Paulo Jorge Ferreira: “Uma universidade do futuro não pode ficar prisioneira dos modelos do passado”
No segundo episódio de um podcast especial dedicado ao balanço dos mandatos de Paulo Jorge Ferreira à frente da Universidade de Aveiro (UA), o reitor e a vice-reitora Sandra Soares refletiram sobre o processo de transformação que a instituição está a enfrentar no domínio da inovação pedagógica. Entre a criação de novos espaços de ensino, programas de formação para docentes, os ‘Prémios UA’, a aposta em formações de ciclo curto, ou até mesmo a chegada do curso de Medicina, Paulo Jorge Ferreira não tem dúvidas de que “a Universidade de Aveiro é uma universidade que se quer transformar”.
Isabel Cunha Marques
JornalistaFoi no espaço SALT (Espaço de Aprendizagem e Ensino Ativos), no Departamento de Educação e Psicologia (DEP) da Universidade de Aveiro, que, ao longo de meia hora, Paulo Jorge Ferreira e Sandra Soares, vice-reitora para o ensino e formação, refletiram sobre inovação pedagógica, numa conversa aberta com a Ria.
A escolha deste espaço não passou despercebida para ambos. Sentados num sofá, em pleno centro daquela sala, Paulo Jorge Ferreira começou por confidenciar à Ria que o SALT representa um “excelente exemplo” daquilo que a UA deve fazer no futuro. “Uma universidade que se quer do futuro não pode ficar prisioneira, refém, dos modelos do passado”, comentou. Por sua vez, Sandra Soares exprimiu o “orgulho” que sentia em ali estar. “Foi um caminho longo no caso concreto desta sala. O que aqui podem ver é o resultado da contribuição de estudantes, de docentes, de várias áreas científicas. Até o nome foi pensado em conjunto. Na altura, tínhamos uma equipa de apoio à inovação curricular e pedagógica com esta composição diversa. Foi sempre um espaço de co-construção”, partilhou.
No seguimento, a vice-reitora deu ainda nota de que, ao abrigo do financiamento do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR), “no contexto do Impulso UA”, já existem vários espaços “desta natureza” em diferentes unidades orgânicas. Nas que ainda não os possuem, Sandra Soares garantiu que a UA irá investir até “junho” (data em que terminam os projetos PRR) na criação de novos espaços, incluindo a reformulação do Complexo Pedagógico. “Vamos lançar um concurso público muito em breve para reforçar estes espaços nas unidades orgânicas e a mesma coisa, relativamente, ao Complexo Pedagógico. Precisamos de ter tudo isto finalizado até 30 de junho de 2026 que é quando terminam os projetos”, frisou.
Questionada sobre o Programa de Formação e Atualização Pedagógica que a UA tem, atualmente, em curso, cujo objetivo é transitar para um processo de ensino mais centrado no estudante, Sandra Soares realçou à Ria o quão “especial” lhe era falar sobre o tema. Naquele dia - em que conversamos - a iniciativa completava “seis anos”. “Lançamos o programa em novembro de 2019 e até à data temos 477 ações de formação. (…) Em média, desde o início deste último mandato, temos cerca de 22% da comunidade docente envolvida em alguma destas ações, sendo que temos várias outras para além do programa”, reforçou.
No âmbito do aniversário e do podcast relembrou ainda à Ria que, naquela manhã, tinha anunciado o lançamento de uma nova ação de formação: “Academia IA”. “Sabemos que a inteligência artificial veio para ficar e para se expandir. É fundamental que a nossa comunidade compreenda e tenha apoio relativamente à melhor forma de uso no contexto de ensino e aprendizagem. Vamos fazer esse caminho nesta academia”, justificou Sandra Soares. Entre os objetivos desta formação estão, entre outros, o “uso ético e responsável” da inteligência artificial ou a utilização desta ferramenta “enquanto instrumento de apoio” na avaliação e inovação curricular. A vice-reitora adiantou ainda que a “Academia IA” já está disponível na página da “Inovação Pedagógica”.
Já num outro ponto da conversa, a Ria questionou ainda Paulo Jorge Ferreira sobre os “Prémios UA” que, ano após ano, têm vindo a distinguir aqueles que se destacaram em quatro categorias [Cooperação; Boas Práticas Pedagógicas; Investigação e TAG] na Universidade de Aveiro.
Para o reitor da UA estes prémios são “uma componente de várias componentes”: “Transformar os espaços, apoiar e incentivar os professores a adaptarem os currículos, métodos e a inovarem do ponto de vista pedagógico e curricular”. “Eu diria que apoiar o mérito é sempre útil, mas nesta área da inovação pedagógica senti sempre, nunca tendo duvidado dela, uma adesão tão grande, por parte da comunidade, que me parece que quase que parecia desnecessário [estes incentivos]”, exprimiu. “Uma das grandes surpresas que tive foi a expectativa que tinha quanto ao ritmo de transformação dos métodos e da inovação pedagógica [na UA] e a adesão superlativa que houve depois”, continuou Paulo Jorge Ferreira.
