"O Futuro da Universidade de Aveiro está nas mãos de todos", opinião de Roberto Martins
Roberto Martins é investigador auxiliar (equiparado) no Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) e no Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro (DBio-UA) e membro do atual Conselho Geral. É ainda o cabeça de lista ao Conselho Geral, pela circunscrição B (Ciências), do movimento "UA50 – 50 Anos de História, 50 Anos de Ambição".
Roberto Martins
Opinião“Quem é o vosso candidato a reitor?” – Uma das perguntas mais comuns que marcam o período de campanha pré-eleitoral para o Conselho Geral (CG) da Universidade de Aveiro (UA). A questão não deveria ser quem, mas sim o que defendem para o futuro da UA. E, a partir daí, inferir o perfil de reitor que cada lista ao CG defende.
Agora que já se sabe que haverá duas listas a disputar a eleição dos 10 conselheiros no círculo dos professores e investigadores, é seguro dizer que o recém-fundado movimento “UA50: 50 anos de história, 50 anos de ambição” se diferencia totalmente, pelo facto de responder àquela questão com uma resposta clara: “não temos candidato(a), mas temos uma visão clara e ambiciosa para a instituição e defendemos um perfil de reitor em consonância com esta visão de longo prazo.”
A UA é um pilar de inovação, conhecimento e progresso há cinco décadas. No entanto, enfrenta desafios que, se ignorados, podem comprometer a qualidade do ensino, da investigação científica e da cooperação, a participação cívica da comunidade e a própria sustentabilidade da universidade a longo prazo. Portanto, o que está em jogo nas próximas eleições de dia 3 de junho para o CG, enquanto órgão máximo de governo da instituição, é o caminho que a UA tomará nos próximos anos. Não é expectável dos candidatos ao CG um plano de ação, uma vez que o órgão não tem poder executivo, mas sim as linhas gerais sobre o futuro da UA e se (e como) contribuirá para a implementação de um sistema de supervisão (competência do CG) da ação do Reitor e respetiva equipa. Para o efeito, é importante conhecer os candidatos ao CG e o que defendem para garantir que a UA entra num ciclo contínuo de crescimento e expansão nos próximos 50 anos.
Mas a verdade é que muitos colegas me têm abordado para questionar sobre porque é que não apoio nenhum putativo candidato a Reitor e porque considero que os demais candidatos ao CG – de todas as universidades portuguesas – deveriam seguir o mesmo princípio basilar. Ora, fruto da minha experiência no atual CG e do entendimento que existe um problema transversal às Instituições de Ensino Superior (IES) portuguesas, relacionado com a captura do CG sobretudo para efeitos da eleição do reitor, a minha posição é simples, mas com impacto disruptivo. Trata-se de garantir a imparcialidade no ato de apreciação e votação da(s) candidatura(s) a reitor (previsivelmente, a última vez a ser eleito pelo CG, se o RJIES for alterado) e o escrutínio contínuo por parte dos conselheiros, quando forem chamados a apreciar os atos do reitor e da sua equipa. A garantia de imparcialidade na apreciação das candidaturas fomentará, previsivelmente, a democraticidade do ato eleitoral para o reitor. Estas poderão ser apresentadas por professores ou investigadores, da UA ou de outras IES (inter)nacionais, tal como já aconteceu noutras IES portuguesas no passado, desde que correspondam a personalidades de reconhecido mérito, com experiência relevante na área da gestão universitária e capacidade de liderança. Cada conselheiro eleito poderá, posteriormente, avaliar a experiência e o plano de ação do(s) candidato(s) e aprovar o que for mais competente para projetar a UA a curto, médio e longo prazo.
