Desfile do Enterro: Milhares de estudantes encheram as ruas de Aveiro com crítica e criatividade
Foram mais de trinta os carros que desfilaram ontem, 1 de maio, por Aveiro para celebrarem o enterro do ano. A Ria foi falar com os estudantes para perceber como foi a preparação do evento que trouxe muita animação e crítica social à cidade dos canais no feriado do Dia do Trabalhador. Saúde, desinformação nas redes sociais, abuso contra as mulheres, inteligência artificial e desigualdades sociais foram algumas das temáticas exploradas por parte dos estudantes.
Ana Patrícia Novo
JornalistaO fim da tarde do Dia do Trabalhador trouxe ao centro comercial ‘Glicínias Plaza’ um maior fluxo de pessoas. Estudantes e familiares apressavam-se para assistirem ao arranque do desfile dos estudantes da Universidade de Aveiro. Eram cerca de 19h quando os carros começaram a sair do piso -1 do estacionamento do espaço comercial – onde os estudantes se reuniram durante os últimos sete dias para se prepararem para percorrer as ruas de Aveiro.
Desfilaram pela Rua Mário Sacramento, com destino ao Cais da Fonte Nova, onde se encontrava o júri que daqui a cerca de uma semana anuncia o resultado do desfile deste ano. O curso de Ciências Biomédicas venceu o desfile do ano passado, o que lhe deu a possibilidade de ser o primeiro curso a desfilar este ano.
Criticam a “partilha de informações falsas e enganadoras nas redes sociais que podem levar a uma má informação da população no que diz respeito à saúde”, enquanto alertam, simultaneamente, para o perigo da “confiança cega” dos conteúdos que consomem. Quem o diz é Miguel Marques, aluno do primeiro ano de Ciências Biomédicas da UA.
O carro leva atrelado um boneco vendado a bordo de um moliceiro. É a “metáfora para a confiança cega que as pessoas depositam na informação que retiram das redes sociais”, explica o estudante. A parte de trás é um monte de areia, onde estão elementos que remetem para o conhecimento científico e para a razão. “O moliceiro desloca-se para fora da areia”, aponta Miguel Marques, numa clara alusão ao afastamento da valorização do conhecimento científico por parte da população.
Mas Ciências Biomédicas não é o único curso que traz a Saúde às ruas aveirenses. O carro da Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro (ESSUA) – e dos vários cursos da escola – critica também matérias relativas à Saúde. Apostaram na “emigração dos profissionais de saúde e, por consequência, a falta de mão-de-obra em Portugal que leva ao fecho de alguns serviços de saúde”, explica Samuel Cruz, estudante de Imagem Médica e Radioterapia.
Psicologia – um curso também ligado à Saúde - muda ligeiramente a temática e critica a utilização da inteligência artificial como substituição de aconselhamento psicológico. “ChatGPT versus psicológos” é o tema do carro, aponta Beatriz Moreira, estudante do primeiro ano do curso. O objetivo “é tentar mostrar às pessoas que a inteligência artificial não faz o mesmo trabalho que nós”, aponta a estudante.
Na linha da tecnologia, também o curso de Multimédia e Tecnologias da Comunicação (MTC) decidiu criticar a inteligência artificial, juntamente com a liberalização do acesso às tecnologias dos mais novos. “Infância digital: já não se brinca no parquinho” é o tema do carro, aponta Carolina Pereira, estudante do terceiro ano de MTC. Querem “alertar para o facto das crianças já numa idade muito nova estarem logo em contacto com as tecnologias” e, pelo caminho, levantam, enquanto futuros profissionais da área, a “preocupação em relação à forma como as tecnologias são utilizadas”.
Saindo da tecnologia, o curso de curso de Línguas, Literaturas e Culturas apresenta um carro sobre o abuso contra as mulheres e o machismo. “Apesar de estarmos no século 21, acho que ainda é um tema muito recorrente e acho que toda a gente deve lutar contra isso”, nota Rafaela Silva, estudante do curso. Ao seu argumento junta que a escolha partiu muito também pelo facto de serem “um curso maioritariamente de raparigas” e o caso recente da demissão de dirigentes associativos da Universidade do Porto, por alegadamente captarem imagens de colegas sem autorização.
Ainda no campo social, o curso de Engenharia e Gestão Industrial explica que a temática escolhida se foca na “injustiça social”. “É um tema que é básico, mas a verdade é que está sempre presente na nossa na nossa sociedade, é algo que já é muito antigo, mas nunca há soluções eficientes”, apontam duas estudantes do primeiro ano do curso que preparavam uma faixa onde se iria ler “onde uns jantam, outros sobrevivem”.
