"A ciência e a investigação são um bem público, não são mercadoria", opinião de Miguel Pedro Araújo
Miguel Pedro Araújo é natural de Aveiro. Licenciado em Comunicação e Assessoria de Imprensa, com pós-graduação em Direito da Comunicação. Atualmente, frequenta o Mestrado em Políticas Públicas, percurso Governação Local e Regional, na Universidade de Aveiro. Depois de uma passagem pela rádio (em Aveiro e na região), profissionalmente esteve sempre ligado à comunicação autárquica, nos Municípios de Aveiro e de Ílhavo. Tem na política e nos direitos humanos o principal foco do seu ativismo.
Miguel Pedro Araújo
OpiniãoA proposta orçamental para a Ciência e Tecnologia em 2025 já tinha marcado um retrocesso preocupante: 607 milhões de euros, o valor mais baixo desde 2018. A herança deixada pelo Governo de António Costa - um orçamento de 675 milhões de euros, mais 2,5% do que em 2023 - foi desperdiçada, revelando não só falta de ambição, mas também um desrespeito profundo pelo papel estratégico da ciência.
Mas este Governo preferiu continuar a escolher enfraquecer deliberadamente um setor vital para o desenvolvimento do país. Depois da não inclusão de uma Secretaria de Estado para o Ensino Superior na orgânica do Governo, em 2024, surgiu a decisão de extinguir a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), fundindo-a numa nova estrutura orgânica (Agência para a Investigação e Inovação) sem identidade, nem referência, diluindo e esvaziando a missão de uma instituição que, com as suas limitações, era central para a consolidação do sistema científico português. A ciência precisa de estabilidade, previsibilidade e autonomia, não de reformas administrativas que se traduzem em incerteza, perda de história institucional e riscos para a continuidade de projetos, bolsas e, nomeadamente, para as carreiras profissionais, aumentando a precaridade laboral que marca o setor da investigação.
Como se tudo isto não fosse, por si só, preocupante, ainda mais inquietante e revelador da ideologia estratégica do Governo é a visão que o atual ministro da Educação deixou clara, no jantar-conferência da Universidade de Verão do PSD (curiosamente, uma alegada iniciativa de formação de jovens quadros) ao afirmar que “a sociedade tem que perceber que é importante e os cientistas têm que perceber que têm a obrigação de devolver à sociedade o investimento que é feito neles”. Esta declaração encerra uma conceção mercantilista e economicista da investigação, como se o valor da ciência pudesse ser medido apenas como retorno imediato ou em ganhos financeiros.
A comunidade científica já devolve à sociedade o investimento que recebe. Fá-lo através da produção de conhecimento, da formação qualificada, da inovação que capacita empresas e instituições públicas, e sobretudo pela construção de uma cidadania crítica e informada. O conhecimento científico não é um luxo nem um custo: é um bem público, indispensável para o ensino superior, para a saúde, para a cultura, para a economia, para a justiça social e para que a sociedade seja mais capacitada para enfrentar os grandes desafios do século XXI: das alterações climáticas às desigualdades, da transição digital à defesa da democracia.
A imprevisibilidade nos apoios, a instabilidade das carreiras científicas e a instrumentalização da investigação para fins conjunturais fragilizam um sistema que levou (e leva ainda) tempo a consolidar-se. O risco é claro: transformar a ciência e a investigação numa engrenagem subalterna (subsidiodependente) de curto prazo, sem autonomia, incapaz de planear e de responder com liberdade às necessidades da sociedade.
Está em causa uma visão do país que queremos ser. E este Governo parece escolher a via de desvalorização do conhecimento, onde a ciência é reduzida a mercadoria, em vez de ser reconhecida como pilar do saber e do desenvolvimento humano, social, económico e cultural de Portugal.
É preciso defender a ciência e a investigação, defender o conhecimento, defender o futuro. E isso faz-se com mais investimento, mais estabilidade e mais respeito pelos que dedicam a sua vida à investigação.
Porque sem ciência não há futuro. E sem respeito pelos cientistas e investigadores não há democracia digna desse nome.
Recomendações
"Ensino: a prioridade sazonal", opinião de Joana Regadas
Habituámo-nos enquanto seres humanos a diferentes épocas ao longo do ano. Vemos nas épocas festivas o aconchego da família, nos Santos Populares o festejo do início do verão, do convívio entre amigos e família, e na época balnear o prazeroso agosto que promete repor todas as energias, realinhar as ideias e deixar todas e quaisquer preocupações para trás. Há, no entanto, uma época bastante característica em Portugal, que ao contrário das outras três vem carregada de muita reflexão e notícias preocupantes: a época educacional, traduzida como o único período do ano em que se ouve falar sobre o ensino. Todas estas quatro épocas, apesar de muito diferentes, têm alguns fatores em comum: são sazonais, previsíveis e repetem-se de ano para ano. Porém, seria de esperar que a educação e o ensino - o fundamento do crescimento de qualquer sociedade - não aparecessem apenas em duas ocasiões ao longo do ano e sempre com as mesmas motivações. Vemos entre meados de junho/julho um acordar para a importância da educação, ouvimos falar da preocupação dos estudantes que irão realizar os exames nacionais, avalia-se o grau de dificuldade dos mesmos, discute-se a falta de preparação dos alunos, o desajuste dos programas curriculares e um ensino focado apenas para estes momentos, refletem-se anos de estudo nos resultados e estabelece-se um ranking das melhores escolas. Nas primeiras semanas de agosto o interesse na educação volta a reduzir (não caindo para os seus mínimos, isso só é atingido ao longo do ano letivo), discutindo-se com apreensão o número de candidatos ao Ensino Superior. Até que chega o final de agosto e início de setembro, onde o apogeu das notícias, preocupações, deambulações, opiniões, introspeções sobre o ensino acontece. Ficamos