"Incêndios em Portugal: Uma Calamidade de Gestão e Planeamento", opinião de João Lourenço Marques
João Lourenço Marques é professor associado com agregação e diretor do Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território, da Universidade de Aveiro, lecionando nas áreas de Planeamento Regional Urbano e Políticas Públicas (nos domínios dos métodos e técnicas de apoio à tomada de decisão). É doutorado em Ciências Sociais pela Universidade de Aveiro e foi investigador visitante nas universidades de St. Andrews, de Dundee e de Heriot-Watt (Edimburgo).
João Lourenço Marques
OpiniãoPortugal é devastado por incêndios florestais que deixam um rastro de destruição ambiental e económica. Mas o que realmente está por trás desta calamidade, que se repete ano após ano?
A ausência de planeamento florestal representa um grande obstáculo à gestão eficaz das áreas florestais. A estrutura fundiária, com predominância de pequenas parcelas de terreno, em regime de minifúndio (essencialmente no centro e norte do país), combinada com a falta de um cadastro predial atualizado (apenas 30% da área está identificada - ver plataforma Balcão Único do Prédio - BUPi ), dificulta a implementação de estratégias integradas para a gestão territorial. Esta fragmentação e a ausência de informação sobre quem são os proprietários dos terrenos florestais, compromete tanto as ações de prevenção de incêndios, como o aproveitamento económico sustentável dos recursos. A falta de responsabilização direta e de incentivos para uma gestão adequada acaba por perpetuar situações de abandono e negligência, aumentando a vulnerabilidade das áreas rurais aos incêndios. O acumular de material combustível, aliado à falta de manutenção dos terrenos, agrava a exposição do território ao risco de incêndios devastadores.
Mitigar o problema dos incêndios em Portugal exige mais do que medidas de prevenção imediata. É necessária uma estratégia de médio e longo prazo que inclua um ordenamento florestal adequado, a identificação e reestruturação do cadastro e a promoção de práticas de gestão sustentáveis.Essas práticas devem dar prioridade à diversidade de espécies. Grande parte da nossa vegetação é composta por espécies com elevada inflamabilidade, que, apesar da sua rentabilidade para a indústria de papel, contribuem para o elevado risco de incêndios. A formação de vastas áreas de monocultura, atuam como verdadeiras "bombas-relógio", prontas a explodir quando o "tempo" marca a combinação perfeita – muito vento, calor e baixa humidade.
O problema dos incêndios florestais em Portugal não é apenas uma questão de condições atmosféricas adversas, é um problema de planeamento e gestão, que exige respostas devidamente concertadas.
Os incêndios florestais afetam diretamente a biodiversidade. Ecossistemas inteiros são destruídos, levando à perda de habitats para inúmeras espécies de fauna e flora. Esta perda de biodiversidade tem efeitos em cadeia que comprometem o equilíbrio ecológico e a capacidade dos ecossistemas se regenerarem naturalmente, o que exige uma atenção redobrada por parte das políticas públicas na recuperação das áreas afetadas. A reabilitação das florestas e dos solos após os incêndios é um processo que exige tempo e investimento, mas que também nem sempre recebe a devida atenção. O planeamento deve incluir programas de reflorestação com espécies autóctones, assegurando a restituição de ecossistemas e a proteção das áreas florestais contra futuros eventos.
Apesar dos esforços legislativos e das campanhas de sensibilização, continua a faltar uma estratégia integrada de ordenamento florestal que envolva governos, autarquias, proprietários e empresas e, assim, almejar ser possível reduzir a vulnerabilidade do país e evitar a repetição deste ciclo destrutivo de incêndios florestais.
Sem uma mudança profunda no planeamento e gestão florestal, Portugal continuará a arder, com o futuro das nossas florestas, biodiversidade e comunidades a serem consumidos pelo fogo e pela inação.
