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CMA aprova Plano de Pormenor do Cais do Paraíso perante coro de críticas da oposição

A reunião do Executivo Municipal de Aveiro desta quarta-feira, dia 27 de agosto, foi uma das mais participadas dos últimos tempos. O ponto mais quente, a aprovação do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso, tem sido tema grande na cidade e, por conseguinte, motivou críticas de todos os quadrantes políticos e da sociedade civil. O Plano acabou por ser aprovado por maioria com os votos contra dos três vereadores da oposição. Segue agora para a Assembleia Municipal que terá o último veredicto.

CMA aprova Plano de Pormenor do Cais do Paraíso perante coro de críticas da oposição
Redação

Redação

28 ago 2025, 20:55

Para José Ribau Esteves, presidente da Câmara Municipal de Aveiro (CMA), são mesmo as eleições que explicam a adesão à reunião e a polémica à volta do Plano de Pormenor. “É um verão mais quente que o normal, há uma disputa eleitoral. Mas a governação tem de ser feita também em tempos de disputa eleitoral”, considera o edil.

Entre as críticas que deixou aos candidatos, destacam-se os ataques a Alberto Souto, que avança em representação do Partido Socialista. Ribau Esteves repetiu a crítica que já tinha feito na última reunião de Câmara, dia 7 de agosto, a propósito da providência cautelar interposta por Alberto Souto para travar a demolição do antigo edifício da CERCIAV. O autarca voltou a apontar o dedo ao socialista por “querer mandar antes de ser eleito” e, desta vez, acrescentou que se o faz é por estar com um “problema mental ou psicopolítico”.

Antes do momento da discussão do Plano de Pormenor, a Câmara deliberou antecipar o período de participação do público, de forma a ouvir os cidadãos antes de serem tomadas decisões. Na fila para participar constavam sete pessoas, todos homens, que, na sua grande maioria, expressaram preocupação e oposição em relação ao Plano de Pormenor.

O primeiro a tomar a palavra foi Armando Grave, candidato à Assembleia Municipal e deputado na Assembleia da República pelo partido Chega. Como cidadão, a primeira pergunta que colocou a Ribau Esteves foi o porquê de a discussão estar a acontecer em pleno mês de agosto, numa altura em que a maioria dos aveirenses estão de férias.

De seguida, na sequência das declarações à Ria de Nuno Pereira, responsável de desenvolvimento de projetos imobiliários da Mully Group, que tem trabalhado diretamente no projeto do Cais do Paraíso, Armando Grave diz que os contornos do negócio ficaram mais “opacos”. Nesse sentido, com a lembrança de que os terrenos chegaram a ser colocados à venda na Remax por 20 milhões de euros, questionou o presidente se entendia que o negócio estava a ser feito de forma transparente. Da mesma forma, perguntou ainda quem beneficiaria da “alteração” do Plano de Pormenor.

Na resposta, Ribau Esteves explica que a questão temporal se prende apenas com o cronograma. Conforme afirma, o Plano precisa da aprovação da Assembleia Municipal até ao próximo dia 6 de setembro, pelo que seria necessário discuti-lo durante o mês de agosto. É possível que um Plano de Pormenor termine depois dos 18 meses, garante o presidente, mas seria necessário haver “justificações de uma profundidade muito clara”, algo que diz não acontecer.

Não obstante, o autarca fez questão de assinalar o número recorde de participações no período de discussão pública de um Plano de Pormenor. Foram submetidas 44 propostas, o que apenas se compara à participação aquando da discussão do Plano Diretor Municipal (PDM). No período de discussão pública que precedeu a elaboração do Plano de Pormenor, entre 13 de setembro e 3 de outubro de 2023, Ribau Esteves nota que só houve sete participações.

Contra as acusações de falta de transparência, o presidente da CMA afirma que se trata do Plano “mais democrático” feito pela autarquia. Primeiro, porque as imagens do hotel começaram a circular nas redes sociais antes de se pensar fazer um Plano de Pormenor e, depois, porque houve proprietários – nomeadamente, a família Bóia – que tiveram contactos com os investidores para tentar chegar a um acordo para a cedência do terreno.

Depois de António Paulo Bóia ter avançado à Ria durante a semana que a família ia avançar para tribunal contra a Câmara Municipal de Aveiro, Ribau Esteves não poupou nas críticas ao proprietário. O autarca considera ser “uma coisa fantástica” que se ameace a CMA através da comunicação social.

No mesmo sentido, sublinha que vai a tribunal “com todo o gosto”, uma vez que tem como comprovar que António Paulo Bóia lhe pediu ajuda para conseguir estabelecer um acordo. A única razão que leva os proprietários a querer avançar com um processo é, de acordo com o presidente, o facto de o Plano de Pormenor determinar a impossibilidade de se construir um edifício nos terrenos que lhe pertencem.

Sobre ter “alterado” o Plano de Pormenor, Ribau Esteves garante que não existiu qualquer modificação. Conforme explica, os termos de referência do Plano têm “coerência absoluta” com o documento final.

Ainda na defesa da transparência do processo, o autarca garante que era possível licenciar o hotel sem Plano de Pormenor. Recuando na trilha cronológica, Ribau Esteves nota que foi pelo fim do Plano de Urbanização do Polis, ditado pela revisão do Plano Diretor Municipal em dezembro de 2019, que foram criadas as condições urbanas para que fosse aprovado este hotel. Se a Câmara Municipal tivesse preferido, diz o presidente, o licenciamento teria apenas de estar sujeito a inquérito público depois do investimento ser considerado um Empreendimento de Carácter Estratégico (ECE). No entanto, Ribau Esteves diz que, por já antever o conflito com os proprietários da família Bóia, a autarquia entendeu “densificar” o processo.

O presidente nota que também soube que o terreno chegou a estar à venda por 20 milhões de euros. Caso tivesse sido vendido, entende, a Câmara Municipal “não teria mão” nesse tipo de processo.

Mais tensa foi a troca de palavras com Diogo Soares Machado. O agora candidato do Chega à Câmara Municipal foi o segundo a intervir.

Diogo Soares Machado começou por defender que Ribau Esteves se contradisse várias vezes ao longo da anterior resposta. A começar tomando por base aquilo que Nuno Pereira disse à Ria, o candidato apontou que os donos do terreno já não são, conforme tinha acabado de referir o presidente, o Grupo VIP Hotels. Recorde-se que, de acordo com o responsável de desenvolvimento de projetos imobiliários da Mully Group, a família Munir não irá utilizar a marca VIP Hotels, mas antes a marca “Hotel Mully Grand”. Depois, Diogo Soares Machado afirmou que, se Ribau Esteves quisesses facilitar a vida a Luís Souto Miranda, candidato da “Aliança com Aveiro” à CMA, deixaria o Plano de Pormenor para aprovação do próximo Executivo, deixando no ar a ideia de que, na sua opinião, Ribau Esteves não quer facilitar a vida a Luís Souto nas próximas eleições autárquicas.

A principal questão que Diogo Soares Machado fez ao presidente da Câmara foi relativa à estrutura acionista da Cais do Paraíso S.A. Conforme afirma, de acordo com a Dun & Bradstreet, 48% do capital social, cujo total é de 500 mil euros, pertenceria à AAK Holding, Limited, empresa detida por Munir Asharaf Aly com sede nos Emirades Árabes Unidos. Outros 48% seriam detidos pela Festival Investment Group, Limited., com sede nas Ilhas Virgens. A propriedade dos restantes 4% seria, de acordo com o candidato do Chega, desconhecida.

