Dia D no Cais do Paraíso: Investidores falam em exclusivo antes da votação decisiva na Câmara
Hoje, pelas 16h30, a Câmara Municipal de Aveiro (CMA) reúne-se em sessão extraordinária para votar a aprovação do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso, que define o futuro da porta de entrada da cidade e da frente da ria junto à antiga fábrica Bóia & Irmão. Depois de declarações exclusivas da família Bóia e a poucas horas da decisão final, a Ria revela, em exclusivo, as declarações do representante dos investidores que controlam a sociedade Cais do Paraíso, S.A., bem como toda a história da polémica que tem agitado a cidade.
Redação
Num trabalho de investigação jornalística, a Ria começou por aceder à certidão permanente do registo predial do terreno onde agora se pretende construir um hotel com 12 andares e que foi, em tempos, propriedade da Fábrica Bóia & Irmão. Segundo o documento, foi “numa compra em processo de insolvência”, registada na Conservatória do Registo Predial de Ansião a 21 de março de 2016, que a empresa Raízes Seculares – Compra e Venda de Imóveis, Lda. passou a ser a proprietária do imóvel. Trata-se de uma sociedade por quotas, com sede em Águeda, detida em partes iguais por Dina Maria Nunes Ferreira e Luís Pedro de Almeida, que exercem também funções de gerentes.
Cerca de dois anos depois, a 4 de junho de 2018, a Raízes Seculares vendeu o terreno a uma sociedade anónima. O processo, registado na Conservatória do Registo Predial do Entroncamento, identificou a nova proprietária: a Cais do Paraíso, S.A.. A Ria tentou contactar as duas conservatórias para aceder às escrituras que indicariam os valores envolvidos nas transações, mas até ao momento não foi possível obter resposta.
Poucos meses depois, a 31 de janeiro de 2019, o presidente da Câmara de Aveiro, José Ribau Esteves, numa conferência sobre turismo realizada na Universidade de Aveiro, anunciava publicamente a vinda de um hotel de cinco estrelas com centro de congressos para o Cais do Paraíso, conforme noticiado na altura pelo Notícias de Aveiro. O autarca deixava mesmo um aviso: “Quando eu disser onde vai ser, quantos pisos tem, etc., vai cair o Carmo e a Trindade a algumas almas.”
E não estava enganado. A polémica começou de imediato, já que à data não era possível, com a legislação em vigor, construir um hotel de 12 andares naquela zona. O Plano Diretor Municipal (PDM) - revisto em 2019 - limitava a capacidade construtiva a 7 pisos. Para o presidente da autarquia pré-anunciar um projeto daquela dimensão teria de estar certo de que seria aprovado um instrumento legal que permitisse aumentar a volumetria. É nesse contexto que surge o Plano de Pormenor do Cais do Paraíso.
O Plano de Pormenor é um documento legal que detalha a ocupação de um terreno: indica onde podem ser construídos edifícios, quantos andares podem ter e que áreas ficam destinadas a jardins, estacionamentos ou serviços. Sem este plano aprovado, não é possível avançar com projetos urbanísticos de grande escala, como hotéis ou centros comerciais.
A polémica adensou-se em abril de 2022, quando a agência imobiliária Remax publicou um anúncio a colocar à venda os terrenos da antiga fábrica Bóia & Irmão - já propriedade da Cais do Paraíso, S.A. - por 20 milhões de euros, com direito a imagens 3D de um hotel de 12 pisos. O caso chegou ao debate político, com Ribau Esteves a afirmar, em declarações ao Diário de Aveiro, que considerava o anúncio “estranho” e que tinha pedido explicações aos investidores. Duas perguntas ficaram então no ar: como era possível anunciar um terreno por aquele valor com um hotel de 12 andares se ainda não existia plano aprovado para o efeito? E significaria o anúncio o abandono do projeto?
A Remax retirou o anúncio pouco depois, mas o tema voltou em força em agosto de 2023, quando a CMA deliberou “dar início ao procedimento de elaboração do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso, com prazo de 18 meses para a sua elaboração”.
Poucos meses mais tarde, a 18 de outubro de 2023, a Assembleia Municipal de Aveiro aprovava “medidas preventivas por elaboração do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso”, com parecer favorável da CCDR Centro. Essas medidas proibiam operações de loteamento e obras de urbanização, construção, ampliação, alteração e reconstrução (salvo as isentas de controlo administrativo prévio), remodelação de terrenos, demolição de edificações (exceto as dispensadas de controlo) e derrube de árvores em maciço. Ou seja, medidas preventivas são regras temporárias que “congelam” alterações numa zona da cidade enquanto se prepara um novo plano urbanístico.
E assim chegamos a julho de 2025, quando o Plano de Pormenor foi finalmente apresentado em reunião camarária, abrindo-se o período de discussão pública e confirmando-se que seria permitida a construção de um hotel com 12 andares. Em plena pré-campanha eleitoral, o tema voltou a incendiar o debate político e as redes sociais.
Exclusivo Ria: investidores revelam acionistas, nova marca e investimento no Cais do Paraíso
A Ria prosseguiu o seu trabalho de investigação e, através da certidão permanente do registo comercial, confirmou os nomes dos administradores da Cais do Paraíso, S.A.: Munir Asharaf Aly (presidente, residente em Luanda), Nizarali Kassam Manjy (administrador, residente no Dubai) e Sheila Munir Asharaf Aly (administradora, residente em Lisboa). A informação que já circulava na cidade era assim confirmada: a família Munir está ligada ao universo do Grupo VIP Hotels.
Foi através da marca Mully Group - que chegou a ser referida no anúncio da Remax e em publicações nas redes sociais - que a Ria conseguiu chegar a Nuno Pereira, responsável de desenvolvimento de projetos imobiliários do grupo, que confirmou estar a trabalhar diretamente no projeto do Cais do Paraíso.
Em entrevista exclusiva, o representante começou por esclarecer: “Não tem nada a ver com o Grupo VIP Hotels. Não há aqui nenhuma operação esquisita. Isto é um investimento pessoal e familiar, não tem nada a ver com o Grupo VIP Hotels.” Acrescentou ainda que o projeto avançará sob uma nova insígnia, “Hotel Mully Grand”, desvinculando-se da marca VIP Hotels, apesar das ligações históricas dos investidores àquela cadeia.