Face a isto, o reitor da UA não deixa margem para dúvidas: “A Universidade de Aveiro é uma universidade que se quer transformar. (…) Sentir a academia a correr nessa direção do futuro parece-me extraordinariamente apaixonante e motiva-me muito”. Sandra Soares não deixou de concordar: “Está no ADN da nossa instituição esta vontade e esse ímpeto para fazer melhor, correr atrás, e penso que esta adesão também está intimamente relacionada com o facto de nós ouvirmos sempre quem precisa de colocar estas mudanças em prática ou quer ir atrás das inovações”.
Neste contexto, Sandra Soares destacou também um outro projeto responsável por “transformar” a instituição: o “Impulso UA – Aveiro Education and Social Alliance”, iniciado entre 2020 e 2022 e composto por duas submedidas - Impulso Jovens STEAM e Impulso Adultos. “Criamos mais de 200 microcredenciais e vamos seguramente atingir os 100% em termos de indicadores previstos na formação de adultos da região. Temos já dezenas de acordos de parceria firmados. Muitas empresas recorrem a nós porque já conhecem este tipo de ofertas para co-desenharem connosco e qualificarem ou requalificarem os seus quadros”, reforçou.
Prestes a entrar na reta final da entrevista houve ainda tempo para questionar Paulo Jorge Ferreira sobre o Mestrado Integrado em Medicina, o curso da UA que demorou mais de uma década a conquistar. Apesar de partilhar o mesmo nome dos cursos existentes noutras universidades, o reitor sublinha que, em termos de organização curricular, o curso da UA é “bastante diferente”. “Não se trata de fazer igual aos outros. Acho que ninguém projetaria um curso de Medicina, hoje, guiando-se por modelos do passado”, exprimiu, insistindo que “este curso é nosso”.
Questionado ainda sobre que novas ofertas formativas poderão ser esperadas, nos próximos anos, na UA, Paulo Jorge Ferreira preferiu não avançar com nenhuma área em concreto, deixando essa decisão para o futuro reitor. Vincou, porém, que “há um sentimento de satisfação”. “As novas propostas que fizemos estão a ser bem aceites e as necessidades vão evoluindo. Acho que vai haver mais necessidade de resposta na área da requalificação e nas formações de ciclo curto e profissionais do que propriamente nas licenciaturas”, comentou. “Creio que do ponto de vista dessas formações [tradicionais] estaremos mais próximos da estabilidade”, completou.
Recomendações
UA: Nos 50 anos do DMat, João Vieira pede evolução “com toda a liberdade e sempre em qualidade”
Com o anfiteatro completamente lotado, o DMat celebrou o legado de João David Vieira. Ao longo da tarde, familiares, antigos estudantes, professores e diretores aplaudiram-no repetidamente. Entre discursos, memórias e fotografias, multiplicaram-se também os abraços. O momento teve ainda direito a reencontros improváveis, como o de um antigo estudante que viajou do Algarve apenas para reencontrar o “professor João”, contou-nos o homenageado antes de conversarmos com ele. Já sentados num sofá, numa sala que nos descreveu como “difícil” de conquistar, no terceiro piso, começamos por lhe questionar como se sentia ao ser homenageado. João David Vieira disse estar feliz, embora tenha admitido que, quando recebeu o convite, sentiu-se “constrangido”. “Defendi sempre que quando houvesse alguma coisa a comemorar o fizessem com as pessoas em vida a menos que falecessem sem contar. Quando me contactaram fiquei constrangido, mas fiquei contente”, confidencia-nos. Perguntamos-lhe como era antes o anfiteatro que agora passa a ter o seu nome, responde-nos com uma gargalhada espontânea: “Era onde dava muitas das aulas, nos últimos anos, a partir de 1996. (…) Era um anfiteatro com 120 cadeiras de madeira. Tudo cheinho, cheinho”, descreve. Quanto à tecnologia de que o espaço atualmente dispõe, como o projetor, entre outros equipamentos, João David Vieira não se mostrou surpreendido. Revelou até já conhecer todos os pormenores, já que acompanhou, de perto, a fase de “pré-montagem”. “Eu estive na montagem deste edifício. Estava tudo a ser preparado para instalar a tecnologia que fosse necessária, nessa altura. A cablagem estava toda por baixo para projetores e até pedi uma