cercados com a informação previsível, sazonal e repetitiva, falta de professores e resultados das candidaturas ao Ensino Superior. Chamam-se peritos, dá-se palco a estudantes, professores, quem durante todo o ano se encontra esquecido, mas que nesta altura tem lugar cativo em horário nobre, tentam-se encontrar justificações para o que continua a falhar e em outubro esquecemo-nos de novo desta problemática. Este ano a sazonalidade das épocas mantêm-se, os Santos Populares decorreram da mesma forma, a época balnear com os já tradicionais incêndios florestais (mais uma época sazonal, que fica bem guardada na gaveta quando não é o seu tempo) e o ensino encontra-se com visualizações acima do normal. Apesar da normalidade no decorrer do ano é de notar que as notícias sobre o ensino sofreram algumas alterações, no entanto estas não trazem com elas dados que nos apaziguem. No início de agosto relatava-se uma diminuição significativa no número de candidatos ao Ensino Superior, próximo dos valores de há 7 anos e no passado domingo as preocupações agravaram-se ainda mais, com menos 6 mil alunos a entrarem no Ensino Superior, 11.500 vagas por preencher e com muitos cursos com nenhum estudante colocado. Estes são de facto números alarmantes, números para os quais se discutem inúmeras justificações. Serão os custos associados ao Ensino Superior que explicam estes resultados, ou terá sido a alteração no modelo de acesso? Será um desajuste do ensino superior à procura das novas gerações, ou falta de esperança de que a aposta numa educação superior se reflita numa carreira profissional melhor? Poderá este número inverter-se na segunda fase, havendo mais estudantes que estão habilitados a candidatar-se ao Ensino Superior? Podemos tentar ser pragmáticos e fazer o exercício de analisar cada uma das possíveis justificações de forma individual. A primeira hipótese, e talvez mais consensual entre os comentadores, está relacionada com os custos associados ao Ensino Superior, custos estes que vão desde a habitação, aos transportes, à socialização e à alimentação, que chegam a rondar em Lisboa os cerca de 900 €, sabendo que em Aveiro um quarto ronda os 350€-400€, é expectável que o orçamento mensal não fique muito longe deste valor. É necessário partir esta questão em duas. Se por um lado este ano não se verificou um aumento significativo no alojamento, por outro o poder de compra das famílias tem vindo a diminuir, o que levanta a questão: “Será este o primeiro ano onde as famílias estejam a sentir as dificuldades económicas anunciadas já desde há algum tempo?”. Esta pode ser de facto uma justificação, principalmente para os resultados obtidos na Universidade de Aveiro, maioritariamente composta por estudantes deslocados. As questões que se colocam, caso seja esta a principal razão, são diversas, os complementos atuais deixaram de ser suficientes, estes estudantes deslocados optaram pelo Ensino Superior Privado devido aos custos associados à permanência enquanto estudante deslocado ser superior às propinas no privado, existe informação suficiente dos apoios existentes. Uma conclusão é certa, sendo esta a principal razão, ou só mais uma no bolo é de facto urgente reformular o sistema de ação social! É preciso, também, refletir sobre as implicações das alterações do modelo de acesso, modelo alterado em 2023 e que regressa com os exames obrigatórios para a conclusão do ensino secundário e que passou a obrigar a ter dois exames como prova de ingresso valendo cada um pelo menos 50%. Esta decisão foi fundamentada como necessária para nivelar a inflação das notas, promovidas em diferentes contextos escolares, no entanto, quando esta hipótese é colocada em cima da mesa é necessário de facto questionar se os exames nacionais são um fator nivelador ou não. Alguns dados importantes revelam-nos que os resultados dos exames nacionais subiram no ensino privado e desceram no público, e no acesso ao Ensino Superior verificou-se também uma diminuição dos estudantes em situações socioeconómicas desfavorecidas. A combinação destes dois fatores deve iniciar uma reflexão sobre se este modelo está de facto a cumprir o objetivo ou a perpetuar o distanciamento entre classes sociais mais baixas (com menos poder económico para investir num percurso com diferentes pedagogias e metodologias de apoio) e o acesso ao ensino superior. Estarão de facto os exames nacionais a colocar todos os alunos nas mesmas circunstâncias? A outra questão levantada encontra-se relacionada com o reconhecimento de valor no ensino superior pelas novas gerações, e para isso é importante, também, recordar dados recolhidos aquando da inscrição nos exames nacionais, onde o número de estudantes que respondeu positivamente se pretendiam ingressar no Ensino Superior, e se iam usar os exames nacionais para tal, diminuiu face a 2024. Porque estará a diminuir o interesse dos jovens em ir para o Ensino Superior, estarão à priori conscientes das dificuldades económicas familiares, estarão a optar por soluções fora de Portugal ou têm receio de que ter uma licenciatura em Portugal já não seja o suficiente para ter um emprego de qualidade? No meio de toda a discussão instaurada, e com a cautela necessária para não tirar conclusões antes dos resultados da 2º fase, não pode ficar esquecido o futuro. Daqui a 3, 5 anos teremos menos pessoas com um grau superior a entrar no mercado do trabalho, representarão estes menos 6 mil alunos de agora, menos 6 mil postos de trabalho qualificado no futuro de Portugal? Que futuro podemos esperar se esta tendência não for invertida? Será Portugal capaz de atingir o objetivo até 2030 de 45 % da população entre os 25 e 30 anos com licenciatura, ou irá, uma vez mais permanecer na cauda da Europa? As teorias são diversas, e as problemáticas enfrentadas agora são reflexo da sazonalidade da discussão do ensino em Portugal, que não tem palco nos programas eleitorais e que não é discutida a longo prazo. Resta-nos a esperança de saber que, pelo menos, durante o próximo mês o ensino estará na agenda do país.
