UA: A um ano da eleição do novo reitor estes são os nomes mais falados
As eleições para o Conselho Geral da Universidade de Aveiro (UA) estão agendadas para o dia 3 de junho. Este ato eleitoral define não só a nova composição daquele que é o principal órgão da universidade, como também marca o início da contagem decrescente para a eleição do próximo reitor. A cerca de um ano dessa decisão, a Ria foi procurar saber quais os nomes mais falados para assumir a liderança da universidade. Recorde-se que Paulo Jorge Ferreira, atual reitor da UA, atinge o limite de mandatos e não será recandidato.
Redação
Desde segunda-feira, 14 de abril, que se encontra publicado no site da Universidade de Aveiro (UA) o despacho que determina a “fixação da data de eleição dos membros do Conselho Geral”. No calendário eleitoral disponível, verifica-se que a apresentação das candidaturas decorre de 6 a 7 de maio e a votação no dia 3 de junho.
O Conselho Geral é o órgão do governo da universidade responsável por tomar decisões estratégicas de alto nível. Está previsto nos estatutos da UA e resulta do modelo de governação das universidades públicas portuguesas, introduzido pelo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES), em vigor deste 2007. Entre as principais funções do Conselho Geral estão: eleger o reitor, aprovar o plano de atividade e o relatório de contas, aprovar o plano estratégico, aprovar alterações aos estatutos e apreciar os atos do reitor e do Conselho de Gestão.
Desde o ano da sua criação, em 2009, o Conselho Geral da UA é composto por 19 membros: dez professores e investigadores, três estudantes, um técnico, administrativo e de gestão (TAG) e cinco personalidades externas de reconhecido mérito que são, posteriormente, cooptadas pelos membros anteriormente enunciados.
Não desvalorizando a importância do órgão nas diferentes funções já referidas, é na altura da eleição do reitor que, inevitavelmente, o Conselho Geral acaba por ter maior visibilidade e projeção no seio da comunidade académica.
Com a aproximação da eleição do Conselho Geral, é habitual que surjam na comunidade vozes a apelar à independência dos membros do conselho e à separação dos dois momentos, isto é, uma separação entre a eleição do órgão e a eleição do reitor. Mas a verdade é que, tal como nas restantes Instituições de Ensino Superior (IES), é muito frequente que os membros da comunidade se organizem previamente, no momento da eleição do Conselho Geral, no apoio a eventuais candidatos a reitor.
Uma forma de contornar esta ‘monopolização’ do Conselho Geral, pelos eventuais candidatos a reitor, seria a realização de uma eleição direta para o responsável máximo da instituição. Uma ideia que merece a concordância do atual reitor que ainda em janeiro defendia, em declarações à Ria, que uma eleição direta “é um ato que tende a melhorar e a motivar mais os membros da academia a participarem na sua gestão”. “Eu vejo isso com muitos bons olhos”, acrescentou.
Recentemente, o Governo submeteu à Assembleia da República uma proposta de revisão do RJIES. Apesar da proposta inicial sugerir o modelo de eleição direta do reitor, o documento final acaba por propor, entre outras alterações, um modelo misto para a eleição do reitor: o Conselho Geral tem a responsabilidade de escolher os seus dois candidatos preferidos e a comunidade académica elege, dentro destes, o reitor. Contudo, o Governo caiu e o parlamento foi dissolvido, não sendo de esperar que uma futura revisão do RJIES tenha impacto na eleição do próximo reitor da UA.
Desta forma, o novo Conselho Geral da UA será eleito no dia 3 de junho e a sua composição final será determinante na escolha da novo reitor. Embora as eleições para o reitor na UA só aconteçam em 2026 a Ria sabe que, atualmente, há cinco nomes que começam a ser falados para assumir a liderança da instituição: Amadeu Soares, Artur Silva, Carlos Costa, Nuno Borges Carvalho e Rute Ferreira. A Ria procurou falar com cada um deles e preparou-te um resumo.