coisa, só que eram 50 mil contos, e disseram nem pensar, que era estar numa sala e haver ligação para mais dois ou três anfiteatros, onde pudessem ouvir a mesma aula e interagir. Mas era muito caro. Não consegui. Mas toda a infraestrutura ficou montada nessa altura”, recorda. Aos 84 anos, e naquela sexta-feira, estar no DMat não foi propriamente uma novidade. Conta que ainda mantém ali um gabinete e que costuma passar por lá “de vez em quando” “Depois de aposentado estive sete anos em colaboração, em nome da Reitoria, com Cabo Verde para ajudar a montar a universidade de lá, em Moçambique, em São Tomé, a dar formação a professores”. Quando lhe perguntamos como gostaria que o departamento evoluísse, João David responde sem hesitar: “Com toda a liberdade sempre em qualidade e, como digo, algo que seja inclusivo”. “Nunca me lembro de ter havido aqui alguém que foi escolhido, segregado, movido por uma ideia política, religiosa… Vinha pela qualidade que tinha e a capacidade humana para desenvolver com impacto”, relembra. Aos atuais docentes deixa ainda uma mensagem curta: “Estão na excelência. Falta-vos ainda escrever um verso”. Em entrevista à Ria, José Alexandre Almeida, atual diretor do DMat, mostrou-se satisfeito com a homenagem. “O departamento está prestes a completar 50 anos, mas, na verdade, deu-se início ao primeiro curso de matemática com Ciências da Educação, na altura, muito dirigido para a formação de professores. A propósito deste momento decidimos homenagear um dos pilares do Departamento de Matemática, um dos seus fundadores e a quem muito o departamento deve tal como o conhecemos hoje”, partilha. José Alexandre foi também aluno de João David Vieira, entre os anos de 1994 e 1996. Na licenciatura em Ensino de Matemática, descreve-o como “exigente”. “Éramos imensos no quarto ano de seminário e todos tínhamos de fazer uma monografia. [O professor João] era bastante exigente na aprovação do plano curricular e obrigava todos a fazer os testes que chamava minibásicos, que muitos consideravam quase ofensivos. Além disso, todos tínhamos de realizar provas orais. Era um momento que exigia muito a todos os alunos, na altura, e havia momentos de grande tensão”, relembra. Sobre o anfiteatro que passa agora a chamar-se “Auditório David Vieira”, o diretor do DMat descreve o momento como “marcante”. “Ele não precisava desta homenagem para deixar o seu legado, mas é uma forma de reconhecimento e gratidão. Ele bem merece. Não estamos a fazer favor nenhum. Desta forma, ficará para sempre gravado aquele espaço que é um local, como ele referiu, de referência pelas muitas aulas que ele ali lecionou e com um anfiteatro, tal como hoje, sobrelotado”, explica. Relativamente ao futuro do DMat, José Alexandre revelou à Ria que o departamento está, “neste momento”, a consolidar a sua oferta formativa e que “em breve” irá fazer uma nova aposta na “oferta do primeiro ciclo”. Sem adiantar qual será o curso, acrescentou ainda que gostava que o departamento se potenciasse “ainda mais” ao nível da investigação e da excelência “que o nosso centro de investigação que está integrado atingiu muito recentemente”. “Não nos queremos acomodar de todo. Queremos perspetivar e projetar esse futuro da melhor forma”, vincou. A sessão de homenagem contou ainda com a intervenção de Paulo Jorge Ferreira, reitor da UA, de Júlio Pedrosa, antigo reitor, bem como dos docentes Mário Rosa, Eduardo Marques de Sá, Domingos Cardoso e Liliana Costa. A tarde terminou no terceiro piso com direito a brinde e bolo.
“62” trabalhadores em greve na UA: Cantinas de Santiago, do Crasto e Snack-Bar/Restaurantes fecharam
A greve da função pública organizada para esta sexta-feira, onde os trabalhadores protestam contra o “Pacote Laboral” do governo, também impactou a Universidade de Aveiro. Contactada pela Ria, a administração da UA deu conta de que houve “62” trabalhadores a fazer greve, “58” dos quais pertencentes aos SASUA. Para além da paralisação das cantinas de Santiago, do Crasto e do Snack-Bar/Restaurantes, também o bar da reitoria, o do Centro Integrado de Formação de Professores (CIFOP) e o do Ambiente foram obrigados a encerrar portas.