"Afinal o que está errado com o Plano de Pormenor do Cais do Paraíso?", opinião de Fernando Nogueira
Quase tudo! O Plano de Pormenor é um ardil para dar legitimidade política e legal a um processo de licenciamento “por antecipação”, engrenado num cálculo privado de viabilidade financeira. 1 - A proposta de elaboração do Plano de Pormenor (PP) decorre da vontade política do presidente da Câmara e da sua governação de verem concretizado um hotel naquele espaço da cidade, assumida previamente a qualquer discussão estruturada sobre a conveniência de autorizar o referido empreendimento ou sobre os pressupostos e objetivos que deviam orientar a transformação daquela parcela de território. 2 - O PP é um “fato à medida” para o referido empreendimento. Mesmo antes da decisão de elaborar o plano, em janeiro de 2019, Ribau Esteves assumiu publicamente a necessidade de acomodar “os pressupostos dos promotores do investimento em causa [que] não parecem flexíveis em relação à ideia ‘em cima da mesa’” porque, como afirmou, “Se não for assim, não o vamos ter”. Não é inusitado um PP servir para apoiar intenções de investimento privadas, se acautelado o interesse coletivo. Mas esse foi atropelado desde os pressupostos: o projeto, inflexível, dos investidores estabelece a altura e volumetria e a Câmara dá o seu aval, defendendo que o mesmo decorre “da inerente viabilidade económico financeira da intervenção”. O Plano de Pormenor é um ardil para dar legitimidade política e legal a um processo de licenciamento “por antecipação”, engrenado num cálculo privado de viabilidade financeira. 3 - É boa prática urbanística que a execução de um PP seja feita por meio de perequação. Ou seja, todos os que têm capacidade de edificação devem ser considerados na proposta de urbanização. A Câmara considerou desnecessário proceder dessa maneira, adiantando ter sido adotado o sistema de “cooperação” (aspas no original) para a execução do plano. Da leitura do relatório do PP fica claro que a referida “cooperação” é apenas uma astúcia semântica, uma vez que aos restantes proprietários restará escolherem entre venderem as suas parcelas aos investidores do hotel, se estes lhas quiserem comprar, ou serem expropriados nos termos da lei, por força do próprio PP. Talvez por causa deste expediente de retórica, escape à CCDR a ultrapassagem de direitos consignados na lei que aqui se prefigura. 4 - Noutro registo, é curioso que seja a própria autoridade do Turismo a considerar que a solução edificatória pode não contribuir para a valorização turística da cidade. O parecer da Turismo de Portugal I. P. refere “Sobre o número de pisos previsto (12) para a Parcela P6, significativamente acima da envolvente, afigura-se que tal solução poderá traduzir-se numa dissonância urbanística, não concorrendo para a qualidade da paisagem urbana e, por esta via, para a valorização turística da cidade, matéria que, contudo, competirá à Câmara Municipal melhor aferir”. Este parecer, remete para o facto de a cidade ser território comum e para a maneira como ela pode ser apropriada por alguns com impactos na urbanidade de todos. Remete também a decisão para a CMA. A volumetria é discutível em termos estéticos e paisagísticos, mas também quanto às cargas sobre as infraestruturas e serviços urbanos e sobre as questões económicas e ambientais. É meu entendimento que matérias desta natureza não deveriam ser decididas pela Câmara de forma unilateral, nem sustentadas num processo de discussão pública de “faz de conta”. 5 - Oportunisticamente, o período de participação dos cidadãos e entidades da sociedade civil ocorre em agosto e está sujeito ao costumeiro processo de receção de “críticas e sugestões” pelo executivo, que as ponderará a recato de qualquer discussão coletiva, com base em “racionalidades prévias”. Cinicamente, refere-se no preâmbulo do PP que “Contamos, como sempre, com a participação ativa dos Cidadãos, das Empresas, das Instituições Públicas e de todos os que acreditam no potencial de crescimento e de desenvolvimento de Aveiro.” O princípio, esse, é o mesmo de sempre: se não houver nada ilegal, pode (e deve) fazer-se. 6 - Finalmente, o debate que decorre na esfera pública está enviesado. É voz corrente de que ali se fará um hotel e esse tem sido o “objeto” da discussão. O relatório do PP, referencia o conteúdo funcional do empreendimento como tratando-se de “um novo edifício destinado a hotel com oferta de serviços complementares, integrando, nomeadamente, valências funcionais de apoio ao turismo de negócios, eventos e atividades culturais.” Escapará ao leitor menos atento, que não se debruce sobre o Regulamento do PP, que no seu artigo 16º, nº2, se estabelece que “A capacidade máxima do empreendimento turístico é de 600 (seiscentas) camas instaladas em 300 (trezentas) unidades de alojamento (UA), das quais 50, no máximo, podem ser apartamentos.” Na verdade, até podem ser apartamentos em regime de apart-hotel, mas negócio bem diferente do da hotelaria, e da posição assumida pela Câmara em defesa da promoção do hotel, resultará da autonomização e promoção imobiliária destes 50 apartamentos. Cumpre-me denunciar, enquanto cidadão, professor de urbanismo e vereador em exercício, que a CMA promove, com sentido de propósito, a entorse de direitos privados e do direito de todos à cidade, usando os instrumentos de urbanismo em sentido contrário ao dos pressupostos que, em primeira instância, levaram à criação dos mesmos.
"Porquê orgulho? Porque ainda não é seguro viver sem medo", opinião de Hugo Filipe Nunes
Junho é o mês do Orgulho LGBTQIA+. É um mês de visibilidade, de luta, de memória e de celebração. Mas, ano após ano, há quem insista em perguntar: “E o orgulho hetero, quando é?” Como se fosse comparável. Como se a história fosse igual para todas as pessoas. Como se o orgulho de quem foi silenciado, perseguido, ridicularizado ou agredido fosse um capricho — e não um ato de resistência. É importante dizer o óbvio: ninguém precisa de um “orgulho hetero” porque ninguém foi jamais espancado por ser heterossexual. Ninguém perdeu o emprego, foi expulso de casa ou ameaçado na rua por andar de mão dada com alguém do sexo oposto. Ninguém se viu forçado a esconder quem é — para sobreviver. O orgulho LGBTQIA+ não nasce da arrogância. Nasce da dor e da recusa da vergonha. É o contrário da superioridade; é uma resposta à humilhação imposta. Estamos em 2025. Portugal é, em muitos aspetos, um país progressista. Temos casamento igualitário, possibilidade de adoção por casais do mesmo sexo, reconhecimento legal da identidade de género, e algumas proteções anti-discriminação. Mas quem acha que “está tudo resolvido” vive