"O Futuro da Universidade de Aveiro está nas mãos de todos", opinião de Roberto Martins
Roberto Martins é investigador auxiliar (equiparado) no Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) e no Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro (DBio-UA) e membro do atual Conselho Geral. É ainda o cabeça de lista ao Conselho Geral, pela circunscrição B (Ciências), do movimento "UA50 – 50 Anos de História, 50 Anos de Ambição".
Roberto Martins
Opinião“Quem é o vosso candidato a reitor?” – Uma das perguntas mais comuns que marcam o período de campanha pré-eleitoral para o Conselho Geral (CG) da Universidade de Aveiro (UA). A questão não deveria ser quem, mas sim o que defendem para o futuro da UA. E, a partir daí, inferir o perfil de reitor que cada lista ao CG defende.
Agora que já se sabe que haverá duas listas a disputar a eleição dos 10 conselheiros no círculo dos professores e investigadores, é seguro dizer que o recém-fundado movimento “UA50: 50 anos de história, 50 anos de ambição” se diferencia totalmente, pelo facto de responder àquela questão com uma resposta clara: “não temos candidato(a), mas temos uma visão clara e ambiciosa para a instituição e defendemos um perfil de reitor em consonância com esta visão de longo prazo.”
A UA é um pilar de inovação, conhecimento e progresso há cinco décadas. No entanto, enfrenta desafios que, se ignorados, podem comprometer a qualidade do ensino, da investigação científica e da cooperação, a participação cívica da comunidade e a própria sustentabilidade da universidade a longo prazo. Portanto, o que está em jogo nas próximas eleições de dia 3 de junho para o CG, enquanto órgão máximo de governo da instituição, é o caminho que a UA tomará nos próximos anos. Não é expectável dos candidatos ao CG um plano de ação, uma vez que o órgão não tem poder executivo, mas sim as linhas gerais sobre o futuro da UA e se (e como) contribuirá para a implementação de um sistema de supervisão (competência do CG) da ação do Reitor e respetiva equipa. Para o efeito, é importante conhecer os candidatos ao CG e o que defendem para garantir que a UA entra num ciclo contínuo de crescimento e expansão nos próximos 50 anos.
Mas a verdade é que muitos colegas me têm abordado para questionar sobre porque é que não apoio nenhum putativo candidato a Reitor e porque considero que os demais candidatos ao CG – de todas as universidades portuguesas – deveriam seguir o mesmo princípio basilar. Ora, fruto da minha experiência no atual CG e do entendimento que existe um problema transversal às Instituições de Ensino Superior (IES) portuguesas, relacionado com a captura do CG sobretudo para efeitos da eleição do reitor, a minha posição é simples, mas com impacto disruptivo. Trata-se de garantir a imparcialidade no ato de apreciação e votação da(s) candidatura(s) a reitor (previsivelmente, a última vez a ser eleito pelo CG, se o RJIES for alterado) e o escrutínio contínuo por parte dos conselheiros, quando forem chamados a apreciar os atos do reitor e da sua equipa. A garantia de imparcialidade na apreciação das candidaturas fomentará, previsivelmente, a democraticidade do ato eleitoral para o reitor. Estas poderão ser apresentadas por professores ou investigadores, da UA ou de outras IES (inter)nacionais, tal como já aconteceu noutras IES portuguesas no passado, desde que correspondam a personalidades de reconhecido mérito, com experiência relevante na área da gestão universitária e capacidade de liderança. Cada conselheiro eleito poderá, posteriormente, avaliar a experiência e o plano de ação do(s) candidato(s) e aprovar o que for mais competente para projetar a UA a curto, médio e longo prazo.
É por esta razão que as eleições de 3 de junho assumem particular importância, uma vez que os professores e investigadores da UA serão responsáveis pela eleição de 10 representantes que terão o poder de garantir um Conselho Geral forte, independente e representativo e, por sua vez, assegurar que a ação do futuro reitor e da sua equipa conduza a UA na melhor direção possível para se tornar uma referência no panorama regional, nacional e internacional. Num cenário demográfico, político e económico desafiante, a nível nacional e internacional, a UA necessita de um reitor com perfil de liderança capaz de unir a nossa comunidade académica, restaurar o sentimento de pertença à UA, enfrentar os desafios da precariedade, estabilidade e progressão nas carreiras e garantir o bem-estar de todos. Não menos importante, deve ser um defensor da excelência pedagógica, científica, da inovação e da colaboração.
Assim, no dia 3 de junho, cabe a cada membro da comunidade académica decidir: queremos uma universidade que perpetue os problemas do passado ou estamos prontos para construir uma UA mais forte, mais justa e mais ambiciosa? A escolha está nas nossas mãos!
