RÁDIO UNIVERSITÁRIA DE AVEIRO

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Raquel Barros: Da viral “menina das pastilhas” a estudante de marketing na UA

Cerca de 22 mil euros e 300 quilómetros separavam Raquel Barros do seu grande sonho: viver e estudar na Universidade de Aveiro (UA), no curso de marketing. Sem possibilidades financeiras para o concretizar, a jovem de 18 anos, natural de Oeiras, prometeu a si mesma que não ia desistir. Custasse o que custasse. Assim o fez. Ao longo dos últimos meses, foi para o Parque dos Poetas, na sua área de residência, vender pastilhas elásticas. Cada pacote tinha o custo de um euro. A história de Raquel não tardou a ficar viral nas redes sociais. Ficou conhecida como a “menina das pastilhas”. Entre um crowdfunding, a venda de pastilhas elásticas e as doações de dinheiro, a jovem oeirense juntou, no total, 16 mil euros, para prosseguir os seus estudos no ensino superior. No dia 23 de agosto, recebeu o resultado que tanto ansiava: colocada, na primeira fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior de 2024, em Marketing, no Instituto Superior de Contabilidade e Administração da Universidade de Aveiro (ISCA-UA).

Raquel Barros: Da viral “menina das pastilhas” a estudante de marketing na UA
Isabel Cunha Marques

Isabel Cunha Marques

Jornalista
19 set 2024, 20:30

A conversa estava marcada para as 10h30. Raquel Barros chegou à Universidade de Aveiro com uma antecedência de 30 minutos. Não gosta de atrasos. Enquanto entrava pelas portas do Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território (DCSPT) era visível o nervosismo que sentia. “É a minha primeira vez na Universidade de Aveiro. Não acredito”, exprimia. Tinha chegado à cidade há menos de 24 horas. Referia que desconhecia o vento que se fazia sentir. Não tinha trazido casaco. Enquanto aguardava que os estúdios estivessem prontos para a conversa, comentava que tinha saído de casa, pelas 9h00, para apanhar o autocarro, em Ílhavo, e ter a certeza que chegava com tempo. Está, neste momento, a morar em casa de uma senhora [em Ílhavo], com tudo pago, que conheceu a sua a história através de um programa de televisão. “Foi o sobrinho dela que entrou em contacto comigo. Explicou-me que a tia morava sozinha, que tinha ficado sensibilizada com a minha história e que queria que eu ficasse lá a morar”, recorda Raquel, com um sorriso, enquanto repetia, mais uma vez, que ainda não se acreditava que ali [UA] estava.

Ao contrário do que seria esperado, decidiu só aos 17 anos que queria prosseguir os estudos no ensino superior. Na altura, frequentava o curso de multimédia da Escola Profissional Val do Rio, no Estoril e fazia um intercâmbio, com todas as despesas asseguradas, em Milão. Logo após essa experiência, embarcou num estágio curricular numa empresa de marketing. Foi aí que percebeu o que realmente queria. Na altura, falou com a professora responsável pela orientação e foi aí que se cruzou, pela primeira vez, com o nome da Universidade de Aveiro. Apesar do “amor à primeira vista”, mesmo sem conhecer a cidade, Raquel Barros sabia o que a mudança de casa implicava: dinheiro, no mínimo, para a alimentação, para o alojamento e para as propinas. “Comecei logo a fazer contas e a pesquisar online. Vi que os quartos mais baratos, em Aveiro, rondavam os 250/300 euros… Com a alimentação, o gasto aumentava para os 500/600 euros, por mês. Esse valor, pelos três anos, dá à volta de 22 mil euros”, relata.

Sem possibilidade para suportar os custos, a jovem de 18 anos prometeu a si mesma que não ia desistir. A solução viria a surgir, mais tarde, através de uma ida ao shopping com uma amiga. “Enquanto ela não chegava recordo-me que fui a um supermercado comprar umas bolachas. Nessa ida passei pelo corredor das pastilhas elásticas e vi uma embalagem com quatro pacotes de chicletes que custava 1.39 euros. Comecei a pensar que se comprasse e vendesse cada um a um euro conseguia ter lucro”, recorda Raquel, com um sorriso rasgado. Não tardou em fazê-lo. No dia seguinte, voltou ao supermercado, desta vez, com o pai. Obra do destino ou não, nesse dia, deparou-se com uma embalagem de seis pacotes de chicletes, em que poderia lucrar até 4.5 euros, por cada pacote que vendesse. Decidiu, nessa hora, ainda que a timidez a “assombrasse”, que iria comprar 18 embalagens para vendê-las no jardim que a viu crescer: o Parque dos Poetas, em Oeiras. “Os meus pais não se opuseram, mas também não acharam muito viável a ideia. Disseram-me que vender pastilhas para a Universidade não ia resultar, mas decidi arriscar na mesma”, recorda. Assim o fez, mesmo que nunca as tivesse provado e que nem fosse grande “fã” de chicletes. “Vendias como se fossem as melhores”, comenta, entre risos.