Recomendações
"O ultraje do aumento das propinas", opinião de Gonçalo Santiago
O Governo anunciou o descongelamento das propinas das licenciaturas e mestrados para o próximo ano letivo. Algo, de certa forma, insólito, dado que o valor não se alterava desde 2021. A reação dos estudantes a este aumento não foi a melhor, visto que já estavam acostumados ao valor que, até então, estava fixado nos 697 €. Para esclarecer esta atualização, o Governo emitiu um comunicado com a justificação de que o aumento tem como base a taxa de inflação de 2025, de maneira a “garantir mais autonomia às universidades”, como afirma o Ministro da Educação, Fernando Alexandre. Esta notícia não teve o parecer favorável da maioria dos estudantes, tendo já provocado manifestações por parte destes. De facto, a expressão “aumento das propinas” é suscetível de causar descontentamento. Mas será que há razão para isso? É verdade que, preferencialmente, as propinas deviam ser gratuitas. Contudo, para tal acontecer, seria necessário um investimento brusco, atualmente incomportável para o Estado. Este aumento refletir-se-á num esforço extra de 13 € por ano que os alunos do ensino superior terão de pagar — cerca de 1,08 € (1 € e 8 cêntimos) por mês. Algo que é quase mínimo. Algo que o ministro da Educação também revelou, e que passou despercebido aos olhos da maioria, foi que o apoio social a estudantes vai aumentar 43%. São mais 30 milhões de euros investidos no apoio a estudantes com poucas condições financeiras, para que não fiquem excluídos do ensino superior. Sem falar de todos os apoios dados pelo Governo, não só a estudantes como também a jovens, como, por exemplo, o Porta 65 (programa dedicado ao apoio a jovens no arrendamento de casa) e, ainda, como foi apresentado no Orçamento do Estado, uma medida que prevê que jovens desempregados possam acumular o salário com até 35% do subsídio de desemprego. Os estudantes não estão a ser prejudicados pelo Governo. Aliás, o que este Governo está a fazer, não só pelos estudantes como pelos jovens em geral, é gratificante. O aumento das propinas não impossibilitará nenhum aluno de frequentar o ensino superior; a falta de apoios a estudantes é que o fará. Por isso mesmo, o PSD tem demonstrado a necessidade de refletir sobre esses temas e, mais do que isso, não apenas prometer, mas também executar, algo que o distingue dos últimos anos.
"Os órfãos da IL em Aveiro", opinião de Leonel Almeida
Com estas eleições autárquicas a Iniciativa Liberal (IL) Aveiro no concelho elege 3 autarcas em Aveiro, 2 na Assembleia Municipal e 1 na Assembleia de freguesia Gloria e Vera cruz. Fica aquém do resultado obtido nas legislativas, mas em ambiente de apelo ao voto útil entre irmãos demostrou resiliência e bom desempenho. É um degrau abismal para qualquer partido, entra pela primeira vez no circuito político local ativo. É um redobrar de atenção, de exposição e de responsabilidade. João Manuel Oliveira em artigo de opinião na RIA referencia a IL como “partidos que andam à caça de candidatos a menos de seis meses das eleições”, é uma recorrência, não vou contra-argumentar, compartilho da sua opinião, mas a admoestação carece de maior contexto e é base do meu verdadeiro intuito. Esta observação deve ser acompanhada pelas características dos pequenos partidos sem presença nos órgãos locais. Estruturas locais pequenas e frágeis, implantação social descontinua e sem histórico. Em eleições não há maior liberdade do que a liberdade de participar e opinar, cada qual com as suas carolices e ideias. A participação formal no ato eleitoral é embrião de crescimento, é fator diferenciador nas nossas democracias liberais. Novos pensamentos livres e novas personagens que o eleitor pode ou não fazer evoluir, mas sendo autêntica é legitima. Vem isto a propósito das possibilidades de escolha do eleitor e no caso que aqui importa da IL e da orfandade nestas eleições autárquicas. A IL é um partido ideológico com princípios definidores da sua identidade, há e haverá discussão forte sobre as suas matrizes, mas é identificável e acima de tudo valorizado por isso mesmo. A geografia social tendencialmente mais urbana, menos próxima do indivíduo eleito pessoa, mas mais próxima do indivíduo eleito político reforça a