Recorde-se que esta estrutura é diferente daquela que a Ria avançou ontem com base nas declarações de Nuno Pereira. Segundo o responsável, 50% da sociedade pertence a Nizarali Kassam Manjy, 48% à AAK Holding, Limited, 1% a Munir Asharaf Aly e 1% à sua esposa.

Questionado hoje pela Ria sobre as diferenças, Nuno Pereira desmentiu o candidato do Chega. Para confirmar os dados que tinha indicado, o responsável fez chegar à Ria o registo de beneficiários efetivos, datado de dezembro de 2024, que comprova a informação veiculada antes da reunião de Câmara.

Para além de pedir a Ribau Esteves que diga “tintim por tintim” quem compõe a estrutura acionista da Cais do Paraíso S.A., Diogo Soares Machado comparou o Plano de Pormenor a uma “betoneira”. O candidato do Chega, que fez questão de afirmar que falava na qualidade de cidadão, explica que, da mesma forma que a betoneira cria valor acrescentado ao transformar a matéria-prima em cimento, é o Plano de Pormenor que torna possível a construção do hotel. Por isso, Diogo Machado afirma querer saber também “ao que vêm” os investidores e se há um compromisso escrito para a construção do hotel a “x anos”.

Durante a resposta, na qual Ribau Esteves chegou a ameaçar suspender a reunião e chamar a polícia para retirar da sala Diogo Soares Machado por apartes que interrompiam, na sua opinião, o discurso, o presidente voltou a culpar a disputa eleitoral pela forma como lhe apontavam o dedo: “os candidatos passam a vida a falar para mim”. “Os senhores tiveram a oportunidade de ser candidatos contra mim e nunca o quiseram ser. Tenho imensa pena, iria divertir-me ‘imensíssimo’ com candidatos como os que temos hoje. Agora, não me metam numa discussão à qual não pertenço. Deixem-me em paz, não tenho nada a ver com assunto”, expôs.

No que aos investidores diz respeito, Ribau Esteves garante que não sabe qual a estrutura societária da Cais do Paraíso S.A., “nem tem que saber”. A única pessoa com quem diz ter reunido sempre foi Munir Aly, na qualidade de líder da VIP Hotels.

O autarca enfatiza, no entanto, que Diogo Soares Machado pode recuar no processo de construção do hotel no caso de vencer as eleições. Nas palavras de Ribau Esteves, o Plano de Pormenor serve apenas para criar as condições legais que permitem a construção do edifício, mas não é um compromisso com qualquer avanço, pelo que reverter o Plano “custa zero euros”. Note-se que, segundo a legislação em vigor, para o documento ser revogado terá que ser os meus trâmites da sua aprovação. A esse propósito, o candidato socialista à CMA, Alberto Souto, escreveu hoje nas suas redes sociais que, tendo em conta que já são conhecidas imagens 3D do projeto do hote, “é muito crível pensar-se que o pedido de licenciamento esteja pronto a ser apresentado, logo após a entrada em vigor do Plano de Pormenor” e que a revogação do plano pode “originar vultuosas indemnizações” para os investidores. Com estas declarações o socialista pretende contrariar a teoria do presidente da autarquia de que a revogação seria um processo simples.

De entre as intervenções da tarde, destaca-se outro candidato que interveio na reunião. Paulo Alves, que avança pelo partido Nós, Cidadãos!, diz que “não gostava de estar no lugar do presidente”. O candidato considera que “todas as instituições” estão contra o plano. Ao passo que, segundo afirma, o Turismo de Portugal emitiu um parecer negativo, Paulo Alves diz que a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) apenas delegou a decisão para a Câmara Municipal porque, segundo rumores que alega existirem na cidade, Ribau Esteves “poderá estar com um pé na Câmara e outro na CCDR”.

Paulo Alves nota ainda que, depois de ler o Plano, não encontra áreas de cedência do promotor ao domínio público – algo que, afirma, tem de ser feito por lei. Entre as críticas, o candidato do Nós, Cidadãos!, aponta ainda que vão ser feitos poucos lugares de estacionamento públicos – apenas 32 para as novas 600 camas -, que não foi feito um estudo de impacto ambiental e que o plano foi desenhado à imagem das necessidades do investidor e não de acordo com o interesse público – uma ideia que parece ser partilhada por todos os partidos da oposição da direita à esquerda.

Ribau Esteves começou por responder que nem “todos” estão contra si, até porque a “esmagadora maioria” dos cidadãos confia no trabalho da maioria que governa o Município. Aliás, tanto confia que, nas palavras do presidente, o projeto que venceu a CMA em 2021 daria uma “cabazada” aos atuais candidatos. Ainda assim, tendo em conta algumas opiniões desfavoráveis, lembra que “quem manda é a Câmara, não é o Turismo de Portugal ou a Associação Portuguesa do Ambiente”.

No mesmo sentido, o autarca desvaloriza o parecer do Turismo de Portugal, que afirma não ser negativo, mas sim favorável condicionado – segundo explica, está condicionado ao cumprimento daquilo que entendem ser desfasamentos legais da CMA em relação às competências da entidade.

Ribau Esteves nega também “estar com um pé na CCDR” e diz ter ambos os pés na Câmara Municipal de Aveiro, pelo que desconsidera as acusações de Paulo Alves. Conforme já tem vindo a dizer à comunicação social nos últimos meses, o autarca voltou a afirmar que ainda não sabe o que vai fazer no futuro após o final do seu mandato.

Para defender que o Plano não foi desenhado à medida do investidor, o presidente explica que, na primeira versão, o hotel teria 18 pisos. No entanto, por não defender o projeto, a autarquia não autorizou. Uma informação que também já tinha sido transmitida à Ria pelo representantes dos investigadores. Ribau Esteves acrescenta que, por não fazer cedências ao domínio público, o promotor terá de pagar uma taxa de compensação mais avultada do que aconteceu noutros projetos. Quanto aos lugares de estacionamento, afirma que os privados não têm de fazer estacionamento público, colocando de parte o cenário em que, por essa via, também o promotor poderia contribuir para o interesse público.

Sobre o mesmo assunto, interveio ainda na reunião Miguel Coutinho, que se apresentou como ex-presidente da Associação Portuguesa de Avaliação de Impactos e da Associação Internacional de Avaliação de Impactos, atualmente a trabalhar nas Nações Unidas a validar a avaliação de impactos sociais e ambientais de uma série de projetos na América Latina. O cidadão afirma que é necessário intervir no Cais do Paraíso, mas opõe-se ao plano proposto.

Entre as críticas, Miguel Coutinho considera que o Plano de Pormenor não dá resposta aos problemas do Cais do Paraíso – como a ligação ao Alboi ou os edifícios pré-existentes – e apenas explica como “encaixar” um edifício de 12 andares no espaço. Fazendo uso da sua carreira profissional, defende que a obra é suscetível de ter impactos significativos no ambiente e, portanto, espera que o Turismo de Portugal, enquanto entidade licenciadora, decida acionar um estudo de impactos ambientais.

Miguel Coutinho alerta ainda para o grande impacto que o hotel vai ter na paisagem aveirense que, segundo afirma, “não tem capacidade de absorção visual” do edifício. No entendimento do especialista, o mais grave é mesmo a forma como a obra vai afetar a identidade de Aveiro.

Para Ribau Esteves, quando se tenta transpor o conceito de “absorção visual” para o plano objetivo “encontramos um absurdo de dimensão incomensurável”. A crítica foi desvalorizada pelo autarca que, a título de exemplo, questionou o cidadão como é que a ria faz a absorção visual do “mamarracho” que é o viaduto ferroviário que faz a ligação da Linha do Norte ao Porto de Aveiro.