É por esta razão que as eleições de 3 de junho assumem particular importância, uma vez que os professores e investigadores da UA serão responsáveis pela eleição de 10 representantes que terão o poder de garantir um Conselho Geral forte, independente e representativo e, por sua vez, assegurar que a ação do futuro reitor e da sua equipa conduza a UA na melhor direção possível para se tornar uma referência no panorama regional, nacional e internacional. Num cenário demográfico, político e económico desafiante, a nível nacional e internacional, a UA necessita de um reitor com perfil de liderança capaz de unir a nossa comunidade académica, restaurar o sentimento de pertença à UA, enfrentar os desafios da precariedade, estabilidade e progressão nas carreiras e garantir o bem-estar de todos. Não menos importante, deve ser um defensor da excelência pedagógica, científica, da inovação e da colaboração.
Assim, no dia 3 de junho, cabe a cada membro da comunidade académica decidir: queremos uma universidade que perpetue os problemas do passado ou estamos prontos para construir uma UA mais forte, mais justa e mais ambiciosa? A escolha está nas nossas mãos!
Recomendações
"Porquê orgulho? Porque ainda não é seguro viver sem medo", opinião de Hugo Filipe Nunes
Junho é o mês do Orgulho LGBTQIA+. É um mês de visibilidade, de luta, de memória e de celebração. Mas, ano após ano, há quem insista em perguntar: “E o orgulho hetero, quando é?” Como se fosse comparável. Como se a história fosse igual para todas as pessoas. Como se o orgulho de quem foi silenciado, perseguido, ridicularizado ou agredido fosse um capricho — e não um ato de resistência. É importante dizer o óbvio: ninguém precisa de um “orgulho hetero” porque ninguém foi jamais espancado por ser heterossexual. Ninguém perdeu o emprego, foi expulso de casa ou ameaçado na rua por andar de mão dada com alguém do sexo oposto. Ninguém se viu forçado a esconder quem é — para sobreviver. O orgulho LGBTQIA+ não nasce da arrogância. Nasce da dor e da recusa da vergonha. É o contrário da superioridade; é uma resposta à humilhação imposta. Estamos em 2025. Portugal é, em muitos aspetos, um país progressista. Temos casamento igualitário, possibilidade de adoção por casais do mesmo sexo, reconhecimento legal da identidade de género, e algumas proteções anti-discriminação. Mas quem acha que “está tudo resolvido” vive numa bolha. As agressões homofóbicas continuam a acontecer. O bullying nas escolas é uma realidade. O acesso a cuidados de saúde competentes e respeitadores da identidade de género continua desigual. E há cada vez mais discursos públicos que ridicularizam ou atacam os direitos conquistados. Este ano, o mês do Orgulho acontece num contexto político particularmente preocupante. Com a extrema-direita a almejar cada vez mais poder, os direitos das pessoas LGBTQIA+ voltaram a ser alvo. Com linguagem disfarçada de “liberdade de expressão” ou “defesa da família”, o que se vê é o retorno de preconceitos já combatidos: a ideia de que somos uma ameaça à infância, de que devemo-nos “manter discretos”, de que exigir respeito é impor uma “agenda”. É neste contexto que surgem também os ataques ao chamado “wokismo”. A palavra “woke”, que começou por significar consciência social e atenção às injustiças, foi capturada e transformada num insulto. Sempre que alguém se indigna com o racismo, com a homofobia, com o sexismo ou com a desigualdade, é imediatamente apelidado de “woke”. Como se lutar por direitos fosse uma moda. Como se combater a exclusão fosse uma fraqueza. É uma estratégia velha: gozar com a linguagem para deslegitimar a causa. Mas as causas permanecem. E são justas. Não é coincidência que, em todos os países onde a extrema-direita governa ou tem alta influencia, os direitos LGBTQIA+ estejam entre os primeiros a serem atacados. A lógica é simples: criar inimigos internos, dividir a sociedade, impor uma moral única. Em nome da tradição, retiram-se direitos. Em nome da ordem, persegue-se a diferença. Mas a resposta a este avanço não pode ser o silêncio. Não podemos baixar os braços, nem tratar a igualdade como garantida. O Orgulho existe precisamente porque o perigo ainda existe. Porque, mesmo com avanços legislativos, o preconceito não desapareceu. Porque cada gesto público de afeto entre duas pessoas do mesmo sexo ainda é, muitas vezes, um ato corajoso. Porque os adolescentes LGBTQIA+ continuam a crescer com medo, sem referências, sem apoio. Enquanto existir medo, vergonha, discriminação ou violência, o orgulho é necessário. Não é provocação; é defesa. Não é espetáculo; é sobrevivência. É dizer “estamos aqui” num mundo que tantas vezes nos quis apagar. E sim, este combate é político. Porque a liberdade e a igualdade não se defendem apenas com boas intenções. Exigem leis, políticas públicas, financiamento a organizações de apoio, campanhas de sensibilização. Exigem coragem de quem governa e de quem representa, mesmo em assembleias de freguesia. Neste junho, que ninguém se cale. Que se pinte, que se dance, que se ocupe o espaço público, que se abracem causas e pessoas. Porque o orgulho não é só de quem é LGBTQIA+. É de todas e todos os que acreditam que ninguém deve ser tratado como cidadão de segunda. Se ser woke é defender quem sempre foi silenciado, então que nunca me falte orgulho de o ser.