Recomendações
"A ciência e a investigação são um bem público, não são mercadoria", opinião de Miguel Pedro Araújo
A proposta orçamental para a Ciência e Tecnologia em 2025 já tinha marcado um retrocesso preocupante: 607 milhões de euros, o valor mais baixo desde 2018. A herança deixada pelo Governo de António Costa - um orçamento de 675 milhões de euros, mais 2,5% do que em 2023 - foi desperdiçada, revelando não só falta de ambição, mas também um desrespeito profundo pelo papel estratégico da ciência. Mas este Governo preferiu continuar a escolher enfraquecer deliberadamente um setor vital para o desenvolvimento do país. Depois da não inclusão de uma Secretaria de Estado para o Ensino Superior na orgânica do Governo, em 2024, surgiu a decisão de extinguir a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), fundindo-a numa nova estrutura orgânica (Agência para a Investigação e Inovação) sem identidade, nem referência, diluindo e esvaziando a missão de uma instituição que, com as suas limitações, era central para a consolidação do sistema científico português. A ciência precisa de estabilidade, previsibilidade e autonomia, não de reformas administrativas que se traduzem em incerteza, perda de história institucional e riscos para a continuidade de projetos, bolsas e, nomeadamente, para as carreiras profissionais, aumentando a precaridade laboral que marca o setor da investigação. Como se tudo isto não fosse, por si só, preocupante, ainda mais inquietante e revelador da ideologia estratégica do Governo é a visão que o atual ministro da Educação deixou clara, no jantar-conferência da Universidade de Verão do PSD (curiosamente, uma alegada iniciativa de formação de jovens quadros) ao afirmar que “a sociedade tem que perceber que é importante e os cientistas têm que perceber que têm a obrigação de devolver à sociedade o investimento que é feito neles”. Esta declaração encerra uma conceção mercantilista e economicista da investigação, como se o valor da ciência pudesse ser medido apenas como retorno imediato ou em ganhos financeiros. A comunidade científica já devolve à sociedade o investimento que recebe. Fá-lo através da produção de conhecimento, da formação qualificada, da inovação que capacita empresas e instituições públicas, e sobretudo pela construção de uma cidadania crítica e informada. O conhecimento científico não é um luxo nem um custo: é um bem público, indispensável para o ensino superior, para a saúde, para a cultura, para a economia, para a justiça social e para que a sociedade seja mais capacitada para enfrentar os grandes desafios do século XXI: das alterações climáticas às desigualdades, da transição digital à defesa da democracia. A imprevisibilidade nos apoios, a instabilidade das carreiras científicas e a instrumentalização da investigação para fins conjunturais fragilizam um sistema que levou (e leva ainda) tempo a consolidar-se. O risco é claro: transformar a ciência e a investigação numa engrenagem subalterna (subsidiodependente) de curto prazo, sem autonomia, incapaz de planear e de responder com liberdade às necessidades da sociedade. Está em causa uma visão do país que queremos ser. E este Governo parece escolher a via de desvalorização do conhecimento, onde a ciência é reduzida a mercadoria, em vez de ser reconhecida como pilar do saber e do desenvolvimento humano, social, económico e cultural de Portugal. É preciso defender a ciência e a investigação, defender o conhecimento, defender o futuro. E isso faz-se com mais investimento, mais estabilidade e mais respeito pelos que dedicam a sua vida à investigação. Porque sem ciência não há futuro. E sem respeito pelos cientistas e investigadores não há democracia digna desse nome.