Nuno Pereira detalhou a estrutura acionista da sociedade: AAK Holding, Limited com 48% (ligada a Munir Asharaf Aly, que também detém 1% em nome individual, tal como a esposa) e 50% pertencentes a Nizarali Kassam Manjy, descrito como “um amigo de infância de Munir”.
O investimento global é estimado em cerca de 70 milhões de euros, incluindo hotel, apartamentos turísticos e arranjos exteriores, e deverá criar cerca de 300 postos de trabalho. O representante recordou ainda que as negociações com a autarquia não foram fáceis: a ideia inicial era construir um hotel com cerca de 15 andares, mas a proposta foi rejeitada pela Câmara, tendo o projeto sido redimensionado para os atuais 12 andares.
Questionado sobre a polémica do anúncio da Remax de 2022, Nuno Pereira garantiu que a venda “não foi autorizada”. Explicou, contudo, que a agência tinha atuado como mediadora na compra do terreno pela Cais do Paraíso, S.A. e que, quando o anúncio surgiu online, apresentou mesmo um investidor internacional interessado em participar no projeto ou em adquirir o terreno. Ainda assim, permanece a dúvida: tal como circulou nas redes sociais à época e foi referido no comunicado da família Bóia, o anúncio da Remax incluía já uma imagem 3D do futuro hotel, precisamente com 12 andares, o que sugere que apenas alguém próximo da Cais do Paraíso, S.A. poderia ter disponibilizado esse material.
Apesar de toda a polémica, a decisão política acontece esta tarde, a partir das 16h30, quando o Executivo camarário votar a aprovação final do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso. Caso avance, ficará aberto o caminho para a construção do hotel de 12 andares que divide a cidade entre os que veem no projeto uma oportunidade de investimento e modernização e os que temem a sua dimensão e impacto urbanístico.
Recomendações
PS-Aveiro apresenta candidato à Junta de São Jacinto este sábado
A iniciativa integra o ciclo de apresentações que o PS-Aveiro tem vindo a promover com os seus candidatos às freguesias do concelho. Recorde-se que, dos dez nomes já anunciados, apenas João Morgado, antigo presidente da Junta de Eixo e Eirol, e José Eduardo Ferreira Leite não constituíram surpresa. Na altura, em entrevista à Ria, Paula Urbano Antunes, presidente da concelhia do PS-Aveiro, justificou a escolha do candidato em São Jacinto pelo seu trabalho enquanto “primeiro eleito na oposição junto da população, na Assembleia da Freguesia, apresentando propostas, criticando aquilo que é para criticar. Apresenta sugestões sempre de uma forma muito construtiva e com conhecimentos sólidos que tem sobretudo na área do direito”, afirmou. Relembre-se também que a coligação ‘Aliança com Aveiro’ (PSD/CDS-PP/PPM) já avançou, no passado mês de julho, com a apresentação pública da candidata a esta junta de freguesia: Cristina Gonçalves. Na ocasião, a cabeça de lista, Arlindo Tavares, atual presidente da junta, e Luís Souto de Miranda, cabeça de lista à Câmara, responsabilizaram o PS por salários em atraso, penhoras, dívidas superiores a 700 mil euros e pelo que definiram como um verdadeiro “pesadelo” herdado em 2022. O PS iniciou na passada sexta-feira, 22 de agosto, com o ciclo de apresentações dos candidatos às juntas de freguesia, na União de Freguesias de Eixo e Eirol, com a lista liderada por João Morgado. Nesta freguesia, o PS optou por fazer um conjunto de apresentações em vários locais.A primeira sessão decorreu no lugar de Azurva e a seguinte em Eixo. No dia 6 de setembro, pelas 18h00, no Centro Social, segue-se Horta; no dia 27 de setembro, pelas 18h00, no Largo da Capela, Carcavelos e no dia 4 de outubro, pelas 18h00, no Polivalente, Eirol. Ainda no âmbito das apresentações, a Ria sabe que, na União de Freguesias de Glória e Vera Cruz, a sessão terá lugar no dia 13 de setembro, à tarde. Neste caso, o candidato pelo PS-Aveiro será Bruno Ferreira, atual tesoureiro da Junta. *Notícia atualizada às 14h33
João Moniz defende criação do Parque Natural da Ria de Aveiro
“A Ria de Aveiro é um dos maiores tesouros naturais do nosso país. É uma zona húmida de importância internacional, integrada na Rede Natura 2000 e com áreas classificadas pela Convenção de Ramsar. Abriga centenas de espécies de aves, anfíbios, peixes e mamíferos, e sustenta comunidades humanas que, desde sempre, viveram em estreita ligação com os seus ecossistemas. Mas este património encontra-se hoje sob forte ameaça: poluição industrial e agrícola, proliferação de espécies invasoras, pressão urbanística, alterações climáticas e falta crónica de meios para proteger o território”, começa por referir João Moniz. Segundo o candidato, a nova classificação permitiria gerir de “forma integrada e coerente as áreas já protegidas, como a Zona de Proteção Especial da Ria de Aveiro, o Sítio de Conservação do Rio Vouga, a Pateira de Fermentelos ou a Reserva Natural das Dunas de São Jacinto, e alargar essa proteção a zonas ainda não classificadas”. “No lugar do atual espartilhamento administrativo, fragmentação burocrática e sobreposição de jurisdições, existirá uma estrutura única com escala e capacidade de gestão e implementação de políticas numa lógica de co-gestão entre administração central, autarquias da região, associações ambientais e outras entidades regionais”, sugere o candidato do BE. João Moniz defende ainda que avançar com a criação de um parque natural significa “inverter a perda de biodiversidade e alinhar Portugal e a Região de Aveiro com a Estratégia Europeia de Biodiversidade 2030, que exige que 30% do território esteja protegido”. Acrescenta ainda que o mesmo daria resposta à crise climática, “preservando zonas de sequestro de carbono e reforçando a resiliência da região face à subida do nível do mar”. No seguimento do texto, enumera ainda aquelas que considera serem as vantagens “claras” da criação do parque, nomeadamente, “a melhor proteção dos ecossistemas, garantindo a sua conservação para as gerações futuras; a valorização económica sustentável, assente no turismo de natureza, na investigação científica e numa agricultura de baixo impacto; a criação de empregos qualificados ligados à gestão e recuperação dos ecossistemas; e o reforço da identidade cultural e comunitária, já que a Ria não é apenas natureza, mas também modo de vida, cultura popular e património imaterial”. O candidato do BE recorda também que “durante a legislatura de 2019-2022” o partido apresentou na Assembleia da República (AR) um projeto de resolução com esse objetivo. A proposta, segundo lembra, foi aprovada por todas as forças políticas, exceto pelo PSD que votou contra e pela IL que se absteu. Referindo-se à postura adotada pela Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA), na altura, presidida por José Ribau Esteves, presidente da Câmara de Aveiro, descreveu-a como um “obstáculo" ao rejeitar a iniciativa. “Ficou assim evidente quais são as suas prioridades: em vez de defender a conservação da natureza, opta por favorecer a desordem administrativa, a especulação imobiliária e a exploração predatória do território”, atira. João Moniz conclui o texto insistindo que “em 2025 temos que ultrapassar este impasse”. “A criação do Parque Natural da Ria de Aveiro é, em suma, uma aposta no futuro e um desígnio maior que poderá unir toda a região, as suas comunidades e autarquias”, defende.