Tendo em conta o historial das eleições para o Conselho Geral da UA, em que apenas em 2013 surgiu uma única lista de professores e investigadores, é provável que nas próximas semanas se intensifiquem os contactos com vista à criação de listas.
Amadeu Soares, diretor do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM)
Amadeu Soares é professor catedrático no Departamento de Biologia da UA, tendo sido o diretor deste departamento durante vários anos. Formou-se em Biologia pela Universidade de Coimbra e doutorou-se na Universidade de Sheffield, no Reino Unido. Atualmente é o diretor do CESAM.
Em declarações à Ria assegurou que, apesar do seu nome ser falado, não pondera “de todo” ser reitor. “Brevemente serei reeleito diretor do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), que é a maior unidade de investigação da UA e essa é a minha prioridade”, afirmou. Apesar disso, Amadeu Soares quis deixar claro que a UA precisa de uma “grande mudança do plano estratégico” e que concorda com a “eleição direta do reitor” numa futura revisão do RJIES, não querendo avançar com nenhum nome “preferido” para o lugar.
Recorde-se que Amadeu Soares já foi candidato a reitor da UA, em 2010, mas na altura não alcançou o voto de qualquer elemento do Conselho Geral e acabou por falhar a eleição. Tal como reforçou, é um dos docentes mais críticos da estratégia que a universidade tem seguido.
Artur Silva, vice-reitor para a Investigação, Inovação e Formação de Terceiro Ciclo e Acreditação dos Ciclos de Estudos
Além de vice-reitor, Artur Silva é professor catedrático no Departamento de Química da UA e presidente do Centro Académico Clínico Egas Moniz Health Alliance. Licenciou-se em Física e Química Via Ensino e doutorou-se em Química Orgânica pela UA.
Em declarações à Ria, Artur Silva mostrou-se “disponível” para ocupar o lugar de reitor até pelo “longo percurso” que tem na UA. “Eu fui aluno desta casa e continuei a minha carreira sempre aqui. Eu cheguei aqui em 1982. (…) Estive sempre disponível perante os cargos que desenvolvi e perante a forma com que sempre me dediquei a esta casa. Coloquei a UA a ser parte da minha família e a ser a minha casa, onde estou mais tempo do que na minha própria família”, reconheceu.
O atual vice-reitor recordou também à Ria que “há vários anos” já chegou a estar envolvido numa candidatura. “Há oito anos estive com o senhor reitor e ele escolheu-me como vice-reitor. Nessa altura também disse que estaria disponível e estou a cumprir o segundo mandato como vice-reitor. Se a UA quiser que nos próximos anos seja eu o reitor, estarei disponível”, vincou.
A Ria sabe que Artur Silva tem o apoio do atual reitor da UA, Paulo Jorge Ferreira, apesar deste pretender manter-se equidistante do processo eleitoral, cumprindo o seu papel institucional.
Relativamente ao método atual de eleição do reitor, Artur Silva deu nota que este “é o que é, com as regras que nós temos”. “Se me perguntar se a proposta do RJIES era aquela que eu mais apoiava, eu diria que tem traços interessantes na forma de eleger. Há alguns que teria mais dúvidas e as percentagens que foram postas eu acho que deviam ser mais equilibradas”.
Carlos Costa, professor catedrático no Departamento de Economia, Gestão, Engenharia Industrial e Turismo (DEGEIT)
Carlos Costa, tal como Artur Silva, é alumni da UA. Licenciou-se em Planeamento Regional e Urbano e é mestre e doutor em Turismo pela Universidade de Surrey, no Reino Unido. Durante vários anos foi diretor do DEGEIT e atualmente é o diretor do programa doutoral em Turismo na UA.
Contactado pela Ria frisou não ter nada a comentar “sobre o assunto”, mas a Ria sabe que Carlos Costa tem participado em conversas sobre o futuro da UA e sobre a eleição do próximo Conselho Geral.
Nuno Borges Carvalho, diretor do Departamento de Eletrónica, Telecomunicações e Informática (DETI)
Nuno Borges Carvalho doutorou-se em Engenharia Eletrónica e Telecomunicações pela UA e é, atualmente, professor catedrático no DETI e investigador principal do Instituto de Telecomunicações (IT).