"Ensino: a prioridade sazonal", opinião de Joana Regadas
Habituámo-nos enquanto seres humanos a diferentes épocas ao longo do ano. Vemos nas épocas festivas o aconchego da família, nos Santos Populares o festejo do início do verão, do convívio entre amigos e família, e na época balnear o prazeroso agosto que promete repor todas as energias, realinhar as ideias e deixar todas e quaisquer preocupações para trás. Há, no entanto, uma época bastante característica em Portugal, que ao contrário das outras três vem carregada de muita reflexão e notícias preocupantes: a época educacional, traduzida como o único período do ano em que se ouve falar sobre o ensino. Todas estas quatro épocas, apesar de muito diferentes, têm alguns fatores em comum: são sazonais, previsíveis e repetem-se de ano para ano. Porém, seria de esperar que a educação e o ensino - o fundamento do crescimento de qualquer sociedade - não aparecessem apenas em duas ocasiões ao longo do ano e sempre com as mesmas motivações. Vemos entre meados de junho/julho um acordar para a importância da educação, ouvimos falar da preocupação dos estudantes que irão realizar os exames nacionais, avalia-se o grau de dificuldade dos mesmos, discute-se a falta de preparação dos alunos, o desajuste dos programas curriculares e um ensino focado apenas para estes momentos, refletem-se anos de estudo nos resultados e estabelece-se um ranking das melhores escolas. Nas primeiras semanas de agosto o interesse na educação volta a reduzir (não caindo para os seus mínimos, isso só é atingido ao longo do ano letivo), discutindo-se com apreensão o número de candidatos ao Ensino Superior. Até que chega o final de agosto e início de setembro, onde o apogeu das notícias, preocupações, deambulações, opiniões, introspeções sobre o ensino acontece. Ficamos cercados com a informação previsível, sazonal e repetitiva, falta de professores e resultados das candidaturas ao Ensino Superior. Chamam-se peritos, dá-se palco a estudantes, professores, quem durante todo o ano se encontra esquecido, mas que nesta altura tem lugar cativo em horário nobre, tentam-se encontrar justificações para o que continua a falhar e em outubro esquecemo-nos de novo desta problemática. Este ano a sazonalidade das épocas mantêm-se, os Santos Populares decorreram da mesma forma, a época balnear com os já tradicionais incêndios florestais (mais uma época sazonal, que fica bem guardada na gaveta quando não é o seu tempo) e o ensino encontra-se com visualizações acima do normal. Apesar da normalidade no decorrer do ano é de notar que as notícias sobre o ensino sofreram algumas alterações, no entanto estas não trazem com elas dados que nos apaziguem. No início de agosto relatava-se uma diminuição significativa no número de candidatos ao Ensino Superior, próximo dos valores de há 7 anos e no passado domingo as preocupações agravaram-se ainda mais, com menos 6 mil alunos a entrarem no Ensino Superior, 11.500 vagas por preencher e com muitos cursos com nenhum estudante colocado. Estes são de facto números alarmantes, números para os quais se discutem inúmeras justificações. Serão os custos associados ao Ensino Superior que explicam estes resultados, ou terá sido a alteração no modelo de acesso? Será um desajuste do ensino superior à procura das novas gerações, ou falta de esperança de que a aposta numa educação superior se reflita numa carreira profissional melhor? Poderá este número inverter-se na segunda fase, havendo mais estudantes que estão habilitados a candidatar-se ao Ensino Superior? Podemos tentar ser pragmáticos e fazer o exercício de analisar cada uma das possíveis justificações de forma individual. A primeira hipótese, e talvez mais consensual entre os comentadores, está relacionada com os custos associados ao Ensino Superior, custos estes que vão desde a habitação, aos transportes, à socialização e à alimentação, que chegam a rondar em Lisboa os cerca de 900 €, sabendo que em Aveiro um quarto ronda os 350€-400€, é expectável que o orçamento mensal não fique muito longe deste valor. É necessário partir esta questão em duas. Se por um lado este ano não se verificou um aumento significativo no alojamento, por outro o poder de compra das famílias tem vindo a diminuir, o que levanta a questão: “Será este o primeiro ano onde as famílias estejam a sentir as dificuldades económicas anunciadas já desde há algum tempo?”. Esta pode ser de facto uma justificação, principalmente para os resultados obtidos na Universidade de Aveiro, maioritariamente composta por estudantes deslocados. As questões que se colocam, caso seja esta a principal razão, são diversas, os complementos atuais deixaram de ser suficientes, estes estudantes deslocados optaram pelo Ensino Superior Privado devido aos custos associados à permanência enquanto estudante deslocado ser superior às propinas no privado, existe informação suficiente dos apoios existentes. Uma conclusão é certa, sendo esta a principal razão, ou só mais uma no bolo é de facto urgente reformular o sistema de ação social! É preciso, também, refletir sobre as implicações das alterações do modelo de acesso, modelo alterado em 2023 e que regressa com os exames obrigatórios para a conclusão do ensino secundário e que passou a obrigar a ter dois exames como prova de ingresso valendo cada um pelo menos 50%. Esta decisão foi fundamentada como necessária para nivelar a inflação das notas, promovidas em diferentes contextos escolares, no entanto, quando esta hipótese é colocada em cima da mesa é necessário de facto questionar se os exames nacionais são um fator nivelador ou não. Alguns dados importantes revelam-nos que os resultados dos exames nacionais subiram no ensino privado e desceram no público, e no acesso ao Ensino Superior verificou-se também uma diminuição dos estudantes em situações socioeconómicas desfavorecidas. A combinação destes dois fatores deve iniciar uma reflexão sobre se este modelo está de facto a cumprir o objetivo ou a perpetuar o distanciamento entre classes sociais mais baixas (com menos poder económico para investir num percurso com diferentes pedagogias e metodologias de apoio) e o acesso ao ensino superior. Estarão de facto os exames nacionais a colocar todos os alunos nas mesmas circunstâncias? A outra questão levantada encontra-se relacionada com o reconhecimento de valor no ensino superior pelas novas gerações, e para isso é importante, também, recordar dados recolhidos aquando da inscrição nos exames nacionais, onde o número de estudantes que respondeu positivamente se pretendiam ingressar no Ensino Superior, e se iam usar os exames nacionais para tal, diminuiu face a 2024. Porque estará a diminuir o interesse dos jovens em ir para o Ensino Superior, estarão à priori conscientes das dificuldades económicas familiares, estarão a optar por soluções fora de Portugal ou têm receio de que ter uma licenciatura em Portugal já não seja o suficiente para ter um emprego de qualidade? No meio de toda a discussão instaurada, e com a cautela necessária para não tirar conclusões antes dos resultados da 2º fase, não pode ficar esquecido o futuro. Daqui a 3, 5 anos teremos menos pessoas com um grau superior a entrar no mercado do trabalho, representarão estes menos 6 mil alunos de agora, menos 6 mil postos de trabalho qualificado no futuro de Portugal? Que futuro podemos esperar se esta tendência não for invertida? Será Portugal capaz de atingir o objetivo até 2030 de 45 % da população entre os 25 e 30 anos com licenciatura, ou irá, uma vez mais permanecer na cauda da Europa? As teorias são diversas, e as problemáticas enfrentadas agora são reflexo da sazonalidade da discussão do ensino em Portugal, que não tem palco nos programas eleitorais e que não é discutida a longo prazo. Resta-nos a esperança de saber que, pelo menos, durante o próximo mês o ensino estará na agenda do país.