numa bolha. As agressões homofóbicas continuam a acontecer. O bullying nas escolas é uma realidade. O acesso a cuidados de saúde competentes e respeitadores da identidade de género continua desigual. E há cada vez mais discursos públicos que ridicularizam ou atacam os direitos conquistados. Este ano, o mês do Orgulho acontece num contexto político particularmente preocupante. Com a extrema-direita a almejar cada vez mais poder, os direitos das pessoas LGBTQIA+ voltaram a ser alvo. Com linguagem disfarçada de “liberdade de expressão” ou “defesa da família”, o que se vê é o retorno de preconceitos já combatidos: a ideia de que somos uma ameaça à infância, de que devemo-nos “manter discretos”, de que exigir respeito é impor uma “agenda”. É neste contexto que surgem também os ataques ao chamado “wokismo”. A palavra “woke”, que começou por significar consciência social e atenção às injustiças, foi capturada e transformada num insulto. Sempre que alguém se indigna com o racismo, com a homofobia, com o sexismo ou com a desigualdade, é imediatamente apelidado de “woke”. Como se lutar por direitos fosse uma moda. Como se combater a exclusão fosse uma fraqueza. É uma estratégia velha: gozar com a linguagem para deslegitimar a causa. Mas as causas permanecem. E são justas. Não é coincidência que, em todos os países onde a extrema-direita governa ou tem alta influencia, os direitos LGBTQIA+ estejam entre os primeiros a serem atacados. A lógica é simples: criar inimigos internos, dividir a sociedade, impor uma moral única. Em nome da tradição, retiram-se direitos. Em nome da ordem, persegue-se a diferença. Mas a resposta a este avanço não pode ser o silêncio. Não podemos baixar os braços, nem tratar a igualdade como garantida. O Orgulho existe precisamente porque o perigo ainda existe. Porque, mesmo com avanços legislativos, o preconceito não desapareceu. Porque cada gesto público de afeto entre duas pessoas do mesmo sexo ainda é, muitas vezes, um ato corajoso. Porque os adolescentes LGBTQIA+ continuam a crescer com medo, sem referências, sem apoio. Enquanto existir medo, vergonha, discriminação ou violência, o orgulho é necessário. Não é provocação; é defesa. Não é espetáculo; é sobrevivência. É dizer “estamos aqui” num mundo que tantas vezes nos quis apagar. E sim, este combate é político. Porque a liberdade e a igualdade não se defendem apenas com boas intenções. Exigem leis, políticas públicas, financiamento a organizações de apoio, campanhas de sensibilização. Exigem coragem de quem governa e de quem representa, mesmo em assembleias de freguesia. Neste junho, que ninguém se cale. Que se pinte, que se dance, que se ocupe o espaço público, que se abracem causas e pessoas. Porque o orgulho não é só de quem é LGBTQIA+. É de todas e todos os que acreditam que ninguém deve ser tratado como cidadão de segunda. Se ser woke é defender quem sempre foi silenciado, então que nunca me falte orgulho de o ser.
"Mudar o Paradigma de Gestão e de Governança da UA", opinião de Filipa Brandão
Mudar o Paradigma de Gestão e de Governança da UA: Um Apelo à Liderança Participativa e à Cocriação de Soluções para o Futuro de Todos Ao celebrar mais de cinco décadas de história, a Universidade de Aveiro encontra-se num momento decisivo. Os desafios que hoje se colocam ao Ensino Superior, as restrições orçamentais, o necessário impacto social do ensino e da investigação, a sobrecarga de trabalho e em muitos casos de burnout dos seus recursos humanos, exigem uma profunda reavaliação dos modelos de liderança e gestão das Instituições de Ensino Superior. Urge transitar de modelos tradicionais de “governo” para abordagens de “governança” bottom-up, que se apoiem no ‘chão da universidade’. No centro desta transformação devem estar lideranças democráticas e transformativas assentes numa participação efetiva de Todos! O Conselho Geral da Universidade deve tornar-se o motor desta mudança. Defendemos um Conselho Geral que promova a eleição direta de todos os órgãos unipessoais, logo que legalmente possível. Que exija audições públicas abertas a toda a comunidade dos candidatos a reitor, o escrutínio aberto dos seus programas, o que é o oposto da atual situação de ‘conclave’ que reina no Conselho Geral. Defendemos um Conselho que envolva diretamente todos os segmentos da comunidade universitária, académicos e não académicos, em início de carreira e seniores, com contratos permanentes ou precários. A representação não pode ser simbólica e de cortesia para com as reitorias. O Conselho Geral deve ser a voz da comunidade e atuar como órgão de fiscalização dos órgãos da universidade: deve ser ativo, dinâmico e consequente. A governança participativa, de base, não é um ideal utópico. É uma exigência democrática. No contexto universitário, significa envolver ativamente quem trabalha e estuda na instituição na definição da sua direção, prioridades e cultura. É um modelo que reconhece os saberes diversos, as experiências vividas e as perspetivas críticas de quem está no terreno. Legitimar a governança bottom-up implica saber-se ser inclusivo e saber-se dialogar. A universidade deve refletir a inteligência coletiva da sua comunidade, o que requer dar poder de participação e decisão a Todos e não apenas às elites dos órgãos eleitos ou designados. Saber-se delegar - e não centralizar funções e decisões - é um ato de gestão inteligente. A governança participativa deve ir além da retórica. Deve estar presente nas estruturas e práticas institucionais do dia a dia. O Conselho Geral tem um potencial único para cumprir esse papel, não como mero validador das atividades do reitor, mas como espaço independente, inclusivo e construtivo de reflexão estratégica, debate e responsabilização. Para isso, precisamos de um Conselho Geral que escute, questione e proponha, que funcione como consciência coletiva da instituição. Esta visão exige uma transformação na cultura institucional. Reconstruir a confiança na governança universitária significa empoderar as pessoas. Significa garantir que docentes sobrecarregados com horas letivas excessivas, investigadores em situação de instabilidade e estudantes que procuram uma formação com sentido sintam que a sua voz conta. Governança não é controlo, é corresponsabilização. E só com corresponsabilidade poderemos construir uma universidade resiliente, inclusiva e preparada para os próximos 50 anos. Escolhamos o diálogo e a empatia com as pessoas, em vez da distância e da voz de comando, a transparência em vez da opacidade, a coragem em vez da gestão do dia a dia. Vamos co-construir a Universidade de Aveiro do futuro, em conjunto. Não para alguns, mas para todos!
