e isto vem-se acumular aquilo que é um processo gradativo de introdução de alojamento turístico seja ele na forma de alojamento local ou de similares”, exemplifica, salientando ainda os “efeitos significativos” no acolhimento de famílias. Neste seguimento, Fernando Nogueira alertou, entre outros pontos, que através deste documento é possível perceber que “40% dos agregados familiares de rendimentos mais baixos” não conseguem pagar as rendas que são praticadas no município “à data, com os preços do mercado e com os rendimentos aferidos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e por outras instituições”. O socialista refere ainda que o documento atenta na necessidade de “estimular a criação de outras áreas de regeneração urbana”, mas que isso não se traduz nas propostas. “Há boas intenções que já estavam na estratégia que agora foi incluída neste documento sobre, por exemplo, tratar dos [edifícios] devolutos e dos vazios urbanos, mas por exemplo em relação ao [número de] fogos devolutos, sujeitos a agravamento do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI), continuamos sem ter uma noção de quantos é que são”, atira Fernando Nogueira. O socialista critica ainda José Ribau Esteves, presidente da Câmara Municipal de Aveiro por o parque habitacional municipal ser de apenas, atualmente, “1.3%”. “Dá para perceber duas coisas: a capacidade da Câmara (…) de intervir no mercado habitacional é muito pequena e como a Câmara ainda por cima não promove… A ideia é que o mercado resolve isto tudo. Isto não nos parece bom”, sintetiza. “A habitação não é de facto uma preocupação deste município”, finaliza Fernando Nogueira. Em resposta ao socialista, José Ribau Esteves afirmou estar em “desacordo” salientando que têm “perspetivas totalmente diferentes”. “É minha convicção que mantendo a Câmara uma gestão tranquila com a proximidade com os investidores privados, com a regulação que faz das atividades, dos eventos, etc que temos todas as condições para no futuro continuar a gerir bem este equilíbrio que temos hoje [entre o alojamento que se dedica à dimensão turística e o alojamento que se dedica à dimensão residencial] de uma forma que posso considerar positivamente estabilizada”, explica. Em relação ao número de fogos recorda que ainda “há dias” deu na “Assembleia Municipal” estes dados. Em entrevista à Ria, no final da reunião camarária, o presidente da Câmara reforçou ainda que “Aveiro é dos municípios do país, tirando os municípios das áreas metropolitanas do Porto e Lisboa, que tem um número absoluto e uma percentagem em relação ao número total de fogos de habitação de renda apoiada mais alto. Na soma dos da Câmara e do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU) são quase 1000. Nós entendemos que nessa tipologia Aveiro está bem”.
Legislativas: IL promete contribuir para “uma solução de centro-direita reformista e estável”
“O nosso compromisso com os portugueses é, primeiro, mudança, reformas, exigência e, segundo, contribuir para uma solução de centro-direita, reformista e estável do ponto de vista político”, afirmou Rui Rocha em declarações aos jornalistas numa loja de ovos moles, em Aveiro, onde vestiu o avental e cozinhou o tradicional doce aveirense. Sem querer pronunciar-se sobre as sondagens que indicam que a AD e a IL estão longe de, juntas, obter uma maioria absoluta, Rui Rocha disse que o importante é transmitir aos portugueses que “há uma oportunidade única de ter uma solução de centro-direita” a governar o país. “Mas uma solução de centro-direita que não é para fazer a mesma coisa. É para fazer muito mais: uma solução reformista, ambiciosa para o país e isso para reforçar a votação na IL”, disse. O líder da IL disse que o seu partido tem “objetivos claros de transformação” do país e garantiu que será “rigoroso e sempre muito exigente” caso venha a integrar uma solução de centro-direita. Interrogado sobre quais são as exigências que coloca para eventualmente coligar-se com a AD, Rui Rocha disse que é necessário “mudar o sistema de saúde e criar acesso à saúde para os portugueses, que hoje não têm”. “Nós temos de trazer mais casas para o mercado da habitação, seja de arrendamento, seja no mercado da construção. Temos de baixar os impostos aos portugueses, às famílias e às empresas e temos de diminuir a burocracia e rever o sistema eleitoral”, referiu, acrescentando que esses são os “objetivos claros da IL”. Sobre se a AD e a IL não estão já a aproximar-se, uma vez que, por exemplo, ambas têm defendido parcerias público-privadas para os mesmos hospitais, Rui Rocha respondeu: “Não basta ter os ingredientes guardados numa gaveta, tirá-los quando dá jeito e depois guardá-los outra vez”. “A IL não faz isso. A IL tem as pessoas, os ingredientes, a visão, mas quer usá-los mesmo para mudar o país. Outros, eventualmente, têm os ingredientes guardados nas gavetas, fazem uso deles como propaganda, uma vez ou outra, mas depois os ingredientes voltam à gaveta”, criticou, numa alusão à AD.