Em declarações à Ria, Borges Carvalho descartou tal possibilidade e referiu que, neste momento, não é candidato a “nada”. “No passado, os reitores costumavam vir sempre de um departamento e o último reitor foi aqui [do Departamento] de Eletrónica. Agora, se calhar, tem de vir um reitor de outro lado, com outras visões e depois, quem sabe no futuro, voltar a Eletrónica. Não me corto, no futuro. Nesta eleição e neste momento, não”, frisou.
Na opinião do diretor do DETI, o Conselho Geral devia de ser “independente da eleição do reitor”. “A eleição do reitor devia de ser por sufrágio universal e o Conselho Geral fazer a sua missão principal de monitorizar e avaliar o funcionamento adequado de todos os órgãos da universidade, nomeadamente, da reitoria como já o fez no passado”, relembrou.
Rute Ferreira, vice-diretora do Instituto de Materiais de Aveiro (CICECO)
Rute Ferreira é ainda professora catedrática no Departamento Física da UA. Licenciou-se em Engenharia Física e doutorou-se em Física pela UA. Atualmente, integra o Conselho Geral, eleita em 2021 pelo movimento “Melhor UA: Projetar os Próximos 50 anos”. Este movimento, elegeu 3 dos 10 mandatos atribuídos aos professores e investigadores no Conselho Geral.
A Ria tentou entrar em contacto com Rute Ferreira, mas até ao momento ainda não foi possível obter qualquer declaração. Apesar disso, a Ria sabe que Rute Ferreira é das vozes mais críticas dentro do atual Conselho Geral.
Recomendações
“Sinergia de Forças” juntou bombeiros, fisioterapeutas e estudantes na ESSUA e já motiva nova edição
Segundo uma nota de imprensa enviada à Ria esta terça-feira, 9 de dezembro, o evento resultou de uma organização conjunta entre a ESSUA e Dylan Gonçalves, fisioterapeuta e bombeiro especialista em atuação em emergências, contando ainda com uma “rede nacional de colaboração” e com o apoio da Câmara de Aveiro. Ao longo do dia, a iniciativa integrou palestras científicas dedicadas à exposição ao risco, saúde ocupacional e estratégias de desempenho em contexto de emergência, bem como com workshops especializados em áreas como “segurança física, atuação em cenários de stress, ergonomia na emergência e técnicas específicas de suporte físico e respiratório”. De acordo com a organização, o evento destacou-se pelo “ambiente de cooperação e pela oportunidade de aproximar profissionais e estudantes de áreas distintas, promovendo uma visão integrada da resposta à emergência e da proteção da saúde dos operacionais”. Dado o “interesse manifestado”, a ESSUA adianta ainda na nota que já se “perspetiva” uma segunda edição. A missão passa por “unir a ciência, a formação e a comunidade no serviço à segurança e à saúde pública”. A sessão de abertura contou ainda com a presença de representantes institucionais e estudantis e com a atuação da tuna da ESSUA. Participaram ainda na iniciativa os “operacionais dos Bombeiros Novos e dos Bombeiros Velhos de Aveiro”, entre outros agentes da região.