"Mudar o Paradigma de Gestão e de Governança da UA", opinião de Filipa Brandão
Mudar o Paradigma de Gestão e de Governança da UA: Um Apelo à Liderança Participativa e à Cocriação de Soluções para o Futuro de Todos Ao celebrar mais de cinco décadas de história, a Universidade de Aveiro encontra-se num momento decisivo. Os desafios que hoje se colocam ao Ensino Superior, as restrições orçamentais, o necessário impacto social do ensino e da investigação, a sobrecarga de trabalho e em muitos casos de burnout dos seus recursos humanos, exigem uma profunda reavaliação dos modelos de liderança e gestão das Instituições de Ensino Superior. Urge transitar de modelos tradicionais de “governo” para abordagens de “governança” bottom-up, que se apoiem no ‘chão da universidade’. No centro desta transformação devem estar lideranças democráticas e transformativas assentes numa participação efetiva de Todos! O Conselho Geral da Universidade deve tornar-se o motor desta mudança. Defendemos um Conselho Geral que promova a eleição direta de todos os órgãos unipessoais, logo que legalmente possível. Que exija audições públicas abertas a toda a comunidade dos candidatos a reitor, o escrutínio aberto dos seus programas, o que é o oposto da atual situação de ‘conclave’ que reina no Conselho Geral. Defendemos um Conselho que envolva diretamente todos os segmentos da comunidade universitária, académicos e não académicos, em início de carreira e seniores, com contratos permanentes ou precários. A representação não pode ser simbólica e de cortesia para com as reitorias. O Conselho Geral deve ser a voz da comunidade e atuar como órgão de fiscalização dos órgãos da universidade: deve ser ativo, dinâmico e consequente. A governança participativa, de base, não é um ideal utópico. É uma exigência democrática. No contexto universitário, significa envolver ativamente quem trabalha e estuda na instituição na definição da sua direção, prioridades e cultura. É um modelo que reconhece os saberes diversos, as experiências vividas e as perspetivas críticas de quem está no terreno. Legitimar a governança bottom-up implica saber-se ser inclusivo e saber-se dialogar. A universidade deve refletir a inteligência coletiva da sua comunidade, o que requer dar poder de participação e decisão a Todos e não apenas às elites dos órgãos eleitos ou designados. Saber-se delegar - e não centralizar funções e decisões - é um ato de gestão inteligente. A governança participativa deve ir além da retórica. Deve estar presente nas estruturas e práticas institucionais do dia a dia. O Conselho Geral tem um potencial único para cumprir esse papel, não como mero validador das atividades do reitor, mas como espaço independente, inclusivo e construtivo de reflexão estratégica, debate e responsabilização. Para isso, precisamos de um Conselho Geral que escute, questione e proponha, que funcione como consciência coletiva da instituição. Esta visão exige uma transformação na cultura institucional. Reconstruir a confiança na governança universitária significa empoderar as pessoas. Significa garantir que docentes sobrecarregados com horas letivas excessivas, investigadores em situação de instabilidade e estudantes que procuram uma formação com sentido sintam que a sua voz conta. Governança não é controlo, é corresponsabilização. E só com corresponsabilidade poderemos construir uma universidade resiliente, inclusiva e preparada para os próximos 50 anos. Escolhamos o diálogo e a empatia com as pessoas, em vez da distância e da voz de comando, a transparência em vez da opacidade, a coragem em vez da gestão do dia a dia. Vamos co-construir a Universidade de Aveiro do futuro, em conjunto. Não para alguns, mas para todos!