importância da procura e escolha na identidade do partido. Na Região de Aveiro não encontraram. Estamos certos de que não há transferência ou continuidade direta na opção de escolha, porém pior do que isso, não houve possibilidade de continuidade de bandeira, ideologia e pensamento. Não obstante o bom desempenho nacional, houve orfandade de IL no voto em muitos concelhos e muitas mais freguesias. É sobretudo relevante em ambiente urbano como é o da envolvência da cidade de Aveiro, onde há registo de resultados eleitorais bem acima da média nacional nas legislativas. Na Região de Aveiro com 12 concelhos e vários núcleos constituídos, apenas 1 apresentou candidatura própria e um outro em coligação, foi Albergaria, conseguindo 1 eleito. Estes dados sobressaem sobretudo quando comparados com os restantes concelhos do círculo eleitoral de Aveiro (Aveiro Norte / AMP como queiram designar), em 7 concelhos, 4 apresentaram candidaturas próprias e 1 em coligação. Os eleitores dos 12 concelhos da Região de Aveiro contribuíram com 12.200 votos para eleger nas Legislativas o deputado Mário Amorim Lopes, desses apenas 4.100 tiveram possibilidade de votar na IL nas Autárquicas, se assim o desejassem, colocando de parte outros novos que optassem. Em modo especulação direta, significa isto que haveria um potencial de triplicar a eleição de Liberais nos órgãos políticos locais. Ademais, como compreenderão, neste tema não há fronteiras estanques e a força do coletivo de proximidade é sempre mais larga do que a soma das partes distantes, especialmente em boa partilha e com interesses comuns. Isto tudo reforçado pela interação e envolvimento nas redes sociais, que incrementa o seu potencial quando há volume afunilado localmente, que neste caso é o que importa. Em boa reflexão, urge à IL combater esta orfandade. O continuo crescimento do partido necessita de reforçar as suas estruturas locais em ato sistemático e estruturado. Novos 4 anos virão. Voltando à referência inicial, sabemos bem a dificuldade que é manter ativas as estruturas locais dos partidos, sabemos bem a importância da abertura à maior participação, sabemos ainda que é relevante deixar florir novos indivíduos com novas contribuições. Sobretudo sabemos, que é dessa forma que o partido cresce e injustamente, não haverá quem se queixe de só ter aparecido 6 meses antes das eleições. Localmente o eleitorado IL é lebre e pede corrida.
"Região de Aveiro – E quem será o próximo presidente?", opinião de João Manuel Oliveira
Neste segundo artigo, como referido ontem, aprofundo a situação da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA). Também me foco no modelo distrital anacrónico que ainda usamos para votar nas Eleições Legislativas, e que distorce a realidade das populações e dos relacionamentos intermunicipais. Do mapa autárquico regional, podemos tirar algumas conclusões simples: O Partido Social Democrata (PSD) domina de forma inequívoca e irá escolher o próximo presidente da CIRA e a larga maioria na Assembleia Intermunicipal, como tem acontecido nos últimos anos. O CDS manteve as suas duas autarquias, embora tenha perdido mandatos em quase toda a linha. Já o Partido Socialista (PS) não tem voto na matéria no panorama da Região de Aveiro, tendo-se dividido em Estarreja, onde poderia ter ambicionado a um bom resultado. O PSD conseguiu substituir os presidentes que estavam em final de mandato, sendo que a maioria saiu antes. Os seus substitutos naturais (ou escolhidos, como no caso de Vagos, com o regresso de Rui Cruz) venceram em Ovar, Murtosa, Estarreja e, como mencionado, em Vagos. O PSD reforçou a sua posição em Sever do Vouga e em Águeda (onde é sabido que quem governa são independentes aliados ao PSD). Recuperou também Anadia, o filho pródigo que voltou ao seio da família natural, com Jorge Sampaio a transitar de 3 mandatos como vice-presidente para Presidente da autarquia anadiense. Em Aveiro, a coligação liderada pelo PSD venceu, mas perdeu a maioria absoluta. Em Ílhavo, os independentes liderados por João Campolargo não conseguiram assegurar a autarquia para um segundo mandato. Isto deveu-se a uma forte aposta do PSD em Rui Dias, que é extremamente reconhecido localmente e que venceu sem maioria, por menos de um por cento. Um dado