Nos 50 anos, reitor realça que “2/3” dos estudantes do DLC-UA entraram na primeira opção
Foi na tarde da passada terça-feira, dia 3, no Auditório Renato Araújo, no Edifício Central e da Reitoria da Universidade de Aveiro (UA), que Paulo Jorge Ferreira começou por fazer um elogio ao trabalho dos responsáveis do Departamento que, segundo o próprio, “está a fazer muita coisa certa”. Olhando para os números do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior do passado verão, o responsável indicou alguns dados. Apesar de só ter “157” vagas, o que corresponde a “5%” de todas as vagas disponibilizadas a cursos de humanidades em Portugal, “12%” dos que procuraram estes cursos escolheram a Universidade de Aveiro. Da mesma forma, “6%” dos que tinham notas de acesso superiores ou iguais a 16 também escolheram a UA. O reitor aponta que os quatro cursos do Departamento trouxeram para a instituição “4,4” candidaturas por vaga, o que contrasta com a média dos 69 cursos de humanidades nacionais: “1,9”. Paulo Jorge Ferreira diz ainda que “2/3” dos admitidos tinham na Universidade de Aveiro a primeira opção e que, se se fizesse a média da opção em que entraram os estudantes do DLC, o resultado seria de “1,5”. Numa reflexão sobre o lugar que o Departamento ocupa, o responsável da UA referiu que Portugal já não é hoje um país “periférico” e que pode ser visto como “eixo central”. Nesse sentido, apontou à ligação que o DLC estabelece com a Ásia – nomeadamente, à China. “Há, em certa medida, cada vez menos periferias. O nosso lugar no mundo não é ditado pela geografia, mas pelas escolhas que fazemos. E a nossa liberdade de escolher decorre de uma das mais importantes conquistas da modernidade académica, a autonomia das universidades", aponta. O reitor entende que essa autonomia, que diz que “se pratica e renova”, se define no momento em que um Departamento de Línguas e Culturas assume o papel de “consciência crítica da Universidade”. A autonomia, aponta, também passa pela afirmação do português como “língua de conhecimento e cultura”. “O que custa ao português e a outras línguas um quase monolinguismo académico que nós vemos hoje tão bem instalado em todas as áreas à nossa volta?”, questiona, assumindo que a língua é “o nosso único ativo global”. Nas comemorações do cinquentenário, Ana Margarida Ramos, diretora do Departamento, explicou que “ao longo destes 50 anos o DLC se transformou profundamente” e que “o mosaico de línguas se expandiu”. Apesar de “mais cosmopolita”, salienta que a “cultura de atenção, o cuidado e a proximidade” foi sempre uma constante. Se o DLC já habitou dois edifícios ao longo da sua história e a ambição de um novo espaço “mais moderno e mais eficiente” é uma realidade, Ana Margarida Ramos também aponta que “não são as paredes que fazem o departamento”. Apesar de não poder estar presente na celebração do cinquentenário do DLC, o cardeal e poeta Tolentino Mendonça foi cabeça-de-cartaz da sessão. Durante o discurso, que durou pouco menos de meia-hora, procurou refletir sobre a importância das humanidades e do saber universitário nos dias de hoje, perspetivando também o futuro do Departamento. “O típico do saber universitário não é subtrair, através de mecanismos de especialização. Pelo contrário, em vez de encapsular ou confiscar, o saber universitário devolve conhecimento à comunidade […], alarga a multiplicidade de perspetivas e coloca-as ao serviço de todos”, começou por apontar o também Doutor Honoris Causa da UA. A Universidade, diz Tolentino Mendonça, “não vive de fragmentos autónomos, mas considera todos os saberes como ferramentas ao serviço da nossa comum humanidade”. Segundo explica, a realidade é “heterogénea, descontínua e complexa”, pelo que são necessárias “ferramentas múltiplas”. “É essa multiplicidade que o Departamento [de Línguas e Culturas] fomenta e sistematiza, que permite que se manifeste em cada estudante […] um interesse pela humanidade e um amor ao mundo”, conclui. O cardeal destaca também que a transição cultural que estamos a viver “constitui um acelerador histórico que não volta para trás”. Com isso em mente, afirma que, neste contexto, o papel das Universidades passa por “ajudar cada um a viver na primeira pessoa”. Nas palavras de Tolentino Mendonça, “as sociedades do futuro potenciam sempre mais a importância e a centralidade do conhecimento, que é a matéria-prima da Universidade, porventura recorrendo a paradigmas mais interdisciplinares e colaborativos, certamente acentuando a vantagem do trabalho em rede. O futuro não dispensa esses laboratórios de equidade, pensamento e inovação que as universidades e os departamentos constituem”.