UA destaca-se no “The Interdisciplinary Science Rankings 2026” com o 102º lugar mundial
O ranking foi promovido pela Times Higher Education (THE), consultora do Reino Unido no setor do ensino superior, e os resultados foram conhecidos esta quinta-feira, 20 de novembro. Nessa avaliação, a UA surge em 102º lugar mundial- uma subida de 40 lugares face a 2025- e 1º nacional, entre as sete IES portuguesas avaliadas, “voltando a destacar-se no conjunto dos cinco indicadores que integram o pilar output, isto é, no número de publicações científicas, qualidade da investigação e reputação institucional, tendo obtido a pontuação de 67.2”, explica uma nota de imprensa enviada às redações. Além do mais, a UA destacou-se ainda no pilar “Process”, tendo melhorado a sua pontuação (66.7) face à edição anterior (45.8). “Este pilar avalia a monitorização e suporte em diferentes áreas estruturais através de quatro indicadores: medidas de apoio, instalações físicas, apoio administrativo e processo de reconhecimento da investigação interdisciplinar”, realça. No que toca à classificação das sete IES portuguesas avaliadas, após a UA, seguiu-se a Universidade do Minho na 123º posição, a Universidade do Algarve entre a 351 e a 400º posição, o Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE) entre a 501 e a 600º posição e o Instituto Politécnico de Viana do Castelo entre a 601 e a 800º posição. Os resultados podem consultados na íntegra aqui. No total, o “The Interdisciplinary Science Rankings 2026” analisou o desempenho de 911 IES, pertencentes a 94 países, tendo o ranking sido suportado com 11 indicadores, distribuídos por três pilares: financiamento (inputs); monitorização e suporte em diferentes áreas estruturais (process) e número de publicações científicas, qualidade da investigação e reputação institucional (output). A 2ª edição deste ranking evidencia ainda a liderança das IES dos Estados Unidos da América e Singapura, sendo de novo liderado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). O 1º lugar europeu é mais uma vez ocupado pela Wageningen University & Research, dos Países Baixos.
Conselho Científico: Repetição da votação desempata a favor da “Construir o Futuro, Cuidar a UA”
Depois de, no passado dia 11, as listas “Construir o Futuro, Cuidar a UA” e “futUrA: Ciência, Comunidade e Inovação” terem empatado a nove votos no subgrupo B da 3ª circunscrição das eleições para o Conselho Científico da UA, o resultado acabou por ser desempatado na repetição da votação, que aconteceu esta terça-feira, dia 18. Com uma afluência às urnas mais expressiva – ao passo que, na primeira votação, apenas tinham votado 18 dos 32 eleitores, desta vez houve 27 pessoas a votar –, 16 pessoas acabaram por depositar a sua confiança no projeto “Construir o Futuro, Cuidar a UA”, por oposição às 11 que votaram “futUrA: Ciência, Comunidade e Inovação”. Cada circunscrição corresponde a um grupo de unidades orgânicas, sendo que a terceira circunscrição – aquela em que as eleições foram repetidas – inclui os departamentos de Educação e Psicologia, de Comunicação e Arte, de Economia, Gestão, Engenharia Industrial e Turismo, de Línguas e Culturas e de Ciências Sociais, Políticas e do Território e o Instituto Superior de Contabilidade e Administração. Contados os votos, passou a ser também possível distribuir os mandatos: dois para a lista “Construir o Futuro, Cuidar a UA” e um para a lista “futUrA: Ciência, Comunidade e Inovação”. Assim sendo, passou também a ser possível atribuir os mandatos do subgrupo A, que já estavam nas mãos das listas: dos três mandatos desse subgrupo, dois não estavam atribuídos – um da “Construir o Futuro, Cuidar a UA” e outro das “futUrA: Ciência, Comunidade e Inovação”. Feitas as contas a todos os subgrupos das três circunscrições, pode agora dizer-se que, de entre os 20 representantes eleitos entre docentes e investigadores para o Conselho Científico, 13 candidataram-se pela lista “Construir o Futuro, Cuidar a UA” e 7 pela lista “futUrA: Ciência, Comunidade e Inovação”. O Conselho Científico é o órgão responsável pela definição e coordenação da política científica da Universidade de Aveiro, competindo-lhe, entre outras funções, apreciar o plano e as atividades científicas da instituição, pronunciar-se sobre a criação de novas áreas e unidades científicas, deliberar sobre a distribuição do serviço docente, aprovar planos de estudos, propor prémios e distinções honoríficas, ou definir júris e participar nos processos de recrutamento de docentes e investigadores. Tem ainda competência para se pronunciar sobre a nomeação do diretor da Escola Doutoral e sobre acordos ou parcerias internacionais, exercendo todas as demais funções previstas nos Estatutos e na Lei. De acordo com os Estatutos da UA, recentemente alterados, o Conselho Científico é composto por 20 representantes eleitos entre docentes e investigadores e 5 representantes das unidades de investigação.