Sobre as restantes questões, o presidente da CMA disse apenas confiar na avaliação dos técnicos envolvidos no projeto: “Este projeto tem dezenas de arquitetos e planeadores da Câmara e de empresas que consultámos a trabalhar nele – embora seja um plano de técnicos da Câmara. São mais ou menos competentes que o Miguel, que tem esse currículo todo? Não sei, tenho de respeitar todos”.

A resposta foi a mesma para os moradores do “prédio cor-de-rosa”, como foi apelidado durante a reunião, que se localiza junto ao futuro hotel, junto à rotunda de entrada em Aveiro. Perante o medo de que o edifício afetasse de alguma forma o prédio, Ribau Esteves assegurou que o argumento é uma repetição do que já tinha ouvido aquando da obra no Rossio.

Na altura, diz o autarca, toda a gente dizia que ia cair tudo no “buraco” do Rossio. Apesar de admitir que “os engenheiros também erram”, o presidente diz que o argumento da segurança dos prédios vizinhos é para quem não tem mais argumento nenhum. Urbanisticamente, afirma até que era adepto de demolir o “prédio cor-de-rosa” – algo que diz ter sido proposto também por um cidadão no período de discussão pública anterior à elaboração do Plano de Pormenor -, mas “fez as contas” e percebeu que seria uma intervenção desnecessária.

Plano de pormenor foi aprovado por maioria com os votos contra da oposição

Já no período de discussão de ordem de trabalhos, Ribau Esteves começou por dar nota de que o vereador agora independente, Rui Soares Carneiro, apresentou um “conjunto de propostas de alteração”, mas que apenas uma parte destas foram acolhidas.

No seguimento, Fernando Nogueira, vereador do PS, questionou o presidente da Câmara sobre as garantias relativas à entrega do terreno do antigo aquartelamento da Polícia Marítima à Câmara, assim como sobre as áreas incluídas no caminho municipal. Em resposta, o presidente da Câmara afirmou que o processo relativo ao terreno do antigo aquartelamento ainda não está concluído, uma vez que o local ainda possui “servidão militar”.

Ao abordar o processo de consulta pública do Plano de Pormenor, Fernando Nogueira manifestou a sua discordância relativamente ao período em que decorreu, uma vez que coincidiu com as férias. O vereador socialista acusou Ribau Esteves de “triturar” opiniões, baseando-se “numa contra-argumentação jurídica e (…) numa ponderação unilateral do valor e do interesse público destas questões”.

Relativamente às mais de quatro dezenas de participações no processo de consulta pública, o vereador do PS sublinhou que houve uma “posição unânime relativamente à volumetria da proposta, ao enquadramento urbanístico e ao seu impacto ambiental”. Acrescentou que “a Câmara não é sensível a isto e, do relatório das participações, o que se retira é que, perante contraopiniões, existe uma semântica purificadora de sustentabilidade ambiental e de equilíbrio urbano dentro da análise das possibilidades legais”.

Para o vereador da oposição, “a legalidade não é uma garantia de legitimidade e há demasiados indícios e muitas vozes a questionar esta proposta e até a justeza da construção deste mamarracho junto de outro mamarracho”.

Fernando Nogueira atirou que o Executivo “reduz as objeções a zero com base em argumentos de recurso e que são até difíceis de perceber perante a doutrina de planeamento que tem sido adotada pela Câmara”. “Diz [Ribau Esteves] que o que justifica esta volumetria é até a nova corrente de urbanismo europeia com o conceito da cidade compacta”, recordou, finalizando que “às preocupações dos munícipes, o senhor dá uma cabazada”.

O vereador admitiu ainda que o PS ponderou “não participar nesta votação” por estar “malformada, embora, tenha todas as condições (…) de legalidade”. Face a isto, o PS votou contra a proposta.

Em resposta, José Ribau Esteves recordou que “o Plano de Pormenor não constrói nada”. “O Plano de Pormenor cria condições para que se construa”, frisou. “A hipótese de licenciarmos ali a construção de um hotel, obviamente, investimento privado (…) é bem anterior ao Plano de Pormenor”, afirmou. Referindo-se a Alberto Souto de Miranda como “líder espiritual político do partido”, Ribau Esteves recordou que este já tinha divulgado, através do Facebook, a imagem do futuro hotel antes mesmo da elaboração do Plano de Pormenor. “Toda a gente sabe disso. É público”, rematou.

O presidente da Câmara aproveitou ainda para falar sobre a “guerra jurídica” com a família Bóia, proprietária de parte dos terrenos do Cais do Paraíso. Recorde-se que tal como avançado pela Ria, António Paulo Bóia acusou o Executivo liderado por Ribau Esteves de dar “um alegado privilégio exclusivo a um só promotor”, ignorando os restantes proprietários, e de estar a desrespeitar um compromisso assumido há mais de 50 anos com a família. No comunicado enviado à Ria, a família discorda da opção da autarquia de transformar o terreno num jardim público e, dessa forma, impedir a construção. Segundo o autarca, o problema da família não é a construção do hotel, mas sim um impedimento em construírem um “prédio de seis pisos no terreno deles”.

“Ficava ali bem um prédio de seis pisos no gaveto? Era uma coisa interessante? Para o proprietário era fantástico. (…) Se já se vendem apartamentos de 1.5 milhões de euros no Cais da Fonte Nova, ali os do quarto, quinto e sexto andar havia de ser de quatro milhões para cima. (…) A nossa opção urbana é não”, frisou José Ribau Esteves que, para os terrenos vizinhos à família Bóia, assume como uma opção urbana a construção de um hotel com 12 andares.

Recorde-se que nesse comunicado a família recorda um “compromisso de honra” assumido pelo Município em 1973. Nessa altura, a sua casa no Cais do Paraíso foi demolida para permitir a abertura da estrada da Barra. Como compensação, a Câmara terá assinado uma escritura que lhes concedia o direito de construir, “para sempre”, nos terrenos sobrantes.

A crítica central da família prende-se ainda com aquilo que chamam de exclusividade: na sua visão, o plano permite apenas a um dos promotores construir um megaedifício, enquanto impede os restantes de desenvolver qualquer projeto. Questionado à margem da reunião camarária sobre a justiça desta opção, Ribau Esteves devolveu a questão à Ria:

“Acha justo que toda a gente que tem um terreno não possa construir um prédio de seis pisos no seu terreno? Já viu o que é a nossa cidade se toda a gente tivesse tido no passado, ou tivesse de hoje para a frente, o direito de fazer um [prédio] onde tinha o espaço verde? Onde é que você tinha aberto mais uma rua? E aquelas pessoas a quem o Girão Pereira demoliu casas onde as pessoas viviam para abrir, por exemplo, a Avenida Santa Joana. Acha justo?”, rematou.

Durante a sua intervenção, Rui Carneiro afirmou ter-se sentido “surpreendido” por não observar um maior número de propostas durante a discussão pública do Plano de Pormenor, especialmente tendo em conta o ruído “positivo e legítimo” que tem acompanhado o tema. No seguimento, frisou que se insere tanto na discussão como com a petição, disponível online, destinada à CCDR-Centro, contra a construção do hotel de 12 andares e que conta já com 644 assinaturas. “Acho que deveria haver neste campo uma maior vinculação das pessoas e dos atores políticos”, opinou.