UA: Leonor Lopes é candidata à presidência da AAUAv
Em entrevista à Ria, Leonor explicou que a sua candidatura surge da convicção de que os estudantes enfrentam “entraves cada vez mais graves ao acesso e permanência ao Ensino Superior”. “A pressão no mercado de habitação está a intensificar-se, os preços continuam a subir e não existem residências suficientes para todos os estudantes. Há também outros entraves, a níveis mais específicos, regionalmente, como os transportes e também com o facto de a ação social ser insuficiente”, enumerou. Na sua visão, a associação liderada por Joana Regadas tem desenvolvido um trabalho relevante, mas a estudante acredita que é possível “ir mais longe”. “A minha candidatura propõe-se a ir mais longe na reivindicação dos direitos dos estudantes e a mobilizar muito mais estudantes do que têm sido mobilizados para esse tipo de causas recentemente”, referiu. Sobre como mobilizar mais estudantes para as reivindicações da AAUAv, a estudante apontou como exemplo a mobilização dos estudantes, em Lisboa, contra o aumento das propinas. “A Associação Académica posicionou-se contra o aumento da propina, (…) mas o que aconteceu em Aveiro é que não levámos tantos estudantes como eu acredito que (…) a Universidade de Aveiro tem potencial de levar para esta manifestação”, afirmou. No seguimento, Leonor Lopes apontou que é necessário um maior contacto da AAUAv com os estudantes. “Existem contactos pelas redes sociais da Associação Académica que chegam a muita gente, mas são necessárias iniciativas feitas presencialmente nos campus da Universidade, em que chamassem, por exemplo, estudantes a ouvir e a falar ao microfone”. Sem querer revelar pormenores sobre a sua lista, a estudante de 20 anos adiantou que Bernardo Santos será o mandatário da candidatura. “O Bernardo Santos é um colega que sempre partilhou destas opiniões de que o espaço académico também é um espaço reivindicativo”, descreveu. Leonor Lopes disse ainda que, além da direção, a sua candidatura vai concorrer também à Mesa da Assembleia Geral (MAG) e ao Conselho Fiscal e de Jurisdição (CFJ). Recorde-se que, tal como avançado pela Ria, também Joana Regadas, atual presidente da direção da AAUAv já anunciou que será recandidata ao cargo. Lembre-se que, como noticiado, a entrega de listas para a AAUAv encerrou na passada quarta-feira, 3 de dezembro, pelas 23h59. O dia de ontem e de hoje, 5 de dezembro, são destinados à “correção e suprimento de deficiências e decisão sobre as candidaturas”, com as candidaturas aceites a ser publicadas a 9 de dezembro. A campanha eleitoral tem início a 10 de dezembro, quarta-feira, e prolonga-se até dia 16, terça-feira. Depois do dia de reflexão, as votações decorrem ao longo do dia 18, quinta-feira, com os resultados a serem publicados no dia seguinte.
RJIES passa o teste mais fácil e é aprovado na generalidade no Parlamento
O debate parlamentar realizado na véspera revelou, contudo, que o consenso está longe de estar alcançado. A discussão expôs clivagens profundas sobre a governação das universidades e politécnicos, sobre os limites da autonomia institucional, o papel dos membros externos nos órgãos máximos e até sobre a própria estrutura do sistema binário do Ensino Superior. Ainda que esta primeira votação valide apenas os princípios gerais do diploma, quase todas as bancadas anteciparam que a especialidade poderá alterar significativamente o texto final. A sessão começou com a intervenção de Paulo Núncio, líder parlamentar do CDS, que recuperou o percurso político da proposta e criticou a interrupção sofrida na legislatura anterior. “Já na legislatura anterior o Governo tinha agendado na Assembleia da República a discussão para revisão do RJIES, mas o assunto acabou por não avançar porque as oposições se uniram para derrubar o primeiro Governo da Aliança Democrática”, recordou, insistindo que “graças à espiral destrutiva das oposições, esta reforma