Últimas
Incêndios: Situação da agricultura familiar em Aveiro agravada por atrasos nos apoios
A presença já habitual de agricultores em protesto à porta da feira agropecuária teve, este ano, uma nova preocupação a juntar às recorrentes dos produtores de leite e carne com os custos dos fatores e baixo preço à produção: os efeitos dos incêndios do verão. “Agora que estamos no inverno, ninguém fala nos incêndios, mas nós estamos aqui mais uma vez para insistir e alertar para a situação vivida no distrito” de Aveiro, disse à Lusa Carlos Alves, dirigente daquela organização. Num documento para entregar aos representantes do Governo e da Assembleia da República presentes no ato inaugural do certame, a UABDA alerta para atrasos na atribuição de apoios e compensações prometidas aos produtores florestais e agricultores afetados pelos incêndios recentes no distrito. “Muita gente ainda está à espera de receber esses apoios”, disse Carlos Alves. O declínio da produção leiteira foi outra chamada de atenção daquela organização de produtores, aproveitando a feira em que os bovinos ocupam desde há vários anos lugar de destaque. “Aveiro, que já foi uma potência na produção de leite, registou o encerramento de mais de duas mil explorações desde a entrada na União Europeia e, só nos últimos três anos, fecharam no distrito aproximadamente 200 explorações”, contabilizou Carlos Alves. Segundo aquele dirigente, “a falta de condições para manter o negócio deve-se ao aumento dos custos dos fatores de produção, nomeadamente das rações e fertilizantes, e à diminuição do preço pago ao produtor”. Situação que é agravada, segundo disse, pela importação de produtos “de baixa qualidade, como leite em pó, que entram no mercado como leite normal”. Perante esse cenário, a UABDA sustenta que os apoios nacionais e comunitários “vão sempre para os mesmos e excluem os mais pequenos, que são quem mais deles precisa”. “A grande maioria dos fundos (quase 90%) é absorvida pelos grandes produtores, que representam apenas cerca de 10% das produções nacionais”, criticam. Garantir o escoamento da produção a preços justos, controlar os preços dos fatores de produção e apoiar os pequenos e médios produtores são propostas do documento elaborado para entregar ao Ministério da Agricultura e do Mar, à Comissão de Agricultura da Assembleia da República e às comissões de coordenação e desenvolvimento regional. A Agrovouga regressou na passada sexta-feira ao Parque das Feiras e Exposições de Aveiro, prolongando-se até ao dia 30, com um programa que visa afirmar o evento como uma referência nacional nos setores agrícola, pecuário, florestal e gastronómico.
Aradas: Chega defende acordo “sem abrir mão” de exigências e não nega possível acordo na CMA
Há dois dias, o executivo em Aradas era, finalmente, aprovado após três tentativas. Em cima da mesa esteve a integração de Ricardo Nascimento, eleito pelo Chega para a Assembleia de Freguesia, no executivo da Junta. Face à tomada de decisão do Chega, os partidos da oposição ('Sentir Aradas' e PS) já reagiram através de comunicados, depois de inicialmente recusarem-se a prestar declarações aos jornalistas à margem da última Assembleia de Freguesia. O Partido Socialista, numa crítica direta ao Chega e à 'Aliança com Aveiro', deu nota que não trabalhava “através de sinais, gestos calculados ou mensagens ambíguas”. Já o Movimento Independente ‘Sentir Aradas’ afirmava que não pactuava com “práticas políticas que contrariem estes valores nem com comportamentos que revelem falta de carácter”. Recorde-se que nas últimas declarações à comunicação social, Marlene Teixeira da Rocha (Chega), em representação de Ricardo Nascimento, dava a entender que as três forças da oposição [Chega, Sentir Aradas e PS] estariam “unidas” e que não iriam “abrir mão” de “três premissas” para viabilizar o executivo: a auditoria financeira independente, o acesso integral à documentação que levou a Junta de Freguesia a ser condenada em Tribunal e a reposição da situação laboral de duas funcionárias da Junta de Freguesia que denunciaram assédio laboral. No entanto, tal entendimento conjunto não se concretizou, tendo apenas o Chega chegado a acordo com Catarina Barreto. Face às críticas que têm sido dirigidas ao partido nos últimos dias, o Chega lançou um comunicado na passada sexta-feira. Começa por referir que a nota pretende esclarecer “todos os aveirenses e aradenses em particular” sobre a “verdade” do processo “que se tornou demasiadamente longo e pouco edificante para a democracia aveirense e para as gentes de Aradas”. À margem da Assembleia de Freguesia, Ricardo Nascimento, quando recordado de um vídeo que o partido promoveu, à porta da Junta de Freguesia de Aradas, nas redes sociais, onde denunciava a falta