"Afinal o que está errado com o Plano de Pormenor do Cais do Paraíso?", opinião de Fernando Nogueira
Quase tudo! O Plano de Pormenor é um ardil para dar legitimidade política e legal a um processo de licenciamento “por antecipação”, engrenado num cálculo privado de viabilidade financeira. 1 - A proposta de elaboração do Plano de Pormenor (PP) decorre da vontade política do presidente da Câmara e da sua governação de verem concretizado um hotel naquele espaço da cidade, assumida previamente a qualquer discussão estruturada sobre a conveniência de autorizar o referido empreendimento ou sobre os pressupostos e objetivos que deviam orientar a transformação daquela parcela de território. 2 - O PP é um “fato à medida” para o referido empreendimento. Mesmo antes da decisão de elaborar o plano, em janeiro de 2019, Ribau Esteves assumiu publicamente a necessidade de acomodar “os pressupostos dos promotores do investimento em causa [que] não parecem flexíveis em relação à ideia ‘em cima da mesa’” porque, como afirmou, “Se não for assim, não o vamos ter”. Não é inusitado um PP servir para apoiar intenções de investimento privadas, se acautelado o interesse coletivo. Mas esse foi atropelado desde os pressupostos: o projeto, inflexível, dos investidores estabelece a altura e volumetria e a Câmara dá o seu aval, defendendo que o mesmo decorre “da inerente viabilidade económico financeira da intervenção”. O Plano de Pormenor é um ardil para dar legitimidade política e legal a um processo de licenciamento “por antecipação”, engrenado num cálculo privado de viabilidade financeira. 3 - É boa prática urbanística que a execução de um PP seja feita por meio de perequação. Ou seja, todos os que têm capacidade de edificação devem ser considerados na proposta de urbanização. A Câmara considerou desnecessário proceder dessa maneira, adiantando ter sido adotado o sistema de “cooperação” (aspas no original) para a execução do plano. Da leitura do relatório do PP fica claro que a referida “cooperação” é apenas uma astúcia semântica, uma vez que aos restantes proprietários restará escolherem entre venderem as suas parcelas aos investidores do hotel, se estes lhas quiserem comprar, ou serem expropriados nos termos da lei, por força do próprio PP. Talvez por causa deste expediente de retórica, escape à CCDR a ultrapassagem de direitos consignados na lei que aqui se prefigura. 4 - Noutro registo, é curioso que seja a própria autoridade do Turismo a considerar que a solução edificatória pode não contribuir para a valorização turística da cidade. O parecer da Turismo de Portugal I. P. refere “Sobre o número de pisos previsto (12) para a Parcela P6, significativamente acima da envolvente, afigura-se que tal solução poderá traduzir-se numa dissonância urbanística, não concorrendo para a qualidade da paisagem urbana e, por esta via, para a valorização turística da cidade, matéria que, contudo, competirá à Câmara Municipal melhor aferir”. Este parecer, remete para o facto de a cidade ser território comum e para a maneira como ela pode ser apropriada por alguns com impactos na urbanidade de todos. Remete também a decisão para a CMA. A volumetria é discutível em termos estéticos e paisagísticos, mas também quanto às cargas sobre as infraestruturas e serviços urbanos e sobre as questões económicas e ambientais. É meu entendimento que matérias desta natureza não deveriam ser decididas pela Câmara de forma unilateral, nem sustentadas num processo de discussão pública de “faz de conta”. 5 - Oportunisticamente, o período de participação dos cidadãos e entidades da sociedade civil ocorre em agosto e está sujeito ao costumeiro processo de receção de “críticas e sugestões” pelo executivo, que as ponderará a recato de qualquer discussão coletiva, com base em “racionalidades prévias”. Cinicamente, refere-se no preâmbulo do PP que “Contamos, como sempre, com a participação ativa dos Cidadãos, das Empresas, das Instituições Públicas e de todos os que acreditam no potencial de crescimento e de desenvolvimento de Aveiro.” O princípio, esse, é o mesmo de sempre: se não houver nada ilegal, pode (e deve) fazer-se. 6 - Finalmente, o debate que decorre na esfera pública está enviesado. É voz corrente