Intervenção no Rossio motiva aceso ‘bate-boca’ entre Alberto Souto e Diogo Soares Machado
Cerca de um ano e meio depois da intervenção no Rossio, o candidato do Chega à autarquia aveirense resolveu identificar aqueles que considera ser os efeitos negativos da obra. Recorde-se que, conforme noticiado pela Ria, no dia em que se assinalou um ano da inauguração da empreitada de requalificação do largo do Rossio e da Praça General Humberto Delgado, a 7 de janeiro deste ano, o município divulgou um comunicado em que dizia que a intervenção tinha sido uma “aposta ganha”. Entre as críticas, Diogo Soares Machado fala em “lixo acumulado, passeios imundos, metros quadrados de pedra em vez de relva, flores e árvores, um caixote […] “estrategicamente encavalitado” em cima de outras esplanadas históricas de Aveiro, um parque de estacionamento que custou 20 milhões de euros […] que está permanentemente às moscas e 33 árvores mortas em cerca de 60 plantadas”. Nas palavras do candidato, o Rossio foi “violentado, esventrado, completamente descaracterizado e roubado às gentes de Aveiro e às que nos visitam”. A pensar na corrida autárquica, Diogo Soares Machado atira-se aos adversários que concorrem em representação da “Aliança com Aveiro” e do Partido Socialista. Para o candidato, Luís Souto Miranda “caucionou este crime lesa-Aveiro” ao votar ao lado dos “criminosos” sempre que o assunto foi levado a Assembleia Municipal. O responsável nota que o voto do ainda presidente da Assembleia não mudou mesmo quando, por duas vezes, o executivo teve de aprovar “sucessivas derrapagens” da obra. Segundo afirma, os 4,7 milhões iniciais converteram-se numa despesa de 20 milhões para os aveirenses. Dirigindo-se a Alberto Souto, Diogo Soares Machado fala num suposto silêncio do ex-presidente da autarquia: “não abriu a boca, não intentou qualquer providência cautelar, não elaborou em cuidadas cartas abertas ao (ainda) presidente Ribau, como em outros tempos e outras pontes”. Lembre-se que, no mês passado, Alberto Souto interpôs uma providência cautelar que suspendeu a demolição do edifício que servia de sede à CERCIAV. Em 2010, o agora candidato do PS escreveu uma carta aberta a Élio Maia, presidente da Câmara Municipal à época, a criticar o projeto de uma ponte no canal central. No entanto, as acusações de Diogo Soares Machado não se cingem à intervenção no Rossio. O candidato do Chega dispara contra Alberto Souto por qualificar a gestão municipal de 2005 a 2013 – os oito anos que se seguiram aos mandatos do ex-autarca do PS – como “desastrosa”. Diogo Machado diz que o socialista tem a “distinta e rematada lata” de criticar um executivo que “"apenas" pagou cerca de 110 milhões dos mais de 250 milhões de euros que, enquanto presidente, [Alberto Souto] deixou como dívidas”. Referindo-se à Casa de Chá do Rossio, que apelida de “caixote de metal e vidro”, Diogo Soares Machado diz que Alberto Souto “se cala, convenientemente, vá se lá saber porquê…”. Na manhã de ontem, dia 26, Alberto Souto fez uso da sua conta pessoal de Facebook para responder ao candidato do Chega. Se considera acertadas as críticas à intervenção no Rossio e à postura do candidato da “Aliança com Aveiro”, o ex-presidente da autarquia de Aveiro afirma ser “redondamente falso” que tenha ficado em silêncio aquando da discussão sobre o Rossio. Para sustentar a sua defesa, Alberto Souto anexou à publicação as várias críticas que foi publicando ao longo dos anos de 2018 e 2019. O candidato lembra ainda ter estado presente na manifestação “contra a destruição do Rossio” onde diz não ter visto o candidato do Chega. Com ironia, Alberto Souto comenta que “espera que alguém o tenha visto, porque uma mentira destas dita por um combatente que não saiu da trincheira é um dislate moral”. Também João Moniz, candidato do Bloco de Esquerda (BE) à Câmara Municipal de Aveiro, acusou o candidato do Chega de "anos de silêncio comprometido".“Fá-lo agora porque é candidato mas quando era um dos homens de Élio Maia, para além de ser um nomeado político na Aveiro-Expo, apoiava um estacionamento subterrâneo e queria uma ponte em cima do canal central”, escreveu através das suas redes sociais. E questiona: “Tem vergonha do seu legado?”