“É o nosso slogan”, aponta Laura. “A nossa mesa tem uma balança que está muito caída para o lado «rico», tem muitas coisas lá e do outro lado não tem quase nada e mesmo na mesa o pobre tem ali um um pãozito e um banquito para se sentar, enquanto o rico vai ter uma garrafa de vinho. um jantar todo completo, um trono para se sentar”, sublinham as estudantes.
Mas nem só de crítica foi feito o desfile. Os cursos de Design e Engenharia Mecânica foram dois cursos que mantiveram vivas tradições. Em Design não houve carro – a estrutura do curso foi carregada às costas. Em Engenharia Mecânica foi literalmente quase construído um carro que, avisam os estudantes com orgulho, “nunca chega ao fim do percurso” e “é sempre desqualificado”.
Um coração gigante pintado de vermelho assente numa estrutura de canas foi o carro de Design. Não têm propriamente uma crítica, mas sim a pretensão de exaltar o curso. “o nosso tema é vermelho nas veias”, começa por explicar Alice Silva, estudante do primeiro ano de design. “Todos nós viemos ter aqui a Design por algum motivo e esse motivo corre-nos nas veias, está no nosso sangue (…), mesmo sendo todos pessoas muito diferentes, (…) temos isto em comum”, repara Alice. A estrutura em canas de bambu foi carregada aos ombros, uma tradição que, pensa Alice, dura “há 26 anos”.
Engenharia Mecânica, por sua vez, começou a preparação do carro com uma ida à sucata há já “um ou dois meses”. É Carlos Santos, estudante de Engenharia Mecânica que conta a história do único carro do desfile que não é totalmente preparado no parque de estacionamento subterrâneo do Glícinias Plaza.
“Nós vamos à sucata, eles oferecem-nos o carro e depois vêm-no buscar no fim”, começa por contar o estudante. “É a mesma sucata já há 20 e tal anos”, frisa. “Escolhemos o carro, o que estiver disponível para nos dar (…) e nós depois inventamos o escape e os miúdos fazem as pinturas e as construções das coisas e pronto, tenta-se depois fazer o máximo de barulho”, aponta.
Este ano o carro queria ser uma espécie de crítica aos casinos ilegais, mas o objetivo dos estudantes fica-se mais pelo “carro ‘fazer’ o máximo de cenário possível”, explica. O final do desfile fica marcado para os estudantes do curso pela destruição do trabalho feito no carro, que é devolvido à sucata. “Nós somos sempre desqualificados porque na teoria isto não se pode fazer, mas o nosso carro é o melhor na mesma: só não tem prémio”, aponta.
Recomendações
Reitor da UA acredita que reforma do Ministério da Educação pode ser “oportunidade para melhorar”
O reitor considera que, após décadas de evolução, “falta fazer uma avaliação” do sistema. Sem criticar os anteriores governos, que “fizeram crescer” o aparelho científico nacional, Paulo Jorge Ferreira elogia a medida que, de acordo com Fernando Alexandre, Ministro da Educação, Ciência e Tecnologia, vai permitir ultrapassar uma “uma estrutura anacrónica”. Recorde-se que, conforme noticiado ontem pela Ria, as atuais 18 entidades e 27 dirigentes superiores entre os serviços de ensino não superior e superior, ciência e inovação vão passar a ser apenas 7 entidades e 27 dirigentes superiores. De acordo com a informação prestada pelo governo, os organismos extintos, entre os quais estão a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) ou a Agenda Nacional de Inovação (ANI), vão passar a integrar novas entidades. No entender do reitor, Portugal e a Europa têm tido muita dificuldade em “transformar a investigação em economia, em valor acrescentado”. Desse prisma, acredita que a reorganização pode ser positiva e que o caminho seguido pelo governo é “uma direção válida a explorar”. Paulo Jorge Ferreira acrescenta que a extinção das entidades “não pode” impedir os projetos de investigação em curso, que, acredita, podem até beneficiar desta reforma.
TFAAUAv prepara participação em festival no Peru
Para além do grupo de Aveiro, vão participar outras três tunas internacionais (de Países Baixos, Chile e Colômbia), quatro tunas peruanas e outras quatro tunas convidadas. Em comunicado endereçado à Ria, a Tuna nota que o encontro é ainda “mais especial” porque a TFAAUAv é também tuna madrinha da tuna anfitriã, a Tuna Femenina de Derecho da Universidad de San Martín de Porres. A participação no VII SANMARTINAS - Festival Internacional da Tuna Femenina de Derecho, que decorre em Lima, acontece entre 15 e 16 de agosto e, de acordo com as estudantes, o principal objetivo é "levar a nossa música, tradição e espírito académico portugueses além-fronteiras".