de que ali se fará um hotel e esse tem sido o “objeto” da discussão. O relatório do PP, referencia o conteúdo funcional do empreendimento como tratando-se de “um novo edifício destinado a hotel com oferta de serviços complementares, integrando, nomeadamente, valências funcionais de apoio ao turismo de negócios, eventos e atividades culturais.” Escapará ao leitor menos atento, que não se debruce sobre o Regulamento do PP, que no seu artigo 16º, nº2, se estabelece que “A capacidade máxima do empreendimento turístico é de 600 (seiscentas) camas instaladas em 300 (trezentas) unidades de alojamento (UA), das quais 50, no máximo, podem ser apartamentos.” Na verdade, até podem ser apartamentos em regime de apart-hotel, mas negócio bem diferente do da hotelaria, e da posição assumida pela Câmara em defesa da promoção do hotel, resultará da autonomização e promoção imobiliária destes 50 apartamentos. Cumpre-me denunciar, enquanto cidadão, professor de urbanismo e vereador em exercício, que a CMA promove, com sentido de propósito, a entorse de direitos privados e do direito de todos à cidade, usando os instrumentos de urbanismo em sentido contrário ao dos pressupostos que, em primeira instância, levaram à criação dos mesmos.
"Porquê orgulho? Porque ainda não é seguro viver sem medo", opinião de Hugo Filipe Nunes
Junho é o mês do Orgulho LGBTQIA+. É um mês de visibilidade, de luta, de memória e de celebração. Mas, ano após ano, há quem insista em perguntar: “E o orgulho hetero, quando é?” Como se fosse comparável. Como se a história fosse igual para todas as pessoas. Como se o orgulho de quem foi silenciado, perseguido, ridicularizado ou agredido fosse um capricho — e não um ato de resistência. É importante dizer o óbvio: ninguém precisa de um “orgulho hetero” porque ninguém foi jamais espancado por ser heterossexual. Ninguém perdeu o emprego, foi expulso de casa ou ameaçado na rua por andar de mão dada com alguém do sexo oposto. Ninguém se viu forçado a esconder quem é — para sobreviver. O orgulho LGBTQIA+ não nasce da arrogância. Nasce da dor e da recusa da vergonha. É o contrário da superioridade; é uma resposta à humilhação imposta. Estamos em 2025. Portugal é, em muitos aspetos, um país progressista. Temos casamento igualitário, possibilidade de adoção por casais do mesmo sexo, reconhecimento legal da identidade de género, e algumas proteções anti-discriminação. Mas quem acha que “está tudo resolvido” vive numa bolha. As agressões homofóbicas continuam a acontecer. O bullying nas escolas é uma realidade. O acesso a cuidados de saúde competentes e respeitadores da identidade de género continua desigual. E há cada vez mais discursos públicos que ridicularizam ou atacam os direitos conquistados. Este ano, o mês do Orgulho acontece num contexto político particularmente preocupante. Com a extrema-direita a almejar cada vez mais poder, os direitos das pessoas LGBTQIA+ voltaram a ser alvo. Com linguagem disfarçada de “liberdade de expressão” ou “defesa da família”, o que se vê é o retorno de preconceitos já combatidos: a ideia de que somos uma ameaça à infância, de que devemo-nos “manter discretos”, de que exigir respeito é impor uma “agenda”. É neste contexto que surgem também os ataques ao chamado “wokismo”. A palavra “woke”, que começou por significar consciência social e atenção às injustiças, foi capturada e transformada num insulto. Sempre que alguém se indigna com o racismo, com a homofobia, com o sexismo ou com a desigualdade, é imediatamente apelidado de “woke”. Como se lutar por direitos fosse uma moda. Como se combater a exclusão fosse uma fraqueza. É uma estratégia velha: gozar com a linguagem para deslegitimar a causa. Mas as causas permanecem. E são justas. Não é coincidência que, em todos os países onde a extrema-direita governa ou tem alta influencia, os direitos LGBTQIA+ estejam entre os primeiros a serem atacados. A lógica é simples: criar inimigos internos, dividir a sociedade, impor uma moral única. Em nome da tradição, retiram-se direitos. Em nome da ordem, persegue-se a diferença. Mas a resposta a este avanço não pode ser o silêncio. Não podemos baixar os braços, nem tratar a igualdade como garantida. O Orgulho existe precisamente