Aurora Cunha, Zacarias Andias e Rosa Alice Branco entre os distinguidos pela Câmara de Aveiro
A votação para a aprovação das propostas decorreu, no período da ordem do dia, na reunião camarária desta quinta-feira. No total, foram escolhidas cinco personalidades que serão distinguidas com medalha de Mérito Municipal em grau prata e duas entidades que serão distinguidas com medalha de Mérito Municipal em grau cobre. Nos nomes propostos para personalidades está o de Aurora Cunha e o de João Neto. Aurora Cunha conquistou quatro das mais prestigiadas maratonas do mundo (Paris, Chicago, Tóquio e Roterdão), sagrou-se tri-campeã mundial de atletismo de estrada e foi novamente a madrinha de mais uma edição da Maratona Europa. João Neto é um ultramaratonista português reconhecido pelo compromisso com causas sociais, tendo sido o padrinho da Maratona Europa. Fernando Vasconcelos, Rosa Alice Branco e Zacarias Andias foram os restantes nomes sugeridos. Fernando Vasconcelos, ao longo do seu percurso, desempenhou funções como presidente do Conselho de Administração da Águas da Região de Aveiro (AdRA); Rosa Alice Branco é uma poetisa, ensaísta, investigadora e tradutora aveirense e Zacarias Andias foi um atleta do Galitos, remador nas Olimpíadas de 1952 e ajudou a empreender o Centro Social de Santa Joana Princesa. A Academia de Saberes e a Associação de Natação Centro Norte de Portugal foram as duas entidades escolhidas. A Academia de Saberes de Aveiro foi constituída em 2004, tendo como objetivos "promover, assegurar e manter uma integração harmoniosa dos cidadãos aposentados e pré-aposentados na sociedade" e "fomentando o espírito de cooperação, apoio mútuo e solidariedade entre os mais velhos, e canalizando os seus saberes em prol da comunidade", conforme se lê no seu site. A Associação de Natação Centro Norte de Portugal conta com atividade nas “quatro disciplinas da natação” e tem em atividade “cerca de milhares de atletas federados”, que representam cerca de “40 clubes da região”. A proposta foi aprovada pelo executivo com um voto contra no nome de Aurora Cunha e outro no nome de João Neto. A sessão solene, que decorre na próxima segunda-feira, contará com os discursos do presidente da Câmara Municipal de Aveiro, José Ribau Esteves e do presidente da Assembleia Municipal de Aveiro, Luís Souto de Miranda assim como de um representante dos condecorados, em representação das instituições e personalidades distinguidas.