. “O oportunismo tem destas coisas”, responde. No final da publicação, João Moniz sugere também que ao contrário do “Chega e do seu candidato, o Bloco de Esquerda e as gentes de Aveiro estiveram, desde o início, nas ruas contra a destruição do Jardim do Rossio”. “Onde esteve Diogo Soares Machado?”, pergunta. Sobre a “distinta e rematada lata” que lhe aponta Diogo Soares Machado, Alberto Souto atira de volta. Segundo afirma, quem considerou “desastrosa e má” a gestão do executivo municipal que lhe sucedeu – e a que diz ter estado associado o candidato do Chega, na altura diretor da AveiroExpo – foi o PSD e o CDS, que retiraram confiança política a Élio Maia. Já sobre a “torpe insinuação” de que o candidato do PS estaria calado sobre a concessão da "Casa de Chá do Rossio", Alberto Souto desconsidera. Conforme explica, “aquele caixote foi concessionado por Ribau Esteves por concurso público. Ganhou uma sociedade na qual o meu filho tem uma quota. Tudo transparente”. O que mais duras críticas motivou foi mesmo a consideração de que "farinha do mesmo saco dá pão muito parecido”. Nas palavras do candidato do PS à Câmara Municipal de Aveiro, “Diogo Soares Machado, neto do seu avô e filho do seu pai, tem a desvergonha que desonra a memória dos seus de tentar conspurcar o sangue da minha família e a memória dos meus”. Apesar de acreditar que o irmão Luís Souto está errado, Alberto Souto diz “não admitir” que a família seja insultada. A seguir, o candidato do PS voltou-se para a família do candidato do Chega, nomeadamente para os filhos. A Diogo Soares Machado, Alberto Souto perguntou se queria deixar a memória de “alguém que luta pela terra com dignidade ou a de alguém que mente, insulta e deixa insinuações sobre os adversários”. Em jeito de conclusão, o antigo presidente da Câmara Municipal que agora volta a concorrer pede a Diogo Soares Machado que “tente subir o nível da campanha”. Poucas horas volvidas após a resposta de Alberto Souto surgiu a retaliação de Diogo Soares Machado. Depois de o candidato do PS ter dito que “não viu” o oponente na manifestação que protestava contra a intervenção no Rossio, o representante do Chega garante ter estado lá e ter uma fotografia com Filipe Neto Brandão, deputado do PS à Assembleia da República. Diogo Soares Machado afirma também registar “com um sorriso próprio de quem já esperava esta reação” que não existem menções aos 250 milhões de dívida que alega que Alberto Souto deixou ao seu sucessor. Além de afirmar que as promessas de “prudência” e “rigor” são desmentidas “pelos factos e números de um passado não tão distante”, o candidato do Chega acrescenta que “não vale a pena vir com o investimento em saneamento” porque “os seus executivos perdem por goleada” em relação aos executivos presididos por José Girão Pereira, autarca do CDS que governou o município entre 1976 e 1994. O candidato do Chega voltou também a falar da retirada de confiança do PSD e do CDS a Élio Maia. Diogo Machado ataca Alberto Souto por “procurar apoucar quem teve o carácter para não obedecer a manobras de bastidores de gente conhecida e dos partidos do costume”. No entanto, lembra que os aveirenses também “retiraram a confiança” a Alberto Souto quando saiu derrotado das eleições autárquicas em 2005. Também do lado de Diogo Machado Soares, o texto aqueceu quando a questão familiar foi levantada. No que diz respeito à Casa de Chá do Rossio, o candidato à autarquia diz “registar com satisfação” que “não há nada a esconder”. Depois, a Alberto Souto, o candidato do Chega pediu que se “limitasse a falar da sua levedura ética ou da vossa fermentação moral”. Nas palavras de Diogo Soares Machado: “As minhas pessoas são intocáveis. Utilizá-las para me atacar (des)qualifica de forma clara quem o tenta fazer […] não permitirei que o faça comigo. Lévedo, ázimo, branco ou integral, o vosso pão é o vosso pão, o meu é o meu.” A insistir na formulação já criticada por Alberto Souto, Diogo Soares Machado repete que “farinha do mesmo saco, com a mesma levedura ética e fermentação moral, fazem pão muito semelhante”. Desta vez, o candidato do Chega justifica a afirmação ao dizer que as candidaturas de PS e “Aliança” são complementares: “são os mesmos a quererem fazer as mesmas coisas, da mesma forma, tentando convencer os Aveirenses de que os resultados serão diferentes. Com a cumulativa de que, nestes dias que correm, esses mesmos são irmãos”. Diogo Soares Machado nota ainda que Alberto Souto não “atemoriza” a candidatura do Chega e aconselha o candidato socialista a “guardar os paternalismos de pacotilha para quem os engula sem resmungar”.