“Bom dia, quer comprar um pacote de pastilhas? Estou a juntar dinheiro para universidade” tornou-se a frase chave de Raquel Barros, ao longo de vários meses. Vendia cada pacote a um euro. “É engraçado porque inicialmente não dizia porque andava a vender pastilhas. Dizia só bom dia, quer comprar um pacote de pastilhas? Foi uma senhora que me viu, no Parque dos Poetas, e que me aconselhou a fazê-lo”, realça, admitindo que desde aí as vendas começaram a aumentar substancialmente. “Acho que como as pessoas compreenderam a minha mensagem passaram-me a ajudar mais”, desabafa. Ainda assim, as vendas continuavam aquém do que precisava para prosseguir o seu grande sonho: entrar na UA.

Consciente da importância das redes sociais, por influência de uma disciplina no curso profissional que frequentava, a jovem de Oeiras não demorou em contar a sua história também por este meio. Neste caso, no linkedin, uma plataforma online direcionada para o negócio e para o emprego. Na altura, optou por partilhar uma fotografia sua, com um cartão, onde se lia “pastilhas 1 euro”, juntamente, com uma pequena descrição. “Mal publiquei começou logo a ter um alcance enorme. Houve várias pessoas, na plataforma, que até me aconselharam a criar o crowdfunding. Assim, o fiz”, conta. “Coloquei um limite de três mil euros, mas rapidamente o ultrapassei”, continua Raquel. Através do linkedin, foi ainda contactada pela Lusiteca, uma empresa portuguesa que produz e exporta guloseimas, detentora da marca Gorila e dos rebuçados da Penha. “Deram-me pastilhas elásticas e rebuçados para que os pudesse vender. Mal cheguei a casa comecei a dividi-los em sacos transparentes. Por cinco pastilhas individuais, cobrava um euro”, recorda. Conseguiu, no total, angariar 16 mil euros, entre o crowdfunding, a venda de pastilhas elásticas e as doações de dinheiro. “Sei que dividindo pelos três anos dá 450 euros, por mês”, partilha a jovem.

Agora, oficialmente, colocada em Marketing, na Universidade de Aveiro, no ISCA-UA, não descarta a possibilidade de trazer as pastilhas elásticas até à sua nova cidade. “Neste momento, estão em casa [Oeiras]. Qualquer coisa apanho um autocarro e vou buscá-las”, admite, com uma risada. Até lá, Raquel já começou a ter em vista, além dos estudos, um part-time, para fazer face às despesas extra que lhe possam surgir.

Recomendações

Escola Mário Sacramento e DCSPT unem-se para impedir que jovens se “divorciem” da política
Universidade

Escola Mário Sacramento e DCSPT unem-se para impedir que jovens se “divorciem” da política