histórico que se mantém muito atual: nos municípios a sul do eixo Aveiro/Águeda (Ílhavo, Vagos, Oliveira do Bairro e Anadia) o PS obtém resultados fraquíssimos. Embora em Anadia atinja os 22 por cento, em Ílhavo consegue apenas 13 por cento e nas outras duas autarquias ficam abaixo dos 10 por cento e é suplantado pelo Chega. Na parte norte da Região de Aveiro, a Murtosa foi mais disputada, mercê de uma forte candidatura independente. Por essa razão, o PSD perdeu o título de melhor votação (o resultado de há quatro anos foi acima dos 70 por cento) , apesar de ter conquistado a maioria absoluta. Já em Estarreja, a única mulher líder de uma autarquia na região de Aveiro deve a sua maioria absoluta a uma divisão no seio socialista. Em Albergaria-a-Velha, a saída do presidente (agora presidente da assembleia municipal) foi compensada a contento, e o CDS manteve a maioria. O mesmo ocorreu em Oliveira do Bairro, com Duarte Novo a iniciar o seu último mandato com maioria absoluta. Em Águeda, Jorge Almeida aumentou a sua votação, ganhou mais freguesias e será o decano dos presidentes da Região de Aveiro. Aliás, e quem será o próximo presidente da CIRA? Duarte Novo poderá ser um dos vice-presidentes, tendo em conta o peso institucional do CDS, mas o presidente e o outro vice-presidente serão certamente do PSD, já que o número de câmaras é sintomático: 9-2. Tendo em conta a renovação dos mandatos e o peso relativo das autarquias, veremos quem se candidata. Poderá existir uma proposta de rotatividade, como aconteceu mais recentemente, em que a presidência muda a cada dois anos. Contudo, a minha aposta pessoal recai entre Jorge Almeida, o mais antigo e conhecedor dos dossiers, e nomes como Jorge Sampaio, Januário Cunha ou Rui Dias. A palavra está com o PSD. No que respeita ao distrito, a sul, o único município que não integra a Região de Aveiro é a Mealhada, onde António Jorge Franco se mantém à frente de forma absolutíssima – o que é fácil quando o PSD parece não existir ou aguarda pela lei de limitação de mandatos. A norte, Castelo de Paiva mudou para o PS de forma categórica – tornando-se num município “swing state” com mudanças regulares. Já Arouca é um caso diferente. O trabalho desenvolvido pela oposição dará frutos quando a incumbente, do PS, tiver de sair nas próximas eleições. Continuando a norte, Santa Maria da Feira e Oliveira de Azeméis mantiveram as cores políticas. Se a primeira sempre foi laranja, Oliveira de Azeméis mantém-se rosa mais uma vez. Será mais uma autarquia interessante de seguir em 2029. Por outro lado, São João da Madeira virou laranja, destronando Jorge Vultos Sequeira do seu terceiro mandato. Veremos como correrá o mandato ao vencedor. Por fim, deixei dois concelhos muito diferentes e curiosos para o final. Em Espinho, Jorge Ratola tinha uma tarefa difícil, mas o PS também a tinha, dado que havia duas candidaturas dessa área: a da ainda presidente da autarquia e a do candidato oficial. Jorge, que foi uma escolha pessoal de Luís Montenegro, ganhou. Em Vale de Cambra, o PSD apostou forte, com um empresário de sucesso e uma deputada, Adriana Rodrigues, como candidata à Assembleia. No final, o CDS ainda celebrou o sucesso, mas sem maioria na autarquia – e perdeu a Assembleia Municipal Em jeito de conclusão final: o distrito parece pintado de laranja. Em 19 concelhos, há apenas um independente (Mealhada), quando havia três. O PS e o CDS dominam três municípios cada. E o PSD, com diferentes nuances (sozinho ou líder de coligação), irá chefiar 12 municípios. As tendências, no entanto, são ainda mais curiosas para o futuro: O PS terá duas autarquias em fim de ciclo, o CDS uma e o PSD nenhuma. Mas, como fui referindo, há tendências para análise profunda pelos partidos. O Chega suplantou o PS no sul do distrito e elegeu seis vereadores, incluindo em Aveiro. Há autarquias sem maioria onde o trabalho da oposição poderá ser interessante de observar (Ílhavo). O CDS foi varrido do mapa autárquico em Águeda (e suplantado pelo Chega), em Sever do Vouga e perdeu vereadores em Vale de Cambra, Albergaria e Aveiro. O PS terá de preparar as suas sucessões, ou corre o risco de ver o distrito ainda mais pintalgado de laranja. Boa sorte a todos, porque os cidadãos precisam de bons autarcas.