Notícia Ria: Família Bóia questiona Plano para o Cais do Paraíso e avança para tribunal
Segundo António Paulo Bóia, o processo de elaboração do Plano de Pormenor decorreu sem qualquer consulta às partes envolvidas, apesar de tal ter sido prometido em Assembleia Municipal. A família garante que, desde 2017, apresentou vários projetos de construção para o seu terreno, tanto pedidos de informação prévia como projetos de licenciamento, mas todos foram indeferidos pela autarquia. António Paulo Bóia considera que essas recusas se explicam pela “obsessão” do presidente da Câmara em viabilizar o grande empreendimento imobiliário e hoteleiro previsto para a zona, com 12 andares. A crítica central da família prende-se com aquilo que chamam de exclusividade: na sua visão, o plano permite apenas a um dos promotores construir um megaedifício, enquanto impede os restantes de desenvolver qualquer projeto. A contradição é, para António Paulo Bóia, evidente: em tempos, a revisão do plano urbano anterior foi justificada pela Câmara como forma de evitar “construção excessiva”; agora, argumenta, o Município apoia a realização de um projeto muito mais denso, com muitos pisos, mas apenas para um investidor. “Porque é que o outro promotor pode ter apartamentos neste plano e nós não?”, questiona, considerando a situação “inaceitável, incorreta e irregular”. O comunicado sustenta ainda que o terreno da família está numa posição estratégica: fica entre o canal central e a frente principal do futuro edifício, o que faria com que qualquer construção dos Bóia limitasse as vistas da torre. “O motivo é só um, todos o perceberão: o nosso terreno está na linha de interseção direta com o canal, prejudicando as valiosas vistas do empreendimento”, aponta António Paulo Bóia, sublinhando que a família ocupa aquele espaço “há mais de 100 anos”. Outro ponto de discórdia é a opção da Câmara por transformar o terreno da família num jardim público e, dessa forma, impedir a construção. Para os Bóia, a justificação não tem credibilidade, sobretudo depois da recente renovação do Rossio, onde foi praticamente eliminada a presença de árvores e áreas verdes. “Então o Rossio pode ser pavimentado, mas o nosso canto tem de ser jardim arborizado? É uma desculpa técnica, mal disfarçada”, escreve o representante da família. A família recorda ainda um “compromisso de honra” assumido pelo Município em 1973. Nessa altura, a sua casa no Cais do Paraíso foi demolida para permitir a abertura da estrada da Barra. Como compensação, a Câmara terá assinado uma escritura que lhes concedia o direito de construir, “para sempre”, nos terrenos sobrantes. António Paulo Bóia afirma que esse acordo deve ser respeitado, não apenas como obrigação legal, mas também como dever moral da cidade para com a família. “Entendemos que este é um compromisso de honra de Aveiro. Se fosse convosco, o que sentiriam no nosso lugar?”, questiona. Num tom mais pessoal, o comunicado lembra ainda o papel da Fábrica Bóia & Irmão na história da cidade: dezenas de empregos criados, formação de aprendizes, cedência de terrenos para obras públicas em Aveiro e Esgueira. “Nunca nos viram de Porches ou Ferraris, porque o investimento foi sempre na empresa e nos trabalhadores”, escreve António Paulo Bóia, lamentando o que poderá ser considerado uma “traição” por parte do Município. O representante da família não deixa dúvidas quanto ao próximo passo: face ao que classifica como uma “obsessão autocrática” da Câmara, garante que a questão seguirá para tribunal. A contestação da família surge poucos dias depois das declarações de Alberto Souto, candidato do PS à autarquia aveirense, que já tinha classificado o projeto como uma “história esquisita” com “perfume de lavagem de dinheiro”. A oposição socialista questiona a pressa do Executivo em aprovar o plano antes do final do mandato. Da direita à esquerda, seguiram-se vários comunicados e posições políticas dos diferentes candidatos à CMA contra a opção que está a ser seguida. Já Ribau Esteves, em 2019, tinha admitido numa conferência na Universidade de Aveiro que estava a ser preparado um hotel de cinco estrelas “com muitos pisos” para a cidade, antecipando um projeto que hoje divide opiniões. Mas à data não existia nenhum instrumento legal aprovado que tornasse possível a construção de um edifício com essa dimensão, pelo que o autarca aveirense só podia estar a assumir que tal possibilidade viria mais tarde a ser aprovada em reunião camarária. O Plano de Pormenor do Cais do Paraíso, que prevê a construção de um edifício de 12 andares junto ao canal central, terá amanha um dia decisivo com a realização de uma reunião camarária, a partir das 16h30, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Aveiro. “Aveiro tem um compromisso de honra de nos deixar edificar e o Município pretende faltar ao seu compromisso escriturado”, António Paulo Bóia Na sequência do que tem vindo a público sobre a aprovação do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso, situação que prejudica fortemente os nossos direitos, resolvi esclarecer os aveirenses sobre a questão em apreço e a nossa posição. Ao contrário do que foi referido e prometido pelo Sr. presidente da Câmara, em Assembleia Municipal convocada com ponto de ordem para o efeito, este processo de elaboração do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso decorreu sem consulta às partes proprietárias envolvidas, como democraticamente seria de esperar. Sem surpresa para nós, que conhecemos a obsessão do líder do Executivo neste projeto desde que, em 2018, teve conhecimento do plano imobiliário e de hotelaria apresentado pelos proprietários do terreno que pertenceu ao Bóia & Irmão e me comunicou tal desiderato. Tudo tem feito a partir de então para desenvolver o mesmo, portanto, com uma gestão de procedimentos absolutista nesse sentido. Acerca da “zona de vazio urbano”, expressão recorrentemente utilizada pelo Executivo na defesa deste Plano de Pormenor, permitam-nos informar que não foi por falta de nossa iniciativa, pois desde 2017 que temos vindo a apresentar sucessivos projetos edificativos, seja através de pedidos de informação prévia, seja mesmo de projetos de licenciamento à construção, todos eles indeferidos pela autarquia, talvez porque afetavam o real objetivo presidencial. À revisão completa do Plano, desenvolvido pelo conceituado especialista recentemente falecido, o Arquiteto Nuno Portas, através do Polis nesta zona, foi argumentado pelo atual Executivo, no passado recente, como de “construção excessiva”. Na verdade, é agora substituída por um mega-empreendimento edificativo “monoparental”, o que, convenhamos, representa um paradoxo estratégico ao defendido pelo