Marta Monteiro foi uma das alunas do secundário presentes na iniciativa e à Ria confidenciou ter optado pela disciplina de Ciência Política por considerar os temas abordados “relevantes para o ambiente geopolítico que vivemos atualmente”. No domingo passado, dia 18, exerceu pela primeira vez o direito ao voto e sente que o conhecimento que adquiriu ao longo do ano letivo na disciplina foi “fundamental” na sua decisão. “Creio que a disciplina de Ciência Política me ajudou a entender como funciona o sistema político português e o sistema eleitoral”, explica Marta. “Tornei-me mais informada e mais interessada na política”, repara. Margarida Dinis é estudante do primeiro ano do mestrado e foi uma das estudantes destacadas para dinamizar a atividade junto dos alunos da Secundária. Ao contrário de Marta expressa uma visão mais crítica do atual cenário político, confessando sentir que “é muito assustador votar nos dias de hoje, tendo em conta a realidade de que muitos jovens votam na extrema-direita”. Para Margarida, o mais inquietante é perceber que “há pessoas que efetivamente tomam essas decisões de forma informada e que procuram ler os programas dos partidos”, embora reconheça que “quem vota nesse tipo de forças, muitas vezes, não tem essa procura”. Os jovens portugueses, em particular do género masculino são, segundo um estudo noticiado pelo Público,os segundos na União Europeia que mais votam na extrema-direita. Na mesa em que Margarida dinamizou o jogo, os dados confirmaram-se. Apesar do voto ser secreto, a proximidade da temática levou alguns alunos a admitir, informalmente, que votam ou tencionam votar no partido português mais próximo da extrema-direita. Patrícia Silva, diretora do mestrado, aponta que a iniciativa foi uma novidade na Escola Mário Sacramento, embora já tenha sido dinamizada uma atividade semelhante nas Escolas de Santiago. O objetivo, aponta, “é trazer às escolas do ensino secundário um jogo e uma forma de pensarmos a democracia e os efeitos da desinformação na democracia e trabalhar isso”. O jogo escolhido para o efeito foi ‘Secret Hitler’, um jogo de dedução social que transporta os jogadores à Alemanha Nazi e que desafia dois partidos – os liberais e os fascistas – a remarem para o seu lado. Do lado da equipa liberal o objetivo é aprovar cinco políticas liberais ou assassinarem Hitler; do lado da equipa fascista, o objetivo é aprovar políticas fascistas ou eleger Hitler como Chanceler. O jogo resulta por tudo ser feito de forma mais ou menos dissimulada, com as identidades dos jogadores a serem secretas para que o caos dificulte a identificação tanto dos membros da equipa liberal como da equipa fascista, na qual se inclui Hitler. “É importante que comecemos a trabalhar a qualidade das democracias, a pensar o que é que torna uma democracia numa democracia de qualidade e fazê-lo cada vez mais cedo para que estes jovens também possam rapidamente ser envolvidos e sentir-se parte do processo”, considera Patrícia Silva. “Muitos destes jovens ou são primeiros votantes ou são futuros votantes e, portanto, embora a lógica partidária não esteja aqui envolvida, a lógica da importância das eleições, de pensar políticas públicas e a implicação da escolha e do exercício de escolha para a sociedade, para a democracia, já está aqui”, repara ainda a docente e investigadora do DSCPT. A ideia é partilhada, de resto, pelos professores do secundário. Vítor João Oliveira é professor de filosofia e o responsável pela organização da iniciativa, que chega à Mário Sacramento por via de uma outra iniciativa organizada no dia 1 de abril. “Uma mesa-redonda chamada a Verdade da Mentira”, que explorou o “caráter paradoxal da democracia”. À Ria aponta ser esse mesmo caráter paradoxal “aquilo que é mais importante hoje (…) que as pessoas percebam”. “As pessoas não têm a noção dessa fragilidade [da democracia] e a nossa ideia na escola é, com experiências significativas, alertar para tal”, frisa o professor. “Se há lugar onde a democracia é a essência da instituição é a escola: a escola pública é o lugar da democracia, do confronto de ideias”, acrescenta ainda Vítor Oliveira. Também Paulo Abreu, um dos professores da disciplina de Ciência Política na Mário Sacramento, destaca a importância da inclusão da disciplina no plano curricular de todos os estudantes do secundário. “É opcional e só apanha as áreas de humanidades e socioeconómicas, sendo que no nosso entender de ciência política, devia abranger todas as áreas do secundário, e mais: devia ser uma disciplina obrigatória e não opcional”, alerta o professor. A adesão na Mário Sacramento tem-se mantido estável, com a disciplina “a funcionar há mais de dez anos e sempre com duas ou três turmas”, nota o professor. Pesa para essa consistência a fomentação de outras atividades como a participação, por exemplo, em iniciativas como o Parlamento Jovem e visitas de estudo por vezes a locais históricos como o campo de concentração de Auschwitz. “Naturalmente tentamos que a disciplina seja uma mais-valia, porque achamos que nos tempos que correm é essencial que ela seja mesmo essa mais-valia e que os alunos entendam como tal”, entende Paulo Abreu. A perspetiva é ainda partilhada por José Nunes, diretor do agrupamento que, apesar de ter dedicado o seu percurso pessoal às ciências exatas, defende a importância da ciência política como disciplina interdisciplinar. “Um dos muitos objetivos que temos aqui no agrupamento é de facto que os alunos se vão envolvendo [na política]”, recorda. A iniciativa conjunta foi considerada pelo diretor do agrupamento como mais uma das atividades desenvolvidas para promover essa consciência política. Sublinha, à semelhança do professor Paulo Abreu, a participação dos alunos no Parlamento Jovem e na Assembleia Municipal Jovem em Aveiro, bem como “as associações de estudantes, onde os próprios alunos se candidatam e propõem coisas”. “Estamos a fazer o nosso caminho no sentido de trazer os jovens novamente para pensarem nesses assuntos e não se divorciarem da atividade política”, assegura José Nunes que mostrou abertura para se dinamizarem mais atividades entre as instituições de ensino.