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Durante a noite escura, o 'Moliceiro Solidário' leva comida e afeto a cerca de 40 sem-abrigos
Sábado.19h05. Pelas traseiras da Estação de Comboios de Aveiro avista-se um grupo de três pessoas vestidas com um colete refletor. Parecem estar a preparar-se para a noite que se avizinha. Aproximamo-nos para perceber quem são. Dizem-nos que são escuteiros da Gafanha da Nazaré e que vieram ajudar o projeto do “Moliceiro Solidário”. Um projeto feito por pessoas voluntárias que todos os sábados e domingos sai à rua para distribuir comida às pessoas em situação de sem-abrigo em Aveiro. Alertam-nos que este é sempre o ponto de partida, mas que ainda ninguém da organização do projeto chegou. Confidenciam-nos também que ainda é cedo, visto que a volta sairá, como sempre, pelas 19h30. Restavam 25 minutos. Mantemo-nos com este grupo à conversa. Entretanto, começamos a ver um conjunto de pessoas a aproximarem-se de nós. Cada uma delas fazia-se a acompanhar de um ou dois sacos de compras. Uns vinham a pé, outros de bicicleta. Era notória a felicidade na cara destas pessoas. Mal nos avistaram, vieram diretamente ao encontro dos escuteiros. Tal como a Ria, também eles os identificaram pelos coletes amarelos que vestiam. Não tardaram em perguntaram-lhes: “já não há comida?”. Um dos escuteiros respondeu-lhes, prontamente, que a Sónia, uma das atuais responsáveis pelo “Moliceiro Solidário”, ainda não tinha chegado. Imediatamente, afastaram-se de nós e juntaram-se em grupo um pouco mais atrás. A cinco minutos da hora marcada eram já mais de uma dezena de pessoas que por ali aguardava. No entretanto, uma dessas pessoas decidiu pegar na sua pequena coluna de som e pôr música para alegrar os restantes. A maioria começou a dançar. A um minuto para as 19h30 começamos a avistar um carro preto. Automaticamente, um elemento desse grupo sai e aguarda pela chegada desse carro junto a um estacionamento que por lá se encontrava. Começa a fazer gestos como se fosse um arrumador de carros. Mal esse carro preto estaciona, percebemos que se tratava de Sónia. Se o ambiente já era de ‘festa’, assim que a viram passou a ser ainda mais. A maioria foi até abraçá-la, como se fosse já uma amiga de longa data. E era. Sónia Corujo está no projeto do Moliceiro Solidário desde “novembro de 2022”. Conta-nos que a ideia começou através de uma publicação do “Diogo [Torres]”, na rede social ‘Facebook’, onde partilhou que estava com a ideia de iniciar um projeto, porque se tinha apercebido que “havia muitos sem-abrigos” em Aveiro. “Na altura, até tínhamos aqui vários sítios com vidros [no chão] e estava muita gente a morar [aqui]. Entretanto, [esse grupo] até foi desmantelado”, recordou. Se ao início aceitou o desafio, juntamente com o seu marido pela “carolice”, rapidamente, apercebeu-se que a situação “era mais grave” do que imaginava. “De dia não víamos assim uma coisa tão grande. As pessoas em situação de sem-abrigo, em Aveiro, não estão aqui ao descoberto. Não estão aqui com mantas. Não fazem isso. Eles escondem as coisas durante o dia e à noite é que os vemos dentro de prédios, debaixo das escadas, com cobertores, com mantas, com frio. Mais atrás daqui temos pessoas com tendas que não têm mesmo sítio onde estar e onde viver”, descreveu. Atualmente, este grupo complementa o trabalho também realizado pelas “Florinhas do Vouga”, uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) que apoia também pessoas em situação de sem-abrigo. “Nós no início não sabíamos onde eles estavam especificamente. Eles não nos conheciam. Só conheciam as Florinhas do Vouga. [Esta IPSS] trabalhava de segunda a sexta e nós começamos a fazer os sábados e os domingos”, explicou. Depois, “foi mais a palavra puxa a palavra (…). Nós íamos mesmos aos pontos onde os víamos passar… Era sempre durante a noite escura que os conseguíamos encontrar”, continuou. Logo após ser abraçada por este grupo, Sónia dirigiu-se à mala do seu carro onde se viam diferentes tupperware’s com comida, água e até café. Disse-nos que tinha trazido para este sábado “40 refeições” e que amanhã seriam mais “40” para distribuir pelas cerca de quatro dezenas