Quanto às propostas de alteração que apresentou, o vereador explicou que estas se concentraram em três eixos principais: a mitigação do impacto volumétrico do edifício, a garantia de integração arquitetónica e paisagística e a afirmação do interesse público relativamente ao estacionamento. Rui Carneiro adiantou ainda que quatro dos artigos que sugeriu foram aceites, enquanto três não tiveram aprovação.

Ao contrário da reunião camarária de 24 de junho, em que se absteve da votação do Plano de Pormenor, desta vez o vereador independente votou contra a proposta. Ainda assim, o plano foi aprovado por maioria e segue agora para Assembleia Municipal no dia 2 de setembro.

Alberto Souto e João Moniz pedem a Luís Souto que tome uma posição, mas candidato da “Aliança” não responde

Através do Facebook, Alberto Souto reagiu esta manhã à aprovação do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso na reunião de executivo camarário de ontem. O candidato do Partido Socialista à Câmara Municipal de Aveiro garante que a construção do hotel, que apelida de “tolice”, não será feita no caso de ser eleito. O ex-presidente, que governou Aveiro entre 1998 e 2005, acrescenta ainda que não conhece ninguém para além dos vereadores e de Luís Souto, candidato da “Aliança com Aveiro”, que seja a favor do projeto. Nesse sentido, considera que as pessoas que estão a votar favoravelmente o Plano de Pormenor “merecem ter o seu nome inscrito na placa a este monumento à nossa parolice urbanística”.

Das perguntas que deixa, muitas já tinham sido colocadas durante a reunião. No entanto, Alberto Souto acredita que ficaram sem resposta. Primeiro, o candidato diz ter ficado sem perceber o porquê da realização do Plano de Pormenor se, conforme disse o presidente, era possível licenciar o hotel sem ele. A única explicação que encontra é que “só com um Plano de Pormenor conseguiria retirar capacidade de construção ao terreno da família Boia, para ali prever um relvado e, assim, permitir as vistas do Hotel para o canal central”. Caso se verifique, Alberto Souto acusa o autarca de crime de prevaricação e abuso de poder.

Depois, o candidato socialista à CMA volta a questionar o porquê de o Plano de Pormenor ter sido aprovado em agosto, a seis semanas das eleições autárquicas. Também aqui, Alberto Souto especula que Ribau Esteves pode ter ficado “entalado” por ter prometido ao comprador do terreno que poderia lá construir um hotel de 12 andares quando a venda foi feita. Se se verificar, o candidato do PS considera a possibilidade de o Município incorrer em “pesadas indemnizações” caso o hotel não avance.

Alberto Souto afirma ainda que, ao dizer que “revogar o Plano de Pormenor é de graça”, Ribau Esteves tenta passar os cidadãos por “analfabetos cívicos”. Conforme aponta, “é muito crível pensar-se que o pedido de licenciamento esteja pronto a ser apresentado, logo após a entrada em vigor do Plano de Pormenor”.

A publicação do candidato do Partido Socialista termina com um desafio ao candidato da “Aliança com Aveiro”, Luís Souto Miranda, que atualmente ocupa a posição de presidente da Assembleia Municipal. Alberto Souto pede ao oponente que não inclua o Plano de Pormenor do Cais do Paraíso na ordem de trabalhos da Assembleia da próxima terça-feira, dia 2. A citar Ribau Esteves, Alberto Souto repete que o próximo executivo pode revogar o Plano de Pormenor e, portanto, questiona: “Porque não esperar então algumas semanas?”.

Caso responda ao desafio, Alberto Souto considera que Luís Souto teria um “ato de coragem e de defesa dos interesses de Aveiro”. No sentido oposto, se colocar o ponto na ordem de trabalhos da Assembleia, o candidato socialista afirma que “apesar de lamentavelmente o Luís ser favorável a esta monstruosidade, será um ato de vassalagem e obediência acéfala”.

João Moniz, candidato do Bloco de Esquerda à CMA, também interpela Luís Souto Miranda através do Facebook. Numa publicação feita esta manhã, o bloquista questiona qual será o sentido de voto do candidato na Assembleia Municipal.

No mesmo texto, considera “inaceitável” a decisão tomada na reunião de executivo camarário por considerar que o hotel virá agravar ainda mais a crise da habitação sentida no Município. No entendimento de João Moniz, “pelo efeito de mancha de óleo e de sobreaquecimento no mercado imobiliário, que terá a inevitável consequência de aumentar ainda mais o preço do m² em todo o Município”.

Da mesma forma, considera “inaceitável” o efeito que o projeto terá na paisagem da cidade. O “mamarracho” de 12 andares não tem, na ótica de João Moniz, “praticamente nenhum” benefício para Aveiro e para os aveirenses, pelo que “só pode contar com toda a oposição” do Bloco de Esquerda.

O candidato volta a desafiar todos os partidos candidatos à Câmara Municipal de Aveiro, conforme já tinha feito no início do mês, a alinharem com o Bloco na proposta de criação de um parque público para o Cais do Paraíso.

A Ria já tentou contactar o candidato da “Aliança” para obter uma reação aos desafios dos oponentes do PS e do BE, mas até ao momento não obteve qualquer declaração.

Relembre-se ainda que, tal como avançado pela Ria, a 31 de janeiro de 2019, José Ribau Esteves, numa conferência sobre turismo realizada na Universidade de Aveiro, anunciava já publicamente a vinda de um hotel de cinco estrelas com centro de congressos para o Cais do Paraíso, conforme noticiado na altura pelo Notícias de Aveiro. O autarca deixava mesmo um aviso: “Quando eu disser onde vai ser, quantos pisos tem, etc., vai cair o Carmo e a Trindade a algumas almas.”

Interpelado pela Ria à margem da reunião camarária sobre que hotel se referia, em 2019, Ribau Esteves afirmou não saber. “E não sei porquê? Porque estes três hóteis que referenciei há bocado – o do Cais do Paraíso, o da Foz de Prata e o da Vitasal - eu trabalho nestes dossiers desde que aqui cheguei”, referiu.

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PSD-Aveiro diz que não há fundamentos para revogar o Plano de Pormenor do Cais do Paraíso