Ria promove debate entre docentes e investigadores para o Conselho Geral da UA
Universidade

Ria promove debate entre docentes e investigadores para o Conselho Geral da UA

O debate terá lugar às 16h00 no Auditório Renato Araújo, localizado no Edifício Central e da Reitoria da UA, e contará com a participação de quatro candidatos, representando todas as circunscrições e ambas as listas que concorrem ao ato eleitoral. O Conselho Geral é o principal órgão de governo da universidade, sendo responsável por funções estruturantes como a eleição do reitor, a aprovação e alteração dos estatutos, a aprovação do plano estratégico e dos documentos anuais de atividades e contas. Nesta eleição, foram admitidas duas listas: a lista “UA 2030 – Uma Universidade Inovadora, Sustentável e Plural” e a lista “UA50 – 50 anos de história, 50 anos de ambição” O debate será moderado por Isabel Cunha Marques, diretora de informação da Ria, e transmitido em direto na página de Facebook da Rádio Universitária. A sessão é aberta à comunidade académica, que poderá assistir presencialmente ou acompanhar a transmissão online. Durante o debate, serão discutidos temas diretamente relacionados com as competências do Conselho Geral e a visão estratégica para o futuro da Universidade de Aveiro. Está também prevista uma ronda de perguntas enviadas pela comunidade académica e dirigidas às duas listas. As perguntas podem ser submetidas até às 23h59 de quarta-feira, 28 de maio, através do preenchimento deste formulário. A redação da Ria selecionará as mais relevantes para serem colocadas durante o evento.

GrETUA apresenta programação trimestral “em torno da palavra desejo”
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GrETUA apresenta programação trimestral “em torno da palavra desejo”