foi adiada.” Para o centrista, a proposta agora apresentada “vai no bom caminho porque reforça três pilares fundamentais do Ensino Superior: a flexibilidade, a autonomia e a responsabilidade.” Seguiu-se o PS, que procurou enquadrar o debate no contexto alargado das reformas iniciadas em 2022 e interrompidas por dissoluções parlamentares. Porfírio Silva lembrou que “o processo de revisão do RJIES começou em 2022, passou por duas dissoluções do parlamento, vamos ver se é desta”, reafirmando a disponibilidade socialista para “uma discussão em especialidade rica, plural, de aprofundamento das soluções.” Porém, sinalizou reservas face ao modelo apresentado pelo Governo, alertando que “é preocupante que a proposta do Governo pareça promover a homogeneização. No fim de contas, todas as Instituições de Ensino Superior concorrerão para serem universidades”. As preocupações socialistas foram ecoadas mais tarde por Aida Carvalho, deputada socialista que sublinhou o papel histórico do PS na valorização do politécnico - desde a introdução dos doutoramentos até à criação da categoria das universidades politécnicas - destacando o trabalho realizado pelo último Governo socialista, que em 2023 criou uma comissão independente para avaliar o RJIES. Por último, a deputada aproveitou para antecipar uma das matérias centrais que o PS pretende alterar na especialidade: a composição e ponderação eleitoral dos órgãos máximos das instituições. “Quer para a eleição do Conselho Geral, quer para a eleição do reitor, apresentamos os seguintes critérios de ponderação: 45% para os docentes e investigadores, 25% para os estudantes, 15% para o pessoal técnico e administrativo e 15% para membros externos.” Esta proposta contrasta com o modelo do Governo, que concede maior liberdade às instituições na definição desses pesos, criando tetos mínimos (10%) e máximos (50%). Do lado do PSD, o deputado Bruno Faria procurou valorizar o processo de auscultação conduzido pelo Executivo e insistiu que o RJIES vigente se encontra ultrapassado. Defendeu que a proposta foi “construída com diálogo, que ouviu a sociedade, as instituições, os estudantes, os professores e investigadores e o pessoal técnico” e reforçou que “durante demasiado tempo este regime jurídico não acompanhou a evolução das instituições.” Para os sociais-democratas, a proposta clarifica e fortalece o sistema binário, permitindo que Portugal afirme “com clareza” universidades com vocação académica e científica e universidades politécnicas com forte orientação para o conhecimento aplicado - alinhando o país com o espaço europeu de Ensino Superior. No final do debate, a deputada social-democrata Ana Gabriela Cabilhas reiterou a expectativa de que a discussão na especialidade decorra com “lealdade institucional” e deixou uma crítica ao PS e ao Chega, lembrando que “se uniram recentemente para evitarem o descongelamento das propinas no Ensino Superior”, alertando para o risco de nova convergência que “desvirtue” a proposta do Governo para o novo RJIES. À esquerda, o PCP marcou a sua completa discordância com a arquitetura do sistema atual. Paula Santos defendeu que “a existência de dois subsistemas de ensino, apesar de atribuírem os mesmos graus académicos, só tem contribuído para a perpetuação de desigualdades”, argumentando que esta diferenciação tem levado “à desvalorização do ensino superior politécnico e à sua estigmatização.” Para o PCP, a solução passa por abandonar o sistema binário e adotar “um sistema único de Ensino Superior que elimine a separação artificial entre universidades e politécnicos.” A deputada rejeitou também o regime fundacional, afirmando que “a transformação das instituições em fundações insere-se na estratégia de privatização e mercantilização em curso (…)”. O partido propõe substituir o Conselho Geral por um Senado composto apenas por membros internos e criar uma Assembleia da Instituição para a eleição do reitor. O