de “transparência” do executivo, dava nota aos jornalistas que a transparência acabaria por vir à “tona”. Também nesta nota de imprensa fizeram questão de a sublinhar. “A transparência é princípio fundamental e inegociável da nossa ação, mais ainda, se possível, na eleição de um Executivo e Mesa de Assembleia de uma Junta de Freguesia”, lê-se. Para a sustentar, referem que “desde o primeiro dia” definiram “premissas muito claras e objetivas para que o Chega acordasse viabilizar o Executivo da Junta de Freguesia de Aradas”: a “concordância na contratação de auditoria à situação da Junta de Freguesia”; o “acesso a toda a documentação que o Tribunal Administrativo e Fiscal de Aveiro menciona da sua sentença de julho de 2025” e a “resolução dos conflitos laborais existentes à data”. “Fomos, somos e seremos intransigentes nestas condições, as quais e ao dia de hoje, mantemos”, insiste o partido. Por “imperativo de consciência e coerência” e da responsabilidade de “sanar um impasse crescente e lesivo”, o Chega refere que assumiu a “liderança das negociações conducentes a um acordo entre a 'Aliança com Aveiro' e o Chega, (…) que visa garantir condições de governabilidade e estabilidade política à Junta de Freguesia de Aradas”. Segundo o partido, o acordo só foi alcançado porque o Chega teve acesso a “toda a informação e documentos solicitados e exigidos, por parte da presidente da Junta”. “Estes documentos estão na nossa posse e serão disponibilizados sempre que considerado necessário”, afirma. Nota ainda que o acordo assinado entre as partes supramencionadas é “inquestionavelmente explícito e claro quanto à contratação de uma auditoria à Junta de Freguesia de Aradas, em termos, moldes e data a definir exclusivamente entre as partes e em data a oportunamente anunciar aos fregueses de Aradas”. Por último, refere a “resolução dos conflitos laborais existentes à data da assinatura deste acordo”, estando, neste momento, “em curso um processo de inspeção e análise por parte da IGF”. “Deverá ser uma realidade até final deste ano de 2025. Ao que sabemos, esta será uma realidade a muito breve trecho”, adianta. Sobre os partidos da oposição, o partido refere ainda que a “todos foi dado conhecimento deste acordo, antecipada e factualmente, porque somos gente honrada, de valores e com princípios”. Contactado pela Ria, Diogo Soares Machado, vereador e também presidente da concelhia do Chega, garante que, entre os documentos consultados, não foi detetada nenhuma “red flag”. Falando em concreto sobre o processo da ADSE – recorde-se que, conforme noticiado pela Ria, Catarina Barreto recebeu indevidamente apoios da ADSE, tendo regularizado a situação posteriormente -, o vereador do Chega afirma que se trata de uma “questão arrumada”. “Eu neste momento já não levanto suspeitas nenhumas”, frisou Diogo Soares Machado, que, no entanto, não explicou se a presidente tinha sido a única pessoa do executivo a ser inscrita, nem deu nota de quem assinava a sua ficha de inscrição da ADSE – questões colocadas pela Ria aquando da investigação desse processo que nunca foram respondidas. Diogo Soares Machado afirma também que não vai revelar a documentação a que teve acesso, alegando possíveis conflitos legais com o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD). No que diz respeito à auditoria – que, diz o acordo, deve acontecer em “termos, moldes e data a definir exclusivamente entre as partes e em data oportuna” -, o vereador do Chega na CMA garante que o processo deverá acontecer “em breve” e que “há um caderno de encargos definido” a que, “oportunamente”, a comunicação social poderá ter acesso. Já sobre as outras forças da oposição, o vereador disse não saber o porquê de o acordo ter ficado fechado apenas entre Chega e ‘Aliança’: “Não sei se houve uma abordagem da ‘Aliança’ com as outras forças políticas, se não houve abertura para o diálogo. (…) O que eu sei é que nós, quando nos sentámos à mesa, sentámos com a intenção de resolver. E resolver era garantir que as nossas condições eram satisfeitas”. Da mesma forma, o comunicado insiste que “jamais abrimos mão das nossas condições e jamais o faremos! Não estamos disponíveis para servir outros interesses que não os de Aradas e dos aradenses”. Relembre-se de que, tal como avançado pela Ria, fontes próximas dos partidos locais referiam que, além da integração de um elemento do Chega no executivo da Junta, estaria em causa um entendimento mais abrangente, envolvendo também a governação da Câmara Municipal de Aveiro, com a atribuição de pelouros ao atual vereador da oposição, Diogo Soares Machado. Contactado pela Ria, na passada quarta-feira, o vereador do Chega não confirmou nem desmentiu. Já Ricardo Nascimento, quando confrontado na última