Num comunicado enviado às redações, os sociais-democratas acusam o PS de apresentar declarações “contraditórias e manifestamente pobres”, considerando que os vereadores socialistas tentaram “desviar o foco do essencial”, ao afirmarem que o problema não reside no projeto hoteleiro em causa, mas sim no modelo de turismo, desenvolvimento e criação de emprego associado. Para o PSD, esta posição é “no mínimo incoerente”, sublinhando que o turismo qualificado, o desenvolvimento económico e a criação de emprego devem ser objetivos centrais de “qualquer município moderno e ambicioso”. A concelhia liderada pelo PSD defende que o projeto previsto para o Cais do Paraíso constitui “uma oportunidade concreta de investimento privado”, com a instalação de um hotel de cinco estrelas capaz de reforçar a atratividade turística de Aveiro, aumentar a estadia média dos visitantes e gerar riqueza e emprego. No mesmo comunicado, o partido destaca o atual estado de degradação da zona do Cais do Paraíso, classificando-a como “abandonada e sem dinamismo”, e sustenta que o espaço necessita de uma requalificação “séria e estruturada”. O PSD recorda ainda que, segundo foi referido pelo presidente da Câmara Municipal de Aveiro, a revogação de um plano de pormenor exige “razões excecionais e devidamente fundamentadas”, considerando que essas condições “não existem, nem foram demonstradas” no caso concreto. Para os sociais-democratas, qualquer tentativa de travar ou reverter o processo compromete a imagem de Aveiro enquanto território “fiável e credível para investir”. O partido defende que o concelho deve respeitar os seus compromissos e instrumentos de planeamento, criando condições para atrair investimento e promover o desenvolvimento sustentável. “ Aveiro não pode continuar refém de discursos inconsequentes, contradições políticas e do imobilismo”, conclui o comunicado, datado de 15 de dezembro de 2025. A Concelhia do PSD de Aveiro vem manifestar a sua profunda discordância e preocupação face às declarações contraditórias e manifestamente pobres proferidas pelos Senhores Vereadores do Partido Socialista na última reunião da Câmara Municipal de Aveiro, a propósito da revogação do plano de pormenor urbanístico previsto para o Cais do Paraíso. Ao longo da referida reunião, ficou claro que o PS tenta desviar o foco do essencial, afirmando que o problema não é o hotel em si, mas sim o turismo, o desenvolvimento e os empregos que o projeto poderá trazer para Aveiro. Esta posição é, no mínimo incoerente. O turismo qualificado, o desenvolvimento económico e a criação de emprego são precisamente alguns dos principais desígnios que qualquer município moderno e ambicioso deve promover e defender. A verdade é simples e inegável: a zona do Cais do Paraíso encontra-se atualmente abandonada, degradada e sem qualquer dinamismo. Carece urgentemente de uma requalificação séria e estruturada. O projeto em causa representa uma oportunidade concreta de investimento privado, com a instalação de um hotel de 5 estrelas, capaz de elevar a qualidade da oferta turística de Aveiro, aumentar a estadia média dos visitantes e gerar riqueza, emprego e notoriedade para o concelho e a região. Importa ainda sublinhar que, conforme referido pelo senhor Presidente da Câmara Municipal de Aveiro, a revogação de um plano de pormenor exige razões excecionais e devidamente fundamentadas. Ora, essas razões não existem, nem foram demonstradas. Qualquer tentativa de bloqueio ou retrocesso neste processo apenas fragiliza a imagem de Aveiro enquanto território fiável para investir. O PSD de Aveiro defende que o concelho deve ser visto como um município credível, que respeita os seus compromissos, os seus instrumentos de planeamento e que cria condições para atrair investimento e promover o desenvolvimento sustentável. Aveiro não pode continuar refém de discursos inconsequentes, contradições políticas e do imobilismo. O futuro do concelho constrói-se com decisões responsáveis, coragem política e uma visão clara de progresso. Aveiro, 15 de dezembro de 2025

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UA celebra 52 anos entre alertas sobre o futuro do ensino superior e um apelo à liberdade académica
Universidade

UA celebra 52 anos entre alertas sobre o futuro do ensino superior e um apelo à liberdade académica