Depois de estrear em maio com “recorder” - o espectáculo que resultou do Curso de Formação Teatral de 2024/2025 - o GrETUA quer que a restante programação do trimestre orbite “em torno da palavra desejo”. “Numa altura em que as distopias de ontem continuam a transformar-se na paisagem que nos envolve, acreditamos que a sustentabilidade do futuro depende cada vez mais da nossa capacidade de continuar a desejar: imaginar o que não vemos, mas que é preciso encenar”, atenta o editorial enviado à Ria. Para tal, o GrETUA pretende, em cena e fora de cena, “inventar novas maneiras de sermos muitos” e “fazer do encontro um gesto radical”. “Na pista de dança suar até nos fundirmos com a batida, no ecrã do cinema iluminar o pluralismo das experiências, multiplicar as possibilidades do prazer. E em todos os instantes, abrir espaço para o toque e a escuta. Trabalhar na construção de uma intimidade comum”, explica. O grupo adianta ainda que, ao longo deste trimestre, vai recuperar uma das descobertas que fez ao digitalizar o arquivo do GrETUA para o documentário que estreou este ano, “Antes de Mais, Parabéns Atrasados”. “Falo do mantra que o encenador Rui Sérgio, e um dos fundadores do GrETUA, gritava aos atores em 1994, momentos antes da estreia do espetáculo “Cabaret Cibernético”: «Tesão, tesão, tesão! Para além da concentração!»”, esclarece. A programação trimestral prossegue assim esta sexta-feira, 23 de maio, com o concerto de emmy Curl, pelas 22h00. Já na próxima segunda-feira, 26 de maio, pelas 21h00, o GrETUA inicia a “Anatomia da Transgressão”. Um ciclo de cinema que pretende investigar “o corpo como espaço político, ficcional, íntimo e indisciplinado”. Dividido em três momentos, o primeiro iniciará com uma “sessão de curtas queer portuguesas, que são quatro contra ficções visuais capazes de pôr em questão os modos dominantes de ver e fantasiar sobre outras possibilidades de toque e cuidado”. Segue-se no dia 9 de junho o embate frontal com “Crash” (1996) de David Cronenberg, “um clássico da pulsão, do corpo-máquina, do prazer entre o aço e a carne”. A terceira sessão acontece no dia 23 de junho com o delírio poético e sensual de “O Lado Obscuro do Coração” (1992), “onde o amor e a morte dançam em espiral para lá dos limites do real”. Antes e depois das sessões, estará em exibição a peça de videoarte "The Kiss" (2020), de Miguel De. “Numa espécie de subversão da moral do obsceno e do sexo explícito, Miguel De constrói o seu filme a partir de fragmentos de cinema pornográfico hardcore, escolhendo apenas os planos de beijos. A obra pisca o olho a The Kiss (1896), de William Heise — um dos primeiros filmes comerciais da história do cinema, escandaloso na altura por mostrar um beijo explícito”, realça a nota. A “Anatomia da Transgressão” tem um custo de dois euros para estudante e de três euros para o público em geral. No dia 30 de maio, a caixa negra recebe, pelas 22h00, uma “noite de viagens musicais sem passaporte”, desta vez, com Mohammad Syfkhan, músico curdo-sírio radicado na Irlanda, e com Tangolo Mangos, diretamente da Bahia. A fechar a noite segue-se Graça, cidadão do mundo e navegador de sonoridades, que levará o público em rota livre entre géneros e geografias, com o corpo em constante rotação. O espectáculo tem um custo de seis euros para estudante e de não estudante de oito euros com reserva. À porta, o bilhete passa a ter um custo de oito euros para estudante e de não estudante de dez euros. De 30 de maio até 28 de junho estará ainda em exibição na nova galeria suspensa – “nas caixas de luz que pairam no foyer” - a exposição “até que tudo fique claro” de Isabel Medeiros”. A mostra foi batizada com as “palavras bonitas que o David Calão escreveu para ‘recorder’, já que os dois trabalharam sobre a memória e o desejo de ver para lá da superfície dos registos”. “Os fungos que cresceram no arquivo físico da erupção do Vulcão dos Capelinhos (1957, Ilha do Faial) deterioraram as imagens, transformando-as, tal como o tempo alterou a memória de quem a viveu. O arquivo surge não como prova, mas como evidência do esquecimento, manifestado na sua própria deterioração. As imagens contaminadas revelam um outro tipo de verdade: a da memória simultaneamente em ruína e em construção”, lê-se na sinopse. Este primeiro ciclo – com uma exposição por trimestre- encerrará com uma conversa, pelas 19h00, entre Isabel Medeiros e David Calão. A entrada é livre. No dia 10 de junho, das 10h00 às 13h00 e das 14h30 às 17h30, segue-se ainda uma oficina gratuita de VJing com Resolume Arena, com Ricardo Jorge. “Toda a gente quer servir o seu untz untz, mas será que sabem o que é preciso para o ecrã dançar a par da pista? Querem dar show, nós queremos um bocadinho mais de charme. Mas como não somos maus de todo, damos uma ajuda para subir a fasquia”, sintetiza a nota. Assim, nesta oficina, Ricardo Jorge, conhecido por outros como Moho, irá “ensinar a levantar o padrão”. “Propomos um primeiro contacto com o Resolume Arena, ferramenta de eleição para performance visual ao vivo. Exploraremos as bases: linguagem do software, lógica da interface e a viagem do sinal, do ecrã do computador ao projetor, ao LED, ao espaço”, completa. Logo após quatro dias, pelas 22h00, segue-se um novo espectáculo musical com “The Journey to Pleasure Drone”, uma criação de Gil Mac e Henrik Ferrara. “Um mergulho sonoro e musical, entre música eletrónica, performance e dança”, resume. Também “Moho” regressará nessa noite. “Musicalmente, inspira-se em espécies ameaçadas e extintas para criar viagens sonoras profundas e hipnóticas. Fundo do oceano, cume da montanha ou outras descrições vagas que nunca desiludem”, avança a nota. O evento resulta de uma parceria entre o GrETUA e o Núcleo de Estudantes de Engenharia de Computadores e Telemática (NEECT) e tem um custo com reserva de seis euros para estudante e de não estudante de oito euros. À porta, o bilhete tem um custo de oito euros para estudante e para o público em geral de dez euros. No dia 21 de junho, pelas 23h50, a programação prossegue com os “Sleep Stages: concertos para dormir, com Coldest Winter e usof”. ​​O GrETUA, em parceria com a Universidade de Aveiro e o 23 Milhas, volta a abrir espaço para o sono e para tudo o que nele acontece. “Trocamos o ruído pelo murmúrio, a pressa pelo embalo e deixamos que a música nos guie ao longo de oito horas ininterruptas, desta vez com Coldest Winter e usof ao comando. Quem vem, traz a almofada e a disposição para dormir ou não. Quem recebe, garante o colchão e o pequeno-almoço, para que acordemos juntos, a partilhar o que ficou na cabeça e o que se dissolveu no sonho. O resto? Está por vir. É fechar os olhos e deixar-se levar”, realça. Na nota, o GrETUA recorda ainda que o público deverá ocupar os colchões disponibilizados pela organização e que fica ao encargo dos participantes “trazer saco-cama ou outros elementos para pernoitar no espaço”. A reserva tem um custo de 14 euros. A encerrar este trimestre estará a residência artística “Bright Horses” de Carminda Soares e Maria R. Soares. De 3 a 7 de julho, “Bright Horses” é uma peça para seis intérpretes — três duplas de irmãos gémeos — que faz uso de dinâmicas internas e familiares para refletir criticamente sobre a competição na sociedade capitalista atual. “Trazendo a experiência real para palco através do seu elenco, desenvolvem-se três diálogos coreográficos entre irmãos que se posicionam em territórios que evocam disputa, agressão, luto, despedida, afeto e ilustram a complexidade das relações familiares como microcosmos de dinâmicas sociais mais ampla”, finaliza. Todos os bilhetes e reservas podem ser efetuados em gretua.pt.