"Eleições Autárquicas em Aveiro – o perpetuar da história", opinião de João Manuel Oliveira
Decorreram no passado domingo as eleições autárquicas no país. No entanto, nesta sequência de artigos irei escalpelizar a nossa região. Primeiro, Aveiro, depois a CIRA e por fim, aquele, ainda existente, e no entanto anacrónico limite territorial, o distrito. Em síntese, a Aliança com Aveiro teve um resultado satisfatório, Alberto Souto atingiu, mais uma vez, o seu limiar de resistência, o resultado máximo que ele poderia almejar, o Chega entra na vereação, algo histórico e a IL passa a estar presente na Assembleia Municipal. O Livre passa a ter um deputado municipal único e o Bloco de Esquerda e o PCP perdem os seus representantes. Não tenho a certeza absolutíssima, mas acho que é a primeira vez que este partido não tem representação em Aveiro. A Aliança com Aveiro ganhou as eleições e conseguiu fazer um 9-1 nas freguesias, demonstrando a sua presença e consistência. Desde 2005, em que historicamente o CDS e o PSD se uniram em Aveiro – mas mesmo antes, com a exceção de 2001 – o resultado destes dois partidos dá sempre para vencer em Aveiro e na quase totalidade das suas freguesias (o centro da cidade, com a união, é um caso à parte). Alberto Souto atingiu quase o seu limiar de resistência, aqueles votantes que teve em 2005 e em 1997. É alguém que ultrapassa a base do partido e entra em todo o lado, mas também tem um conjunto de resistências que não conseguiu ultrapassar durante a campanha. Em termos comunicacionais, passou uma mensagem de Messias (o cartaz junto à rotunda da Salineira é o melhor exemplo), de alguém que tinha e tem um desígnio para a cidade. Ora, isso não batia certo com a mensagem-slogan “um futuro com todos, com as pessoas”. Demasiados projetos e ideias – algumas com vinte e cinco anos e que estão ultrapassadas ou erradas – voltaram a passar a mensagem de despesista, que se colocou como supercola, embora ele se tentasse libertar. O Chega quase que cumpria o desígnio do seu líder André Ventura. Diogo Soares Machado utilizou os chavões todos mas esqueceu-se que, a exemplo dos irmãos, também ele faz parte de uma família com pergaminhos na cidade, uma elite. E que também ele tem um passado. Mesmo assim, conseguiu ultrapassar os resultados absolutos da última campanha em que tinha sido mentor, em 2013 e segurar o seu lugar de vereador. Será um erro a Aliança com Aveiro se unir a ele, de forma permanente. Em relação aos partidos que não entraram na vereação, mas sim na Assembleia: a IL conseguiu solidificar a sua presença, garante um resultado sólido e consegue 2 elementos na Assembleia Municipal. Ainda tem uma presença fraca nas freguesias, algo muito parecido com todos os outros partidos que andam à caça de candidatos a menos de seis meses das eleições – o trabalho político, ao contrário do que se pesa, deve começar três anos antes… O candidato do Livre conseguiu atingir um dos seus três resultados e será deputado municipal. Quem merecia lá estar era a Aurora Cerqueira, porque foi ela que andaram a mostrar em todo o lado, para que as pessoas não se esquecessem que ele era o candidato triplo. Receberam os votos dos que, à esquerda, quiseram castigar o BE e PCP. Quanto a João Moniz, basta dizer que não chega ser o melhor nos debates e um dos mais bem preparados quando se cola a uma extrema-esquerda em plena crise de identidade… Se continuar com vontade e for independente, será alguém a ter debaixo de olho para 2029. Quanto ao PCP, precisa olhar para dentro. Perdeu a sua representação em Aveiro, pela primeira na sua história. Terá sido a última? Não refiro o PAN, pois a sua presença na Assembleia Municipal em 2021 foi, somente, devido ao acordo maravilhoso feito com o PS. A representatividade real está expressa nos resultados deste ano. Candidatos à última da hora dão nisto. Em relação às freguesias e a resultados específicos, é de salientar que poderemos ainda vir a ter novidades, dada a evidente dificuldade da Aliança com Aveiro (e Catarina Barreto, que ganhou com larga margem, mas sem maioria) fazer executivo em Aradas. Se a mesma situação acontece em Esgueira e Eixo Eirol, as campanhas nesses dois locais pareceram mais pacíficas e que darão lugar a negociações mais simples para formar o executivo. São Jacinto foi uma vitória forte da