“O que se segue depois do desastre eleitoral?”, opinião de Bruno Vilhena
No passado dia 18 de maio, o Partido Socialista (PS) sofreu um desastre. Com toda a certeza, contados os votos da emigração, será a terceira força política na Assembleia da República durante a próxima legislatura. Tendo em conta estes dados, mantive, durante estes dias, um silêncio propositado. Preferi esperar uns dias até organizar bem os meus pensamentos, ouvir e ler o que se foi escrevendo, ter algum tempo para ter opinião e para poder mudar de opinião. Passada uma semana e já com a certeza das diretas para o final de junho – com as quais eu concordo, porque o partido não pode ficar preso a uma liderança interina e sem a legitimidade da militância – é agora tempo de olhar para a frente. O slogan “O Futuro É Já”, ao dia de hoje, quase que parece premonitório. O futuro do PS tem mesmo de ser já. A profunda reflexão que o partido precisa de fazer depois destes resultados não pode significar um partido “fechado para balanço” durante tempo indeterminado. Tem de ser feita e conjugada com a ação concreta no dia a dia da política nacional. O período até às diretas, e das diretas até ao Congresso Nacional, mesmo com as autárquicas pelo meio, deve ser um período para trabalho e discussão aberta e franca sobre o PS que queremos. Existem certamente muitos motivos que levaram o Partido Socialista a ter o resultado desastroso que teve. Assinalarei aqui apenas dois, que são os que me parecem ter tido mais peso na formulação do sentido de voto dos portugueses. O PS não conseguiu reganhar a confiança dos cidadãos eleitores para voltarem a votar nele. Em primeiro, quando apenas pouco mais de um ano passou desde as últimas legislativas e os portugueses consideraram que o governo em funções da AD ainda não teve tempo suficiente para demonstrar a sua incompetência – apesar dos sinais que já existem: um SNS pior hoje do que há um ano, uma economia a descrescer no primeiro trimestre deste ano, o preço da habitação que não parou de aumentar com políticas e medidas desastrosas apenas do lado da procura – e, talvez mais importante; Em segundo, os portugueses continuam a responsabilizar o Partido Socialista – e não estão completamente errados – pelo estado e dimensão a que chegaram os principais problemas que o país enfrenta, sejam eles o estado do SNS, a crise na habitação, ou o estado da imigração. E, por isso, naturalmente, fizeram o juízo de que não voltariam a eleger quem consideram que também esteve na origem do problema. A verdade é que, após a estabilização da economia e o alcance do rigor orçamental com crescimento económico que o PS conseguiu – e conseguiu provar que a esquerda é capaz disso – nos seus primeiros anos de governação pós-2015, perdeu-se uma oportunidade histórica para reformar o país e, em consequência, o nosso tecido produtivo. Não por falta de soluções ou de bases lançadas, que as foram: na habitação, na saúde, nos transportes; mas por um sentimento – tão nosso, aliás – de que não é preciso ter pressa, que vamos com calma, vamos gerindo. Errámos. Os problemas agravaram-se e as pessoas responsabilizaram-nos e continuaram a fazê-lo. Esse é o tipo de eleitorado que só se recupera com tempo e seriedade, e não em clima de instabilidade. Nesse aspeto, Pedro Nuno Santos não teve sorte. Eleito secretário-geral em circunstâncias muito