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Alberto Souto acusa “Aliança” de desacreditar “sondagem” do PS por ser “muito desfavorável”
Alberto Souto não deixou de alertar os apoiantes que estavam na sessão para “não se entusiasmarem demais com as sondagens”. Num apelo aos presentes para continuarem a trabalhar para que as sondagens se confirmem nas eleições autárquicas do próximo dia 12 de outubro, o candidato reafirmou que o estudo encomendado à GfK Metris - Métodos de Recolha e Investigação Social, S.A “é séria”. Recorde-se que, conforme noticiou a Ria, a “sondagem” não se encontra disponível no site da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), condição necessária para que possa ser considerada oficial. Da mesma forma, a Gfk não é apresentada no site da ERC como empresa credenciada para realizar sondagens. A discussão sobre a “sondagem”, que aqueceu o fim-de-semana autárquico, não foi a única farpa deixada pelo candidato socialista à “Aliança” e ao executivo. A escolha do local para a apresentação da candidatura a Esgueira serviu para recuperar a discussão da demolição da antiga sede da Cooperativa para a Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados de Aveiro (CERCIAV). Diz Alberto Souto que o Centro Cultural de Esgueira, junto ao qual a sessão se realizou, seria mais uma “casa velha” para o atual executivo – uma expressão usada por José Ribau Esteves, presidente da CMA, em Assembleia Municipal, quando falava do edifício que agora deve ser demolido. “Se prevalecessem os conceitos que agora estão a prevalecer e que prevalecem no candidato que se opõe a nós, esta casa teria sido demolida, como demoliram a ‘Vivenda Aleluia’ e demoliram a [antiga sede da] CERCIAV. Não, nós recuperámos esta casa e preservámos o património”, relembrou o candidato, referindo-se ao seu tempo enquanto presidente da autarquia, entre 1998 e 2005. A olhar para o outro lado da barricada, o candidato do PS falou também do Estádio Municipal de Aveiro, um “elefante colorido” situado em Esgueira. Num momento em que diz que a campanha vai começar a “aquecer”, afirmou que é importante que as pessoas não se esqueçam que “o Alberto Souto não é o culpado de tudo o que aconteceu depois” de se decidir a construção. A decisão, recorda, foi tomada por unanimidade na Câmara Municipal em 1999 e foi “uma grande vitória para Aveiro”. Conforme já tem vindo a dizer noutros momentos da campanha, como fez na entrega de listas no Tribunal de Aveiro e na apresentação do programa para a autarquia, o candidato do PS reiterou que a CMA foi “enganada” pelo Estado no processo. Num exercício de repetição, Alberto Souto reiterou que o Município de Aveiro foi enganado duas vezes: primeiro, porque o Estádio não custou aquilo que a Federação Portuguesa de Futebol tinha dito que ia custar e, depois, porque o financiamento previsto para seis estádios acabou por ficar dividido por dez estruturas. As acusações à oposição passaram também pelo que tem sido feito na Junta de Freguesia de Esgueira, governada pela coligação de forças entre PSD, CDS-PP e PPM desde 2013. Ao dar os parabéns a Luís Martins, que diz ter sido o “capitão de equipa” na oposição, Alberto Souto considera que foram “anos de chumbo em termos democráticos na freguesia, porque não havia respeito, transparência e educação cívica”. Com a equipa que agora se candidata à freguesia, liderada por Jaime Paulo, o candidato afirma que há condições para “pôr Esgueira a andar e não parada, como tem estado”. As principais propostas de Alberto para a freguesia são condicentes com aquelas que também apresenta para o Município. Uma das grandes preocupações é a criação de espaços verdes, uma vez que, segundo diz, “não se construiu um parque público digno desse nome” em Esgueira nos últimos anos. Nesse âmbito, Alberto Souto referiu uma ideia – que, fez questão de frisar, “é uma ideia, não é uma promessa” – de conversar com os padres dehonianos para procurar um protocolo com a CMA para fazer um “belo jardim público” num espaço que está “subaproveitado e fechado”. Da mesma forma, com o objetivo de requalificar a zona do Olho de Água, o candidato propõe também que se una o Parque Aventura à Cidadela. Dessa forma, o parque passaria a ter o dobro da dimensão. No campo da habitação, o socialista identifica também questões específicas à freguesia. Em Esgueira, Alberto Souto afirma que há casas vazias e que, por exemplo, no Bairro de Mataduços, a CMA não teve capacidade de reabilitar. Também em Mataduços, o candidato do PS diz que é necessário valorizar a zona ribeirinha. O candidato aponta que é preciso pensar além da freguesia e incluir Paço, Póvoa do Paço, Vilarinho e Sarrazola para “transformar as costas das urbanizações em frentes de ria” para serem fruídas pelas pessoas. Outra prioridade que tem sido transversal às freguesias prende-se com a mobilidade. Alberto Souto insiste com a necessidade de fazer novos passeios e de ter sentidos únicos nas estradas, mas também reforça a necessidade de resolver os problemas de estacionamento. Na sua intervenção, a necessidade de solucionar a falta de estacionamento no centro de Esgueira foi também uma grande prioridade elencada por Jaime Paulo, candidato à presidência da Junta de Freguesia de Esgueira. No campo da mobilidade, o socialista refere que é preciso requalificar o estacionamento e a zona envolvente do Olho de Água e Cidadela, bem como expandir a rede de passeios e ciclovias na freguesia, especialmente a Mataduços, Águas do Norte, Quinta de Simão e Cabo Luís. Na mesma página que Alberto Souto, Jaime Paulo falou também de criar um parque natural de merendas, assim como um percurso pedestre ao longo do curso de água no Paço. Para o candidato, também é importante investir na manutenção preventiva das infraestruturas, requalificar os tanques e ampliar o Largo da Fonte, no Paço, de forma a transformar uma parte na sede da Associação dos Amigos do Paço. A aposta na cultura, no desporto e no associativismo não foi esquecida pelo candidato do PS. De acordo com Jaime Paulo, é intenção da lista candidata manter um diálogo contínuo com os clubes e associações da freguesia e organizar uma gala associativa para celebrar as entidades que se destacam. Entre outras propostas, o candidato a Esgueira apontou ainda à reestruturação das Festas Quinhentistas, à aposta na limpeza e desenvolvimento de uma rede de drenagem de águas pluviais em toda a freguesia, à necessidade de requalificar as habitações sociais de Esgueira, o interesse em criar um projeto de cuidados básicos aos idosos ou a vontade envolver mais a comunidade na tomada de decisão dos assuntos da autarquia.
