RÁDIO UNIVERSITÁRIA DE AVEIRO

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As cavacas no São Gonçalinho: do forno a lenha ao chão do Largo da Capela

As cavacas, doce típico das Festas de São Gonçalinho, continuam a ser lançadas até amanhã, dia 13, da Capela do bairro da Beira-Mar. Se ainda há quem se dedique a fazer este doce conventual de forma artesanal também há, por estes dias, quem se dedique a apanhá-lo. A Ria foi procurar conhecer Fernanda Sousa, uma das senhoras que ainda faz e coze as cavacas em casa, bem como Silvério Ricarte, um aveirense que por esta altura se encontra a manejar uma nassa [artefacto com que apanha as cavacas] para apanhar o doce.

As cavacas no São Gonçalinho: do forno a lenha ao chão do Largo da Capela
Ana Patrícia Novo

Ana Patrícia Novo

Jornalista
12 jan 2025, 21:03

A dança é a mesma no Largo da Capela de São Gonçalinho, no bairro da Beira-Mar, desde dia 9 de janeiro. O sino toca e os olhos prendem-se ao cimo da capela: não tarda dezenas de cavacas são lançadas lá do alto. Cá em baixo, no Largo, o povo tenta a sorte. Com guarda-chuvas abertos, a parte que abriga virada para cima, tentam apanhar o máximo de cavacas que conseguem.

A velocidade com que as cavacas são lançadas faz com que algumas ressaltem dos guarda-chuvas e se partam no chão da calçada. Outras saltam para o guarda-chuva do vizinho. Se cair ao chão e não partir, parece ser regra: se for apanhada em três segundos, não há mal que lhe pegue. Afinal, a cavaca é dura de roer.

Quem não trouxe guarda-chuva tenta a sorte também. As que são apanhadas são conforto para o estômago, algumas guardadas em sacas para mais tarde. Quem não veio provido de saco improvisa um regaço com a camisola que traz vestida. Apesar da apanha da cavaca ser um processo normalmente amigável, há por vezes quem apanhe a mesma cavaca em simultâneo e se debata por segundos sobre se a deixa ir ou se luta pelo doce.

Ovos, açúcar e farinha são os ingredientes principais que fazem das cavacas, um doce conventual tipicamente português, um verdadeiro sucesso por estes dias. Como são cobertas de açúcar ficam duras e ao serem arremessadas do alto da Capela, por vezes magoam. Não é raro, aliás, que alguém vá parar ao hospital com a cabeça partida ou com um sobrolho aberto.

Na festa de São Gonçalinho, foram vendidas cerca de seis toneladas e meia de cavacas pela Mordomia. Mas não foram as únicas. Nos arredores da capela de São Gonçalinho estão espalhadas várias barraquinhas que se dedicam, por estes dias, a vender o doce conventual e outros doces típicos de romaria.

“As cavacas são muito chatas de se fazer”

Fernanda Sousa tem 68 anos e é uma das pessoas que ainda faz cavacas manualmente e coze em forno de lenha.

Ainda se encontram pessoas que fazem as cavacas de forma artesanal. É o caso de Fernanda Sousa que se dedica a esta arte “desde os 14 anos”. Natural de Tondela, chegou a Águeda há mais de 50 anos para “servir numa casa de uma senhora”. Aprendeu a fazer cavacas com uma velhota que tentou ensinar a senhora que, na altura, Fernanda servia. “Ela não sabia fazer nada”, explica. “Depois uma senhora foi lá e ensinou-a, mas eu é que abri o olho e comecei a lutar”, recorda Fernanda. Aos 20 anos casou-se e passou a dedicar-se ao negócio da venda de doces em feiras e romarias.

Para a festa de São Gonçalinho cozeu no seu único forno a lenha mais de três mil quilos do doce conventual. Para garantir que os mesmos estariam prontos para a romaria começou a produzi-los há mais de três meses. “Levantava-me sempre às seis da manhã, cinco e meia”, partilha.

A cavaca, explicou Fernanda, “tem de ser polvilhada com farinha, toda numa mesa e depois tem de ser esticada. Vai ao forno: tem de encarquilhar. Depois tem de se virar e tem de ser toda escovada e pintada com açúcar branco”, refere.

“As cavacas são muito chatas de se fazer”, assume. Ainda assim, gosta tanto do trabalho que faz que “gostava de durar até aos 100 anos”. “Nem queria morrer para continuar a fazer”, partilha Fernanda entre risos. São Gonçalinho, confessa, ajudou-a a confecionar as cavacas. “Oh São Gonçalinho, ajude-me que eu tenho de fazer as cavacas. E ia para a frente. Ajudou muito, não é fácil”, contou.