difíceis, lidou logo com umas eleições antecipadas, seguidas de umas europeias complicadas. Nem um ano depois, umas novas legislativas antecipadas e, tudo isto, em pouco mais de um ano de liderança do partido. Teve o sentido de Estado que devia no momento em que o país vivia, viabilizando um Governo e um Orçamento do Estado com os quais não concordava e chumbando moções de censura a esse Governo com o qual não concordava. Furtou-se sempre, e bem, à tática política e acabou por ser essa rejeição da tática, aliada a um Governo que criou todas as crises que podia para entalar o maior partido da oposição, que ajudou a provocar eleições e não deu ao PS o tempo suficiente para se renovar e se reapresentar como uma alternativa de governo. Nesse aspeto, foi difícil fazer melhor, e teria sido sempre mais fácil dobrar a espinha e dar o dito por não dito, conservando o Governo. Quanto ao futuro da liderança do partido, que já parece mais ou menos resolvido, há pouco mais de um ano subscrevi e propus a candidatura de Pedro Nuno Santos a secretário-geral do PS, fiz campanha por ele, votei nele, fui delegado ao Congresso do PS numa lista adstrita à sua candidatura. Acho que o PS tem de estar mais próximo da social-democracia – forte defensora do Estado Social e do papel do Estado para a resolução das crises que vivemos, e até de uma raiz mais trabalhista e virada para o mundo trabalho – do que de um centrismo iluminado que deixa ao mercado a resolução de tudo e usa a “esquerda” meramente como um token para sinalização de virtude. Sei que, por motivos históricos, até, a base eleitoral do PS sempre foi mais burguesa do que operária, mas primeiro perdemos os burgueses e agora até os operários. Não foi pelas circunstâncias terem mudado que estes meus princípios também mudaram e é isso que continuarei a defender como a melhor resposta para o país. Os tempos que se vão seguir serão sempre terríveis para o PS tendo em conta que hoje lidamos com uma extrema-direita parlamentar perfeitamente estabelecida. Aí, o PS não pode cometer o erro de querer lutar para liderar a oposição. O PS tem de lutar para liderar o país. Para isso, não só tem de ter uma alternativa de governo bem preparada, mas tem de estar no terreno. As alternativas não se constroem fechadas numa sala, os nossos autarcas e candidatos autárquicos, que dentro de meses vão a jogo por todo o país, sabem isso melhor do que ninguém. O PS tem de sentir os problemas dos portugueses e assumi-los como seus e deixar de falar para nichos que se vão encolhendo à medida que o tempo passa. O PS tem de voltar a ter um projeto aspiracional para o país em que os portugueses se revejam e não uma lista de compras e de medidas para nichos. Caso não o façamos, estas eleições já provaram mais uma vez que quem absorve o descontentamento não correspondido não é o PS. Uma última nota sobre o voto jovem. Já há dois atos eleitorais que o PS não conquista mais de 20% dos votos nos eleitores entre os 18 e os 34 anos. Existem vários motivos para isso, como o facto de uma geração de novos votantes ter crescido e ganhado consciência política durante um longo período de governação do Partido Socialista, em que associam com naturalidade os problemas do país a quem o governou durante esse período. Mas a minha pergunta é: esta tendência não é nova, o que tem feito e para que tem servido a Juventude Socialista?