Executivo na alteração da política urbana no Cais do Paraíso. Segundo o atual PDM de Aveiro, o quarteirão está classificado como zona urbana tipo 1, dando primazia a zona residencial e de serviços. Até aqui tudo bem, o problema com a criação deste Plano de Pormenor é a exclusividade atribuída a um só proprietário de edificação na sua exclusiva área territorial, conforme pretendido, em detrimento de todos os outros proprietários. Este privilégio de exclusividade é, quanto a nós, inaceitável, incorreto e irregular porque não equitativo. Além disso, não se compreende, porque a nossa pretensão de edificação em nada colide com o projeto imobiliário e de turismo apresentado através da construção da torre estrela nos antigos terrenos do Bóia & irmão. A propósito, relembra-se aqui que o projeto prevê uma substância patrimonial, tanto em área de apartamentos como em aproximadamente área de quartos de hotel. Pergunta sacramental que se faz: porque é que o outro promotor pode ter apartamentos neste plano e nós não? O motivo é só um! E todos o perceberão facilmente. O nosso terreno está geograficamente na linha de interseção direta entre a generalidade da frente dos 2 aros da torre-estrela e do majestoso ex-libris aveirense, o canal central, prejudicando as valiosas vistas do empreendimento. Tivemos azar porventura? Não! A verdade é que já lá estávamos há 100 anos e com uma promessa de perpetuidade do Executivo aveirense de ali construir, como mais à frente se explicará. Além do que foi mencionado, nada justifica fazer um jardim naquele nosso canto, segundo o estabelecido no Plano de Pormenor do Cais do Paraíso. Todos nós o sabemos, muito menos o compreendemos e passo a explicar. Então o recém-renovado Rossio (esta sim, uma grande praça central de fruição pública), que se encontra globalmente desprovida de arvoredos e minimizado de zona verde, por opção definida exclusivamente por este Executivo, foi limitada, mas este cantinho dos Bóias já pode passar a jardim verde arborizado? Desculpa técnica, mal disfarçada, como se perceberá. Temos, igualmente, um outro ponto em desfavor do que se pretende aprovar. Esteticamente, persiste ali um “patinho feio”, que a Câmara omite e empurra para uma resolução “um dia…”. Trata-se da empena de 4 pisos, de parede à vista para o centro da cidade, que desfavorece e muito todo o local. Esta situação ficaria resolvida de vez com a nossa construção. Com este PP, que nos condiciona, aquela parede ali ficará para sempre e desiludam-se aqueles que pensam vir a ser fácil qualquer negociação (se desde 2018 os interessados não o conseguiram…). Muitos aveirenses não saberão, mas a família Bóia tinha uma casa neste recanto, adquirida há cerca de 100 anos (de onde curiosamente o meu pai e irmãos, na sua juventude, se habilitavam até a atividades de banhos de acordo com as marés e o tempo, se este assim o permitisse). Foi com muita tristeza que teve de ser demolida em 1973, para permitir a ampliação da estrada da Barra e permanecer até aos nossos dias tal como todos nós hoje a conhecemos. Era uma obra vital para a cidade, concordamos, até porque o Rossio era então centro de muita atividade mas a perda foi sentimentalmente enorme como os aveirenses e restantes leitores poderão imaginar pela observação das fotos. Desse ato de acordo com o Município, resultou formalmente uma escritura notarial, em que nos foi concedido, em compensação, de boa fé e para todo o sempre o direito de construirmos nos terrenos sobrantes, em conjunto com uma parcela anexa, permutada pela câmara para o efeito. Quanto a nós, entendemos que este é um compromisso de honra e uma obrigação moral de Aveiro e do seu Executivo para com a nossa família. Pensem os aveirenses: se fosse convosco a atual situação o que sentiriam no nosso lugar (traição, usurpação, etc.)? “Quem não se sente, não é filho de boa gente”, já diz o ditado. Permitam-me lamentar o desânimo que nos vai na alma. Os mais velhos sabem o quanto a família Bóia se dedicou a Aveiro, muito através do Bóia & Irmão, criando durante dezenas de anos muitos empregos diretos e indiretos, desenvolvendo formação qualificada a muitos (mas muitos) aprendizes da região na sua oficina-escola, cuja prática nos nobres ofícios metalúrgicos lhes permitia obter importante passaporte garantido para uma vida futura com trabalho. Sabem, não foram raras as vezes, o número de trabalhadores da empresa foi superior ao necessário. Mas havia famílias para meter pão na mesa e a oferta de oportunidades não era nada como agora! Corremos sempre esse risco e não nos arrependemos! Nunca nos viram de “Porches” ou “Ferraris”, pois a opção foi sempre de investimento na empresa e nos trabalhadores! Por isso, não se avançou com empreiteiros, nem o retorno à construção era o atual como todos sabemos. Mas não foi só nessa matéria que valorizámos Aveiro. Já aqui foi referida a cedência de mobilidade rodoviária para a Gafanha e a Barra através do nosso terreno ao cais do paraíso, mas em Esgueira também aconteceu. Primeiro, ao concordarmos retalharem-nos com uma desadequada curva urbana um terreno para fazer o acesso desde o túnel ao centro de Esgueira, uma ligação fulcral no concelho e, mais recentemente, sobre o mesmo terreno para se poder fazer a nova e importante rotunda “Novus Plaza” com todo o risco de viabilização a permanecer na esfera da família Bóia, ao ficar com o terreno sobrante das permutas (relembra-se que a Câmara nunca conseguiu, em décadas, arranjar investidor que resolvesse a complexa situação naquele local). Sempre que convidada, ou mesmo por iniciativa própria, a família Bóia sempre anuiu ou avançou com atividades de defesa e apoio ao progresso de Aveiro que se impunham, fossem elas de natureza associativa, religiosa, desportiva, cultural ou cívica. Não queremos retorno de nada disto, obviamente, até porque não são esses os nossos valores, apenas pretendemos que nos garantam o que é nosso por direito próprio e que, também, nos foi legalmente prometido. Vemos amiúde afirmações do Sr. Presidente que dão a ideia que existe uma necessidade imperiosa permanente de se fazer isto ou aquilo porque entende que Aveiro é que perde se tal não acontecer. Dá, para o efeito, a perceber que existem alegados favorecidos e privilegiados que devem sofrer pela mão “divina” da Câmara para se proceder a um eminente equilíbrio de harmonização pública. No nosso caso, releve-se, não se trata de tirar para dar a muitos e pobres, muito pelo contrário, é tudo dado a um só investidor com grande capacidade de investimento, em prejuízo dos outros. Um facto curioso que se revela foi o “empurrão” dado então pelo Dr. Alberto Souto (avô) ao empresário Manuel Maria Pereira Bóia para que investisse numa