emmy Curl leva “Pastoral” à caixa-negra do GrETUA esta sexta-feira
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emmy Curl leva “Pastoral” à caixa-negra do GrETUA esta sexta-feira

Após cerca de um mês e meio dedicados à produção teatral, os concertos regressam ao GrETUA pela mão de uma artista cuja passagem pela cidade de Aveiro foi determinante, já que foi nesta cidade que se lhe viram dar os primeiros passos enquanto música. emmy Curl é um heterónimo de Catarina Miranda Trindade, uma das primeiras produtoras musicais femininas portuguesas. Multi-instrumentista, compositora, produtora, artística plástica e 3D, realizadora de vídeos e canta-autora. Esta sexta-feira traz no reportório o álbum com que ganhou o Prémio José Afonso 2025, “Pastoral”, uma homenagem ao folclore português e “uma celebração de coragem e amor em tempos difíceis”. As portas abrem às 21h30 e o concerto começa às 22h00. Os bilhetes podem ser adquiridos aqui. A programação trimestral do GrETUA prossegue no dia 30 de maio numa noite tripartida entre os brasileiros Tangolo Mango, o sírio Mohammad Syfkhan e as músicas de todo o mundo do DJ Set do Graça, que encerrará o mês de maio na caixa-negra do GrETUA.

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Caminhada solidária em Ílhavo apoia associação da Gafanha do Carmo este domingo
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Caminhada solidária em Ílhavo apoia associação da Gafanha do Carmo este domingo

No âmbito do programa “Maio com Saúde e Bem-Estar”, a iniciativa arrancará pelas 10h00, junto ao Centro Comunitário da Gafanha do Carmo, com rastreios de saúde gratuitos. Pelas 11h00 dará início a caminhada, “num percurso pensado para promover o bem-estar e o convívio”, realça uma nota de imprensa enviada à Ria. No final, haverá ainda uma aula de relaxamento. As inscrições têm um valor simbólico de “três euros por pessoa” (as crianças até aos 12 anos, inclusive, não pagam) e o “valor reverte na totalidade para a Associação de Solidariedade Social da Gafanha do Carmo”. Os interessados em participar poderão realizar a sua inscrição através do contacto telefónico 234 391 354 ou do email [email protected]. A Associação de Solidariedade Social da Gafanha do Carmo concretiza a sua missão através do Centro Comunitário da Gafanha do Carmo, uma instituição de apoio à população idosa que tem as valências de Estrutura Residencial para Idosos, Centro de Dia e Serviço de Apoio Domiciliário.

Skope – Museu de Medicina e Saúde promove atividades para miúdos e graúdos este verão
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Skope – Museu de Medicina e Saúde promove atividades para miúdos e graúdos este verão