"Depois das eleições: a esquerda combativa continua a fazer falta", opinião de Hugo Filipe Nunes
As eleições legislativas do passado 18 de maio deixaram um país politicamente mais à direita. A AD venceu com folga, o Chega obteve um resultado bastante expressivo e, do lado da esquerda, muitos ficaram com uma sensação de travessia no deserto. O Bloco de Esquerda perdeu representação parlamentar e, na verdade, em todo o país houve uma retração da força política transformadora da esquerda. Em Aveiro — tanto no distrito como no concelho —, e também em Esgueira, os resultados foram igualmente desanimadores. Aqui na freguesia, o Bloco ficou pelos 2,37%, e quase um quarto das pessoas votou num partido de extrema-direita. Tendo participado várias vezes como membro substituto na Assembleia de Freguesia de Esgueira, esses números preocupam-me profundamente. Mas, como cidadão, preocupam-me ainda mais. São reflexo de um descontentamento social real que a direita populista conseguiu explorar, muitas vezes sem apresentar soluções concretas, baseando-se apenas em discursos fáceis e oportunísticos. Não me iludo: o desfecho destas eleições é um sinal claro de que temos muito trabalho pela frente. Ainda assim, não desisto. Não é a primeira vez que lutamos em minoria. É o nosso pior resultado? É! Mas sei bem que a força das ideias não se mede apenas pelo número de cadeiras no Parlamento. Também me preocupa o momento difícil que, internamente, o próprio Bloco de Esquerda atravessa, com críticas públicas à direção e o adiamento da convenção nacional — uma decisão que, mesmo compreensível num ano em que ainda vamos ter eleições autárquicas, não deixa de acentuar a sensação de impasse. Continuo a acreditar — com a mesma firmeza — que a justiça social, a defesa dos serviços públicos, o combate às alterações climáticas e a luta contra todas as formas de discriminação são causas que valem a pena. E que continuam a precisar de vozes, de corpos e de ação política. A democracia não é só votar de quatro em quatro anos. É intervir todos os dias, especialmente aqui, onde vivemos. É também nas pequenas decisões — sobre parque infantil acessível a todas e a todos, a colocação de uma passadeira ou a gestão transparente de um subsídio — que se joga a confiança nas instituições e na democracia. A política local molda diretamente a vida das pessoas. É por isso que continuo presente e ativo em Esgueira porque acredito que a política local pode ser um espaço real de resistência e de construção. Quando exigimos dignidade no tratamento dos espaços públicos, quando lutamos por orçamentos participativos que realmente funcionem, quando questionamos decisões tomadas de forma opaca, estamos a fazer política a sério. E quando defendemos que a ação social deve incluir todas as pessoas — também as LGBTQIA+, as que vivem com baixos rendimentos, as que sentem diariamente o peso da exclusão e as pessoas com deficiência — estamos a defender, na prática, os valores de Abril. Sim, os resultados eleitorais foram duros. Sim, é fácil cair no desânimo e na frustração. Mas nunca foi nos momentos fáceis que as grandes conquistas aconteceram. O salário mínimo, a escola pública, o Serviço Nacional de Saúde, os direitos laborais, as pensões, a ação social — tudo isso foi conquistado com persistência, coragem e, muitas vezes, em clara minoria. Cada uma dessas vitórias teve por trás rostos anónimos: trabalhadoras e trabalhadores, estudantes, cuidadoras e cuidadores, cidadãs e cidadãos comuns que decidiram não se calar. A política não é feita apenas de nomes conhecidos ou figuras públicas — é feita, sobretudo, da persistência diária e das convicções profundas das pessoas comuns. Este é o momento de não baixar os braços. A extrema-direita cresce quando há medo, desilusão e silêncio. A melhor resposta é continuar a agir: manter presença, apresentar propostas concretas, estar sempre ao lado de quem precisa de apoio. Mesmo que sejamos poucos. Mesmo que não seja popular. Mesmo que seja difícil. E se ainda estou aqui é porque me recuso a aceitar como inevitável ou a normalizar o rumo que o nosso país está a tomar. Não aceito que o cinismo, o ódio e a violência gratuita se tornem algo normal e aceitável. E porque continuo a acreditar que a política pode — e deve — melhorar concretamente a vida das pessoas. Mesmo em minoria, continuo a lutar. Como sempre! E a representar tantas outras minorias. Aqui. Em Esgueira. Porque é aqui que a democracia também se defende.
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Suspeito de abusar de jovem vulnerável em Oliveira do Bairro foi detido pela PJ
Segundo as investigações, os abusos sexuais teriam ocorrido numa localidade do concelho de Oliveira do Bairro, quando o suspeito conseguia estar a sós com a vítima, aproveitando-se da vulnerabilidade desta, afirmou aquela força policial, num comunicado enviado à agência Lusa. O homem foi detido no cumprimento de mandado de detenção e, após apresentação a primeiro interrogatório judicial, foi-lhe aplicada a medida de coação mais gravosa de prisão preventiva.