Coube a Paulo Jorge Ferreira abrir a sessão. No seu discurso, começou por prestar uma homenagem a António Oliveira, presidente da OLI e antigo presidente do Conselho Geral da Universidade de Aveiro entre 2021 e 2025, recordando “tudo o que deu à instituição”. De seguida, começou por citar José Saramago para recordar que a UA foi “levantada do chão”. “Ergueu-se, apesar das muitas dúvidas e desafios, pela mão de muitos, graças à ousadia de todos nós”, afirmou. Reconhecendo que, após mais de meio século de existência, os desafios são hoje diferentes, sublinhou que a ousadia permanece “a mesma”. Entre os principais desafios, o reitor destacou os de natureza “demográfica”, da “requalificação”, da “internacionalização”, do “trabalho em rede”, da “digitalização e da transição climática”, da “credibilidade das universidades” e do “quadro legislativo”. Em torno de cada um deles, lançou questões como: “O que significa isto para a universidade?”, “Como os ultrapassar?” ou “Como devemos lidar com estas mudanças?”. No entanto, foi no quadro legislativo que o reitor da UA mais se debruçou. “Muda o RJIES, a governação das universidades, a arquitetura do sistema binário e o modelo de financiamento do ensino superior. Revê-se a Lei da Ciência. Reformula-se o Regime de Graus e Diplomas. Propõe-se um novo modelo para a Ação Social no Ensino Superior. Alteram-se os Estatutos de Carreira- de investigação, docente universitário e politécnico. Regulamenta-se o funcionamento de instituições estrangeiras em solo nacional. E o envelhecimento e a rigidez das carreiras e sistemas de avaliação dificultam o rejuvenescimento institucional”, expõe. Face a isto, Paulo Jorge Ferreira atentou que este cenário “não é chão firme”, mas sim “areia movediça”. No seguimento, alertou para a “tensão entre a vontade política de atualizar o quadro legal” e o “ruído operacional que tanta mudança simultânea provoca”. “O risco dos cenários movediços é a inércia preventiva: ficarmos parados à espera que a poeira assente”, avisou. A ideia de inércia serviu de mote para o reitor voltar a traçar um paralelismo com o percurso da instituição, que, segundo afirmou, “não sabe ficar parada”. “Nos anos setenta e oitenta do século passado também havia incerteza quanto ao futuro. E foi na incerteza que construímos o que hoje somos”, refletiu. No domínio demográfico, Paulo Jorge Ferreira destacou a aposta da Universidade de Aveiro na “formação ao longo da vida e na requalificação”. Sobre a internacionalização, recordou que a UA foi “uma das primeiras universidades europeias” a integrar a Universidade ECIU. Já no que respeita à colaboração internacional, especificou que, entre 2022 e 2025, a produção científica da instituição envolveu cerca de “4400 instituições de 144 países”. Relativamente à transição digital e climática, referiu a criação de “novas linhas de investigação”, bem como a revisão de currículos, a renovação de métodos de ensino e a redefinição de prioridades. Abordou ainda a questão da confiança pública na ciência, reconhecendo que a universidade “tem de comunicar melhor, partilhar com clareza e abrir-se ao escrutínio sem medo”. No que toca ao rejuvenescimento e às carreiras, o reitor indicou que a idade média dos investigadores “aumentou apenas um ano, para 41,2 anos”, enquanto a idade mediana dos docentes desceu de “50,6 para 50,5 anos”. Já no caso do pessoal técnico, a idade mediana subiu de “48 para 48,3 anos”. Em contrapartida, destacou que a mediana das remunerações aumentou “50%” e que o tempo mediano de permanência na instituição diminuiu de “10,8 para 4,7 anos”. Ainda assim, Paulo Jorge Ferreira reconheceu que a Universidade de Aveiro precisa de ir “mais longe”, embora sublinhando que “não temos estado parados”. Como tal, apontou que o quadro legal é instável, mas o que a “Europa e Portugal hoje incentivam” já a UA faz por “opção estratégica”. “Não são os Decretos-Lei que nos fazem. São as pessoas. E as pessoas da Universidade de Aveiro, todos vós, provaram este ano, mais uma vez, que a inovação não precisa de licença. E assim continuaremos, venha o que vier”, destacou. Em relação ao futuro, o reitor da UA deixou a nota que a UA tem de ser uma “vela e não uma âncora”. “Uma força que faz singrar, e não um lastro que atrasa. Não podemos controlar as tempestades que agitam o mundo. Mas podemos controlar o nosso barco. As dificuldades nunca foram a nossa desculpa; são o nosso teste”, atentou. Dirigindo-se, diretamente, a António Sampaio da Nóvoa o reitor aproveitou para recordar a sua passagem pela Universidade de Aveiro. “Há 46 anos, em 1979, enquanto Saramago terminava ‘Levantado do Chão’, Sampaio da Nóvoa, então professor do Magistério Primário de Aveiro, ajudou a fundar o GrETUA - o nosso Grupo Experimental de Teatro. A peça que encenou chamava-se ‘Um nó para cada mão’”, lembrou. Paulo Jorge Ferreira deixou ainda a nota de que uma “universidade sem alma cultural é um corpo sem vida”. “O GrETUA foi uma das primeiras manifestações dessa alma cultural. Por isso, hoje, ao regressar a esta casa, António Sampaio da Nóvoa não é uma visita. Sr. Professor, bem-vindo de volta”, exprimiu. Em dia de celebração, Joana Regadas optou por fazer uma “reflexão crítica”, colocando “questões e hipóteses” sobre a sua passagem pela instituição. “Falar sobre 52 anos de história de uma casa que apenas me acolhe há seis anos, revela-se um exame no qual, nem mesmo com muitas noites em claro, conseguiria facilmente aprovação”, começou por referir. A presidente da AAUAv sublinhou que, para “muitos”, as universidades representam o passo “mais ambicionado”. “Reveem as universidades como os locais que os irão impulsionar, permitir subir na escala social, encontram nas universidades os lugares de verdadeira mudança”, sintetizou. Recordando a missão central das universidades, a transmissão do conhecimento e a investigação, Joana Regadas identificou “dois lugares principais”, introduzindo aquilo que classificou como a primeira “falácia”. “Estes espaços poderão até ser suficientes para o primeiro perfil de mudança que identificamos anteriormente, mas claramente insuficientes para a mudança que tantos outros procuram, para a verdadeira e completa de mudança na sociedade, para a mudança que é necessário as universidades promoverem no contexto atual”, afirmou. Nesse sentido, alertou para a necessidade de a UA “alargar” os seus espaços a locais que “promovam o contacto, a troca e a partilha entre toda a comunidade académica”. A este propósito, destacou as cantinas, que, “ainda que insuficientes”, se tornam, para muitos, sobretudo estudantes, pontos centrais de integração e apoio, “desde as refeições rápidas em longas filas de espera até às refeições partilhadas com a ansiedade do exame que se segue”. Mencionou igualmente os espaços desportivos, “onde muitos encontram o equilíbrio necessário entre a azáfama do dia a dia e a pausa para a descontração”. Referiu ainda as residências universitárias, “tão famosas nas últimas 24 horas, mas esquecidas nos últimos 30 anos”. “Espaços que para muitos são casa, o lugar de conforto que tanto precisam, espaços que precisam de uma verdadeira mudança, de como são percecionados, de como são valorizados”, destacou. Joana Regadas debruçou-se também sobre o “campus disperso por diversas cidades”, que, segundo afirmou, “promove a mudança através da aproximação à comunidade envolvente, abrindo portas e recusando fechar-se sobre si próprio”. A reflexão culminou com a dirigente estudantil a sublinhar que a “verdadeira mudança reside nas pessoas, no que elas fazem dos espaços, e como toda a universidade se torna um ponto de partilha, construção de comunidade e ponto principal de mudança na sociedade”. No seguimento, reconheceu ainda que só uma “universidade que coloca as suas pessoas no centro, os estudantes, os docentes, os investigadores, os técnicos administrativos e de gestão, a sua comunidade seria capaz de construir estes belos 52 anos de história”. Tal como o reitor da UA, também Joana Regadas fez questão de deixar uma palavra de homenagem a António Oliveira. “No dia de aniversário da UA, perdemos uma pessoa que nos ensinou muito sobre o crescimento no desconforto e de como a mudança promovida pelas universidades vai muito para além da produção de ciência, impacta a sociedade, muda as perspetivas e reside dentro de cada um de nós”, exprimiu. Enquanto convidado especial da cerimónia, António Sampaio da Nóvoa começou por sublinhar que recusar o convite teria sido um ato de “ingratidão”, elencando alguns dos motivos já referidos por Paulo Jorge Ferreira. Ao revisitar o seu percurso em Aveiro, o fundador do GrETUA recordou que foi nesta cidade que iniciou a sua vida profissional, aos 22 anos, na então Escola do Magistério Primário. “Foi graças a um encontro com o professor João Evangelista Loureiro, então vice-reitor desta universidade, que se abriram os meus caminhos académicos, primeiro em Genebra, na Suíça. Foi também esta universidade que, no meu regresso, reconheceu os meus estudos numa área então praticamente inexistente em Portugal”, lembrou. “Sem o acolhimento, a compreensão e até a ousadia do professor João Evangelista Loureiro e da UA, o jovem de vinte e poucos anos que eu era não teria feito o percurso que conseguiu fazer”, acrescentou. Para esta comemoração, António Sampaio da Nóvoa afirmou querer deixar “dois gritos”: um pela humanidade e outro pela universidade, antes de encerrar com uma reflexão sobre Portugal. No que respeita à universidade, destacou que o seu papel é hoje “ainda mais importante do que no passado”. “Uma das nossas maiores responsabilidades é a criação de imaginários que mobilizem os jovens e a sociedade”, frisou. Nesse contexto, afirmou que o seu grito pela universidade é um grito de “liberdade”, referindo, em particular, a liberdade académica, que, segundo alertou, tem vindo a ser atacada “praticamente em todo o mundo”. Entre as ameaças a essa liberdade, apontou o “aumento desmedido da burocracia e da prestação de contas”. “É evidente que as universidades têm de prestar contas, mas devem fazê-lo sem procedimentos absurdos e despropositados. Quase todos nesta sala já tiveram de lidar com a FCT e com a forma como são geridos os projetos de investigação. Certamente concordarão que Kafka não teria engenho para inventar tamanha loucura”, ironizou. Sampaio da Nóvoa recordou ainda que há “anos e anos” que se discute a autonomia das universidades -antes, durante e depois do RJIES -, sempre com a promessa de que irá aumentar, mas acompanhada de “artifícios e artimanhas que vão mantendo tudo na mesma”. “Nesta fase da nossa vida política é melhor não mexer na Constituição, mas, quando tal for possível e houver condições para isso, seria importante escrever, com letras ainda maiores, aquilo que na verdade já lá está, mas que parece que as pessoas, as administrações e os governos não querem ler”, alertou, citando o artigo 76º. Para além da burocracia, o fundador do GrETUA apontou ainda o “aumento desmedido das métricas e do produtivismo académico”, que, segundo afirmou, restringem a liberdade de professores e investigadores. Na sua perspetiva, as universidades “tornaram-se máquinas de produzir” e os universitários “máquinas de escrever artigos”. “Hoje, em 2024, publica-se mais num só ano do que em todo o século passado. Os percursos académicos mais visíveis são feitos por quem aprendeu a arte de publicar artigos e de os multiplicar”, advertiu. Apesar do crescimento exponencial da produção científica, António Sampaio da Nóvoa alertou que a ciência publicada se tem tornado cada vez mais “confirmatória” e “replicativa”, sendo “cada vez menos disruptiva, criadora e imaginativa”. O antigo reitor da Universidade de Lisboa afirmou não ter dúvidas de que “estamos a perder a capacidade de criar, de iniciar algo novo, a alma das universidades, a sua capacidade de projetar e construir futuros”. “O meu grito pela universidade é um grito pela liberdade académica”, reiterou. Sampaio da Nóvoa sublinhou ainda que as universidades são “instituições decisivas para o futuro dos países e da humanidade”, por serem um dos poucos espaços onde ainda é possível “aspirar à construção de imaginários de um futuro com vida, com direitos humanos, com respeito pelas liberdades individuais e pelas decisões democráticas dos povos”. Já a concluir a sua intervenção, explicou a razão da alusão ao “grito”, recordando que a primeira peça de teatro do GrETUA se intitulava “Uma corda para cada dedo”. “Essa peça terminava com a leitura de um poema de Allen Ginsberg, chamado Uivo. E é por isso que falei de dois gritos. Um uivo que começa assim: ‘Eu vi as mentes mais brilhantes da minha geração destruídas pela loucura’”, evocou. “Também nós estamos hoje a assistir a um momento dramático do mundo, com a destruição do tecido democrático e o abandono dos direitos humanos, com as nossas crianças e jovens, e também os menos jovens, a serem capturados por palavras e imagens de ódio e de violência”, prosseguiu. “Por isso, quase cinquenta anos depois de vos ter trazido um uivo, quis agora trazer-vos um grito. Um grito pela humanidade, outro pela universidade e ainda um apontamento sobre Portugal”, completou o fundador do GrETUA. Sampaio da Nóvoa concluiu com um apelo direto à responsabilidade das instituições académicas: “Hoje não podemos ficar em silêncio. A universidade tem uma responsabilidade maior e tem de a cumprir porque, se não falarmos hoje, nem gritarmos, amanhã já será tarde”, rematou. A cerimónia terminou com um brinde e o corte de bolo no átrio do edifício da Reitoria. Para amanhã, 18 de dezembro, tal como avançado pela Ria, está ainda previsto, pelas 21h30, no Teatro Aveirense, um concerto que marcará o 28º aniversário da Orquestra Filarmonia das Beiras (OFB).