porque o perigo ainda existe. Porque, mesmo com avanços legislativos, o preconceito não desapareceu. Porque cada gesto público de afeto entre duas pessoas do mesmo sexo ainda é, muitas vezes, um ato corajoso. Porque os adolescentes LGBTQIA+ continuam a crescer com medo, sem referências, sem apoio. Enquanto existir medo, vergonha, discriminação ou violência, o orgulho é necessário. Não é provocação; é defesa. Não é espetáculo; é sobrevivência. É dizer “estamos aqui” num mundo que tantas vezes nos quis apagar. E sim, este combate é político. Porque a liberdade e a igualdade não se defendem apenas com boas intenções. Exigem leis, políticas públicas, financiamento a organizações de apoio, campanhas de sensibilização. Exigem coragem de quem governa e de quem representa, mesmo em assembleias de freguesia. Neste junho, que ninguém se cale. Que se pinte, que se dance, que se ocupe o espaço público, que se abracem causas e pessoas. Porque o orgulho não é só de quem é LGBTQIA+. É de todas e todos os que acreditam que ninguém deve ser tratado como cidadão de segunda. Se ser woke é defender quem sempre foi silenciado, então que nunca me falte orgulho de o ser.
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JS de Aveiro acusa JSD e JP de “ofensa” após cartaz contra Alberto Souto de Miranda
Em comunicado, a estrutura acusa as duas juventudes partidárias de “desmerecer a política” e de “contribuir para a degradação do debate político”. Para a JS de Aveiro, a iniciativa traduz-se numa “forma infantil de fazer política” que “ridiculariza e menospreza” estas organizações. Em declarações à Ria, João Sarmento, presidente da JS Aveiro, foi mais longe, classificando o cartaz como “mais do que uma caricatura”. “É uma ofensa já e acho que ultrapassa o limite daquilo que deve ser um debate saudável”, afirmou. O dirigente socialista considerou ainda que a JSD “não tem idade suficiente, nem conhecimento” para compreender o contexto da governação de Alberto Souto de Miranda, entre 1997 e 2005. “A questão da bancarrota e da dívida meteu-se numa altura complicada a níveis de matéria financeira europeia e também mundial”, explicou. Segundo João Sarmento, o que afetou a tesouraria municipal foi sobretudo “a construção do estádio para o Euro 2004”. “O que estas duas juventudes partidárias tentaram fazer, e fazem de maneira completamente dolosa e consciente, é eliminar e ignorar estes factos, colando hoje a ideia de irresponsabilidade e deslumbre que existiu nesse período da governação”, acrescentou. No comunicado, a JS aproveitou ainda para recordar propostas que tem vindo a apresentar, como a criação de uma “sala de consumo assistido” e os manifestos autárquicos de 2021 e 2025, que classifica como “ambiciosos e progressistas”. Paralelamente, acusou a JSD de ter permanecido em silêncio perante questões relevantes para a juventude aveirense, como o incumprimento da lei no Conselho Municipal de Juventude, a deterioração da relação da Câmara com a Associação Académica da Universidade de Aveiro (AAUAv) e os atritos recentes com a própria Universidade de Aveiro. À Ria, João Sarmento acrescentou ainda as críticas ao Governo e ao PSD, lembrando promessas não cumpridas, como “a data das obras de ampliação do Hospital de Aveiro”, bem como o abandono do Parque da Cidade, do estádio e das políticas de educação e desporto. “Em vez do debate de ideias em prol de Aveiro, a JSD e a JP preferem o lamaçal político e o caminho da demagogia. Lamentamos, mas nunca contarão connosco para este tipo de confronto político quando as regras estão subjugadas aos interesses e ambições pessoais ou coletivos, com intenções opacas”, insiste a JS Aveiro em comunicado. O presidente da estrutura concluiu frisando que o papel da juventude partidária deve ser o de “melhoramento da sociedade”, rejeitando “paternalismos bafientos”. “Muitas vezes é muito fácil as juventudes partidárias ficarem reféns de atos paternalistas porque olham para nós e nos desprezam por causa da idade. O que eu peço é que não aconteça com estas duas juventudes partidárias, mas até com a minha”, defendeu. A Ria tentou ainda entrar em contacto com Leonardo Maio, presidente da JSD Aveiro, mas até ao momento não obteve resposta.