Autárquicas: Agricultor João Sousa é o candidato da CDU à Câmara de Oliveira do Bairro
“Candidato-me porque nem todos sabem tudo. A CDU tem propostas e causas que é preciso continuar a defender, porque elas não estão concretizadas”, destacou. Em declarações à agência Lusa, o candidato de 75 anos, que já tinha entrado na corrida autárquica de 2021, explicou que há muito por concretizar em termos de saúde, habitação, educação e agricultura. “Há ainda outros melhoramentos para a qualidade de vida das populações do concelho de Oliveira do Bairro que pretendemos fazer. Mesmo não estando eleito ninguém da CDU ao nível do concelho, têm sido feitas propostas e elas têm sido aceites pelo executivo, principalmente este e o anterior”. De acordo com João Sousa, nas áreas da saúde, educação, habitação e agricultura, “tanto a nível nacional, como no concelho, têm sido feitos remendos”. “As propostas não se concretizam na totalidade, vão-se fazendo remendos e promessas e todos nós sabemos que não são as melhores para satisfazer as necessidades a que nós temos direito”, referiu. O candidato aludiu à questão da extinção dos postos médicos de proximidade, como aconteceu em Troviscal, de onde é natural, que “deixaram os mais velhotes distantes dos cuidados de saúde, onde até iam a pé”. “Construíram-se centros de saúde, mas não é satisfatório. Estão longe e os netos ou os filhos têm de sair de manhã e vêm à noite e quando os levam ficam sem consulta ou têm de andar táxi”, lamentou. À Lusa, disse ainda que, se Oliveira do Bairro tivesse um eleito da CDU nas próximas autárquicas, que se realizam em 12 de outubro, “o galo cantaria melhor, como diz o povo”. Na corrida autárquica, João Sousa, da CDU, vai defrontar Duarte Novo, que procura alcançar um terceiro mandato pelo CDS-PP. São também candidatos à liderança da autarquia de Oliveira do Bairro Joaquim Ribeiro, pelo Chega, José Soares, pelo PSD, e Miguel Tomás, pelo PS. A Câmara Municipal de Oliveira do Bairro é liderada por Duarte Novo, do CDS-PP, que em 2021 foi reeleito com 45,58%, enquanto o PSD arrecadou 35,50%, o PS 8,37%, o Chega 4,87% e a CDU 1,08%. O executivo da Câmara de Oliveira do Bairro é formado por quatro eleitos do CDS-PP e três do PSD.
Autárquicas: IL Aveiro apresenta candidatura com promessa de “mudança” e sem coligações
Durante mais de uma hora, foram apresentados os candidatos liberais. A primeira intervenção coube a Cláudia Rocha, cabeça de lista à Assembleia Municipal de Aveiro, que sublinhou a decisão do partido em avançar sem coligações. “Crescemos”, afirmou, destacando o aumento do número de militantes, a experiência acumulada e a mobilização em torno dos ideais liberais. Cláudia Rocha recordou ainda que, nas autárquicas de 2021, a IL apresentou “três candidaturas”, número que sobe agora para “oito”. “Apresentamos candidatos à Câmara, à Assembleia Municipal e a seis freguesias.São ao todo 150 pessoas motivadas para trabalhar pela mudança em Aveiro”, sublinhou. A cabeça de lista à Assembleia justificou ainda a escolha por quererem “fazer diferente” através de “políticas de proximidade, simplificação, flexibilidade e transparência”. “Não queremos ser a continuidade. Não queremos ser o regresso ao passado. Queremos sim ser a mudança e o futuro”, atirou numa crítica direta a Luís Souto de Miranda, candidato da ‘Aliança com Aveiro’ (PSD/CDS-PP/PPM) à Câmara de Aveiro. Também Mário Amorim Lopes aproveitou a ocasião para comparar Luís Souto de Miranda e Alberto Souto de Miranda, candidato do PS à Câmara de Aveiro, a “arroz carolino e agulha”. “Souto contra Souto. PS contra PSD. Arroz carolino e arroz agulha. Mais do mesmo. Não é daqui que nós vamos ter a transformação que esta cidade precisa para ser a tal capital da região centro e ser a capital do futuro da região centro”, opinou. “O que Aveiro verdadeiramente precisa é de um arroz de marisco apimentado, com picante, com vontade de fazer diferente e transformar”, respondeu ainda, em tom irónico, o deputado da IL. Por último, Cláudia Rocha sublinhou também a “ambição” que o partido tem para Aveiro. “Avançar sem acordo de coligação também significa isto. Clareza. Os cidadãos sabem quem propõe, quem responde e quem decide. Não há desculpas e não há jogos de empurra. A IL será sempre uma voz independente”, atentou. Sem esquecer os desafios – atuais e futuros- do concelho, a candidata deixou ainda a nota de que Aveiro precisa de “políticas ambiciosas com visão de futuro”. “Políticas de soluções viáveis que aproximem o decisor dos cidadãos. Foi com esse sentido de responsabilidade e compromisso que aceitei encabeçar a candidatura da IL à Assembleia Municipal”, disse. Juntamente com os restantes “35 candidatos” à Assembleia Municipal, Cláudia Rocha sublinhou que o partido vai “eleger o primeiro grupo parlamentar liberal em Aveiro”. “A Assembleia Municipal é muito mais do que um espaço de fiscalização da Câmara ou de cumprimento de meras formalidades para deliberar sobre as opções políticas do executivo camarário”, referiu, salientando que o mesmo deve ser um espaço de “debate” e de "construção de soluções”. “Com a IL cada decisão será feita com transparência, responsabilidade e foco nas pessoas. A fiscalização será firme, exigente e clara”, insistiu. Cláudia Rocha acrescentou também que o partido pretende aproximar os cidadãos da política municipal através da criação de “canais de participação, dando voz às associações locais e levando para a Assembleia os temas que realmente preocupam os aveirenses”. “Queremos ser uma força que explica, presta contas e convida a participar”, afirmou. Miguel Gomes, candidato da IL à Câmara de Aveiro, aproveitou, consequentemente, a sessão para apresentar algumas das medidas que integram o seu programa eleitoral: menos impostos, uma burocracia mais ágil e seguro de saúde municipal para os habitantes do concelho. Segundo o cabeça-de-lista dos liberais, esses compromissos refletem uma estratégia apostada em "transformar Aveiro num município mais livre, mais próspero e mais justo, onde o mérito é reconhecido e a liberdade individual respeitada". Nas questões fiscais, Miguel Gomes salientou que "a essência do liberalismo é confiar nas pessoas" e anunciou depois que a sua intenção é "reduzir o IMI [Imposto Municipal sobre Imóveis] para o valor mínimo legal, devolver aos aveirenses a totalidade dos 5% de IRS que a Câmara cobra