Museu Marítimo de Ílhavo promove Jornadas do Aquário no dia 17 de janeiro
Região

Museu Marítimo de Ílhavo promove Jornadas do Aquário no dia 17 de janeiro

A segunda edição das jornadas tem como tema “Uma perspetiva sobre os oceanos”, e visa “promover a reflexão, a partilha de experiências e a construção coletiva de ideias sobre os desafios mais prementes do oceano”. O evento tem início às 14h00 de dia 17 de janeiro, sábado, e conta com um painel de especialistas ligados à ciência e tecnologia do mar. Durante a conversa, os intervenientes vão refletir sobre acontecimentos passados, identificar ameaças atuais e perspetivar soluções através de inovações tecnológicas emergentes que moldarão o futuro. Esta edição conta com a parceria da Associação Portuguesa de Oceanografia (APOCEAN) e é uma iniciativa integrada na Década das Nações Unidas da Ciência dos Oceanos para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030). As Jornadas do Aquário, à semelhança da edição do ano passado, são acreditadas como uma formação de pequena duração (quatro horas) para educadores de infância e professores de todos os níveis/graus de ensino. No mesmo dia, pelas 15h00, realiza-se a oficina para famílias “Oceano: Aprender para conhecer”, dirigida a crianças dos 6 aos 10 anos. A participação nas jornadas é gratuita, mas sujeita a inscrição prévia, que pode ser efetuada enviando um e-mail para [email protected].

Câmara de Anadia aprova proposta de orçamento superior a 40 milhões de euros
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Câmara de Anadia aprova proposta de orçamento superior a 40 milhões de euros

Numa nota de imprensa enviada aos jornalistas, esta autarquia do distrito de Aveiro informou que a aprovação da proposta de Orçamento Municipal, bem como as Grandes Opções do Plano (GOP) e o Mapa do Pessoal para o ano de 2026 ocorreu na semana passada, em reunião extraordinária do executivo municipal. Contou com os votos a favor do PSD-CDS/PP e do Chega e a abstenção do PS. As áreas mais relevantes nas Grandes Opções do Plano (GOP) para 2026 são as funções sociais com 71,39%, com destaque para as áreas da habitação (19,84%); da educação, formação e qualificação (12,82%); do abastecimento de água (10,74%); cultura (5,81%); recolha de resíduos (5,41%); proteção do meio ambiente (3,14%); ação social (2,83%); do ordenamento do território (2,13%); e do saneamento (1,30%). As funções económicas representam 18,76% das GOP, com o peso maior a centrar-se nos transportes rodoviários com 12,69%. Destaque ainda para outras atividades como o turismo, agricultura, indústria, energia e outras funções económicas que, no seu conjunto, representam cerca de 6%. Já as transferências para as juntas de freguesia ultrapassam os 700 mil euros no próximo ano. De acordo com o presidente da Câmara Municipal de Anadia, Jorge Sampaio (PSD-CDS/PP), “as GOP representam o espelho da estratégia de curto e médio prazo”. “Evidenciam-se a mobilidade, higiene urbana e eficiência de serviços, infraestruturas de suporte e equipamentos públicos”, referiu. O orçamento para 2026 contou com o voto a favor do vereador do Chega, José Menezes, que destacou que “a transparência e o diálogo têm de ser valorizados”, acrescentando que viu todas as questões que colocou ao executivo serem respondidas “de forma direta, técnica e transparente”. “Este é o primeiro orçamento do executivo e, por isso, entendi dar um voto de confiança. Contudo, não deixo de sublinhar que continuamos a ter um orçamento curto para a dimensão das necessidades do concelho, sobretudo nas áreas da habitação e da intervenção social junto dos nossos idosos. São desafios sérios, que exigem mais investimento e prioridade”, justificou. Já a vereadora do PS, Ana Matias, optou pela abstenção porque o documento “não evidencia a integração das propostas que o próprio executivo assumiu em campanha, faltando-lhe correspondência com o compromisso político apresentado aos cidadãos” para os próximos dez anos. “Motivado pela curta ambição do orçamento apresentado e que espero ver colmatadas no futuro, reconheço a importância da estabilidade que deve ser garantida ao executivo municipal, optando pela abstenção. Faço-o com sentido de responsabilidade, deixando claro que estarei atenta, vigilante e sempre disponível para contribuir com propostas construtivas em prol do desenvolvimento do concelho”, justificou. O documento vai ser submetido à Assembleia Municipal de Anadia para discussão e votação em sessão ordinária a realizar a 23 de dezembro. A Assembleia Municipal de Anadia é constituída por 22 eleitos do PSD-CDS/PP, cinco do PS, três do Chega e um do Movimento Independente ‘Sempre Pela Nossa Terra’.

Chuvas transformam a Zona Técnica Central da UA em “piscinas” e estudantes exigem solução
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Chuvas transformam a Zona Técnica Central da UA em “piscinas” e estudantes exigem solução