João Moniz acusa executivo de Aveiro de “cegueira ideológica” e defende mais residências estudantis
Segundo a nota, no encontro foram destacados problemas como a deterioração das relações institucionais entre o Município de Aveiro, a Universidade de Aveiro (UA) e a AAUAv, a insuficiente rede de transportes públicos e a falta de resposta adequada do Serviço Nacional de Saúde (SNS) em áreas como a saúde mental. Ainda assim, João Moniz sublinha que a maior preocupação dos estudantes se prende com a subida do custo de vida. De acordo com o candidato, a AAUAv reivindica mais residências estudantis e medidas que incentivem a regulação do mercado de arrendamento. Em resposta às preocupações, o bloquista defende que “mais residências estudantis significam não só melhor acolhimento dos estudantes deslocados, que tanto têm dado à comunidade, como também mais casas disponíveis para a restante comunidade, aliviando assim os preços da habitação no seu conjunto”. Numa crítica direta ao atual executivo municipal, João Moniz acusa ainda José Ribau Esteves, presidente da Câmara de Aveiro, de “cegueira ideológica”. “O atual presidente da Câmara negou-se a recorrer a fundos do Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior (PNAES), tal como recusou recorrer a fundos do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] para construir habitação pública. Esta opção da direita aveirense lesa e lesou os interesses de toda a comunidade e deve ser severamente penalizada por essa escolha no próximo dia 12 de outubro”, refere. “Enquanto outros municípios universitários, como Braga e Anadia, conseguiram ir ao PNAES e estão agora a entregar soluções de alojamento à comunidade académica, Aveiro ficou para trás”, continua. Numa nota final, o candidato bloquista compromete-se a inverter a situação e a ser “um parceiro colaborante e voluntarista no que toca à construção de mais residências estudantis”. “Isso significa mais diálogo com a comunidade académica e a ativação de todos os instrumentos disponíveis para aumentar o número de camas, como o PNAES”, justifica. “Aveiro não pode perder mais oportunidades”, conclui.
Programadores querem novas estratégias e modelos para quebrar assimetrias nos cinemas
“A grande concorrência de uma sala de cinema é o sofá de casa. Não são as condições ou as pipocas. O importante é tirar as pessoas de casa para ir ao cinema”, afirmou à Lusa Tiago Santos, um dos responsáveis da Iniciativa Poética, um projeto que intermedeia a programação de cinema entre distribuidoras e autarquias que exibem filmes em equipamentos culturais. Em Portugal, segundo dados do ICA, três distritos – Beja, Bragança e Portalegre – não têm exibição comercial e diversificada de cinema. A cidade de Viana do Castelo corre o risco de deixar de ter cinema num centro comercial, porque foi autorizada a desafetação de salas. Há dezenas de concelhos no país, sobretudo fora dos grandes centros urbanos, em que só existe oferta de cinema, por vezes semanal, em auditórios, cineteatros, casas de cultura ou cineclubes em espaços de gestão autárquica. No caso da Iniciativa Poética, uma microempresa fundada em 2022, o negócio passa por consultoria, fornecimento de equipamentos e apoio aos clientes – municípios, freguesias, cineclubes – na hora de programar e escolher filmes a exibir em sala. “Cada sala tem as particularidades do território, mas no fundo é com a curadoria e o ambiente que se vive em sala que elas podem sobreviver. É preciso que haja mais oásis como o Cinema Trindade [no Porto]: Há uma programação diversificada, atenta, com sessões especiais, promove-se a oportunidade de estreitar laços da comunidade com os seus criadores. É isso que faz a diferença”, disse Tiago Santos. Em Viseu, onde a exibidora NOS Lusomundo Cinemas tem 12 salas repartidas por dois centros comerciais, há um cineclube, prestes a completar 70 anos, que em 2024 teve 10.429 espectadores envolvidos nas sessões de cinema, oficinas e formação de públicos. O cineclube funciona no auditório do Instituto Português do Desporto e Juventude, com cerca de 150 lugares, e tem atividade regular fora da cidade, como por exemplo, com cinema ao ar livre. Em declarações à Lusa, o coordenador-geral deste cineclube, Rodrigo Francisco, lembrou que a exibição comercial, privada, e a municipal, pública, têm lógicas e propósitos diferentes e há fatores que a diferenciam, nomeadamente em recursos humanos ou lucros de bilheteira. Mas o programador diz que há falta de salas no país, sobretudo “salas com espírito de programação contínua, 12 meses por ano e sem esperar por retorno imediato”. “É urgente uma estratégia para o setor. Não é fácil contar o número de cidades neste país, e até capitais de distrito, que não têm acesso a uma oferta regular, previsível de cinema português, europeu, lusófono”, alertou Rodrigo Francisco. A nível nacional, com base na informação estatística do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), em 