RÁDIO UNIVERSITÁRIA DE AVEIRO

Universidade

Pousada da Juventude: Estudantes afirmam não ter condições e desconhecem apoio para arrendar quarto

Após dois meses da Pousada de Juventude de Aveiro estar a servir como residência estudantil, a Ria conseguiu falar com três dos quatro estudantes que, atualmente, lá pernoitam. Entre as várias trocas de conversas, a maioria dos estudantes partilharam descontentamento com as condições “mínimas” que o espaço dispõe. Entre as principais, apontaram a falta de armário nos quartos e a falta de cozinha. Dois deles admitiram ainda desconhecer a possibilidade de acesso ao complemento de alojamento.

Pousada da Juventude: Estudantes afirmam não ter condições e desconhecem apoio para arrendar quarto
Isabel Cunha Marques

Isabel Cunha Marques

Jornalista
15 nov 2024, 18:00

Afonso está no primeiro ano da licenciatura em Finanças no Instituto Superior de Contabilidade e Administração da Universidade de Aveiro (ISCA-UA). É atualmente trabalhador-estudante em regime pós-laboral. Diretamente de Mondim de Basto, em Vila Real e sem possibilidade de pagar um quarto na cidade de Aveiro (face aos preços praticados), decidiu candidatar-se a uma bolsa de estudo no Ensino Superior. Solicitou também o alojamento em residências dos Serviços de Ação Social da Universidade de Aveiro (SASUA). No dia 15 de setembro, ou seja, um dia antes do início do ano letivo na UA, recebeu a resposta que tanto ansiava: “Vimos por este meio informar que a sua candidatura a alojamento universitário para o ano letivo 2024/2025 foi deferida, tendo-lhe sido atribuída uma vaga na Pousada da Juventude de Aveiro, ao abrigo do protocolo celebrado entre o Ministério da Juventude e Modernização, o Ministério da Educação, Ciência e Inovação e a Movijovem. Deverá informar, por email, para este endereço até 20 de setembro de 2024, se pretende ocupar o lugar que lhe foi atribuído, perdendo o direito ao mesmo se o não fizer até essa data”, lê-se no email a que a Ria teve acesso. No mesmo email, não é apontada outra alternativa ao estudante, como por exemplo o acesso ao complemento de alojamento em quarto particular, nem existe qualquer referência ao facto da utilização da Pousada da Juventude ser uma solução provisória.

Tendo em conta a ausência de alternativas, Afonso não tardou a aceitar a vaga na Pousada da Juventude. Afinal ter um quarto pago, neste momento, seria a única opção para conseguir prosseguir o seu sonho na sua universidade.

Um dia depois seguia rumo a Aveiro, acompanhado pelos seus pais, para conhecer o novo espaço onde ficaria, pelo menos, durante o primeiro ano do ciclo de estudos. Apesar das expectativas elevadas não as tardou a defraudar, ao deparar-se com a falta de condições do espaço assim que chegou à Pousada da Juventude de Aveiro [onde ficou colocado]. Entre as principais queixas descreveu a falta de armário para a roupa no quarto e a falta de cozinha. “Sinceramente e sendo honesto, como sou de muito longe, preciso de fazer entre quatro horas de viagem (…) é chato para nós termos a roupa toda no chão, nas malas, e todos os fins de semana andar de lá para cá sempre com a roupa… Torna-se complicado. Também o facto de não ter cozinha é um bocado chato, porque nós somos estudantes e às vezes o orçamento para comer não é assim tão grande quanto isso e se tivéssemos uma cozinha se calhar dava uma ajuda”, partilhou à Ria.

Descontente com o cenário que encontrou decidiu contactar os SASUA, dois dias depois, no dia 17 de setembro, a expor a situação. Acabou por obter resposta ainda no mesmo dia: “Boa tarde, Afonso. De momento não existem mais vagas disponíveis”. Novamente desapontado com a resposta, voltou a questionar se não haveria uma outra solução ao que lhe foi novamente informado que, “de momento”, não haveria uma outra opção.

Ainda sem se conformar com o que lhe haveria sido informado, o estudante decide voltar a questionar os SASUA: “Boa tarde, caso eu decida alugar um quarto fora das residências, continuo a receber o dinheiro que me é dado para pagar um quarto numa residência universitária, mesmo não estando lá ou cortam-me esse subsídio na totalidade?”. Face a isto, os SASUA informaram que “não aceitando a vaga disponibilizada, não tem direito ao apoio para pagamento de quarto particular”.

Segundo o disposto no Regulamento de Atribuição de Bolsas de Estudo a Estudantes do Ensino Superior (RABEEES), nomeadamente, nos artigos 18.º e 19.º, lê-se que o alojamento fora das residências dos Serviços de Ação Social (SAS) aplica-se a estudantes que tenham requerido a atribuição de alojamento em residência e “não o tenham obtido”, beneficiando de um “complemento igual ao valor do encargo efetivamente pago pelo alojamento e comprovado por recibo, até ao limite de 30% do IAS”. Só no caso de o estudante recusar o alojamento “em residência de SAS” é que “não pode beneficiar de complemento de alojamento”. O que não seria, aparentemente, o caso de Afonso, que tinha sido colocado na Pousada Juventude de Aveiro.

“Já viu o que é os miúdos estarem a semana toda com as malas no chão?”

Preocupada com a situação do filho, também Isabel Carvalho decidiu contactar os SASUA, por email, no dia 17 de setembro. “Boa tarde, o meu filho ficou alojado na Pousada de Juventude. As condições daquele espaço são bastantes más e não vão permitir o repouso físico e mental do meu filho, pergunto, há possibilidade de poder mudar de residência?”, expôs. Após várias trocas de email, entre esta mãe e os SASUA, a última comunicação ocorreu no dia 26 de setembro, tal como consultado pela Ria, onde Isabel informou os Serviços de Ação Social do nome do filho, na altura solicitado pelos próprios. Segundo esta mãe, o filho acabou por ser chamado aos SASUA onde lhe foi dito “que eu não devia ter enviado email porque ele [Afonso] já era maior de idade e não devia ter feito o que fiz”.