Bloco de Esquerda, pela voz de Mariana Mortágua, centrou a crítica na aproximação entre governação universitária e modelos empresariais. “O Governo insiste no mesmo modelo, que mercantiliza, que trata o ensino universitário como se fosse uma empresa e que subjuga os interesses da investigação e do ensino de qualidade aos interesses do mercado”, afirmou, mantendo a oposição bloquista ao regime fundacional e à participação de membros externos na governação das instituições. Em sentido inverso, o Chega colocou a ênfase na necessidade de reforçar a autonomia institucional e reduzir a intervenção do Estado. Rui Cardoso defendeu que “deve ser valorizada a autonomia, a sustentabilidade, a eficiência e a democraticidade nas instituições” e insistiu que “não deve ser o Estado a impor, devem ser as instituições. Deve ser quem está no terreno, quem melhor conhece, a decidir sobre o futuro das suas instituições.” Apelou ainda a uma lei “menos burocrática, estável no tempo, de longo alcance temporal” e criticou aquilo que considerou uma excessiva interferência política: “Durante anos de mais permitimos que a classe política capturasse aquilo que é a investigação científica e aquilo que é a Academia em Portugal.” Também a Iniciativa Liberal manifestou abertura ao trabalho em especialidade, destacando que pretende rever a duração do mandato do reitor e defendendo que o provedor do estudante deve ter um modelo colegial refletido também no seu funcionamento e não apenas na sua forma de eleição A deputada liberal sublinhou ainda que o pessoal não docente “não pode ser menorizado” e concordou com a manutenção de membros externos no Conselho Geral. Com posições tão diferentes, a votação da generalidade representa apenas um primeiro passo num processo que se prevê prolongado. A aprovação valida os princípios orientadores do diploma, mas não fixa a sua forma final. O texto seguirá agora para análise detalhada na Comissão de Educação e Ciência, onde será sujeito a audições com instituições, sindicatos, associações estudantis, etc, bem como a propostas de alteração dos partidos, antes de regressar ao plenário para votação final global. Só então poderá seguir para promulgação pelo Presidente da República. Desta forma, o processo que agora se inicia antecipa vários meses de intensa negociação política, num cenário onde praticamente todas as bancadas já anunciaram a intenção de alterar pontos centrais do diploma apresentado pelo Governo.
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Indisponibilidade dos vereadores do PS adia nova discussão sobre o Cais do Paraíso
Tal como avançado pela Ria, depois de o assunto não ter integrado a ordem dos trabalhos da última reunião camarária o tema voltou a ser discutido quando Paula Urbano Antunes questionou o autarca, no período antes da ordem do dia, sobre o ponto de situação da recolha documental. Em resposta, Luís Souto adiantou que a nova discussão seria agendada para a “próxima quinta-feira, dia 11”. Esta quarta-feira, em declarações à Ria, Paula Urbano Antunes confirmou à Ria que o PS pediu o cancelamento da reunião extraordinária por motivos de “indisponibilidade e compromissos profissionais”. Segundo a vereadora, a data para a discussão do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso volta a estar em “aberto”. Recorde-se que quando questionado novamente pela Ria na passada terça-feira, 2 de dezembro, o executivo comprometeu-se a garantir que o documento seria debatido antes do Natal. Caso tal não venha a acontecer, Paula Urbano Antunes admitiu que “a responsabilidade é nossa”. Lembre-se ainda que, na reunião pública do executivo camarário do passado dia 13 de novembro, o PS requereu a introdução deste ponto na ordem de trabalhos, mas Luís Souto não acedeu. Na altura, o autarca argumentou que a discussão só deveria ocorrer após reunidas as informações necessárias para avaliar as “consequências” da eventual revogação.