Antigo presidente do Conselho Geral da UA condecorado com Grã-Cruz do Mérito Industrial
A cerimónia teve lugar esta segunda-feira, 28 de julho, no Palácio de Belém, e visou distinguir o percurso de António Oliveira no setor industrial e empresarial, nomeadamente, no contributo para o desenvolvimento económico nacional, a promoção da inovação e a projeção internacional da indústria portuguesa. Tal como avançado pela Universidade de Aveiro (UA), desde dezembro de 2021 até 2025, António Oliveira foi também presidente do Conselho Geral da UA, “instituição com a qual mantém uma relação próxima de mais de duas décadas”. O percurso de António Oliveira já havia sido anteriormente distinguido com o prémio EY Entrepreneur of the Year – Inovação (2021) e com um Prémio Especial nos Prémios Exportação & Internacionalização (2024), pelo seu papel transformador na liderança da OLI. A Ordem do Mérito Empresarial – Classe do Mérito Industrial visa distinguir quem, como empresário ou trabalhador, se destacou pelo seu contributo relevante para o fomento e valorização das indústrias em Portugal.
UA em destaque no desenvolvimento de bioplásticos sustentáveis com subprodutos vegetais
Na UA, o projeto conta com uma equipa multidisciplinar composta pelas investigadoras Paula Ferreira, Idalina Gonçalves, Célia Miranda e Marta Ferro, do Departamento de Engenharia de Materiais e Cerâmica e do Instituto de Materiais de Aveiro (CICECO), bem como pelo investigador Manuel A. Coimbra, do Departamento de Química e membro do Laboratório Associado para a Química Verde (LAQV-REQUIMTE). Ao contrário dos bioplásticos convencionais, que geralmente utilizam recursos comestíveis e competem com a cadeia alimentar, o “BIOCOATING” recorre, segundo uma nota de imprensa enviada à Ria, a resíduos como lamas ricas em amido de batata, sementes de abacate, pele de prata do grão de café, borras de café e aparas de papel. Esta abordagem evita a competição com o setor alimentar, ao mesmo tempo que promove o reaproveitamento de resíduos agroindustriais. Entre os principais desafios estão a melhoria das propriedades mecânicas dos bioplásticos, a sua capacidade de barreira a gases e a escalabilidade económica, de modo a garantir uma aplicação em larga escala. Financiado pelo programa Portugal 2030, através do Compete 2030, o projeto conta com um investimento elegível superior a 1,3 milhões de euros, dos quais cerca de 939 mil euros são comparticipados pelo FEDER. A colaboração entre a UA e a Isolago não é nova. A mesma já tinha acontecido através dos projetos “POTATOPLASTIC” e “PLASTICOLIGHT”.
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IL defende demolição da antiga sede da CERCIAV
Os responsáveis da Iniciativa Liberal atacam ambos os candidatos e consideram que a polémica “é o reflexo de uma política capturada por disputas familiares”. Recorde-se que os irmãos Alberto e Luís, que se candidatam à Câmara Municipal de Aveiro por PS e por “Aliança Mais Aveiro”, respetivamente, têm discutido ao longo da semana a demolição do antigo edifício da CERCIAV. Depois de José Ribau Esteves, presidente da Câmara Municipal de Aveiro, ter anunciado a intervenção em sede de Assembleia Municipal, a providência cautelar interposta por Alberto Souto suspendeu o avanço dos trabalhos. Luís Souto reagiu ontem e defendeu que se deve prosseguir com a demolição, ao passo que Alberto Souto já se mostrou “desiludido” com a postura do oponente. Para a Iniciativa Liberal, a disputa é apenas “um combate entre irmãos, num ringue cujo chão é a cidade e cujos impactos recaem sobre os cidadãos”. Embora considere que a antiga sede da CERCIAV é um edifício “sem capacidade de adaptação às exigências atuais” e que a argumentação do candidato do PS é “frágil, contraditória e demagógica”, a IL deixa também críticas ao representante da coligação “Aliança Mais Aveiro”. No entender do partido, Luís Souto “em vez de apresentar uma visão para Aveiro, limita-se a reagir”. Os liberais defendem a expansão e recuperação do edifício do Conservatório, cujo projeto aprovado inclui, de acordo com a nota enviada, três estúdios de dança, salas de percussão e espaços de estudo. A demolição da antiga sede da CERCIAV foi, no entender da IL, prevista de forma "responsável, com parecer técnico, para dar lugar a um equipamento moderno, acessível e funcional”.
Passadiços do Paiva reabrem parcialmente amanhã após incêndio
Foi na zona de Espiunca, onde se localiza uma das entradas dos Passadiços do Paiva, que o fogo destruiu centenas de metros da estrutura. De acordo com uma nota publicada na rede social Facebook, o troço Areinho-Vau abre já amanhã ao público, bem como a ponte 516 Arouca. Permanece encerrado apenas o troço Vau – Espiunca. Em declarações à Agência Lusa, Margarida Belém, presidente da Câmara Municipal de Arouca, disse que a autarquia vai estudar uma "medida inovadora que permita com mais facilidade aceder a determinados pontos". O objetivo é que se crie um mecanismo que torne mais fácil conter os focos junto aos passadiços. Esta foi a quarta vez que o fogo atingiu os Passadiços do Paiva desde a inauguração, em junho de 2015.