de pessoas em situação de sem-abrigo em Aveiro. “Este fim de semana tivemos muita sorte, porque houve uma entidade pública que teve um evento e sobraram muitas coisinhas como croissants, pão, rissóis, croquetes, bolinhos de bacalhau e doces”, desabafou. Nos dias em que não há restos de comida são os próprios voluntários que cozinham. “Normalmente, faço eu vinte e outras duas colegas fazem cada uma também vinte refeições”, apontou. Há medida em que ia distribuindo os alimentos, em conjunto com os escuteiros da Gafanha da Nazaré, juntava-se o grupo que tínhamos visto inicialmente. No total, naquele ponto, acabaria por distribuir “25 refeições”. As restantes 15 seriam para distribuir por mais três pontos da cidade que Sónia prefere que não sejam revelados nesta reportagem. Com os sacos de compras cheios, rapidamente aquele grupo de 25 pessoas desapareceu dali. Sónia alerta-nos que aquelas pessoas “não têm sítio certo para dormir” e que, atualmente, são “postos de lado pela própria Câmara”. “Nós aqui devíamos ter um sítio, pelo menos, onde eles pudessem guardar as mochilas e a roupa, durante o dia, uma vez que eles não têm sítio certo para dormir”, reconheceu. A Ria tentou ainda contactar a autarquia para apurar dados e esclarecer que tipo de apoio está a ser prestado às pessoas em situação de sem-abrigo em Aveiro, mas até à data de publicação desta reportagem não obteve resposta. Terminado o primeiro local, seguiu-se um segundo ponto de distribuição, desta vez, numa casa abandonada ocupada por cerca de cinco pessoas em situação de sem abrigo. Recebem também eles comida e questionam-nos se queremos entrar. Reforçam-nos que aqui “há limpeza” e para “não termos medo”. Dizem que habitam naquela casa há cerca de dois anos e que os proprietários sabem da presença deles ali. Referem-nos que os donos nunca se importaram até porque “nunca foram mal-educados com ninguém”. Temos a oportunidade de conversar com um deles. Rúben, nome fictício, fala-nos com um especial brilho nos olhos sobre o projeto do “Moliceiro Solidário”. “Se a pessoa tivesse assim uma companhia durante todo o dia ainda era melhor… Eles vêm aqui, a gente já fala e já ficamos um bocado mais alegres a falar com outras pessoas lá de fora. Eu saio à rua, não falo com ninguém...”, lamentou. Rúben é de Aveiro, tem cerca de 50 anos, o quarto ano de escolaridade e adianta-nos que sabe ler e escrever. Acrescenta-nos que trabalhou durante muitos anos nas obras, no estrangeiro e que foi isso que o fez perder grande parte da sua saúde. Diz que, atualmente, recebe “200 e poucos euros por mês” de apoio da segurança social e que está à procura de emprego há vários anos. “Há muito preconceito. Vou pedir trabalho e não aceitam… As pessoas não têm confiança uma nas outras, não se falam… Eu se disser bom dia ninguém me responde sequer”, desabafou. “Se não são vocês, os moliceiros e as pessoas que sabem que estamos por aqui, não sei onde a gente iria chegar… Roubar não sei, fazer mal também não sei”, continuou. “Estas pessoas todas já estiveram bem na vida (…). Eu tenho duas filhas e não queria que acontecesse a elas o que aconteceu comigo. Os dias não são todos iguais… Um dia estamos bem, no outro dia pode ir tudo por água abaixo”, alertou um outro ‘colega’ que se encontra com Rúben naquela casa. “Nós temos de respeitar o próximo. Foi aquilo que sempre me ensinaram. Um sem-abrigo perante a sociedade rouba, é bêbado, etc”, reforçou com tristeza. Já no terceiro local, mais uma vez, encontramos um conjunto de pessoas em situação de sem-abrigo. Não conseguimos perceber bem quantas são, já que estava escuro no local. Ao contrário de Rúben, não estão a pernoitar numa casa, mas sim ao ar livre. Abrigam-se junto a uns tanques onde, antigamente, se chegou a lavar roupa. Nesse local há um som que impera: o som da rádio. Enquanto distribui comida também por eles, Sónia comenta-nos que, desta vez, não vai ser fácil falar com ninguém, exceto, se aparecesse o Fernando, o que já não acontecia há bastante tempo. Por sorte nossa, nessa noite, Fernando veio e aceitou conversar connosco. Fazia-se acompanhar de uma bicicleta. Começa por nos dizer prontamente que não tem problema em