Assembleia de Freguesia, afirmou que era “mentira”. No mesmo dia, em declarações ao “Notícias de Aveiro”, Firmino Ferreira, presidente da concelhia do PSD, dizia que “o acordo alcançado para a Assembleia de Freguesia de Aradas não garante por si só um acordo de âmbito municipal, mas reconhecemos que são contributos importantes para o desenvolvimento de uma parceria desejável que permita levar a cabo o programa eleitoral sufragado pelos aveirenses”. Em conversa com a Ria, na passada sexta-feira, Diogo Soares Machado não subscreveu as palavras de Ricardo Nascimento, mas sim as de Firmino Ferreira. Para além de confirmar que “há uma aproximação e conversas”, o vereador volta a não confirmar nem a desmentir que o acordo possa passar pela atribuição de pelouros, embora considere a questão “extemporânea”. No comunicado, o Chega adianta ainda que o partido conseguiu “em menos de um mês o que outros não conseguiram nos quatro anos que durou o mandato autárquico anterior”. “Estamos determinados a prosseguir este caminho de boas práticas, transparência e serviço público nos próximos quatro anos”, garante. “A entrada do Ricardo Nascimento no executivo que agora inicia funções é o garante disso mesmo. (…) O acesso contínuo e permanente a toda as informações e documentação que possam ser relevantes e necessárias para tomadas de decisão futuras e que se pretendem coerentes, responsáveis e sempre em função do que é, em cada momento, melhor para os aradenses e mais ajustado à realidade da Freguesia”, continua. A presença de Ricardo Nascimento não deixa de representar uma surpresa neste acordo entre ‘Aliança’ e Chega, uma vez que significa um acréscimo às exigências feitas anteriormente e que o próprio Chega já tinha dito não ter interesse em estar dentro do executivo. Em conversa com a Ria, Diogo Soares Machado frisa que o seu partido acaba por duplicar a sua presença na autarquia de Aradas - ao membro eleito para a Assembleia de Freguesia, que agora passa a ser Matilde Machado, soma-se também o vogal do executivo – e, questionado sobre como foi possível que o acordo fosse ainda mais benéfico para o Chega, aponta: “o segredo é a alma do negócio”. “Conseguimos porque do lado da ‘Aliança’ houve a inteligência e a boa-fé de perceber que o executivo de Aradas seria mais forte, mais representativo e mais assertivo se integrasse o Ricardo Nascimento”, considera. Na noite de quarta-feira, quando o executivo foi aprovado, Ricardo Nascimento declarou que o Chega não ia “fazer uma oposição descarada”, mas que “continuava na oposição”. Estas são também palavras com que Diogo Soares Machado não se compromete: “É uma maneira de se expressar que não é a minha. Se calhar é uma maneira mais ‘à brasileiro’ do que ‘à português’, porque o Ricardo ainda tem esse ‘handicap’”. Segundo explica, o Chega está “de boa-fé e com vontade de fazer”, sendo “o garante de que as reivindicações são aceites”. Numa crítica direta aos comunicados da oposição, o comunicado do Chega acrescenta ainda que: “Depois da espuma dos dias e de dissipado o nevoeiro de insultos e dislates que outros escolheram como caminho, a verdade prevalecerá e se saberá quem está com a razão e com verdadeiro espírito de servir Aradas”. “E porque nada temos a esconder e nada fizemos (ou faremos) que belisque minimamente a nossa estatura moral e política, anexamos a este comunicado cópia do acordo assinado entre a 'Aliança com Aveiro' e o partido Chega, no passado dia 19 de novembro”, continua. Entretanto, a Ria analisou a cópia do acordo que foi enviado pela Chega em anexo ao comunicado de imprensa. Nesse documento, assinado no dia 19 de novembro, quarta-feira, não só está definida a entrada de Ricardo Nascimento para o executivo enquanto vogal e a definição da Mesa da Assembleia de Freguesia, como os compromissos entre as partes. Segundo indica a cláusula quarta do documento, o “processo negocial que conduziu ao acordo decorreu em estrita observância dos princípios da transparência, seriedade e cooperação institucional e plena troca de informação relevante, tendo sido garantido o acesso a toda a informação e documentos necessários à tomada de decisão consciente e responsável”. Embora, “da consulta e análise (…) nada tenha surgido ou resultado como causa impeditiva do acordo”, as duas forças “acordam na contratação de uma auditoria à Junta de Freguesia de Aradas, em termos, moldes e data a definir exclusivamente entre as partes e em data oportuna”. A cláusula quinta, por seu lado, vem garantir que tanto o Chega como a ‘Aliança’ se “comprometem a assegurar a execução e estabilidade das soluções governativas decorrentes do acordo, abstendo-se de adotar comportamentos que, direta ou indiretamente, comprometam a sua eficácia política e administrativa”.