Aliança, demonstrativa que a mensagem do caos anterior afetará o PS nos próximos tempos. Em 2029, Cacia poderá ser um problema grave para a Aliança. Os últimos dados ideológicos (votos as legislativas) levam-me a analisar que a mudança de presidente poderá levar outro tipo de mudanças. Nas outras freguesias (com exceção de Aradas, caso Catarina Barreto se mantenha) os presidentes ainda se poderão recandidatar e por isso, poderemos antecipar eleições mais calmas, em condições normais. Luis Souto de Miranda vai ter um mandato mais fácil do que se julga. Com quatro vereadores e uma assembleia municipal maioritária, basta aguardar para as mudanças que o PS terá no executivo e na sua liderança partidária, e cumprir os mínimos olímpicos. Saiba auscultar as pessoas e resolver alguns assuntos, sendo que o mais crítico em Aveiro será o do estacionamento – com aquilo que está previsto e no terreno. Aveiro, em termos noticiosos, foi tratado como um fait-divers. Fomos falados, nos meios de comunicação, pela “curiosidade” de termos dois irmãos, um contra o outro. Mas não fomos alvo de sondagens, estudos de opinião ou cobertura. Demonstrativo da falta de peso nacional, e de figuras nacionais, mas também da crença no que poderia acontecer. Já em termos noticiosos regionais, vou dar uns enormes parabéns a todos. Numa altura em que a comunicação social nacional passa por uma crise estrutural e de confiança, notei uma evolução positiva em todos os meios, com debates, podcasts, análises e muito trabalho de casa. Parabéns ao Diário de Aveiro, à AveiroMag, ao Noticias de Aveiro, Rádio Terranova e, claro, à Rádio Ria. Amanhã publicarei um segundo artigo, sobre as eleições em termos regionais/distritais e conclusões.
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Aveiro sob aviso laranja até este sábado devido à precipitação forte
Além de Aveiro, também os distritos de Bragança, Vila Real, Viseu, Guarda, Coimbra e Leiria estão sob aviso laranja. Já Braga, Viana do Castelo, Porto, Castelo Branco, Portalegre, Santarém, Lisboa e Setúbal mantêm-se sob aviso amarelo. De acordo com o IPMA, Bragança e Vila Real estão sob aviso laranja desde o início da tarde de hoje, devido a precipitação persistente e por vezes forte, situação que se prolonga até às 06:00 de sábado, altura em que passam a aviso de nível amarelo, até às 09:00. Pelos mesmos motivos, os distritos de Aveiro, Coimbra, Viseu e Leria estão sob aviso laranja até às 09:00 de sábado, passando a amarelo entre as 09:00 e o meio-dia, enquanto o distrito da Guarda está sob aviso laranja até às 12:00 de sábado, passando a amarelo até às 15:00. Devido à chuva por vezes forte, os distritos de Braga e Viana do Castelo estão, até às 21:00 de hoje, sob aviso amarelo, que sobe então de nível para laranja até às 03:00, altura em que volta a amarelo até às 06:00. O distrito do Porto está sob aviso amarelo até às 21:00 de hoje, altura em que passa a laranja devido à precipitação persistente e por vezes forte, voltando às 06:00 ao nível amarelo, que se prolonga até às 09:00 de sábado. Castelo Branco está sob aviso amarelo devido a precipitação forte até às 06:00 de sábado, altura em que passa a laranja até às 12:00, voltando a amarelo entre o meio-dia e as 15:00. Lisboa e Santarém estão sob aviso amarelo até às 06:00 de sábado, altura em que passam a nível laranja, até às 12:00. Devido a precipitação persistente e, por vezes, forte, o distrito de Lisboa volta a estar sob aviso amarelo entre as 12:00 e as 15:00 de sábado. Em Portalegre, a precipitação, por vezes forte, em especial na parte norte do distrito, levou a um aviso amarelo até às 21:00 de hoje e a um novo aviso amarelo para chuva persistente e por vezes forte entre as 06:00 e as 18:00 de sábado. Em aviso amarelo por precipitação, por vezes forte, em especial na parte norte do distrito está Setúbal até às 21:00 de hoje e depois entre as 06:00 e as 15:00 de sábado. Os distritos do Porto, Viana do Castelo, Braga, Aveiro, Lisboa, Coimbra e Leiria estão também sob aviso amarelo até às 21:00 de hoje devido à agitação marítima, com ondas de quatro metros, consideradas de “altura significativa”. Os avisos do IPMA - vermelho, laranja e amarelo - são emitidos quando existe uma situação meteorológica de risco, que pode ser avaliada como de risco elevado, moderado ou reduzido.