Uma dessas atividades passa pela concretização da semana de férias do museu de 30 de junho a 4 de julho e de 7 a 11 de julho, das 9h00 às 18h00, destinado a crianças entre os seis e os 12 anos. Segundo uma nota de imprensa enviada à Ria, “durante duas semanas no mês de julho”, o museu vai promover um “programa completo de férias escolares que alia o brincar ao aprender”. “Cada dia é dedicado a um tema fundamental para a saúde e o bem-estar: atividade física, alimentação, higiene, descanso e convívio”, avança. O programa inclui “oficinas, jogos educativos, momentos de expressão criativa, bem como uma visita orientada e interativa ao museu”. A atividade da semana de férias é ainda limitada “até 20 crianças por semana” e tem o custo de “160 euros por semana (inclui refeições, seguro e materiais)”. As inscrições para a iniciativa estão abertas até ao dia 20 de junho.  O Skope vai ainda promover as atividades de meio-dia para grupos que têm como público-alvo os estudantes do 1º ciclo até ao secundário. “Estas atividades destinam-se a grupos organizados, de entidades como centros de estudos e ocupação de tempos livres, instituições educativas ou associações”, esclarece. A iniciativa decorrerá em dois formatos com uma “visita guiada ao museu” que terá a duração de “1h15” e o valor de “dez euros por participante” e com uma visita guiada com atividade temática com a duração de “duas horas” e com um valor de “12 euros por participante”. No que toca às atividades temáticas disponíveis, o Museu terá duas propostas: “Das Plantas ao Remédio” que abordará o uso tradicional e científico das plantas medicinais e o “Pela Minha Rica Saúde” que abordará os principais determinantes de saúde, entre os exemplos, a alimentação ou a higiene e o convívio. Na nota, o Skope alerta ainda que as sessões se realizam em “turnos da manhã (10h00 às 12h30) ou de tarde (14h30 às 17h00), para grupos entre 8 e 20 participantes”. É ainda necessária marcação prévia. O Museu estará também aberto a visitas de público em geral, de terça a sábado. “Famílias, cuidadores, educadores e curiosos de todas as idades são convidados a explorar um espaço onde a história da medicina, os hábitos de saúde e os desafios do presente se apresentam de forma acessível e interativa”, reforça a nota. O espaço está ainda disponível “para a realização de eventos corporativos”.

Ilustrador Paulo Galindro conversa sobre “A Vida Secreta dos Livros” este sábado em Ílhavo
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Ilustrador Paulo Galindro conversa sobre “A Vida Secreta dos Livros” este sábado em Ílhavo

Dirigida a crianças a partir dos cinco anos até aos 103 anos, esta conversa desafia “a mergulhar no mundo mágico que está por trás desse montinho de páginas impressas, coladas, cosidas e encadernadas a que chamamos livro, a mais bela invenção da humanidade, abordando o tema das ilustrações”, realça uma nota de imprensa enviada à Ria. Os interessados em participar devem inscrever-se através do email: [email protected] ou pelo número de telefone 234 321103. Até 5 de julho, na Biblioteca Municipal de Ílhavo, estará ainda patente a exposição de ilustração “Com o coração na ponta do lápis”, de Paulo Galindo, que reúne as ilustrações originais dos livros: “O Cuquedo e um amor que mete medo”, “Guia prático do susto”, “O Cuquedo e os pequenos aprendizes do medo”, “Mãe, ainda não posso ir dormir…”, “O meu Avô consegue voar!” e “Talvez um cão”. Em paralelo, no âmbito do Programa de Promoção do Livro e das Literacias da Rede de Bibliotecas de Ílhavo, encontra-se ainda patente até ao próximo sábado, 31 de maio, a exposição de criações em torno da obra de Paulo Galindro, realizados pelos alunos do pré-escolar ao ensino secundário, das escolas do Agrupamento Escolas do Município de Ílhavo. De acordo com a nota, os trabalhos expostos estão sujeitos “a votação presencial, alargada a toda a comunidade, para eleger o trabalho vencedor por cada nível de ensino”. “Os prémios serão atribuídos às bibliotecas escolares ou ao fundo bibliográfico do respetivo agrupamento de escolas, a integrar nos Baús de Histórias. Neste contexto, o ilustrador estará na BMI, no dia 23 de maio, em sessões exclusivas aos alunos do Agrupamentos de Escolas do Município de Ílhavo”, esclarece.