Cerca de dois meses se passaram e Isabel Carvalho continua sem se contentar com a falta de respostas e soluções por parte dos SASUA. Em conversa com a Ria, Isabel começou por recordar o dia em que trouxe Afonso até à Pousada de Juventude de Aveiro. “Deparei-me com um aspeto de tudo muito degradado. Na entrada da porta notava-se já que era um espaço descuidado, tanto no interior como no exterior. Fiquei muito dececionada… Uma pousada estar assim naquele estado. Dentro também se notava… Tudo cheio de humidade, frio, sem limpezas (…) Na altura, não falei muito porque foi um dia muito stressante, porque nós saímos de Mondim de Basto e apanhámos os incêndios. Saímos às 10h30 e só chegamos às 16h30 a Aveiro. Foi um stress... Mas aquelas instalações não me agradaram nada”, expôs. “No dia 18 [de setembro] enviei um email para os Serviços de Ação Social da Universidade a perguntar se havia possibilidade de mudar o meu filho para uma residência e disseram-me que o meu filho tinha ficado alojado na Pousada da Juventude…. Isso eu já sabia. Eu fui levar o meu filho, já sabia que tinha ficado alojado naquele sítio. Eu voltei a enviar email a dizer que aquilo não tinha condições… Nem mentais, nem físicas, para um estudante poder dedicar-se ao estudo”, continuou.

De acordo com esta mãe, logo na primeira noite o filho queixou-se que a cama “rangia muito”. “Eu fiquei incomodada por ele e pelo colega de quarto que está com ele. Não me responderam a esse email”, apontou.

Entretanto e de forma a solucionar a falta de equipamentos, nomeadamente no quarto, Isabel Carvalho adiantou ainda que enviou um email à Pousada de Juventude a solicitar se poderia levar, pelo menos, um armário para colocar no quarto do Afonso. “Os miúdos têm lá as malas no chão… Não têm sítio para pôr as coisas. A única coisa que têm é uma coisa tipo tecido que normalmente compramos para pôr dentro do roupeiro. Depois têm uma secretária muito pequena com 60 centímetros e que está ao lado do outro colega e eu perguntei se haveria possibilidade de levar o armário. A pousada respondeu-me que estava à espera de que (…) viessem todos os estudantes para fazer um levantamento do mobiliário que era necessário e (…) comprar. Até hoje, não tive mais nenhuma resposta”, lamentou.

Para Isabel toda a situação é “muito má”. “Nós queremos que os nossos filhos estudem, mas queremos que eles tenham o mínimo de qualidade enquanto estão fora de casa. Acho que isso faz parte da Universidade e do Governo fiscalizar o alojamento em questão. Neste caso, como as pousadas fazem mais parte do Governo ainda mais grave é. Se fosse um alojamento privado há muita coisa que não é fiscalizada, mas neste caso acho que deviam de ter assegurado o mínimo”, apelou. “Já viu o que é os miúdos estarem a semana toda com as malas no chão?”, questionou à Ria. “É roupa suja, é roupa lavada, não têm um sítio para pendurar casacos, toalhas de banho… O Afonso traz a roupa toda da semana para lavar. É 1h30 de carro até Mondim de Basto e de transporte público são 2h00”, sustentou.

No que toca ao espaço de refeições também não deixou de apontar críticas. "Tem lá um espaço que supostamente é o espaço das refeições em que, na altura, só tinha um micro-ondas, não tinha frigorífico ainda, mas disseram-me que iam receber um. Entretanto, passado duas semanas o Afonso disse-me que meteram lá um frigorífico para os miúdos poderem fazer as refeições. Só têm um micro-ondas… Os miúdos não comem lá [a pousada não tem cozinha, ao contrários das residências dos SASUA], mas se comessem também era complicado de aquecerem…”, reconheceu.

Sobre o quarto referiu ainda que “é frio, pequeno, com três metros quadrados (…) Cada vez que os miúdos querem ter acesso têm de pedir a chave na entrada. A sala de estudo é a mesma coisa. Tem lá três mesas e umas cadeiras. Também é uma coisa fria. Não tem condições”, descreveu. “Eu não peço o conforto de casa, mas o mínimo”, voltou a apelar.

Desempregada desde abril deste ano, Isabel Carvalho referiu que se sente entre a espada e a parede ao ser “obrigada” a aceitar estas condições para o filho. “Queres que o teu filho estude, tens de aceitar. É muito complicado. Nós andamos a ver preços em Aveiro e é tudo muito caro, porque mesmo que ele recebesse um valor do apoio ao alojamento e nós pudéssemos colocar mais algum… Mas mesmo assim é muito complicado”, confessou. “Eu cheguei a falar com um senhor que tinha um quarto afastado sete quilómetros da Universidade e o valor era de 300 euros”, frisou.

Quando questionada sobre os motivos do seu filho não estar a usufruir do complemento de alojamento, destacou também que “nunca lhe foi dada essa possibilidade”. “Apenas me disseram que ele ficou alojado na Pousada da Juventude. Se recusasse teria de pagar tudo à minha custa porque ele não teria direito a nada. Só no próximo ano letivo é que poderia voltar a meter os papéis e podia voltar a acontecer o mesmo. Ficar alojado na pousada”, afirmou. Face a isto, não deixou de esconder a tristeza e a revolta que sente: “já custa que eles saiam de casa… E depois saber que eles não têm o mínimo de condições…. Pelo menos, um quarto com uma cama como deve ser, um armário para meter a roupa…. Tem algum jeito as malas no chão…”, repetiu.

“Dá a sensação de que sou só um turista”

Diogo Oliveira é outro dos estudantes do 1º ano da licenciatura em Administração Pública na UA que ficou colocado na Pousada de Juventude. Candidatou-se também a alojamento em residência dos SASUA por não ter possibilidade de pagar um quarto na cidade. Do que viu [em termos de preços] os quartos rondavam, em média, os “300 euros, mais despesas”. Para o estudante esses preços eram insustentáveis. Na altura, o que os SASUA o informaram é que se “não tivesse direito a um lugar na residência me ajudavam a pagar um quarto”, nomeadamente através da atribuição do complemento de alojamento. Contudo, quando confrontado com o valor do complemento de alojamento para bolseiros, no ano letivo 2024-2025, em Aveiro, publicado em Diário da República, no valor de 331,02 euros, Diogo Oliveira mostrou-se surpreendido com o montante. “Não tinha noção do valor. Apenas me informaram que eu teria direito a um complemento [não referiram o valor]... Inclusive deram-me a entender que se abrisse uma vaga na residência (…) e se estivesse a receber o complemento e a recusasse também me cortavam o direito ao complemento”, partilhou. “Supostamente também tinha de arranjar um quarto em que não tivesse contrato de um ano… Se assumisse o compromisso com o quarto e depois a meio do ano aparecesse uma vaga na residência era um bocado chato”, continuou. Se Diogo tivesse consciência do valor do complemento, “efetivamente, não queria estar aqui [na Pousada da Juventude]”.