oficina maior, pois acreditava nas suas capacidades técnicas de mecânica e conhecimento de desenho e projeto, conciliadas com a sua carreira de empreendedor empresarial (à data com uma oficina-automóvel na rua das Barcas). O episódio resulta de uma deslocação a Sever do Vouga (a umas minas em processo de falência), influenciada pelo amigo Dr. Alberto Souto (cuja verdadeira intenção já a levaria na manga, não fosse figura de reconhecida inteligência e visão) para fazer uma necessária peritagem e avaliação dos equipamentos industriais. O resultado, como imaginam, acabou numa aquisição massiva de máquinas e a transferência de muitos trabalhadores para o Bóia & Irmão em Aveiro. A necessidade de espaço motivava, pois, a procura por armazém maior, que viria a ser localizado na rua do Cais do Paraíso e aí desenvolver progresso durante décadas. Para conciliar a vida familiar com a profissional, a aquisição da casa geminada (nos terrenos hoje em causa) acabou por ser uma inevitabilidade. Não deixa de ser uma ironia do destino, de facto, que 100 anos volvidos, possa vier a ser novamente a família Souto, através de dois netos candidatos às próximas eleições, novamente a ter preponderância no destino da família Bóia naquele quarteirão. Dado o panorama e a obsessão autocrática do presidente do Executivo, que se traduz atualmente neste processo de aprovação do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso, por uma continuidade de decisões com atropelo aos nossos direitos construtivos, tornou-se inevitável o recurso aos meios judiciais, o que acontecerá rapidamente. António Paulo Bóia
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"Ensino: a prioridade sazonal", opinião de Joana Regadas
Habituámo-nos enquanto seres humanos a diferentes épocas ao longo do ano. Vemos nas épocas festivas o aconchego da família, nos Santos Populares o festejo do início do verão, do convívio entre amigos e família, e na época balnear o prazeroso agosto que promete repor todas as energias, realinhar as ideias e deixar todas e quaisquer preocupações para trás. Há, no entanto, uma época bastante característica em Portugal, que ao contrário das outras três vem carregada de muita reflexão e notícias preocupantes: a época educacional, traduzida como o único período do ano em que se ouve falar sobre o ensino. Todas estas quatro épocas, apesar de muito diferentes, têm alguns fatores em comum: são sazonais, previsíveis e repetem-se de ano para ano. Porém, seria de esperar que a educação e o ensino - o fundamento do crescimento de qualquer sociedade - não aparecessem apenas em duas ocasiões ao longo do ano e sempre com as mesmas motivações. Vemos entre meados de junho/julho um acordar para a importância da educação, ouvimos falar da preocupação dos estudantes que irão realizar os exames nacionais, avalia-se o grau de dificuldade dos mesmos, discute-se a falta de preparação dos alunos, o desajuste dos programas curriculares e um ensino focado apenas para estes momentos, refletem-se anos de estudo nos resultados e estabelece-se um ranking das melhores escolas. Nas primeiras semanas de agosto o interesse na educação volta a reduzir (não caindo para os seus mínimos, isso só é atingido ao longo do ano letivo), discutindo-se com apreensão o número de candidatos ao Ensino Superior. Até que chega o final de agosto e início de setembro, onde o apogeu das notícias, preocupações, deambulações, opiniões, introspeções sobre o ensino acontece. Ficamos cercados com a informação previsível, sazonal e repetitiva, falta de professores e resultados das candidaturas ao Ensino Superior. Chamam-se peritos, dá-se palco a estudantes, professores, quem durante todo o ano se encontra esquecido, mas que nesta altura tem lugar cativo em horário nobre, tentam-se encontrar justificações para o que continua a falhar e em outubro esquecemo-nos de novo desta problemática. Este ano a sazonalidade das épocas mantêm-se, os Santos Populares decorreram da mesma forma, a época balnear com os já tradicionais incêndios florestais (mais uma época sazonal, que fica bem guardada na gaveta quando não é o seu tempo) e o ensino encontra-se com visualizações acima do normal. Apesar da normalidade no decorrer do ano é de notar que as notícias sobre o ensino sofreram algumas alterações, no entanto estas não trazem com elas dados que nos apaziguem. No início de agosto relatava-se uma diminuição significativa no número de candidatos ao Ensino Superior, próximo dos valores de há 7 anos e no passado domingo as preocupações agravaram-se ainda mais, com menos 6 mil alunos a entrarem no Ensino Superior, 11.500 vagas por preencher e com muitos cursos com nenhum estudante colocado. Estes são de facto números alarmantes, números para os quais se discutem inúmeras justificações. Serão os custos associados ao Ensino Superior que explicam estes resultados, ou terá sido a alteração no modelo de acesso? Será um desajuste do ensino superior à procura das novas gerações, ou falta de esperança de que a aposta numa educação superior se reflita numa carreira profissional melhor? Poderá este número inverter-se na segunda fase, havendo mais estudantes que estão habilitados a candidatar-se ao Ensino Superior? Podemos tentar ser pragmáticos e fazer o exercício de analisar cada uma das possíveis justificações de forma individual. A primeira hipótese, e talvez mais consensual entre os comentadores, está relacionada com os custos associados ao Ensino Superior, custos estes que vão desde a habitação, aos transportes, à socialização e à alimentação, que chegam a rondar em Lisboa os cerca de 900 €, sabendo que em Aveiro um quarto ronda os 350€-400€, é expectável que o orçamento mensal não fique muito longe deste valor. É necessário partir esta questão em duas. Se por um lado este ano não se verificou um aumento significativo no alojamento, por outro o poder de compra das famílias tem vindo a diminuir, o que levanta a questão: “Será este o primeiro ano onde as famílias estejam a sentir as dificuldades económicas anunciadas já desde há algum tempo?”