Alberto Souto de Miranda acusa Rui Carneiro de “traição” ao PS Aveiro
No passado dia 23 de junho, o secretariado da Comissão Política Concelhia de Aveiro do PS retirava a confiança política ao vereador Rui Soares Carneiro. A decisão foi tomada na sequência de declarações públicas “reiteradas” do autarca, nas quais contestava a escolha do candidato à Junta de Freguesia de Cacia, manifestava a possibilidade de não apoiar a candidatura do PS à Câmara Municipal de Aveiro e admitia integrar uma eventual candidatura independente. “Perante o desrespeito, reiterado, pelos Estatutos do Partido Socialista, não tivemos outra alternativa”, justificava o secretariado concelhio em comunicado. No mesmo dia, Nelson Peralta, ex-deputado do Bloco de Esquerda (BE), vinha a público nas redes sociais denunciar uma tentativa de Rui Carneiro obter “apoio formal e institucional” para uma candidatura independente “a uma freguesia do Município”. Confrontado pela Ria, o vereador negou qualquer contacto formal com o BE. Na segunda-feira, 30 de junho, Rui Soares Carneiro reagiu à decisão do PS, classificando as declarações que motivaram a retirada de confiança como “perfeitamente banais” e negando ter feito qualquer abordagem ao Bloco de Esquerda. Já esta terça-feira, 1 de julho, foi a vez de Alberto Souto de Miranda divulgar uma nota de esclarecimento às redações. Nesse comunicado, Alberto Souto começa por relativizar a saída do vereador. “A deserção de um vereador não é um facto insignificante, por muito insignificante que seja o dito. Não queremos ganhar com unanimismos. Perdemos um voto. Mas há votos que vale a pena perder”, atira. O candidato recorda ter convidado Rui Carneiro para liderar a candidatura socialista à Junta de Freguesia de Cacia, convite ao qual, segundo afirma, o ex-vereador socialista nunca respondeu. “O Dr. Rui Carneiro não teve a coragem para aceitar, nem a educação de me explicar porquê”, lamenta Sobre a eventual falta de apoio de Rui Carneiro à sua candidatura, Alberto Souto reconhece a liberdade individual, mas critica a falta de franqueza. “Podia não gostar de mim. Podia querer ser vereador. Podia não querer ser presidente de Junta. O que queria, porém, nunca mo disse. As pessoas são livres, mas em política e na vida devem ser francas e verdadeiras”, afirma. Relativamente à denúncia feita por Nelson Peralta, Alberto Souto de Miranda não poupou nas palavras, comparando a atitude de Rui Carneiro à de “traidores cobardes” e “tipos sem carácter”. Embora diga não o considerar um traidor, admite que “perante estes factos, há quem possa legitimamente pensar isso mesmo”. Acusando Rui Carneiro de ter construído uma “narrativa” tardia e de se estar a vitimizar, o candidato socialista reforça que há mais de uma testemunha a corroborar a denúncia. “Nelson Peralta lembra que não foi apenas ele o destinatário de tal proposta de traição. Porque carga de água é que haveria de inventar uma coisa destas?”, questiona. Alberto Souto de Miranda encerra o comunicado com um conjunto de acusações duras, sob a forma de perguntas retóricas: “Um vereador que mente não é um homem mentiroso? Um vereador que trai a sua equipa sem qualquer satisfação, não é um mesmo um traidorzeco sem perdão? Um vereador que assim procede não devia pedir desculpa e ter vergonha? Um vereador que assim se prostitui deve hipocritamente pavonear-se pelas redes, como se fosse uma virgem ofendida coberta por um manto de virtudes? Um vereador que assim desprestigia e trai a força política que o elegeu, não devia ter um pingo de dignidade e imediatamente demitir-se?”. Neste seguimento, o candidato socialista acrescenta: “Os cemitérios estão cheios de insubstituíveis e a política está cheia de vermes palavrosos. As pulgas ambiciosas e falsas estatelam-se contra parede da verdade. E só não partem a espinha dorsal porque não a têm”. Na reta final do comunicado, Alberto Souto de Miranda insiste ainda que Rui Carneiro “cavou a sua própria sepultura”. “Ninguém pode confiar num esforçado e frustrado vira-casacas que, licenciosamente, pela calada da noite, faz o ‘trottoir’ partidário e se tenta vender por trinta dinheiros, e ainda guarda uma faca na liga, disfarçada de pena viscosa, pegajosa de tanta necessidade de justificar o injustificável”, conta. Por fim, o candidato socialista dá ainda nota que foi “completamente alheio à retirada de confiança política por parte do Secretariado do PS”, mas que entende a decisão: “Não se pode confiar em alguém assim”, remata. O comunicado na íntegra pode ser consultado aqui.