“Sinergia de Forças” juntou bombeiros, fisioterapeutas e estudantes na ESSUA e já motiva nova edição
Segundo uma nota de imprensa enviada à Ria esta terça-feira, 9 de dezembro, o evento resultou de uma organização conjunta entre a ESSUA e Dylan Gonçalves, fisioterapeuta e bombeiro especialista em atuação em emergências, contando ainda com uma “rede nacional de colaboração” e com o apoio da Câmara de Aveiro. Ao longo do dia, a iniciativa integrou palestras científicas dedicadas à exposição ao risco, saúde ocupacional e estratégias de desempenho em contexto de emergência, bem como com workshops especializados em áreas como “segurança física, atuação em cenários de stress, ergonomia na emergência e técnicas específicas de suporte físico e respiratório”. De acordo com a organização, o evento destacou-se pelo “ambiente de cooperação e pela oportunidade de aproximar profissionais e estudantes de áreas distintas, promovendo uma visão integrada da resposta à emergência e da proteção da saúde dos operacionais”. Dado o “interesse manifestado”, a ESSUA adianta ainda na nota que já se “perspetiva” uma segunda edição. A missão passa por “unir a ciência, a formação e a comunidade no serviço à segurança e à saúde pública”. A sessão de abertura contou ainda com a presença de representantes institucionais e estudantis e com a atuação da tuna da ESSUA. Participaram ainda na iniciativa os “operacionais dos Bombeiros Novos e dos Bombeiros Velhos de Aveiro”, entre outros agentes da região.
Em 2024 editaram-se menos livros e o preço aumentou face a 2023
No relatório anual estatístico de Cultura de 2024, o INE explica que os dados em relação ao mercado livreiro são provisórios, mas demonstram que os 11.615 livros editados representam o segundo valor mais baixo em cinco anos. O INE faz uma comparação do mercado livreiro entre 2020 e 2024, indicando que em 2020, ano marcado pela pandemia da covid-19, foram editados 10.279 livros. Nos anos seguintes, o número de livros impressos foi subindo gradualmente - 12.302 livros em 2021, 13.157 em 2022 e 13.557 em 2023 -, registando-se no ano passado 11.615 obras impressas. Estes dados têm por base a atribuição do número de depósito legal, da Biblioteca Nacional de Portugal. Do total de livros impressos editados no ano passado, 87% foram primeiras edições e os restantes 13% reedições. Em Portugal, a literatura dominou a tipologia de livros editados em 2024 (67,4%), seguindo-se as denominadas “obras de referência”, como dicionários e enciclopédias (4,9%), e os manuais escolares (4,1%). Em 2024, publicaram-se obras de 9.484 autores, o que representa uma diminuição de 6,5% face ao ano anterior. Os livros foram o terceiro bem cultural mais exportado por Portugal em 2024, representando 7,3% do total de exportações. Segundo o INE, as exportações de bens culturais atingiram 244,8 milhões de euros em 2024, com um aumento de 6,6% em relação ao ano anterior, e os livros foram o terceiro produto mais exportado (7,3%), logo a seguir aos artigos de joalharia (39,2%) e aos bens de artesanato (36,8% do total). Quando às importações, o valor total atingiu 513,7 milhões de euros, numa ligeira diminuição de 0,8% face a 2023. Nesta área, os bens culturais mais importados foram os artigos de joalharia (34,3% do total), os livros (15,8%) e os “bens de audiovisual e média interativa” (13,3%).
Mau tempo afundou barco Moliceiro que estava atracado na Costa Nova
“Durante a madrugada, tivemos vento do quadrante sudoeste, conjugado com a maré vazante e a chuva inundou de água o moliceiro que naufragou”, disse à Lusa Paulo Ramalheira, presidente do CVCN. O responsável referiu ainda que a embarcação, que pertence a um particular, estava temporariamente atracada no porto de abrigo do CVCN. Paulo Ramalheira explicou que, neste momento, o moliceiro “encontra-se completamente debaixo de água”, mas, aparentemente, não tem danos estruturais. Os responsáveis do CVCN vão durante a maré enchente, da parte da tarde, tentar retirar o moliceiro, que, entretanto, se encaixou entre o fundo e o pontão quebra-mar, e colocar a embarcação a flutuar. Este acidente ocorreu no dia em que a UNESCO anunciou a inscrição do barco Moliceiro na Lista de Património Imaterial em Necessidade de Salvaguarda Urgente daquele organismo. A arte da carpintaria naval da região de Aveiro, traduzida nos barcos moliceiros, foi hoje inscrita na lista de património imaterial em necessidade de salvaguarda urgente da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. A decisão foi tomada durante a 20.ª sessão do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, a decorrer até sábado em Nova Deli, na Índia.