que seja revelado a sua identidade já que é “conhecido em todo lado” e que “não deve nada a ninguém”. Avança-nos que tem “54 anos” e que está em situação de sem-abrigo há “12 anos”. Atualmente, vive encostado ao terreno da Universidade de Aveiro (UA) numa das casas que está, neste momento, isolada com as obras das novas residências do Crasto. Há cerca de um ano e meio que não recebe qualquer ajuda e partilha que se “desenrasca” a fazer “biscates, a limpar terrenos ou a apanhar material para vender para o ferro velho”. Fernando sente que “não é invisível na cidade”, mas que faltam “ajudas como deve ser”. “Se eu andasse metido na droga até ao pescoço eu tinha tudo o que queria. Eu não me meto na droga, não tenho nada”, expôs. Sobre o projeto do “Moliceiro Solidário” assegura-nos que pode chegar ali “maldisposto que a má disposição desaparece logo”. Perto das 21h30 chegamos, finalmente, ao último ponto. Curiosamente foi o local onde menos pessoas em situação de sem abrigo apareceram. Ali encontravam-se apenas três pessoas: dois adultos e uma criança que se fazia acompanhar com uma bola de futebol. Sónia reforça-nos que aqui não será possível conversar com ninguém para a reportagem. Aproveitamos apenas para ouvir as suas histórias e para dar uns ‘toques’ na bola com esta criança. A volta do “Moliceiro Solidário” terminou já perto das 22h00. No final, Sónia pergunta-nos se a queremos acompanhar até ao restaurante “Cozinha do Rei”. Tinha recebido uma chamada do gerente a informar que tinha sobras de comida para doar. Este é um dos dois espaços de restauração que, atualmente, se associa a este projeto. Aceitamos ir com ela. Mal chegamos somos recebidos por Carlos Santos, gerente do “Cozinha do Rei”, que nos explica que sempre que terminam os jantares de grupo ligam “logo” para o projeto. “Já é um hábito”, partilhou. Muitas vezes, chegam a doar ao “Moliceiro Solidário” até “seis quilos [de comida] de cada vez”. Independentemente da quantidade doada, a verdade é que no final da noite a mala do carro de Sónia voltou a ficar cheia. Isso significava que no dia seguinte as cerca de 40 pessoas em situação de sem-abrigo, identificadas pelo projeto, em Aveiro, teriam novamente refeição. Assim aconteceu.
Dia Internacional e Noite Europeia dos Museus celebrados no Museu Marítimo de Ílhavo
A inauguração da exposição “Azul em Festa”, pelas 16h30 de dia 17, é apontado pelo município como o destaque das celebrações. Com curadoria de Fátima Marques Pereira, a exposição pretende, segundo nota enviada às redações, “celebra o olhar, o gesto e a presença das mulheres no território simbólico e real do mar”. A exposição reúne assim obras de artistas mulheres que “abordam o mar como espaço vivido, imaginado e transformado, onde se cruzam o íntimo e o coletivo, o corpo e a paisagem, a história e o presente”, refere a mesma nota. A mostra vai ficar patente na sala de exposições temporárias e no decorrer do percurso expositivo do Museu até ao dia 19 de outubro. A abertura da exposição é precedida, pelas 15h30, pela performance “Sonoridade Táctil”, criada pelo Núcleo de Criação e Investigação Artística entre Expressões e Linguagens - SUSPENSÃO - no âmbito do projeto de residência artística “SOM E GESTO em síntese do existir”, aponta a autarquia. Ainda no âmbito da assinalação da Noite Europeia dos Museus, o Museu Marítimo de Ílhavo estará aberto das 21h30 às 24h00, com entrada gratuita, visitas livres e a dinamização de um peddy paper. O período da manhã conta, pelas 11h, com uma visita pela exposição de fotografia de Eduardo Martins, “Património em rede: um peixe, uma comunidade, dois países”. Também no dia 17 de maio, entre as 10h e as 16h, volta a realizar-se uma ação de formação em torno da “Literacia do Oceano”, desta vez sob o tema “Economia Azul Sustentável e Regenerativa”. A sessão conta com dinamização por parte de Álvaro Sardinha, especialista em Economia Azul. A ação de formação é certificada pelo Centro de Formação de Associação de Escolas dos Concelhos de Ílhavo, Vagos e Oliveira do Bairro, e destina-se a educadores e professores. A inscrição pode ser feita através do site oficial ou através do email [email protected].