Entre os principais problemas da pousada, tal como Afonso já tinha referido, reconheceu a falta de cozinha e de armário no quarto como os principais. “A roupa está quase sempre na mala e isso dá a sensação de que sou só um turista e que estou em férias. Às vezes, não me sinto estudante”, reconheceu. Numa perspetiva mais positiva reconheceu que, apesar de tudo, “são coisas que dão para ultrapassar”. “Estudar na biblioteca acredito que seja uma forma de recurso boa. Acho que a universidade deve manter isto como um último recurso… Agora a longo prazo é complicado…”, aconselhou.

No que toca ao seu quarto descreveu-o como “gentil”. “Eu divido com um colega que, neste momento, também é estudante. Tem duas camas de solteiro simples, relativamente separadas. Tem o seu espaço. É agradável. Tem uma secretariazinha e um espaço improvisado que serve de armário. Tem um cabide….”, apontou.

De forma a conseguir organizar-se e a lavar a roupa todas as semanas, Diogo explicou que vai a casa [a Viseu] todas as semanas. “Houve um fim de semana em que não fui a casa por causa do ‘Integra-te’ e não foi uma experiência muito agradável (…) neste momento, tenho uma mala para a roupa suja e outra para a roupa lavada. Uma pessoa usa esta técnica porque é aquela que funciona”, reconheceu com uma gargalhada. Nessas idas a casa, o estudante aproveita ainda para trazer comida feita de casa em tupperwares. “Eu também nunca fui um grande fã de cantina. Regra geral eu trago sempre comida de casa (…), no máximo, para quatro dias. Como muitas vezes arroz que faço no micro-ondas, atum, etc”, confessou.

Sobre a casa de banho da Pousada de Juventude, Diogo adiantou que a mesma funciona em regime balneário. “A casa de banho dá-me novamente a sensação de que estou de férias”, reconheceu. Ainda sobre a logística do espaço e do quarto, o jovem revelou que tem sempre de entregar a chave da porta do quarto na receção e que a “partir das 23h00/23h30 a porta principal encerra”. “Já me aconteceu de chegar à noite e ter de ligar a uma pessoa para me abrir a porta”, criticou.

Face ao exposto, o jovem questionou-se ainda quanto ao facto de ninguém ter procurado saber como os estudantes estão [na Pousada de Juventude]. “É um bocado estranho”, comentou em jeito de desabafo. “Já estou aqui há cerca de dois meses e a primeira pessoa que veio cá [falar com os estudantes] foi a Ria”, brincou.

“Para mim estar aqui acaba mesmo por ser uma necessidade”

Para Francisco Ribeiro, trabalhador-estudante no 2º ano do curso de Contabilidade Financeira na UA, a Pousada de Juventude não foi uma novidade. Já no ano passado tinha escolhido permanecer no espaço por opção própria. “No primeiro ano encontrei isto por acaso, estava à procura de casa e lá no ISCA, na secretaria, disseram-me que tinham isto aqui disponível. Eu vim aqui e pedi um quarto e comecei a pagar a mensalidade”, recordou. Na altura, enquanto aluno bolseiro ficou a receber complemento de alojamento o que lhe permitiu pagar a estadia, ao longo do primeiro ano, na pousada. “O quarto em comum era 500 euros, mas como eramos dois era 250 euros [a cada um] se não me engano (…) No ano passado, ainda não existia este protocolo [do Governo]”, justificou.

Questionado sobre o porquê de ficar ali um segundo ano, Francisco explicou que a opção se deveu ao preço dos quartos disponíveis na cidade e à localização da pousada. “Fui outra vez à procura e os quartos que estavam disponíveis eram muito longe e a um preço bastante elevado e exagerado a meu ver. Então acabei por vir para aqui porque no ano passado como tive uma experiência boa estava a contar que a experiência fosse a mesma”, partilhou.

Dos quartos privados que encontrou, através da pesquisa na internet e da procura de anúncios pelos cafés da região, a maioria dos quartos eram partilhados e rondavam os “350 euros”. “Cheguei a ver um na Praia da Barra. Era uma distância ainda muito grande (…) Não ia estar a apanhar o autocarro todos os dias ou a ir e vir do Porto [onde reside] … Não havia necessidade. Como a pousada era um preço mais acessível para a minha situação e muito mais perto acabei por optar por vir para aqui”, sustentou o trabalhador-estudante.

Enquanto estagiário nos bombeiros de Gondomar, Francisco adiantou à Ria que os únicos dias que acaba por ficar em Aveiro, atualmente, são às terças e quintas-feiras. O resto dos dias permanece na sua residência. Para este, a pousada “pode vir a ter condições, mas, por exemplo, para quem não tem nada e não tem para onde ir (…) acho isto melhor do que nada. Pelo menos a meu ver. Para mim estar aqui acaba mesmo por ser uma necessidade”, reconheceu.

Sobre o quarto, ao contrário dos seus colegas, diz que “até é confortável”, que o arrumam “uma vez por semana” e que a solução para o roupeiro foi trazer um de casa. No entanto, Francisco apenas dorme na Pousada da Juventude duas vezes por semana. “Temos duas camas e duas secretárias para ficar lá a estudar. Sempre que chegam novos estudantes eles fazem questão de colocar a secretária. Eu tive de trazer roupeiro de casa, mas eles forneceram-me as cruzetas”, constatou. Em relação ao ano passado, disse ainda que foi criada uma sala de estudo “para os estudantes não terem de ir para a biblioteca da universidade”.

Como principal crítica à pousada apontou a falta de cozinha. “Aqui não há cozinha. Só há micro-ondas e frigorifico. Eles aqui fornecem-nos o pequeno-almoço e o resto tens de ou ir comer fora ou à cantina. Isso é uma coisa que eu por acaso acho que deviam colocar – uma cozinha para os estudantes. Às vezes não me apetece ir comer à cantina ou esperar nas filas e não tenho esses equipamentos necessários”, apontou Francisco.

“O estudante não é obrigado a ficar na Pousada”

Segundo João Ribeiro, diretor delegado dos SASUA, este ano, na UA pediram apoio social, até agora, perto de “4000 estudantes”. No entanto, a expectativa [face aos anos anteriores] é que o número aumente e volte a atingir os “4600 pedidos de apoio social”.

Das cerca de 1100 camas disponíveis nas residências dos SASUA, apenas perto de “800” puderam ser utilizadas, este ano letivo, pelos estudantes, tendo em conta as obras que estão a ser levadas a cabo nas mesmas pela UA. De acordo com o diretor delegado dos SASUA isto significa que cerca de “500 estudantes não ficaram alojados [nas residências] e que podem beneficiar de complemento de alojamento”. Destes, “cerca de 300 estudantes” já têm complemento de alojamento e “200” estão ainda em processo de análise.