Município de Ílhavo volta a ser distinguido como “Amigo do Desporto”
O reconhecimento, que o município mantém de forma ininterrupta desde 2018, “confirma o compromisso da autarquia com a promoção da atividade física, do desporto e de um estilo de vida saudável”, lê-se em nota enviada às redações. A autarquia destaca ainda que tem implementado “diversos programas regulares dirigidos a todas as faixas etárias (…) com uma oferta diversificada e inclusiva”. A nota sublinha ainda “múltiplos eventos desportivos” dinamizados anualmente, bem como os apoios aos “clubes e associações desportivas locais na realização dos seus eventos, de caráter regional, nacional e internacional”. O reconhecimento foi entregue no passado dia 17 de junho, no III Congresso da Cidade Social, em Vila Nova de Poiares. A iniciativa reuniu mais de 200 autarquias.
Mareato traz ÀTOA a Ílhavo
O Mareato arranca já este fim de semana, com atividades a decorrer na Costa Nova do Prado. No dia 3 de julho, na parte da manhã, há wakeboard e stand up paddle na Praia da Biarritz, junto à ponte. À tarde está programado o torneio de matraquilhos, um workshop de danças tradicionais e uma cãominhada, no relvado da Costa Nova do Prado. O dia seguinte volta a arrancar com atividades aquáticas, na parte da manhã, com boia puxada por barco e canoagem, a partir da Praia da Biarritz, e vela, no Clube de Vela da Costa Nova. Já à tarde, no relvado, realiza-se um torneio de ténis de mesa e começa um torneio de ténis, que se estende até dia 6 de julho. Também para este dia, à tarde, no Cais Criativo da Costa Nova, está agendado o Diálogo Jovem, dinamizado pelo Conselho Nacional de Juventude (CNJ). A iniciativa, aponta a autarquia, é “uma oportunidade para os jovens partilharem as suas ideias e contribuírem ativamente para o futuro da juventude em Portugal”. A tarde termina com uma sessão de yoga, no mesmo local. A 5 de julho realiza-se mais uma edição da Corrida Popular da Costa Nova do Prado, com um percurso de dez quilómetros entre a Costa Nova e a Vagueira. O evento inclui também a Corrida dos Mais Pequenos, uma caminhada e uma aula de zumba de aquecimento. As inscrições para a iniciativa já estão esgotadas. No dia seguinte, voltam-se a viver momentos de emoção, com a Travessia da Ria a Nado e Aquatlo, também já esgotada. Ainda na tarde de 6 de julho, há uma Escape Mission para resolver no relvado da Costa Nova do Prado. Entre 3 e 6 de julho, das 10 às 19 horas, há zona lounge para relaxar no relvado e também uma zona de playground, com insufláveis, ténis de mesa e matraquilhos. Já no fim de semana seguinte, a música ganha protagonismo, com três noites de espetáculos no relvado. No dia 11 de julho, há DJ Set de Overule. O dia seguinte fica a cargo de Neon Run e Insert Coin. A última noite do Mareato, arranca com Freddy Strings and the Groovefellas e termina com ÀTOA. O último fim de semana do festival conta ainda com uma competição de cross-training em equipa, no areal da Praia da Barra.