GrETUA: ‘recorder’ estreia esta noite e as previsões apontam para casa cheia
É esta noite, pelas 21h30, que o texto de David Catalão – encenado por João Garcia Neto, João Tarrafa e Maria R. Soares e interpretado por Diogo Figueiredo, Daniela Lopes, Ana Conde e Inês Hermenegildo – sobe ao palco do GrETUA. A obra resulta no espetáculo final do Curso de Formação Teatral 2024-2025 do GrETUA e pode ser visto até ao próximo dia 18 de maio. A peça nasce da escrita de David Catalão que, em entrevista à Ria, dá nota de que parte de um “desafio” de um texto para ser entregue “a três ensaiadores diferentes, com três linguagens diferentes, para fazerem três interpretações diferentes”. A repetição da palavra diferente não é acidental. É que a diferença é mesmo “a chave do exercício”, aponta o autor. “Isso foi logo uma coisa que me seduziu bastante porque me interessa sobretudo a questão do texto como a sua leitura e a sua abordagem e receção, mais do que a construção”, explica David. Foi então construído com “bastantes coisas em aberto” e com “poucas indicações de cena”, desvenda o autor. Essa construção permite que a interpretação possa ser “livre” e “como houve esta lógica de ele ser feito em sequência (…) levou-me aqui para uma escrita também a incidir sobre esta questão da repetição, da memória, do ciclo da perda que existe com as repetições, de uma certa metáfora do teatro também e do ensaio com base de repetir até criar algo novo”, aponta. “Todas estas ideias levaram-me a uma ideia que eu já tinha há bastantes anos, que era esta premissa de alguém que procura gravar momentos como quem tira fotografias”, conta David. “A nossa memória não é autossuficiente, ela ativa-se através de objetos como fotografias”, aponta o autor. Além disso, o tema da memória “está muito associada” às “artes do tempo”. “Aliás, no caso do teatro, a memória é mesmo uma ferramenta de trabalho”, frisa David que sublinha que o conflito da peça surge “à volta de diferentes ideias acerca de uma memória”. E mais não avançamos para não estragar a estreia da peça. João Garcia Neto, João Tarrafa e Maria R. Soares são as pessoas que ficaram responsáveis pela encenação da peça que pretende ser uma unidade, partida em três formatos. Maria R. Soares aborda o texto a partir do movimento, João Garcia Neto a partir do cinema e João Tarrafa a partir do teatro. Para a encenadora que abre a peça, a abordagem adotada é a do movimento, “uma abordagem se calhar mais performativa” do texto, aponta Maria. O seu processo foi, a partir do texto, “tentar imaginar a forma como as personagens se relacionam e o espaço que constroem em conjunto”. Partindo desse feito, o desafio passou por “compor dinâmicas de cuidado, de tensão e de fricção entre eles”, repara a encenadora. Essa composição é feita de forma mais física, “mas também com os objetos que ocupam o espaço”, adianta Maria. “Na minha encenação existem pequenos objetos, simples e cotidianos, mas que depois são reinventados na forma como são usados pelos performers, o que permite criar uma certa carga simbólica e diferentes leituras ao longo da encenação”, revela Maria R. Soares. Por sua vez, João Garcia Neto vê o texto como “uma prenda” por permitir “convocar a linguagem do cinema para o palco como um dispositivo que vem falar também sobre estas questões do texto, da memória e do registo”, repara. “A mim interessou-me pensar desde o início (…) uma forma quase performativa como o cinema é colocado em palco”, adiantou o atual diretor artístico do GrETUA. “Como estávamos a trabalhar a questão da memória, há aqui um trabalho (…) de poder convocar diferentes camadas, imagens de diferentes tempos e eventualmente noutros lugares, que se sobrepõe ao momento real ao da apresentação”, repara ainda João Garcia Neto em relação à abordagem dada ao texto. Já para João Tarrafa a peça é um desafio sobretudo ao nível do conflito. “É muito giro passar um mês (…) a perceber quais são os conflitos entre aquelas pessoas - que são imaginárias, mas que que se tornam cada vez mais palpáveis de dia para dia - e perceber porque é que elas não se conseguem relacionar umas com as outras”, aponta o encenador. Para João a peça é significante precisamente por essa perspetiva. “No mundo eu gosto de pessoas, gosto da maneira como nós não nos conhecemos a nós próprios e não conhecemos o outro, (…) há muitas coisas para descobrir aí”, entende João Tarrafa. A sua abordagem interpretativa do texto é a que termina a peça e, como parte da linguagem do teatro, admite João, “será provavelmente a mais concreta, a mais convencional”. Os bilhetes para a sessão de hoje já estão esgotados, mas ainda há lugares disponíveis para as próximas exibições. Tem um preço de cinco euros para estudantes e de sete euros e cinquenta cêntimos para o público em geral e podem ser adquiridos através do preenchimento do formulário,disponível a partir das redes sociais do GrETUA.
Jovens têm interesse na política, mas continuam distantes das urnas. O que explica este paradoxo?