Para um estudante ser colocado numa residência, além de ser necessário ter vaga num quarto, há um conjunto de critérios que contam, entre eles, “ser aluno carenciado e a distância de residência”. “Isto como princípio, mas nem sempre será assim. Imaginemos um estudante de Ovar e outro de Mira com as mesmas condições… Um estudante de Ovar tem transporte, tem um comboio. Mira não tem. É preciso sinalizar caso a caso. Daí isto ser trabalhoso. Nós temos de o fazer com credibilidade”, partilhou João Ribeiro à Ria. Além do mais, a perspetiva do alojamento quando os estudantes são colocados em residência é que fiquem alojados até ao final do seu ciclo de estudos. “Portanto, aqueles que vão saindo e que terminam o seu ciclo de estudos é que libertam as vagas para serem ocupadas pelos novos estudantes”, completou.

Excecionalmente, pela primeira vez, além das vagas à residência universitária foram ainda disponibilizadas, em Aveiro, mais 22 camas, tal como noticiado pela Ria, no âmbito do Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior. Um programa que visa mitigar a escassez de opções habitacionais para estudantes em diversas regiões do país. O protocolo de renovação de colaboração entre o Governo, a Movijovem e o INATEL permitiu ceder, este ano, no total, “706 camas, 603 são disponibilizadas na rede de Pousadas de Juventude”, segundo Hugo Silva, assessor da direção da Movijovem, em resposta à Ria.

“Não tendo nós alojamento nas nossas residências [na UA], ocupamos logo no imediato o alojamento na pousada, em situação provisória, daquilo ter as condições mínimas exigidas, ou pelo menos, muito próximas daquilo que é a oferta universitária”, explicou o diretor delegado dos SASUA. “O estudante não é obrigado a ficar na pousada”, afirmou, realçando que o alojamento na pousada “tem um caráter transitório precisamente por (…) não satisfazer todos os requisitos, mas cumpre com os requisitos mínimos”. Contudo, nos emails enviados aos estudantes, aos quais a Ria teve acesso, não é feita referência ao caráter transitório da utilização da Pousada da Juventude.

Recorde-se que, já em entrevista à Ria, no dia 19 de setembro, Cármen Monteiro, diretora de serviços dos SASUA e João Ribeiro asseguraram, após uma visita ao local, que o espaço cumpria com os requisitos “mínimos”, tendo em conta a “urgência” e a falta de alojamento na cidade. Entre as várias carências identificadas apontaram, entre os exemplos, o facto de serem quartos duplos ou quádruplos, a falta de cozinha ou o facto de as casas de banho funcionarem em regime de balneário.

Após dois meses [dessa conversa], João Ribeiro assegurou agora que os equipamentos necessários dos quartos vão ser adquiridos, uma vez que existe já autorização, “por parte da tutela”, para proceder a essa aquisição. “A Pousada tem também já autorização para transformar quartos triplos em quartos duplos porque esse é um referencial da UA na construção das novas residências, precisamente, para promover o combate ao isolamento e promover o bem-estar”, acrescentou.

No que toca à promessa das “22 camas” para Aveiro, o diretor delegado dos SASUA assegurou que, por enquanto, ainda não está disponível a totalidade das camas, já que algumas “não satisfaziam os requisitos mínimos”. “Aquilo que a Pousada de Juventude libertou foram 22 camas, mas algumas destas camas eram em quartos triplos. Nós aí dissemos logo que não”, justificou. No entanto, “até ao final do ano, ainda pode haver mais do que 22 camas. Depende das condições, do tal investimento no mobiliário nas condições mínimas e da transformação dos quartos triplos em quartos duplos”, reafirmou João Ribeiro.

Sobre os emails enviados aos estudantes, João Ribeiro diz que é tudo “uma questão de interpretação”

Até agora apenas quatro estudantes aceitaram ficar alojados na Pousada de Juventude de Aveiro, segundo os SASUA. O diretor delegado referiu que esta opção [da pousada] apenas se aplicou para os cerca de “200 estudantes do primeiro ano” já que os restantes, expectávelmente, “já estão alojados” [nas residências]. Apesar do número irrisório [de alunos colocados na pousada], João Ribeiro diz que os dados não lhe causam estranheza realçando que “estes 200 processos não são analisados ao mesmo tempo” e que a pousada funciona apenas “como um ponto de transição”. “No momento em que o estudante concorre [à vaga na residência], nós dizemos que temos essa cama disponível na pousada de juventude, mas ele pode não aceitar. Aí a responsabilidade do alojamento é dele”, alertou. Neste caso e se for aluno bolseiro, segundo o diretor delegado, passa a ter acesso ao complemento de alojamento, uma vez que, “não encontrou vaga em residência universitária. Excecionalmente, este ano, também na pousada”. Questionado pela Ria sobre o número de alunos de primeiro ano que tiveram a opção de escolha da pousada, João Ribeiro assegurou que, “neste momento”, não consegue avançar com um número exato.

Interpelado sobre as diferentes versões dos estudantes com quem a Ria falou, nomeadamente no que toca ao desconhecimento [da existência ou do valor] do complemento de alojamento, João afirmou que “não é verdade” e que não iria comentar coisas que não ouviu. “Não posso comentar. Posso comentar casos concretos”, sublinhou. Para este, tudo se resume a “uma questão de interpretação”. “Em lado nenhum nós temos qualquer comunicação e nem houve sequer qualquer funcionário dos SAS que tenha comunicado que perde o complemento ao alojamento”, garantiu. “Eu vou-lhe criar uma divergência… De que cor é este papel? (….) Porque é que ninguém diz que isto tem uma determinada cor? Eu digo-lhe uma: isto nem sequer cor tem (…) Uns podem dizer que é vermelho, outros cor salmão… E eu digo que isto não tem cor, simplesmente (…) Essa é que é a questão”, exemplificou, destacando que o processo é igual para toda a gente. “A forma como as pessoas interpretam o email é que é diferente”, atirou.

Novamente questionado sobre o mesmo assunto, João Ribeiro acrescentou ainda à Ria que “vai ter de lhes perguntar a eles [sobre os motivos do desconhecimento do complemento] (…) e que vão dizer, como dizem sempre, que não são informados ou que ninguém os informou”. “O que eu estou a admitir, neste momento, é que ele foi informado. E foi informado numa forma que é usual no procedimento. A forma como interpretou é que não sei. Agora se diz que foi informado que perdia o complemento de alojamento eu digo que não é verdade”, insistiu.