Sexta-feira, 9h10. Chove torrencialmente. Ao longo da alameda central da Universidade de Aveiro, alguns estudantes, de guarda-chuva na mão, caminham apressados para as aulas das 9h00. Para quem estuda no campus de Santiago e chega do lado do atual Edifício Central e da Reitoria, é habitual atravessar a parte superior da Zona Técnica Central, vulgarmente conhecida como as “catacumbas da UA”. Naquele dia, àquela hora, a intensidade da chuva tornava evidentes enormes poças de água acumuladas no pavimento, dificultando a passagem tanto para as escadas de acesso à parte inferior da Zona Técnica Central como para a própria Biblioteca. Clarissa está no Mestrado em Ensino de Biologia e de Geologia no 3.º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário. Veio diretamente da Madeira para Aveiro, este ano, para prosseguir os seus estudos. Por sorte, naquele momento não tinha de atravessar a Zona Técnica Central. Caminhava junto ao Departamento de Matemática. Enquanto conversava com a Ria, observava as poças formadas à sua esquerda e não se mostrava surpreendida com a situação. “Quando chove fica sempre assim, basicamente”, resumiu. No caso de ter mesmo de passar por ali, Clarissa revela que já tem um truque: “Trago as botas e atravesso as poças”, contou entre risos. A atual estudante de mestrado iniciou o seu percurso académico na Universidade da Madeira, onde concluiu a licenciatura. Apesar de estar habituada à chuva intensa de ‘casa’, admite que nunca viu a universidade de lá a ficar naquele estado: “Na Madeira não ficava assim tão mal”, confessou. Mais adiante, um grupo de quatro estudantes do Mestrado em Biotecnologia e da Licenciatura em Engenharia Química, já atrasados para as aulas das 9h00, também não deixavam de reparar nas poças de água. “É terrível, principalmente à beira da biblioteca”, partilharam à Ria. Questionados sobre como costumam contornar a situação, uma das estudantes respondeu de imediato: “Subimos aquelas escadas e damos a volta, basicamente… Isto quando funciona. Quando não funciona, temos de atravessar na mesma”, explicou. De botas nos pés, a mesma estudante reparou ainda que, mesmo usando calçado adequado, o problema persiste. “Se as calças ficarem por cima das botas, acabam na mesma por se molhar”, contou, acrescentando que não consegue compreender porque é que a situação ainda não foi resolvida. Em condições ainda piores estavam dois estudantes do Mestrado em Estatística Médica da UA que, naquele momento, atravessavam a Zona Técnica Central em direção ao CUA (Café da Universidade de Aveiro). Para conseguirem avançar, utilizavam o piso tátil, destinado a pessoas invisuais. Ainda assim, um deles admitia que a estratégia não estava a resultar já que tinha os “ténis todos encharcados”. “Não surpreende. É Aveiro no final do dia… Chuva é o que há cá mais”, brincou um deles, acrescentando que, atualmente, “até fazem piadas sobre as piscinas de Aveiro”. Com quatro e cinco anos de percurso académico na UA, os dois estudantes apelavam também à resolução do problema. “Não por nós, porque o nosso tempo já está a acabar, mas pelos próximos. Dá um mau ar à universidade”, admitiram. Também para a direção da Associação Académica da Universidade de Aveiro (AAUAv) esta não é uma situação nova. Joana Regadas, presidente da direção da associação, recorda que, quando ingressou na UA, há seis anos, o problema não tinha a gravidade que apresenta atualmente. “Tem-se tornado cada vez mais expressivo, impedindo a circulação normal dos estudantes, sobretudo dos estudantes com mobilidade reduzida, que já enfrentam caminhos bastante degradados”, alertou. De acordo com a dirigente, trata-se de um problema que a AAUAv já reconhece “há muito”. “Estávamos na expectativa de que, com a prometida renovação do espaço central, da conhecida zona das Catacumbas, a situação viesse a ser resolvida. No entanto, vemos essa realidade a ser sucessivamente adiada e a situação das famosas ‘piscinas’ a agravar-se de ano para ano”, lamentou. “O que temos vindo a solicitar é que as obras da Zona Técnica Central sejam novamente equacionadas e que, pelo menos, seja encontrada uma solução temporária enquanto a intervenção definitiva não avança”, continuou Joana Regadas. Em entrevista à Ria, Alexandra Queirós, vice-reitora para a cultura e vida nos campi, começou por recordar que a Zona Técnica Central foi um dos “primeiros espaços” a ser desenvolvido na Universidade de Aveiro. Reconheceu, de seguida, o problema do “acumular de água”, admitindo tratar-se de uma situação complexa. “O que tentamos fazer, na medida do possível, são pequenas intervenções de forma a evitar esse acumular de água”, referiu. A vice-reitora assume mesmo que a zona carece de uma intervenção “maior em toda a zona” e recorda que já existe um projeto para a Zona Técnica Central, resultante de uma “tese de mestrado”. Mais tarde, esse projeto chegou a ser divulgado pela universidade, numa iniciativa que convidava a comunidade académica a apresentar sugestões. Segundo Alexandra Queirós, as contribuições recebidas “foram muito ao encontro da tese de mestrado”. A página dedicada ao projeto continua disponível no site institucional da UA. Nas quatro imagens aí apresentadas, é possível verificar que parte da atual Zona Técnica Central seria demolida. De acordo com a descrição do projeto, “a proposta para a nova ZTC contempla várias áreas com diferentes propósitos, procurando tirar maior partido da luz natural, disponibilizar espaços amplos, abertos e multifuncionais, com conforto térmico e espaços verdes”. No entanto, o projeto nunca chegou a sair do papel. Alexandra Queirós recorda que, em 2022, a Universidade de Aveiro lançou um concurso público para a realização da empreitada de demolição parcial da Zona Técnica Central, conforme consta em Diário da República, mas o procedimento acabou por ficar “deserto”. “Houve uma intencionalidade da nossa parte em não avançar com um novo concurso público, porque se o fizéssemos naquela altura, com os prazos e atrasos inerentes à contratação pública, correríamos o risco de, durante o ano de comemoração dos 50 anos da UA, termos na Zona Técnica Central um estaleiro de obra que não era de todo adequado”, explicou. Acrescentou ainda que, no entretanto, “apareceram outros investimentos com financiamentos associados, o que acabou por atrasar este projeto”. Neste momento, sublinhou, “o que precisamos é de uma nova oportunidade de financiamento que nos permita avançar com a obra”. Sem conseguir adiantar o valor atual da empreitada, Alexandra Queirós referiu que, aquando do lançamento do concurso em 2022, a obra tinha um custo estimado de cerca de “dois milhões e meio de euros”. Três anos depois, a vice-reitora garantiu à Ria que a Universidade de Aveiro continua a procurar financiamento para o projeto, reconhecendo a existência de “um défice de financiamento ao nível das infraestruturas, o que torna este processo mais difícil”. Segundo explicou, a concretização da obra acabou por ficar em suspenso devido à necessidade de a universidade canalizar recursos próprios para outros investimentos considerados prioritários. “Tivemos aqui essa possibilidade e, por isso, a aposta no desenvolvimento deste projeto acabou por ficar pendente. Com o aparecimento dos PRR, seja ao nível da investigação, do Fundo Ambiental ou do investimento que estamos a fazer em eficiência energética no Crasto, bem como na componente do alojamento, isso implica, por parte da Universidade de Aveiro, uma forte componente de investimento próprio. Faz, por isso, sentido aproveitar os financiamentos disponíveis e os programas a que nos candidatámos”, contou. No entanto, Alexandra Queirós insistiu que a preocupação de reabilitação desta zona se mantém, até porque “há um projeto que está feito”. “Tem chovido muito e é natural que, com períodos de maior precipitação, a situação se torne mais visível. Têm sido adotadas algumas medidas preventivas e corretivas para minimizar o acumular de água, mas é igualmente necessária uma análise ao nível do plano de manutenção, de forma a perceber o que é possível fazer naquele espaço para resolver, pelo menos de forma transitória, esta situação”, rematou. *Esta reportagem insere-se numa parceria estabelecida entre a Ria - Rádio Universitária de Aveiro e a direção da Associação Académica da Universidade de Aveiro (AAUAv) que tem resultado, ao longo dos últimos meses, num conjunto de artigos sobre temas que afetam diariamente a vida dos estudantes da UA. Todas as reportagens são acompanhadas por um cartoon satírico que pretende representar a problemática abordada. Se tens sugestões de temas que gostarias de ver abordados envia um email para [email protected].