A Ria conversou com Patrícia Silva, docente e investigadora no Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território da Universidade de Aveiro (DCSPT-UA), que integrou a equipa do livro “O Eleitorado Português no Século XXI”, tendo coautorado um capítulo dedicado às formas de participação política dos jovens. A investigação existente tem posicionado os jovens como uma “geração à parte” no que toca à participação política e eleitoral. Apesar desta “perceção”, no caso português, este capítulo sugere que, pelo contrário, os jovens têm vindo a mostrar “sinais de vitalidade em termos de participação cívica e política”, sugerindo mesmo que as notícias sobre a “morte da política neste grupo [são] francamente exageradas”. Patrícia Silva não deixou de concordar com esta perspetiva destacando que este “exagero” deriva de uma interpretação daquilo que é a política. “Existe esta perceção de que os jovens não se interessam por política, sendo que os dados sugerem é que os jovens se interessam muito por política”, afirmou. Apesar deste interesse, a investigadora relembrou que isso não tem sido suficiente para evitar, nos últimos anos, as [altas] “taxas de abstenção” e a “baixa taxa de participação dos jovens” que se tem verificado. Patrícia sugeriu mesmo que há um “sentimento de afastamento em relação aos partidos políticos” [por parte dos jovens] que pode ser explicada, conforme refere o estudo, “pelo afastamento crítico de formas mais convencionais de participação”. “Quando nós olhamos para todas as formas de participação que não envolvam partidos políticos (…) como, por exemplo, manifestações ou petições, os jovens participam e têm registado taxas de participação consideráveis ao longo das últimas décadas. Isto não se nota no caso do voto”, exemplificou. “É por isso que nós notamos que os jovens estão interessados na política. No entanto, estão bastante afastados dos atos eleitorais”, continuou. Segundo o estudo este “afastamento” pode ser explicado, entre outros motivos, pelo “ciclo de vida” em que existe um “efeito curvilíneo da idade”, ou seja, as taxas de participação eleitoral “tendem a aumentar com a transição para a idade adulta”. Em Portugal, a investigadora alerta que a “idade média” [desse ciclo] tem vindo a aumentar encontrando-se, atualmente, nos “39 anos”. “Esse aumento está relacionado com a forma como os jovens adiam estes momentos fundamentais como a saída de casa ou a constituição de família”, expôs. “Naturalmente isto está também associado com o facto de termos um mercado laboral que é muito precário e com o facto dessa precariedade atingir sobretudo os jovens”, continuou a investigadora. Patrícia Silva acrescentou que, face a isto, há uma “desilusão” dos mais novos. Neste seguimento, a investigadora foi mais além e recordou que “historicamente” os programas eleitorais de todos os partidos políticos “dedicam uma percentagem muito pequena a propostas e promessas eleitorais para os mais jovens”. “Nós fizemos esse levantamento em 2020, e olhando para as eleições de 2019, creio que a saliência de propostas apresentadas para os jovens é muito baixa”, reconheceu. “Todos os programas eleitorais tendem a ser formados e apresentam, sobretudo, propostas para faixas etárias mais avançadas e para o mercado laboral já estabelecido”, sintetizou a autora do estudo. No entendimento de Patrícia Silva, tanto o partido Chega como a Iniciativa Liberal, “nos últimos dois atos eleitorais”, têm conseguido “captar esta franja do eleitorado de uma forma mais clara”. “Eu creio que isso tem feito com que os outros partidos percebam que havia aqui um mercado, digamos assim, do ponto de vista eleitoral que estava a ser negligenciado. (…) Isto tem feito com que os outros partidos, de alguma forma, passassem a destacar um pouco mais esta dimensão da juventude e que nós vimos [recentemente] até em termos de propostas… A questão da facilidade da aquisição de casa para os mais jovens, as questões de fiscalidade [IRS Jovem], etc”, opinou. Ainda no campo das razões para o “afastamento”, o estudo aponta para uma “alteração nos perfis de participação” onde os jovens passaram a colocar no “topo das suas prioridades as questões pós-materialistas”, com destaque para temas como a igualdade sexual ou a consciência ecológica. “Naturalmente, há uma diferença entre as prioridades políticas dos mais velhos, que olha sobretudo para as questões mais materialistas. Eu creio que essa diferença tem vindo a ser cada vez menos acentuada, mas a verdade é que temos uma diferença em termos geracional nas prioridades”, referiu. “Os mais velhos com uma maior