Relativamente ao acompanhamento próximo dos estudantes que estão na pousada, o diretor delegado reconheceu que “isso não acontece” e que “não há capacidade” para tal com os “quatro” técnicos dos SASUA. “Nem acontece em lado nenhum. Estamos a falar de adultos. Agora, os adultos que chegam à Universidade têm de ser acompanhados diariamente para explicar como se atravessa a estrada? (…) Estamos a colocar a coisa num nível que parece que estamos a falar de pessoas incapazes…. Estamos a falar de pessoas adultas. A questão que me está a colocar é uma questão que se coloca se as crianças estão a ser acompanhadas”, comparou. “Não é possível esse acompanhamento. Para fazer isso com os técnicos os processos vão deixar de ser analisados e vamos atrasar o processo de atribuição de alojamento. Estamos a falar de adultos. O processo foi analisado, foi conversado com eles, aceitaram, enviaram email para a pousada, a pousada tem os dados das pessoas que lá chega, a pessoa apresenta-se…”, descreveu.

Para João Ribeiro cabe aos alunos dirigirem-se e reportarem aos SASUA os problemas da pousada. “A questão que é importante reter aqui é que nós estamos a lidar com uma grande proximidade este processo (…) e com muita responsabilidade. Dentro daquelas que são as limitações nós temos de garantir o mínimo de condições aos estudantes. É a nossa obrigação. Nós não abandonamos estudantes. Não podemos. A nossa missão é acompanhar, mas não é ajudá-los a atravessar a estrada. (…) Aqui, em Aveiro, até é uma ponte”, reforçou.

Confrontado com o conhecimento do caso de Isabel Carvalho [mãe de Afonso, um dos estudantes colocados na Pousada de Juventude], o diretor delegado exprimiu que “nem quer que [lhe] chegue, honestamente”. “Estamos a falar precisamente de adultos e é com os adultos que nós devemos de interagir. E quando nós atendemos os pais é por (…) respeito, porque de facto nós não temos de interagir com os pais. (…) Nós temos de interagir com o estudante”, sustentou. Sobre se essa técnica afirmou a essa mãe que “não devia ter enviado email”, João Ribeiro referiu que não sabe se a técnica afirmou isso e que quem está a afirmar isso é a mãe. “Falta ouvir a outra parte”, atentou. “O retorno que eu tenho é que estas técnicas têm experiência suficiente e anos de serviço suficientes para não fazerem isso”, defendeu, relembrando ainda a lei de proteção de dados pessoais.

“Os pais pagam os estudos, certo? Alguns deles pagam as propinas. A quem é que é comunicado os resultados académicos do estudante? Ao estudante. Nem sequer podem ser comunicados aos pais…. Proteção de dados pessoais. Os pais pagam, mas naquilo que diz respeito à vida do estudante é ao estudante, não é aos pais. É preciso posicionarmo-nos aqui (…) Não podemos colaborar na criação de um clima de ambiguidade”, sugeriu.

No que toca às condições da Pousada de Juventude, João Ribeiro recordou que o espaço “só está assim porque o concurso ficou deserto para melhorar as condições”. “Não sei se o lançaram novamente, mas eu registo o esforço que está a ser feito por todas as partes. Nem sequer há resistências. Todas as ações que estão a ser desenvolvidas estão a ser feitas para criar boas condições. Todas as partes. Isto é uma não questão. Pegarmos nisto da forma errada é uma não questão”, reforçou.

O diretor delegado dos SASUA sugeriu ainda que “não podemos assumir queixa por queixa como sendo a verdade”. “Não podemos assumir algumas opiniões políticas sobre a matéria e entender, porque é ruído. Dizer que a pousada não tem condições…. Também já ouvi um político da terra a argumentar que aquilo não tem condições, mas até recebeu umas pessoas com a covid”, recordou.

Também Pedro Lages, provedor do estudante da UA, recomendou, no passado dia 11 de outubro, a “reapreciação da utilização da Pousada de Juventude de Aveiro como apoio ao alojamento de estudantes” e que a “indicação para a sua utilização seja feita sempre em última instância” e que, no caso de os estudantes não encontrarem uma vaga num outro alojamento, que se “privilegiem os quartos duplos ao invés dos triplos”.

Para João Ribeiro “é revoltante” só se falar de “ruído” à volta da temática da pousada. “Repare que tudo o se falou hoje sobre a pousada não foi nenhum discurso, nem nenhuma ação conducente à resolução dos problemas. Pelo contrário. Só se falou de ruído. As entidades estão a trabalhar para que a cama exista, para que o estudante não abandone o ensino. Ninguém fala disto. Só se fala do acessório”, exprimiu. “A pousada é má porque recebeu tudo e todos? A Pousada é má porque não fizeram intervenções quando deviam ter feito, é má porque adiaram até ao limite as intervenções que ela carecia e agora somos confrontados com uma carência de alojamento no Ensino Superior e alguém tenta resolver os problemas…”, continuou.

No caso de Aveiro, tal como noticiado pela Ria, apesar de já existir a intenção de requalificar a Pousada de Juventude de Aveiro, após um ano, o segundo concurso para proceder à empreitada voltou a ficar “deserto”. A obra tinha um valor base superior a 1,5 milhões de euros e um prazo de execução de dez meses.

“Para mim o objetivo é apoiar e alojar os estudantes. E garantir-lhe condições. E refletir sobre aquilo que é transitório e aquilo que é efetivo. É isso que fazemos. Nós não podemos permitir que um estudante chegue à UA e que vá embora e que não volte mais porque não encontra uma cama. Não. Nós apoiamos. Se for necessário nós até colocamos a alimentação lá. Dentro da igualdade dentro do campus. Nós avaliaremos todas as situações”, finalizou o diretor delegado.

Recomendações

Aveirense Fernando Ramos reconduzido na reitoria da Universidade Portucalense
Universidade

Aveirense Fernando Ramos reconduzido na reitoria da Universidade Portucalense

Do seu trabalho ao longo do primeiro mandato, Fernando Ramos destaca “o crescimento muito expressivo do número de estudantes que se candidatam, e frequentam, os ciclos de estudos da Universidade Portucalense, a criação da Portucalense Business School, que atua na área da formação executiva, e a avaliação de todas as unidades de investigação da Universidade, pela FCT, com a classificação Muito Bom. Foram e serão, sem dúvida, tempos de mudança e crescimento, com qualidade credenciada e demonstrada”. O especialista em Digital Media, eLearning e Educação à Distância foi docente, de investigador, coordenador científico e diretor no Departamento de Eletrónica e Telecomunicações, no Departamento de Comunicação e Arte e no Centro de Multimédia e de Ensino a Distância da Universidade de Aveiro (UA). Fernando Ramos tem também no currículo um longo historial de participação em diversos projetos como consultor internacional, nomeadamente em colaboração com várias instituições de Ensino Superior dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e Timor-Lorosa’e. Nascido em 1956, o professor nasceu e fez toda a sua formação escolar e universitária na cidade de Aveiro.