Luís Souto acusa PS de “brincar” com a habitação em apresentação dos candidatos da ‘Aliança’ a Cacia
As críticas surgiram na sequência da proposta apresentada por Alberto Souto, candidato do Partido Socialista à Câmara Municipal de Aveiro, em entrevista dada ao Jornal de Notícias. Recorde-se que, como foi ontem noticiado pela Ria, a ideia seria de subarrendar habitação a preços mais acessíveis do que os praticados pelo mercado até que seja construída mais habitação pública. Luís Souto Miranda considerou a proposta “irresponsável” e disse mesmo que o candidato do PS só a fazia “para ficar bem na fotografia”. No longo prazo, acredita o candidato, a proposta “só iria favorecer a especulação e aumentar os preços, […], mas não iria resolver nada”. Tema de destaque do discurso do candidato à autarquia foi também a polémica demolição da antiga sede da CERCIAV para expansão do Conservatório. Depois de Alberto Souto ter interposto uma providência cautelar que suspendeu a destruição do edifício, o cabeça-de-lista da ‘Aliança’ acusa-o de voltar a colocar “sinais de STOP” aos projetos da autarquia. Luís Souto garante que a coligação “não quer parar nada” e orienta o discurso para Cacia: “Não há sinais STOP connosco aqui em Cacia”. O candidato refere que, em vários aspetos, Cacia pode beneficiar da proximidade da autarquia ao governo. Primeiro na valorização do Baixo Vouga, que diz ser uma arma da freguesia para atrair turismo, e depois na luta pela abolição das portagens na A25, que afetam Cacia. Luís Souto diz contar com o “lobby” do deputado do PSD Firmino Ferreira, que esteve presente na sessão como presidente da Comissão Política Concelhia do PSD Aveiro, e com o apoio de secretários de Estado que “trata quase por tu”. Também Nelson Santos, recandidato à freguesia de Cacia pela coligação “Aliança Mais Aveiro”, sublinhou a questão das portagens. O autarca refere que Cacia é “a freguesia mais castigada pelos pórticos” e considera que, sem eles, desaparece o “caos” na Quintã e no resto da freguesia. A pensar num próximo mandato, o candidato diz que “a parte de pensar já passou, agora é hora de executar". Nesse sentido, promete avançar com o novo acesso a Sarrazola, bem como com a requalificação da antiga sede de junta, e de uma série de ruas da freguesia. Entre outras propostas, assumiu ainda a vontade de expandir o Parque de São Bartolomeu, onde a sessão se realizou. Nelson Santos falou ainda sobre a vontade de dar seguimento ao processo de renovação das piscinas e do mercado. O candidato disse que “ouviu dizer que há uma lista” que quer mudar as piscinas e que “não sabe o que quer fazer”. A resposta é dirigida a Alberto Souto, que incluiu a questão na sua “Rota das Oportunidades”, rubrica que mantém nas redes sociais sobre impasses do concelho, a defender uma otimização das piscinas para que sejam usadas para além dos meses da época balnear.
Reitor da UA acredita que reforma do Ministério da Educação pode ser “oportunidade para melhorar”
O reitor considera que, após décadas de evolução, “falta fazer uma avaliação” do sistema. Sem criticar os anteriores governos, que “fizeram crescer” o aparelho científico nacional, Paulo Jorge Ferreira elogia a medida que, de acordo com Fernando Alexandre, Ministro da Educação, Ciência e Tecnologia, vai permitir ultrapassar uma “uma estrutura anacrónica”. Recorde-se que, conforme noticiado ontem pela Ria, as atuais 18 entidades e 27 dirigentes superiores entre os serviços de ensino não superior e superior, ciência e inovação vão passar a ser apenas 7 entidades e 27 dirigentes superiores. De acordo com a informação prestada pelo governo, os organismos extintos, entre os quais estão a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) ou a Agenda Nacional de Inovação (ANI), vão passar a integrar novas entidades. No entender do reitor, Portugal e a Europa têm tido muita dificuldade em “transformar a investigação em economia, em valor acrescentado”. Desse prisma, acredita que a reorganização pode ser positiva e que o caminho seguido pelo governo é “uma direção válida a explorar”. Paulo Jorge Ferreira acrescenta que a extinção das entidades “não pode” impedir os projetos de investigação em curso, que, acredita, podem até beneficiar desta reforma.