Escola Mário Sacramento e DCSPT unem-se para impedir que jovens se “divorciem” da política
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Ao contrário de Marta expressa uma visão mais crítica do atual cenário político, confessando sentir que “é muito assustador votar nos dias de hoje, tendo em conta a realidade de que muitos jovens votam na extrema-direita”. Para Margarida, o mais inquietante é perceber que “há pessoas que efetivamente tomam essas decisões de forma informada e que procuram ler os programas dos partidos”, embora reconheça que “quem vota nesse tipo de forças, muitas vezes, não tem essa procura”. Os jovens portugueses, em particular do género masculino são, segundo um estudo noticiado pelo Público,os segundos na União Europeia que mais votam na extrema-direita. Na mesa em que Margarida dinamizou o jogo, os dados confirmaram-se. Apesar do voto ser secreto, a proximidade da temática levou alguns alunos a admitir, informalmente, que votam ou tencionam votar no partido português mais próximo da extrema-direita. Patrícia Silva, diretora do mestrado, aponta que a iniciativa foi uma novidade na Escola Mário Sacramento, embora já tenha sido dinamizada uma atividade semelhante nas Escolas de Santiago. O objetivo, aponta, “é trazer às escolas do ensino secundário um jogo e uma forma de pensarmos a democracia e os efeitos da desinformação na democracia e trabalhar isso”. O jogo escolhido para o efeito foi ‘Secret Hitler’, um jogo de dedução social que transporta os jogadores à Alemanha Nazi e que desafia dois partidos – os liberais e os fascistas – a remarem para o seu lado. Do lado da equipa liberal o objetivo é aprovar cinco políticas liberais ou assassinarem Hitler; do lado da equipa fascista, o objetivo é aprovar políticas fascistas ou eleger Hitler como Chanceler. O jogo resulta por tudo ser feito de forma mais ou menos dissimulada, com as identidades dos jogadores a serem secretas para que o caos dificulte a identificação tanto dos membros da equipa liberal como da equipa fascista, na qual se inclui Hitler. “É importante que comecemos a trabalhar a qualidade das democracias, a pensar o que é que torna uma democracia numa democracia de qualidade e fazê-lo cada vez mais cedo para que estes jovens também possam rapidamente ser envolvidos e sentir-se parte do processo”, considera Patrícia Silva. “Muitos destes jovens ou são primeiros votantes ou são futuros votantes e, portanto, embora a lógica partidária não esteja aqui envolvida, a lógica da importância das eleições, de pensar políticas públicas e a implicação da escolha e do exercício de escolha para a sociedade, para a democracia, já está aqui”, repara ainda a docente e investigadora do DSCPT. A ideia é partilhada, de resto, pelos professores do secundário. Vítor João Oliveira é professor de filosofia e o responsável pela organização da iniciativa, que chega à Mário Sacramento por via de uma outra iniciativa organizada no dia 1 de abril. “Uma mesa-redonda chamada a Verdade da Mentira”, que explorou o “caráter paradoxal da democracia”. À Ria aponta ser esse mesmo caráter paradoxal “aquilo que é mais importante hoje (…) que as pessoas percebam”. “As pessoas não têm a noção dessa fragilidade [da democracia] e a nossa ideia na escola é, com experiências significativas, alertar para tal”, frisa o professor. “Se há lugar onde a democracia é a essência da instituição é a escola: a escola pública é o lugar da democracia, do confronto de ideias”, acrescenta ainda Vítor Oliveira. Também Paulo Abreu, um dos professores da disciplina de Ciência Política na Mário Sacramento, destaca a importância da inclusão da disciplina no plano curricular de todos os estudantes do secundário. “É opcional e só apanha as áreas de humanidades e socioeconómicas, sendo que no nosso entender de ciência política, devia abranger todas as áreas do secundário, e mais: devia ser uma disciplina obrigatória e não opcional”, alerta o professor. A adesão na Mário Sacramento tem-se mantido estável, com a disciplina “a funcionar há mais de dez anos e sempre com duas ou três turmas”, nota o professor. Pesa para essa consistência a fomentação de outras atividades como a participação, por exemplo, em iniciativas como o Parlamento Jovem e visitas de estudo por vezes a locais históricos como o campo de concentração de Auschwitz. “Naturalmente tentamos que a disciplina seja uma mais-valia, porque achamos que nos tempos que correm é essencial que ela seja mesmo essa mais-valia e que os alunos entendam como tal”, entende Paulo Abreu. A perspetiva é ainda partilhada por José Nunes, diretor do agrupamento que, apesar de ter dedicado o seu percurso pessoal às ciências exatas, defende a importância da ciência política como disciplina interdisciplinar. “Um dos muitos objetivos que temos aqui no agrupamento é de facto que os alunos se vão envolvendo [na política]”, recorda. A iniciativa conjunta foi considerada pelo diretor do agrupamento como mais uma das atividades desenvolvidas para promover essa consciência política. Sublinha, à semelhança do professor Paulo Abreu, a participação dos alunos no Parlamento Jovem e na Assembleia Municipal Jovem em Aveiro, bem como “as associações de estudantes, onde os próprios alunos se candidatam e propõem coisas”. “Estamos a fazer o nosso caminho no sentido de trazer os jovens novamente para pensarem nesses assuntos e não se divorciarem da atividade política”, assegura José Nunes que mostrou abertura para se dinamizarem mais atividades entre as instituições de ensino.