Aveiro Smart Business abre recrutamento a estudantes da UA até este domingo
Universidade

Aveiro Smart Business abre recrutamento a estudantes da UA até este domingo

A associação tem como missão, segundo uma nota de imprensa enviada à Ria, aproximar o meio académico do tecido empresarial, oferecendo aos estudantes a possibilidade de aplicar na prática os conhecimentos adquiridos ao longo da formação académica. O processo de recrutamento decorre até este domingo, 28 de setembro, e está aberto a todos os estudantes da UA. As candidaturas devem ser submetidas através do formulário online disponível aqui.  No âmbito da sua atividade, a ASB promove também esta quinta-feira, 25 de setembro, pelas 18h00, uma formação online sobre “Entrevistas de Emprego – Postura e Boas Práticas”, ministrada pela EY, uma das maiores empresas de consultoria e auditoria do mundo. A sessão é gratuita, inclui certificação e mantém as inscrições abertas até ao início da formação, aqui

Inscrições terminam hoje para a 4.ª Corrida Solidária da AAUAv, que acontece já este sábado
Universidade

Inscrições terminam hoje para a 4.ª Corrida Solidária da AAUAv, que acontece já este sábado

O programa arranca às 9h30 com um aquecimento, seguido da corrida e caminhada, às 10h00, num percurso desenhado em torno da Universidade de Aveiro. As inscrições decorrem até esta quarta-feira, 24 de setembro, através da plataforma Lap2Go. Por cada inscrição, um euro reverte a favor da Cooperativa para a Educação e Reabilitação de Crianças Inadaptadas de Aveiro (CERCIAv), contribuindo para a aquisição de uma carrinha adaptada. Numa nota enviada às redações, a AAUAv apela “à participação de toda a comunidade académica e da população aveirense, reforçando que cada inscrição representa um passo solidário em prol da inclusão”. Esta edição conta com o apoio da UA, da Câmara Municipal de Aveiro, da Lap2Go, da Finger Food, da Civilria Run Club e da Magal, entidades que se associam à causa e à sua concretização.

GrETUA estreia rubrica “Fora do Armário” com conversa sobre a ‘flânerie’
Universidade

GrETUA estreia rubrica “Fora do Armário” com conversa sobre a ‘flânerie’

Segundo uma nota de imprensa enviada à Ria, a primeira edição do “Fora do Armário” será dedicada ao tema “A Flânerie: dos livros às outras artes” e procurará “debruçar-se sobre esta figura icónica da poesia do século XIX para explorar o gesto de caminhar e deambular pela cidade enquanto prática literária e artística”. O convidado desta edição será Diogo Marques, investigador do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa e do CODA - Center for Digital Culture and Innovation da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. A conversa contará ainda com sugestões de leitura do “catálogo da livraria-armário que o GrETUA mantém em parceria com a snob e por leituras de textos selecionados”. A entrada é gratuita. A nova rubrica ficará ainda, posteriormente, disponível em formato podcast.

Últimas

Luís Souto diz “não esquecer” que Montenegro foi apoiante da candidatura “desde a hora menos um”
Cidade

Luís Souto diz “não esquecer” que Montenegro foi apoiante da candidatura “desde a hora menos um”

Foi como “companheiro” que o candidato da “Aliança” se dirigiu ao presidente do PSD. Na introdução do discurso que proferiu ao almoço, no Hotel Imperial, já depois de percorrida a Avenida Lourenço Peixinho, Luís Souto garantiu que vai guardar para o resto da vida o apoio do presidente do partido “desde a hora menos um”. Recorde-se que a decisão da estrutura nacional do PSD de optar por Luís Souto de Miranda para encabeçar a luta pela Câmara aveirense esteve longe de ser consensual - seguiram-se uma série de demissões das estruturas internas, entre as quais a de Ribau Esteves, que criticou também a opção numa série de entrevistas a órgãos de comunicação social locais, regionais e nacionais. Na altura disse que o candidato “não tinha perfil” para ser presidente da autarquia, nem “nenhuma experiência de gestão”, e que a derrota era uma “possibilidade objetiva”, mas, entretanto, já recuou no discurso e garante que “não há dúvidas de que Luís Souto é o melhor candidato”. Já inserido na campanha, Ribau Esteves fez a arruada ao lado da coligação, mas não ficou para o almoço. Na sede de campanha, o autarca saudou a presença de Luís Montenegro e disse que a mobilização de todos é “fundamental” para que, no dia das eleições, “não tenhamos nenhuma retroescavadora a entrar pela nossa terra dentro, andando para trás no tempo e partindo com aquilo que andámos a fazer”. Na mesma senda, Luís Souto garantiu “perfeita sintonia” com a política do Governo. Identificou-se como “reformista” e não deixou de agradecer a presença do presidente da Câmara na iniciativa de campanha. Montenegro começou por referir-se aos “valores de Aveiro”, como diz ser o caso da democracia, da inovação, da capacidade empreendedora e da cultura. Essa marca, diz o líder do partido, acaba por muitas vezes resultar no “experimentar de coisas que no início são muito polémicas”. “O nosso presidente José Agostinho Ribau Esteves é um 'expert' nessa arte que é desafiar a comunidade para dar passos que no início até parecem muito duvidosos e depois acaba toda a gente a bater palmas”, rematou. Sobre Luís Souto, o presidente do PSD disse tratar-se de alguém com uma “paixão indisfarçável por esta terra” e com um grande “espírito de ambição”. A ideia de “olhar para a frente” foi tónica geral do discurso de Luís Montenegro, que disse que nos próximos 15 dias a coligação tem de dar tudo para esclarecer os aveirenses para “tomarem a opção correta”. A ideia, diz o dirigente, é que as pessoas não olhem para o concelho pelo retrovisor, “até porque, no caso de alguns, o retrovisor só mostra asneiras”. Antes de se fazer à rua, Luís Montenegro ainda escreveu uma frase no quadro que a ‘Aliança’ tem na sede de campanha para que os militantes “mostrem o seu apoio”. Depois do presidente do PSD pousar a caneta, podia-se ler “Esta Aliança com Aveiro é Importante para Portugal. Força Luís!!!”. No caminho, foram algumas as pessoas que pararam a comitiva para apoiar o candidato e o presidente do PSD, que também ocupa o cargo de primeiro-ministro. Sem enfrentar cidadãos especialmente revoltados, como aconteceu a Luís Montenegro na manhã deste sábado em São João da Madeira, houve quem deixasse alguns reparos à atuação da Câmara Municipal. Se Luís Montenegro respondeu que as pessoas tinham de “passar na sede de campanha para falar com o Luís”, Luís Souto garantiu que irá estar atento aos problemas levantados. A escolha da Avenida como palco para a arruada não foi inocente. Numa paragem num café, no qual Luís Souto e Ribau Esteves aproveitaram para brindar com uma cerveja, o candidato da “Aliança” aproveitou para deixar rasgados elogios à intervenção feita na avenida durante o último mandato. “A avenida, há uns anos, estava morta. As pessoas não passeavam, os prédios estavam degradados e, a partir do momento em que se fez esta intervenção houve claramente um incremento da qualidade nesta avenida”, explicou Luís. Entretanto, a chuva obrigou a que a arruada acelerasse e que as largas dezenas de apoiantes da ‘Aliança’ se dirigissem para o Hotel Imperial, onde a comitiva preencheu duas salas para o almoço. Aí, já depois de iniciada a refeição, Luís Souto foi o primeiro a falar. O candidato não deixou passar em claro o episódio ocorrido na passada segunda-feira, quando, durante a intervenção de um jornalista, este foi vaiado e vários apoiantes gritaram para que fosse para a "rua”, tendo ainda sido arremessados objetos [rebuçados] que caíram no chão e não atingiram o jornalista. Segundo afirmou, ironizando, o incidente “já foi motivo para grandes protestos” e “não sabe se já chegou à Comissão Nacional de Eleições”. Para o candidato, trata-se de “um sinal da nossa forma de estar, porque estamos de bem com a vida. Estamos alegres porque sabemos que somos portadores de um legado e temos orgulho nele”. De seguida, Luís Souto voltou a colocar-se ao lado da postura do Governo, que tem levado a cabo uma “reforma tranquila que aporta os valores do humanismo”. Esse caminho faz-se, conforme aponta, também ao recrutar elementos da sociedade civil que não estejam filiados no partido - algo pelo que diz já ter sido criticado. A pensar na esfera nacional, o candidato da “Aliança” destacou a forma como o Governo tem atuado na habitação, nomeadamente no anúncio de mexidas no Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU), e no “desempoeirar” a administração pública. Como já tinha dito na apresentação do seu programa eleitoral, Luís Souto voltou também a referir que a primeira coisa que fará se for eleito para a Câmara Municipal de Aveiro será uma reunião com o Governo. Nas suas palavras, “acho inaceitável que nós possamos passear pelas ruas do nosso município e encontrar edifícios que estão há 20 anos fechados. Deem-nos esses edifícios e vão ver que vão ter solução muito rapidamente”. O candidato não terminou o discurso sem deixar uma bicada aos adversários diretos na corrida à autarquia. Como afirma que aconteceu a nível nacional, Luís Souto voltou a referir-se a uma “coligação negativa” protagonizada por PS e Chega: “populismo de direita e de extrema-direita, mas também populismo de esquerda e de extrema-esquerda, que, neste momento, o PS, corporiza sem escrúpulos de qualquer espécie”.