Ribau Esteves lamenta morte de Carlos Silva Santos e deixa decisão de luto municipal para Luís Souto
Em declarações à Lusa, Ribau Esteves manifestou os sentimentos à família enlutada e deixou um público reconhecimento pelo seu trabalho e dedicação ao município. Relativamente ao luto municipal, o autarca referiu que deixou essa decisão para o presidente eleito nas eleições de 12 de outubro, Luís Souto Miranda, que tomará hoje posse, numa sessão marcada para as 18:00. Recorde-se que, tal como avançado pela Ria, Carlos Silva Santos faleceu aos 79 anos. Segundo, avança a Lusa, fontes próximas da família confirmaram hoje que o vice-presidente da Câmara, entre 2005 e 2009, no mandato de Élio Maia, morreu “vítima de doença”. Carlos Santos desempenhou ainda diversos cargos partidários do PSD e em termos profissionais foi quadro da Docapesca e diretor do Porto de Aveiro. Esteve também ligado ao setor cooperativo, tendo sido um dos principais dinamizadores da Agrovouga. No plano desportivo, foi jogador de futebol do Beira-Mar e da Académica, e jogador de basquetebol do Clube dos Galitos. Veio também a ser dirigente desportivo, nomeadamente vice-presidente da Associação de Futebol de Aveiro, dirigente do Beira-Mar, e fez parte da Assembleia da Federação Portuguesa de Futebol. Carlos Santos era pai de Cláudia Santos, que foi deputada do PS de 2019 a 2022 e cabeça de lista do PS para a Assembleia Municipal de Aveiro nas eleições autárquicas de 12 de outubro. A cerimónia fúnebre está marcada para sábado, às 12h00, no centro funerário de Aveiro.
Reitor da UA destaca aumento de estudantes “além das expectativas” durante os seus mandatos
De acordo com os dados fornecidos à Ria pela Universidade, o número total de matriculados passou de “14.879”, em 2019/2020, para “17.238”, em 2024/2025 – um crescimento de cerca de 15,85%. O resultado surgiu como “surpresa” até para Paulo Jorge Ferreira, que diz mesmo que “nunca imaginou que poderia ser um crescimento tão grande”. “Fiquei sinceramente surpreendido”, afirma. Durante o tempo em que esteve à frente da Universidade, o reitor identifica dois “choques” que fizeram com que os números oscilassem. O primeiro esteve relacionado com a pandemia da COVID-19, que levou a uma alteração das regras do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior. Esse impacto, explica, foi “positivo”, na medida em que fez com que aumentasse o número de candidatos e, consequentemente, o número de colocados na Universidade de Aveiro. Por outro lado, o segundo “choque” aconteceu este ano, com a decisão de tornar as regras de acesso ao Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior “ainda mais exigentes” do que as que vigoravam antes da pandemia. Nesse sentido, considerando a quebra no número de colocados, Paulo Jorge Ferreira considera que este ano se deve comparar com 2019, “o ano mais próximo em termos regulamentares”. Nessa análise, o reitor adianta que “o número de estudantes com nota superior a 2018 triplicou. Isso excluindo cursos como Medicina e Engenharia Aeroespacial, que não existiam em 2018 – se eu incluir esses, o crescimento é maior ainda”. Quando se candidatava em 2018 à liderança da UA, Paulo Jorge Ferreira antevia no seu programa eleitoral que a “evolução demográfica aponta para uma forte e progressiva redução de efetivos no grupo etário dos 15 aos 24 anos em distritos como Aveiro, Porto, Viseu e Coimbra, que são a principal base de recrutamento da UA”. É uma preocupação que, segundo o reitor, está agora plasmada no Plano Estratégico da Universidade e que tem como principal solução o recurso a uma “bacia demográfica alargada”. Olhar para fora de portas significa também, segundo o reitor, pensar no aumento do número de estudantes internacionais, cujo ritmo de crescimento é ainda maior do que naquilo que diz respeito aos estudantes nacionais. Se é verdade que o acolhimento destes alunos acarreta alguns desafios - que, segundo Paulo Jorge Ferreira, a UA tem tentado minimizar através da organização de eventos de integração e com a criação de um centro local de apoio à integração de migrantes dentro da própria instituição -, o reitor sublinha que também traz vantagens para a comunidade. “Preparar