anualmente e extinguir a derrama para as empresas". O candidato acredita que isso facilitará a fixação de mais famílias no concelho e atrairá investimento, para o que contribuirá também a criação de um portal online "onde qualquer cidadão pode submeter projetos de reclassificação de terrenos para habitação com resposta obrigatória em 60 dias" - porque "chega de processos que dormem nas gavetas durante anos"."Assim se promove também mais habitação", realçou o candidato liberal, defendendo uma gestão camarária "que não sufoque com burocracia e antes facilite". Miguel Gomes quer "criar em Aveiro um seguro de saúde municipal que garanta a cada cidadão liberdade de escolha para poder marcar consultas, exames e tratamentos sem depender do caos do SNS [Serviço Nacional de Saúde]", o que vê como "uma medida simples, mas transformadora e viável". As outras prioridades do candidato da IL passam pela mobilidade "urbana e rural", mediante serviços de autocarro "com horários adaptados aos turnos das empresas de Taboeira, Cacia ou Oliveirinha" e um conjunto de ciclovias que funcionem efetivamente em rede, em vez de constituírem "remendos desconexos"."Aprendemos com os erros do passado - chega de ciclovias que não vão a lado nenhum ou que põem ciclistas em perigo! Vamos resolver os pontos negros como a travessia da Avenida Europa", propôs. Quanto à rede de velocípedes partilhados, o candidato considera "incompreensível que as Bugas estejam confinadas ao centro" e anuncia que as irá "expandir para Esgueira, São Bernardo, Aradas, Santa Joana", acrescentando-lhes trotinetas. Além disso, comprometeu-se a"lutar pela modernização da linha ferroviária do Vouga e pela ligação direta a Viseu e Salamanca".Outras propostas de Miguel Gomes são a abertura das escolas à comunidade, "permitindo que associações culturais e clubes desportivos usem estes espaços para atividades"; a reabilitação da Ribeira de Esgueira para efeitos de navegabilidade, turismo náutico e lazer; a criação de "um verdadeiro parque da cidade entre o Pavilhão dos Galitos e Vilar". Na União de Freguesias de Glória e Vera Cruz, Marcelo Silva foi a escolha da IL Aveiro. O candidato aveirense de gema, conforme avançado pela Ria, tem 35 anos, é economista e ex-docente do Ensino Superior.No seu discurso, o cabeça de lista começou por questionar os presentes: “Quando é que foi a última vez que cada um de nós se deslocou à sua Junta de Freguesia para resolver um problema?”. A questão serviu de mote para sublinhar a sua crítica à falta de confiança dos cidadãos nas instituições locais, apontando que muitos acabam por desistir de procurar a Junta por não acreditarem na sua capacidade de resposta. Face a isto, Marcelo Silva avançou que a sua candidatura tem um propósito “claro”: “Devolver à Junta a confiança das pessoas”. Numa crítica direta a Glória Leite, candidata da ‘Aliança’ à União de Freguesias, assim como a Luís Souto, Marcelo atirou que: “A confiança das pessoas não significa e não se pode resumir a irmos à Feira dos 28 tirar fotos com toda a gente ou sabermos o nome de cor de toda a gente da freguesia”. “Confiança das pessoas tem que significar sempre resolver e falar com os vizinhos e eles nos dizerem ‘vai à Junta que eles vão resolver o problema’”, rematou prontamente. O candidato à Junta exigiu ainda a “responsabilização dos funcionários públicos”. “Cada queixa, cada reclamação de cada um de nós tem de ser pública, transparente, e se não for resolvida tem de prestar contas não só à Junta, mas principalmente aos cidadãos”, vincou. No que toca à Junta de Freguesia de Esgueira, o partido optou pelo nome de Jaime Faria. Natural e residente naquele lugar, o cabeça de lista tem 24 anos, é licenciado em Marketing pelo Instituto Superior de Contabilidade e Administração da Universidade de Aveiro (ISCA-UA) e é, atualmente, consultor imobiliário. Na intervenção, Jaime não escondeu a “satisfação” e a “felicidade” com o crescimento de Esgueira ao “longo dos últimos anos”, realçando que quer “mais e melhor” para a sua terra. Entre os aspetos a melhorar apontou a “literacia financeira”, “mais espaços verdes”, “mais biodiversidade” e um “maior aproveitamento da Ria de Esgueira”. Acrescentou ainda o melhoramento na área da saúde, o apoio aos mais vulneráveis e idosos e o aumento de estacionamento. Seguiu-se a Junta de Aradas. Para esta freguesia, Ana Torrão foi a aposta da IL Aveiro. A candidata tem 36 anos, é doutorada em Direito e exerce atualmente funções como jurista no setor empresarial. No que toca à governação desta Junta de Freguesia, a cabeça de lista apelou a uma maior “transparência”. “É inadmissível que os cidadãos de Aradas tenham de recorrer ao tribunal para obter informação que devia ter carácter público e é incompreensível que perante uma decisão condenatória (…) a Junta recorra a essa decisão. É incompreensível que a Junta obste a que essa transparência ocorra”, sublinhou. Recorde-se que o Tribunal Administrativo e Fiscal (TAF) de Aveiro condenou a Junta de Freguesia de Aradas – atualmente liderada por Catarina Barreto- a facultar o acesso a diversa documentação ao movimento independente ‘Sentir Aradas’. Tal como noticiado pela Ria, a Junta acabou por recorrer da decisão. A candidata falou ainda da mobilidade na freguesia, insistindo que Aradas precisa de “passeios, passadeiras e ciclovias em condições”. “Também precisamos de assegurar a manutenção regular daqueles que já existem. Muitos estão a precisar dessa manutenção. Entre buracos nas entradas (…) e passeios já com jardins a aparecer no meio da calçada, os aradenses merecem que essa manutenção seja assegurada e que efetivamente tenham a via pública disponível para circular em segurança”, atentou. A isto, acrescentou as áreas do “lazer” - dando como exemplo as “esquecidas” piscinas do Carocho- e do “desporto e cultura”. “Nós vamos apoiar as associações desportivas e culturais que tanto dignificam a freguesia de Aradas. Queremos promover eventos que envolvam a nossa comunidade de Aradas e queremos dar vida à Casa da Música, tornando-a num verdadeiro centro cultural”, expôs. “Não estamos aqui para fazer promessas vãs”, avisou Ana Torrão. Para a freguesia de Santa Joana, a escolha recaiu sobre Nuno Oliveira. Com 41 anos, natural e residente neste lugar, é hipnoterapeuta clínico, coach mental, empreendedor na área do desenvolvimento pessoal e membro da International