Autárquicas: Nuno Melo aposta em Vale de Cambra, Oliveira do Bairro e Albergaria-a-Velha
Região

Autárquicas: Nuno Melo aposta em Vale de Cambra, Oliveira do Bairro e Albergaria-a-Velha

Além de Aveiro, o roteiro inclui Velas (Açores), Santana (Madeira) e Ponte de Lima (Viana do Castelo). A volta nacional de Nuno Melo arranca na segunda-feira, ainda antes do início oficial da campanha, em Vila Franca de Xira, onde a candidatura é encabeçada pelo líder parlamentar do partido, Paulo Núncio. Nesse mesmo dia, segue para Almada, com a vice-presidente Ana Clara Birrento. Na quarta-feira, o líder do CDS-PP estará em Sintra, em apoio ao candidato Maurício Rodrigues, e no dia 4 de outubro desloca-se a Viseu, onde o antigo deputado Hélder Amaral enfrenta o autarca social-democrata Fernando Ruas. Durante a primeira semana de campanha, estão ainda previstas passagens por Mondim de Basto, Leiria, Covilhã, Vieira do Minho, Vila Verde, Oliveira do Hospital e Meda. Na segunda semana estará também em Torre de Moncorvo, Vagos, Montemor-o-Novo e Sever do Vouga. Fonte oficial do partido disse ainda à agência Lusa que Nuno Melo deverá estar com o líder do PSD, e primeiro-ministro, Luís Montenegro, num jantar/comício no dia 08 de outubro, em Santarém, onde João Leite concorre pela AD. De acordo com a mesma fonte, poderão acontecer mais cruzamentos das duas campanhas e dos dois líderes, em locais onde estes partidos concorram coligados. Já em Lisboa e no Porto, não estão previstas ações do CDS-PP, uma vez que apoia as candidaturas de Carlos Moedas e Pedro Duarte, respetivamente, em coligação com PSD e IL. O encerramento da campanha está previsto para os Açores. Nesta campanha para as eleições autárquicas de 12 de outubro, Nuno Melo vai apostar em ações de contacto com a população e arruadas, visitas a feiras e mercados e comícios.

Portugal tem dos prazos mais restritivos no aborto e especialistas pedem revisão da lei
País

Portugal tem dos prazos mais restritivos no aborto e especialistas pedem revisão da lei