. Esta pode ser de facto uma justificação, principalmente para os resultados obtidos na Universidade de Aveiro, maioritariamente composta por estudantes deslocados. As questões que se colocam, caso seja esta a principal razão, são diversas, os complementos atuais deixaram de ser suficientes, estes estudantes deslocados optaram pelo Ensino Superior Privado devido aos custos associados à permanência enquanto estudante deslocado ser superior às propinas no privado, existe informação suficiente dos apoios existentes. Uma conclusão é certa, sendo esta a principal razão, ou só mais uma no bolo é de facto urgente reformular o sistema de ação social! É preciso, também, refletir sobre as implicações das alterações do modelo de acesso, modelo alterado em 2023 e que regressa com os exames obrigatórios para a conclusão do ensino secundário e que passou a obrigar a ter dois exames como prova de ingresso valendo cada um pelo menos 50%. Esta decisão foi fundamentada como necessária para nivelar a inflação das notas, promovidas em diferentes contextos escolares, no entanto, quando esta hipótese é colocada em cima da mesa é necessário de facto questionar se os exames nacionais são um fator nivelador ou não. Alguns dados importantes revelam-nos que os resultados dos exames nacionais subiram no ensino privado e desceram no público, e no acesso ao Ensino Superior verificou-se também uma diminuição dos estudantes em situações socioeconómicas desfavorecidas. A combinação destes dois fatores deve iniciar uma reflexão sobre se este modelo está de facto a cumprir o objetivo ou a perpetuar o distanciamento entre classes sociais mais baixas (com menos poder económico para investir num percurso com diferentes pedagogias e metodologias de apoio) e o acesso ao ensino superior. Estarão de facto os exames nacionais a colocar todos os alunos nas mesmas circunstâncias? A outra questão levantada encontra-se relacionada com o reconhecimento de valor no ensino superior pelas novas gerações, e para isso é importante, também, recordar dados recolhidos aquando da inscrição nos exames nacionais, onde o número de estudantes que respondeu positivamente se pretendiam ingressar no Ensino Superior, e se iam usar os exames nacionais para tal, diminuiu face a 2024. Porque estará a diminuir o interesse dos jovens em ir para o Ensino Superior, estarão à priori conscientes das dificuldades económicas familiares, estarão a optar por soluções fora de Portugal ou têm receio de que ter uma licenciatura em Portugal já não seja o suficiente para ter um emprego de qualidade? No meio de toda a discussão instaurada, e com a cautela necessária para não tirar conclusões antes dos resultados da 2º fase, não pode ficar esquecido o futuro. Daqui a 3, 5 anos teremos menos pessoas com um grau superior a entrar no mercado do trabalho, representarão estes menos 6 mil alunos de agora, menos 6 mil postos de trabalho qualificado no futuro de Portugal? Que futuro podemos esperar se esta tendência não for invertida? Será Portugal capaz de atingir o objetivo até 2030 de 45 % da população entre os 25 e 30 anos com licenciatura, ou irá, uma vez mais permanecer na cauda da Europa? As teorias são diversas, e as problemáticas enfrentadas agora são reflexo da sazonalidade da discussão do ensino em Portugal, que não tem palco nos programas eleitorais e que não é discutida a longo prazo. Resta-nos a esperança de saber que, pelo menos, durante o próximo mês o ensino estará na agenda do país.
Atividade turística da Mealhada cresceu cerca de 17% em 2024
“No ano de 2024 registámos um crescimento da atividade turística na ordem dos 17%. Em 2025, já estamos com um crescimento na ordem dos 25%, até ao momento”, afirmou. À margem da conferência de imprensa de apresentação da programação do Cineteatro Messias, para o último quadrimestre de 2025, a autarca esclareceu que também o número de dormidas no concelho tem vindo a crescer. “Em termos de dormidas, só aqui na Mealhada, o crescimento foi de 21,3% em 2024 face a 2023. O concelho da Mealhada registou 110.766 dormidas em 2024”, sustentou. De acordo com Filomena Pinheiro, de janeiro a maio deste ano, o concelho da Mealhada registou aproximadamente 43 mil dormidas. No que toca aos gastos na restauração, a autarca disse ter apenas dados referentes à região Mondego Bussaco, que abrange, para além da Mealhada, os concelhos de Penacova e Mortágua. “De agosto de 2024 a maio de 2025, os gastos na restauração ultrapassaram os 26 milhões de euros na região Mondego Bussaco”, referiu.
Autárquicas: Livre Aveiro apresenta esta sexta-feira a sua candidatura em Oliveira de Azeméis
De acordo com uma nota de imprensa enviada às redações, o momento contará com a intervenções de Ricardo Praça da Costa, cabeça de lista pelo Livre à Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis e à Assembleia Municipal, bem como com a presença de Juliana de Almeida Nunes, número dois na Assembleia Municipal, e Filipe Honório, cabeça de lista à Câmara de Santa Maria da Feira e dirigente nacional do Livre. Na nota, o partido refere ainda que este é um “momento histórico, visto que é a primeira vez que o partido da papoila vai a eleições neste município”. Nas eleições autárquicas de 2021, o PS venceu esta autarquia com “54.87%” dos votos.
PS-Aveiro apresenta candidato à Junta de São Jacinto este sábado
A iniciativa integra o ciclo de apresentações que o PS-Aveiro tem vindo a promover com os seus candidatos às freguesias do concelho. Recorde-se que, dos dez nomes já anunciados, apenas João Morgado, antigo presidente da Junta de Eixo e Eirol, e José Eduardo Ferreira Leite não constituíram surpresa. Na altura, em entrevista à Ria, Paula Urbano Antunes, presidente da concelhia do PS-Aveiro, justificou a escolha do candidato em São Jacinto pelo seu trabalho enquanto “primeiro eleito na oposição junto da população, na Assembleia da Freguesia, apresentando propostas, criticando aquilo que é para criticar. Apresenta sugestões sempre de uma forma muito construtiva e com conhecimentos sólidos que tem sobretudo na área do direito”, afirmou. Relembre-se também que a coligação ‘Aliança com Aveiro’ (PSD/CDS-PP/PPM) já avançou, no passado mês de julho, com a apresentação pública da candidata a esta junta de freguesia: Cristina Gonçalves. Na ocasião, a cabeça de lista, Arlindo Tavares, atual presidente da junta, e Luís Souto de Miranda, cabeça de lista à Câmara, responsabilizaram o PS por salários em atraso, penhoras, dívidas superiores a 700 mil euros e pelo que definiram como um verdadeiro “pesadelo” herdado em 2022. O PS iniciou na passada sexta-feira, 22 de agosto, com o ciclo de apresentações dos candidatos às juntas de freguesia, na União de Freguesias de Eixo e Eirol, com a lista liderada por João Morgado. Nesta freguesia, o PS optou por fazer um conjunto de apresentações em vários locais.A primeira sessão decorreu no lugar de Azurva e a seguinte em Eixo. No dia 6 de setembro, pelas 18h00, no Centro Social, segue-se Horta; no dia 27 de setembro, pelas 18h00, no Largo da Capela, Carcavelos e no dia 4 de outubro, pelas 18h00, no Polivalente, Eirol. Ainda no âmbito das apresentações, a Ria sabe que, na União de Freguesias de Glória e Vera Cruz, a sessão terá lugar no dia 13 de setembro, à tarde. Neste caso, o candidato pelo PS-Aveiro será Bruno Ferreira, atual tesoureiro da Junta. *Notícia atualizada às 14h33