Hypnosis Association. No seu discurso, o candidato começou por recordar algumas das memórias da freguesia, em jeito de crítica à atual gestão da Junta. “Vi associações desportivas a lutarem sozinhas.Vi património a cair no esquecimento.E o pior, vi a freguesia parar no tempo”, lamentou, sugerindo que Santa Joana “não pode continuar a ser o parente pobre do concelho”. Numa crítica direta a Luís Souto de Miranda e a Alberto Souto de Miranda atirou ainda que viu “poderes que passam de mão em mão como se a junta fosse uma herança de família”. “Mas Santa Joana não é um negócio de família, nem de castas familiares”, insistiu. Entre as propostas que “prometeu” executar na freguesia estão: as “estradas e passeios com manutenção regular e obras calendarizadas; o apoio transparente à Frente Impulsionadora Desporto e Cultura (FIDEC); a recuperação das fontes comunitárias; uma junta com serviços de apoio digitais, transparente e ao serviço das pessoas; mais transporte público e ciclovias e, acima de tudo, decisões claras, transparentes e abertas à população”. “Porque aqui na Iniciativa Liberal não há amiguismos. Aqui ninguém manda por ser amigo de alguém ou por sempre ter sido assim.A Iniciativa Liberal defende aquilo que eu acredito: liberdade com responsabilidade, meritocracia, transparência e dar às pessoas ferramentas e não promessas vagas”, afirmou. Seguiu-se o cabeça de lista à Junta de Freguesia de São Bernardo: Nuno Barraca. O candidato tem 42 anos, é natural de Leiria e atualmente reside em São Bernardo. É licenciado em Engenharia Geológica pela UA e empresário na área da geotecnia e geofísica, tendo fundado a empresa GeoAviz. Na sua intervenção, Nuno Barraca criticou também a gestão atual da junta, realçando que a freguesia funciona, nos dias de hoje, em “piloto automático”. “Doze anos do mesmo poder e pode-se ver uma freguesia acomodada”, comentou, apontando a “insegurança” como um dos principais problemas que afetam São Bernardo. “As ruas mal iluminadas, locais que temos dificuldade de circular, espaços abandonados, etc. É uma vaga de assaltos que assola as nossas casas e os nossos comerciantes”, descreveu. No seguimento, acrescentou ainda a “estagnação” que, segundo o candidato, é visível no “antigo centro de saúde mental de Aveiro”. “Há mais de uma década que vemos os nossos responsáveis políticos a dizer que estão preocupados com a ruína no coração da nossa freguesia. A preocupação não é um plano, não resolve problemas. É um retrato da gestão que desistiu de lutar por São Bernardo”, atirou. Criticou ainda a proximidade da Junta. “Falam que a Junta de Freguesia de São Bernardo está sempre de portas abertas. Em 2025, portas abertas é o mínimo que se quer numa junta de freguesia. Proximidade não é um horário de expediente e uma conta de correio do hotmail no site”, atirou, sugerindo “três propostas concretas”: “Uma auditoria completa à segurança da freguesia de São Bernardo”; “uma junta de freguesia de contas certas” e “uma aplicação móvel para reportar problemas da freguesia”. Por último seguiu-se a freguesia de Cacia com o candidato Moisés Braz. Natural de Aveiro e residente no Paço, o cabeça de lista tem 21 anos, é estudante de Engenharia Informática Aplicada na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda (ESTGA), na UA, tendo também completado uma formação como técnico superior em programação de sistemas de informação. No discurso apelou, entre outros aspetos, a “mais oportunidades e saúde”, “mais estradas recuperadas”, “mais vias pedonais” e “segurança” para as crianças. “Para esse efeito, a criação e renovação dos parques na Póvoa do Paço, Vilarinho, Sarrazola, Quintal de Loureiro e Cacia são essenciais”, considerou, acrescentando ainda a intervenção no Rio Novo do Príncipe. “A sua reabilitação é crucial para o bem-estar de todos os cidadãos. Pode ser o orgulho de Cacia. Chega de promessas vazias. Chega de abandono. Não podemos deixar a piscina de verão continuar esquecida.Cacia precisa dela”, insistiu.
Patenteado dispositivo de tratamento de águas criado na Universidade de Aveiro
O dispositivo e o processo de tratamento eletrolítico de águas para consumo doméstico foram desenvolvidos pelo Instituto de Materiais de Aveiro (CICECO) e pelo Departamento de Engenharia de Materiais e Cerâmica (DEMaC) da Universidade de Aveiro (UA), tendo ambos sido alvo de concessão de patente nacional. De acordo com uma nota universitária, a equipa de investigação desenvolveu um sistema de tratamento eletrolítico de águas para consumo doméstico “que assegura a qualidade ao longo da rede de distribuição de águas, bem como o processo de operação do dispositivo”.“O dispositivo e o processo desenvolvidos para o tratamento da água municipalizada consistem numa configuração interna de circulação da água única que, aliada ao contacto com elétrodos cerâmicos revestidos com filme fino de diamante dopado com boro, garantem a sua multifuncionalidade”, descreve a nota. Segundo a mesma fonte, o sistema apresenta ainda as vantagens de funcionar à temperatura ambiente, pressão atmosférica, e a baixos valores de tensão elétrica aplicada. Os inventores da tecnologia explicam que, “ao longo da rede de distribuição de águas, a água municipalizada pode sofrer alterações até entrar nas casas, podendo conter poluentes inorgânicos e orgânicos indesejáveis, ou ainda microrganismos nocivos à saúde pública”. “As principais funcionalidades deste dispositivo consistem na eliminação sustentável e eficiente desses poluentes inorgânicos/orgânicos e microrganismos, através de um processo de eletroxidação amplificado pela configuração interna de circulação de água no sistema”, acrescentam. Outra funcionalidade é a de reduzir a dureza da água e a garantia de “uma autolimpeza eficiente.” O processo de proteção da tecnologia foi conduzido pela “UACOOPERA”, estrutura da Universidade de Aveiro responsável pela proteção de resultados de investigação e desenvolvimento da comunidade académica, que acompanhou as fases até à concessão da patente em território nacional. A equipa de investigação responsável é constituída por Violeta Girão, Filipe Oliveira, Miguel Neto, Rui Silva e pelo ex-estudante de mestrado José Soares. A tecnologia que se encontra patenteada foi desenvolvida no âmbito do projeto SGH – Smart Green Homes, liderado pela Bosch Termotecnologia SA e pela Universidade de Aveiro.