Ílhavo: Exposição “Império”, jogo educativo e oficina marcam o “Tanto Mar!” de novembro
A exposição de Rodrigo Vilhena será inaugurada pelas 17h00. A mostra, segundo uma nota de imprensa enviada à Ria, reunirá um conjunto de pinturas a óleo e aguarelas que evocarão “momentos históricos vividos pelas embarcações São Gabriel (1497), Cinco Chagas (1594), São Francisco Xavier (1625), Amável Donzela (1788), Camões (1875), Pedro Nunes (1917) e Império (1970)”. “O visitante é convidado a assumir-se como passageiro destas embarcações e a contemplar o céu e o mar nas suas transformações de luz ao longo do dia”, explica. A exposição ficará patente na Sala da Pintura até 30 de abril de 2026. Antes da inauguração, será ainda apresentado o jogo educativo digital do Museu Marítimo de Ílhavo, desenvolvido pela equipa da EduCITY, um projeto da Universidade de Aveiro financiado pela FCT. O recurso nasceu no âmbito da premiação “EduCITY, Prémio INOVA mais 2024”. Através da app “EduCITY”, os visitantes poderão explorar a tradição bacalhoeira de Ílhavo. Às 15h00, terá ainda lugar uma oficina para famílias “O Mar por objeto”, dirigida a crianças entre os 6 e os 10 anos. A proposta incide sobre a exposição temporária “O Mar por objeto, as Mulheres, a Ciência e o lado Oceano”. Ao longo da atividade, as famílias serão desafiadas a descobrir a mostra através de um peddy paper que conduz à exploração dos objetos utilizados pela bióloga do Museu Marítimo. As inscrições devem ser realizadas aqui: [email protected].
Aveiro continua a ser um dos distritos onde se regista mais crimes de violência doméstica
Segundo a GNR, que vai desencadear ações de sensibilização ao longo de toda a semana, no quadro do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, entre 01 de janeiro e 15 deste mês, foram detidos 1.380 suspeitos (349 em flagrante e 1.031 fora de flagrante) e apreendidas 864 armas. Os distritos do Porto, Aveiro e Lisboa são os que apresentam o maior número de denúncias, enquanto Portalegre e Bragança relataram os valores mais baixos. Em 2024, sublinha a corporação, a GNR contabilizou 11.876 crimes de violência doméstica, em que os distritos do Porto, Aveiro, Braga, Setúbal e Lisboa concentraram novamente o maior número de ocorrências, enquanto Portalegre e Bragança se mantêm com os menores valores. Nesse ano, registaram-se 13 mortes – 12 mulheres e um homem –, pelo que há agora um reforço das ações de sensibilização, direcionadas para a prevenção de comportamentos violentos contra as mulheres, em todo o território nacional. No âmbito destes crimes, foram detidos 1.450 suspeitos (373 em flagrante e 1.077 fora de flagrante) e apreendidas 1.222 armas. Em 1999, lembra-se no comunicado, as Nações Unidas instituíram oficialmente o dia 25 de novembro como o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, com o objetivo de alertar para uma realidade que continua a afetar milhões de mulheres em todo o mundo. “A GNR tem vindo a reforçar as campanhas de sensibilização e a investir em formação específica do seu efetivo, garantindo uma resposta cada vez mais qualificada na participação, enquadramento, tratamento e acompanhamento de situações de violência doméstica”, refere a corporação no comunicado. Paralelamente, acrescentou, tem como prioridade melhorar a rede de salas de atendimento às vítimas e reforçar a articulação com as entidades parceiras. Atualmente, os Núcleos de Investigação e Apoio a Vítimas Específicas (NIAVE) integram 186 militares especializados em todo o país e registaram, até 15 de novembro de 2025, 4.056 inquéritos, dos quais 3.956 já concluídos (cerca de 97,5%). “A violência doméstica é um crime público, de denúncia obrigatória e de responsabilidade coletiva. A sua prevenção, investigação e combate constituem prioridades da política criminal vigente e assumem-se como prioridade absoluta para a Guarda Nacional Republicana, que se mantém firmemente empenhada na proteção das vítimas e na promoção de uma sociedade mais segura”, sublinha a GNR. A corporação policial sublinha que se alguém precisar de ajuda ou tiver conhecimento de alguma situação de violência doméstica que participe no Portal Queixa Eletrónica (queixaselectronicas.mai.gov.pt), por telefone, através do número europeu de emergência (112), no Posto da GNR mais próximo à sua área de residência ou em www.gnr.pt/contactos.aspex. Também podem ser denunciados através da aplicação App MAI112 disponível e destinada exclusivamente aos cidadãos surdos, em www.112.pt/Paginas/Home.aspx, ou ainda na aplicação SMS Segurança, direcionada a pessoas surdas em www.gnr.pt/MVC_GNR/Home/SmsSeguranca.