inclinação para a proteção dos valores materiais, da economia e da segurança. Os mais jovens com as questões do ambiente, da igualdade, da comunidade LGBT, etc”, refletiu a investigadora. Também o “contexto familiar” pode ser outro dos motivos que explicam esta realidade. No estudo, os autores concordam que “na transição para a vida adulta, os jovens que foram socializados em contextos parentais e que abraçaram as opiniões políticas dos seus pais tendem a revelar padrões mais estáveis de participação política no início da sua vida adulta”. Patrícia Silva sugeriu que há aqui uma “desigualdade económica e social que está quase subjacente a este efeito de socialização”, alertando que é necessário prestar atenção ao mesmo “nos próximos anos”. “Vale a pena destacar porque é que em algumas famílias o tema da política não é tão importante e a razão é que muitas vezes está associada às dificuldades económicas e às carências e à desigualdade que toma conta destas famílias”, relembrou. “Aquilo que nós sabemos é que a participação eleitoral está muito associada à satisfação de necessidades básicas em primeiro lugar. (…) Enquanto há famílias que vivem confortáveis e que têm as suas questões de necessidades básicas - habitação, alimentação e educação - facilmente resolvidas, as famílias que lutam e que têm esta dificuldade adicional são famílias que sentem, em primeiro lugar, que a política falhou em relação às suas expectativas de vida e ao que esperavam de uma democracia”, apontou. Em segundo lugar, a investigadora sugeriu ainda que para estas pessoas [com dificuldades económicas] a política não é central, porque têm naturalmente os seus problemas diários maiores para resolver”. Com um olhar mais atento sobre a realidade universitária, Patrícia Silva refletiu ainda que o facto de haver estudantes deslocados, ou seja, que estudam fora da sua área de residência fiscal, também é um fator que pode explicar, “em parte”, as baixas taxas de participação. “Isto é um efeito que noutros países tem sido notado. Há países onde se nota que na primeira votação [dos jovens] há uma maior taxa de participação eleitoral, mas depois cai”, explicou. “A maior parte dos estudos o que sugere é que esse efeito tem relação com o facto de muitos destes estudantes estudarem fora (…). E o facto de terem de votar no local onde residem, implica uma deslocação adicional no dia das eleições”, relembrou. Apesar de existir, atualmente, a possibilidade de voto antecipado a investigadora deixou ainda a nota de que é necessário fazer uma “análise maior das razões pelas quais esse efeito não se nota muito bem entre os jovens”. “Não sei se é uma questão da burocracia envolvida, não sei se é, de facto, também por algum desinteresse em relação ao ato eleitoral. Agora, o ato de, no dia das eleições, fazer essa deslocação, que implica naturalmente custos para estes jovens, pode, em parte, pelo menos, explicar essa taxa de participação eleitoral mais baixa”, frisou. Questionada sobre se existem números sobre a taxa de participação dos jovens no voto antecipado, Patrícia Silva referiu não ter dados sobre isso, salientando que esta seria uma “boa questão de investigação”. “Acho que essa é uma nota muito interessante de vermos em que medida é que, sobretudo entre a faixa dos estudantes de Ensino Superior, esse mecanismo de voto antecipado é, de facto, aproveitado”, reforçou. O livro “O Eleitorado Português no Século XXI” foi organizado por Marina Costa Lobo, professora e investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, e Ana Espírito-Santo, professora associada e investigadora no Instituto Universitário de Lisboa. O capítulo 2 cujo título é “A Participação Política dos Jovens no Novo Milénio: Ainda uma Geração à Parte?” contou com os contributos de Carlos Jalali e Patrícia Silva, docentes e investigadores no DCSPT-UA e de Patrício Costa, professor associado na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. Este capítulo examina as formas de participação política dos jovens e questiona se continuam a constituir uma geração à parte no contexto da democracia portuguesa. Esta reportagem insere-se numa parceria estabelecida entre a Ria - Rádio Universitária de Aveiro e a direção da Associação Académica da Universidade de Aveiro (AAUAv) e resultará, ao longo dos próximos meses, num conjunto de artigos sobre temas que afetam diariamente a vida dos estudantes da UA. Todas as reportagens serão acompanhadas por um cartoon satírico que pretende representar a problemática abordada. Se tens sugestões de temas que gostarias de ver abordados envia um email [email protected].