“Nós temos um prazo máximo de 10 semanas, o que nos vai colocar entre os países com as regras mais restritivas, a par, por exemplo, da Eslovénia, enquanto a maioria dos outros países europeus estabelece limites de 12, 14 ou mais [semanas], disse à Lusa a presidente da SPDC, Amália Pacheco, a propósito do Dia Mundial do Aborto Seguro, que se celebra no domingo. Para a médica ginecologista, esta situação revela “a necessidade urgente” de rever neste momento a legislação portuguesa, alinhando-a com “toda a evidência científica”, as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e os compromissos assumidos a nível da Europa. “Apesar dos avanços que temos tido e que foram alcançados com a Lei n.º 16 de 2007 [que estabelece as regras para a interrupção voluntária da gravidez em Portugal], ainda persistem limitações que colocam o nosso país no 17.º lugar da classificação europeia de políticas de acesso ao aborto”, assinalou. Amália Pacheco adiantou que na reunião da SPDC, que decorre hoje e sábado em Aveiro, os especialistas vão debater e refletir sobre “a melhor maneira de aumentar o limite gestacional da IVG [interrupção voluntária da gravidez] por opção da mulher, pelo menos, para as 12 semanas”. Alertou também para a necessidade de eliminar o período obrigatório de reflexão, que pode atrasar o acesso e causar impacto negativo na saúde física e psicológica das mulheres, e simplificar os processos clínicos “É um constrangimento e muitas vezes faz com que as mulheres cheguem já numa fase tardia porque têm obrigatoriamente um período de reflexão”, disse, vincando que “as mulheres têm a sua autonomia”. Amália Pacheco salientou a importância do Dia Mundial do Aborto Seguro para relembrar que “o acesso universal a cuidados de saúde sexual e reprodutivos, onde se inclui a interrupção voluntária de gravidez, é um direito fundamental e uma condição essencial para a dignidade e a autonomia da saúde”. Na anterior legislatura, em janeiro, o parlamento debateu vários projetos da esquerda que pretendiam alargar até às 12 ou 14 semanas o prazo em que uma mulher pode interromper voluntariamente uma gravidez, mas as propostas foram chumbadas com os votos contra do CDS, PSD e Chega. Os dados mais recentes, divulgados pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS), apontam um aumento de número de IVG realizadas por opção da mulher que totalizaram 17.807 em 2024, mais 5,5% em relação a 2023 e 13% face a 2022. Hoje assinala-se o Dia Mundial da Contraceção que, segundo a médica, reforça o compromisso de Portugal em promover a saúde e a educação, “com escolhas contracetivas seguras e informadas, essenciais para o bem-estar e a autonomia de cada pessoa”. Citando o último trabalho realizado sobre as práticas contracetivas, Amália Pacheco adiantou que a maioria das mulheres em Portugal faz contraceção, sobretudo uma contraceção hormonal combinada, mas também estão a aumentar todos os outros métodos contracetivos. “Mas há que mudar e melhorar algumas coisas”, disse, apontando a necessidade de aumentar a literacia em saúde, promover o bem-estar, e manter sempre o compromisso de promover a saúde e a educação para escolhas contracetivas seguras e informadas. “O país está a mudar e, inclusivamente, temos uma população que não tem acessos tão fáceis aos cuidados de saúde, não tem médicos de família, sobretudo, a população de migrantes, que têm mais dificuldade e, portanto, não tem um acesso tão direto aos cuidados de saúde”, realçou. Amália Pacheco alertou ainda para a necessidade de manter a educação sexual nas escolas: “É o nosso grande papel na educação e na promoção da saúde e no alerta também em termos das infeções sexualmente transmissíveis”.

Reitores e investigadores temem que extinção da FCT comprometa produção científica
País

Reitores e investigadores temem que extinção da FCT comprometa produção científica

A posição foi enviada à Presidência da República e subscrita pelos reitores das universidades de Coimbra e Minho, Amílcar Falcão e Rui Vieira de Castro, e do ISCTE, Maria de Lurdes Rodrigues, os vice-reitores para a investigação da Universidade de Lisboa e do ISCTE, Cecília Rodrigues e Jorge Costa. Do lado dos investigadores, assinam também o presidente do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto, Manuel Sobrinho Simões, e Mário Figueiredo, do Instituto de Telecomunicações. Em causa está a reforma em curso no Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI) e a criação da Agência de Investigação e Inovação (AI2), que vai integrar as competências até agora da FCT e da Agência Nacional de Inovação (ANI). A extinção da FCT tem sido particularmente polémica e na posição enviada à Presidência da República, onde o decreto-lei do Governo aguarda promulgação, os reitores e investigadores deixam críticas ao que consideram ser uma “rutura radical” e à forma como o executivo conduziu o processo. “Existe na comunidade científica um consenso sobre a necessidade de melhorar o funcionamento das agências financiadoras (FCT e ANI), bem como de melhorar os mecanismos de valorização do conhecimento junto das empresas e dos organismos públicos. Porém, os problemas reconhecidos não justificam a medida radical da extinção da FCT”, argumentam, no texto a que a Lusa teve acesso. Sublinhando que as duas entidades têm missões distintas, os subscritores afirmam que a sua integração numa agência única “não encontra respaldo nas recomendações ou nas práticas internacionais” e temem que comprometa a produção de conhecimento científico. Apesar de o decreto-lei que cria a AI2 ter sido aprovado em Conselho de Ministros no início do mês de setembro, não são ainda conhecidos detalhes sobre como a nova agência irá funcionar e, por isso, reitores e investigadores falam num processo pouco transparente, em que a comunidade científica não foi ouvida e não se conhecem os pareceres e diagnósticos que a justificam. Ainda assim, fazem referência a um parecer do Conselho Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), publicado em agosto, que dizem conter as bases conceptuais da reforma, mas no qual identificam várias lacunas. De acordo com os subscritores, o parecer em causa não fundamenta os problemas identificados, como a alegada fragmentação do sistema científico nacional, nem refere as características da economia portuguesa, tendências de transformação ou o subfinanciamento da Investigação e Desenvolvimento (I&D), abaixo da meta de 3% do PIB. Por outro lado, acrescentam que o relatório do CNCTI faz menção à avaliação do European Innovation Scoreboard de 2025, que classifica Portugal como país “inovador moderado”, sem referir as fragilidades apontadas, como o défice de investimento em I&D do setor público e das empresas ou, pelo contrário, o elevado apoio do Estado às empresas através de benefícios fiscais em I&D. Os reitores e investigadores levantam igualmente dúvidas jurídico-administrativas quanto à transferência para uma entidade do setor empresarial das competências do Estado exercidas pela FCT, que é atualmente um instituto público. Numa reunião recente entre a tutela e diretores de unidades de investigações, o MECI esclareceu que a nova agência seguirá o modelo de governança da ANI (uma sociedade anónima), com Assembleia Geral. “Seria esta assembleia e não o Governo a decidir sobre o financiamento, funcionamento e desenvolvimento do sistema científico nacional”, criticam, manifestando também preocupação quanto à tutela partilhada entre o MECI e o Ministério da Economia e Coesão Territorial. “Decisões que têm por objetivo colocar a ciência exclusivamente ao serviço da economia a curto prazo comprometem, no longo prazo, a ciência e a produção de conhecimento em todas as áreas e não dão garantias do desenvolvimento económico sustentado que se pretende”, argumentam. Num outro parecer sobre a extinção da FCT, também o Centro de Estudos Matemáticos (CEMS) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa alertou para o “esvaziamento das políticas de investigação de âmbito mais teórico, que não são guiadas exclusivamente por propósitos comerciais ou demoram a produzir impacto na sociedade”. Quando o Governo anunciou a reestruturação dos serviços do MECI, o Presidente da República chegou a avisar que se tivesse dúvidas "sobre um ponto" que fosse relativo à extinção da FCT iria pedir ao Governo para repensar o diploma e, caso o executivo insistisse, poderia vetar o diploma.