um estudante é preparar um cidadão. Ele vai ser um futuro cidadão e vai viver num mundo que é internacional. […] Como é que eu preparo alguém para viver num mundo assim? Se eu o conseguir fazer num contexto internacional já tenho uma vantagem acrescida”, garante. Na sua maioria, segundo aponta o reitor, os estudantes internacionais que chegam à UA conseguem formar-se na instituição – o responsável recorda mesmo que, no último ano letivo, o número de diplomados aumentou “16%” face ao ano anterior e que estavam representados alunos provenientes de “44” nacionalidades diferentes. Não obstante, Paulo Jorge Ferreira não esconde que “há nacionalidades” com níveis baixos de formação base. Conforme explica, já “tem sido informado” de que há alunos que não chegam a frequentar nenhuma aula, depois de se matricularem, pelo que, deduz, “a sua principal intenção [quando se candidatam à UA] pode não ser estudar”. Paulo Jorge Ferreira nota ainda que a Universidade de Aveiro tem conseguido aumentar a formação de quem já está no mercado de trabalho. Se, de acordo com o reitor, a evolução já se sente nos cursos conferentes de grau, a diferença é “muito maior” nos cursos não conferentes de grau. Nas palavras do responsável, “essa formação foi concebida para a requalificação e formação ao longo da vida e atrai gente de todas as idades”. Quem está no mercado de trabalho terá mais dificuldade em dedicar-se durante três anos a uma licenciatura e, por isso, de acordo com o reitor, o caminho acaba mesmo por passar por “formações curtas, como microcredenciais”. Para o futuro, Paulo Jorge Ferreira aponta mesmo que é importante que Portugal (e, consequentemente, a Universidade de Aveiro) se aproxime da média europeia dos jovens com formação profissional ao longo da vida. Ao sucessor, o atual reitor deseja “coragem” e dá nota de que a “reforma profunda” que o governo quer levar a cabo com a proposta de fusão das agências de financiamento da inovação e da ciência pode representar um dos maiores desafios do próximo mandato.
Adriana Rodrigues (PSD) quer criar um centro tecnológico em Vale de Cambra
“Sendo Vale de Cambra considerada como a capital do aço e inox, com grandes grupos empresariais, e centenas de pequenas, médias e microempresas, reunindo know-how, experiência e competência, há uma infraestrutura essencial para que a nossa indústria continue a crescer e a contribuir significativamente para a geração de riqueza nacional – um centro tecnológico na área da indústria metalúrgica e metalomecânica”, disse Adriana Rodrigues numa audição de Manuel Castro Almeida, ministro da Economia e da Coesão Territorial. Sobre o centro tecnológico, Adriana Rodrigues defende que a infraestrutura deve ser um “espaço essencial para criar, para inovar, para testar e aplicar soluções tecnológicas”, atendendo a que, como referiu, “Vale de Cambra é um dos clusters industriais mais relevantes, nomeadamente na área metalúrgica e metalomecânica, com relevante contributo para o PIB nacional”. Neste seguimento, João Rui Ferreira, secretário de Estado da Economia, recordou que Vale de Cambra tem hoje “um grande peso no movimento associativo e até do centro tecnológico da metalomecânica”, dizendo-se “certo” de que poderá haver uma “ponte, do ponto de vista da formação” com aquele equipamento. “Vale de Cambra é um exemplo a nível mundial daquilo que é a eficiência, a eficácia, o conhecimento e a projeção da indústria metalomecânica, com empresas que não são, sequer, líderes em Portugal”, continuou o secretário de Estado. A deputada aveirense manifestou ainda apreensão sobre a proposta da Comissão Europeia de elevar as tarifas alfandegárias sobre o aço, de 25 para 50 por cento, “situação muito preocupante, dado que ameaça a competitividade das empresas portuguesas, mas muito em particular a indústria valecambrense”. “A Associação Empresarial de Cambra e Arouca, perfeitamente consciente das vicissitudes, caraterísticas e necessidades do tecido empresarial de Vale de Cambra, tem vindo reiteradamente, à semelhança de outras associações de territórios similares, a reivindicar políticas fiscais que promovam a discriminação positiva para empresas dos territórios de baixa densidade”, expôs.