2024 existiam 563 salas de cinema, das quais 172 estavam concentradas na região de Lisboa, 166 na região norte e 122 na região centro. A NOS Lusomundo Cinemas é a líder de mercado, com 218 salas de cinema, seguindo-se a Cineplace, com 67 salas, e a UCI Cinemas, com 42 salas, predominantemente situadas em contexto de centro comercial. Em 2024, 11,8 milhões de espectadores viram filmes nos cinemas, totalizando 73,3 milhões de euros de receita, mas são valores que ainda estão abaixo dos obtidos em 2019, antes da pandemia da covid-19. Nesse ano, o ICA contabilizou 15,5 milhões de entradas e 83,1 milhões de euros de receita de bilheteira. Ainda segundo o ICA, no ano passado estrearam-se 62 longas-metragens portuguesas nos cinemas, totalizando 536.146 espectadores, o que representa uma quota de apenas 4,5% do mercado. “Não é possível haver público para o cinema português se os filmes não estão a chegar às cidades e não estão a chegar às pessoas. É um mito que haja uma má relação do público com o cinema português. Faltam salas”, disse o programador do cineclube de Viseu. No mercado, têm ainda surgido novas distribuidoras independentes de cinema, de pequena escala e algumas ligadas a produtoras, que procuram alternativas e novos modelos para fazer chegar os seus catálogos de filmes a mais salas e a mais públicos. É o caso da Magenta, distribuidora ligada à produtora Uma Pedra no Sapato, que começou a operar em 2024. Para o último trimestre de 2025 está a preparar a estreia dos filmes “Complô”, de João Miller Guerra, e “O Riso e a Faca”, de Pedro Pinho. “Vemos a distribuição de cada filme como um objeto específico, considerando as salas comerciais e como o filme pode existir no espaço comum para além da sala comercial e durante mais tempo”, disse Cíntia Gil, desta distribuidora, à agência Lusa. A programadora elogia alguns exibidores por fazerem “coisas extraordinárias pelos filmes” e estarem empenhados em que tenham existência em sala, mas lamenta “a loucura” e o atropelo de estreias semanais de filmes nas salas de cinema. Em Portugal, os filmes estreiam-se às quintas-feiras e as exibidoras fazem uma avaliação permanente do número de espectadores e receitas, determinando a sua continuidade e o número de salas para a semana seguinte. E isso pode prejudicar, por exemplo, a exibição do cinema português face a outros filmes de bilheteira potencialmente mais apelativa. No mercado português, o ICA tem apoios financeiros à exibição de cinema em circuitos alternativos, mas Cíntia Gil diz que o modelo de apoio “está caduco” e apelou à aplicação de um plano estratégico para o setor. O mesmo pediram Tiago Santos e Rodrigo Francisco. “Para resolver isto é preciso uma política cultural e resumir o papel do ICA ao valor que existe para apoiar as salas é redutor. Senão o caminho que estamos a percorrer é para o desastre, porque há muitas pessoas que não estão a ter acesso a esta oferta de cinema”, disse o programador do cineclube de Viseu.
Câmara de Ílhavo lança inquérito à mobilidade da população
“Os resultados deste questionário permitirão retratar as deslocações diárias da população, como as distâncias percorridas, o tempo despendido e os modos de transporte mais utilizados”, adianta uma nota de imprensa municipal. Outro dos objetivos do inquérito, acessível na página institucional do Município da Internet, é recolher informações sobre a utilização e procura das linhas do operador do transporte público, bem como “aferir o nível de satisfação dos utilizadores”. A iniciativa está inscrita na Semana Europeia da Mobilidade, que é assinalada em Ílhavo de 16 a 22, sob o mote “Combina e Move-te!”, com o foco na "multimodalidade" no setor dos transportes. Na segunda-feira, um miniautocarro elétrico da BusWay vai estacionar em duas escolas e junto aos Paços do Concelho, com o objetivo de promover o Serviço Público de Transporte de Passageiros. Nas escolas será feita a divulgação e informação sobre o serviço público de transporte e a sua concessão, “com o intuito de angariar novos utentes”, sendo distribuídos panfletos, horários e ‘merchandising’ da campanha. Na quarta e na quinta-feira, a Biblioteca Municipal de Ílhavo dedica a “História do Dia” ao tema da mobilidade, com “História do dia…a pedais e com pernas para andar!”, para crianças a partir dos 4 anos, e no dia seguinte na Biblioteca da Gafanha da Nazaré. A Semana Europeia da Mobilidade é uma iniciativa da Comissão Europeia, coordenada em Portugal pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), e conta com a participação de municípios e instituições de toda a Europa para promover a mobilidade sustentável e a melhoria da qualidade de vida nas cidades. Já no dia 27, a Escola Municipal de Educação Rodoviária (EMER) promove mais uma sessão de “EMER em Família”, para “promover momentos de partilha e de convívio entre crianças, jovens e adultos, desenvolvendo, de forma criativa, noções associadas à segurança rodoviária”.