Enquanto Fernanda falava connosco algumas das cavacas que tanto trabalho lhe deram a confecionar continuam a ser arremessadas. Nas laterais da capela vemos homens a habilidosamente apanhar os doces que precipitam com umas redes compridas a que chamam de nassas.

“Gosto de estar aqui, é uma carolice”

Silvério Ricarte apanha cavacas na festa de São Gonçalinho há cerca de 10 anos.

Silvério falou connosco enquanto apanhava cavacas. Apesar de ser aveirense, mora atualmente em Águeda e começou a vir à festa de São Gonçalinho de forma mais frequente desde que se reformou.

Fez a sua nassa [artefacto com que apanha as cavacas] há cerca de três anos. “Gosto de estar aqui, é uma carolice”, conta bem-humorado. Ao seu lado está Amélia, a sua esposa. “É o meu braço direito”, repara Silvério. Juntos, já chegaram a apanhar cavacas suficientes para encher mais de oito sacos de compras.

Conta que “de há uns anos para cá tínhamos o recinto todo para andar com isto que, segundo reza a tradição, era proibido já há muitos anos”. Desde que começou a apanhar cavacas com a sua nassa, sabe que está restrito a permanecer nas laterais da capela. “As pessoas têm tanto terreno daqui para acolá, para apanhar à mão e com chapéus, e nós estamos daqui deste lado e somos insultados pelas pessoas”, repara Silvério. Com os colegas de engenho, as coisas correm sempre bem.

As cavacas que apanha, diz, são demasiadas para consumir e então Silvério oferece o excedente. “Há malta que vem aqui e apanha as cavacas para dar ao gado”, conta. Como Silvério só tem patos e galinhas e as cavacas são duras, opta por oferecer os doces conventuais que apanha com o seu engenho.

Oferece a quem lhe for pedir e as que sobram distribui pelos amigos e familiares. Alguns, conta, comem as cavacas ao pequeno-almoço com uma meia de leite, outros preferem guardar para o fim das refeições e juntam-lhes vinho do porto ou o tradicional licor de alguidar.

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No período da manhã desta terça-feira está a decorrer uma oficina de modelação de barro “Como criar um azulejo?”, seguindo-se da parte de tarde, pelas 17h00, uma visita guiada “Roteiro do Azulejo de Aveiro”. Nesta segunda atividade as inscrições devem ser realizadas através do email: [email protected]. Ambas as iniciativas vão decorrer no Museu da Cidade. Numa nota de imprensa enviada à Ria, o Município recorda ainda que foi “membro fundador da Associação Portuguesa de Cidades e Vilas de Cerâmica (AptCVC)” e que tem vindo a “desenvolver diversas ações em torno do património azulejar, reforçando o seu valor educativo e cultural”. A data, que visa destacar a importância do azulejo como expressão identitária e artística de Portugal, insere-se também nas comemorações do Feriado Municipal de Aveiro, que decorrem até ao dia 12 de maio.

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A obra, segundo uma nota de imprensa enviada à Ria, retrata a história da Avenida Dr. Lourenço Peixinho, desde a sua origem até à atualidade, “com especial enfoque na recente intervenção de requalificação promovida pela CMA e inaugurada em maio de 2023”. “O livro destaca ainda o impacto desta requalificação na dinâmica urbana e na revitalização da principal artéria da cidade”, avança. O evento decorre na nova loja da Livraria Bertrand e integra o programa das comemorações do Feriado Municipal de Aveiro, que se prolongam até ao dia 12 de maio.

Assembleia Municipal Jovem questiona Ribau Esteves sobre apagão, habitação e comunidade imigrante
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O que é um mandato, quais os partidos representados na Câmara Municipal de Aveiro (CMA) ou como funciona uma Assembleia Municipal foram alguns dos aspetos descodificados na iniciativa. De seguida, teve lugar uma primeira ronda de questões, na qual os jovens aproveitaram para interpelar José Ribau Esteves, presidente da CMA, sobre diversas temáticas. Entre os assuntos abordados estiveram a resposta municipal ao apagão que afetou o concelho na segunda-feira, 28 de abril, o problema da habitação e a construção da nova residência universitária. Relativamente ao apagão, José Ribau Esteves deu nota de que as “pessoas têm de aprender” a estarem preparadas para “tudo”. “A malta está a habituar-se muito mal e o apagão foi uma coisa muito bruta e surpreendente e veio-nos dizer que a rapaziada (…) tem de estar atenta e o nosso espírito preparado para responder às adversidades”, atentou. Neste seguimento, Ribau Esteves respondeu que a principal preocupação do município durante a ocorrência passou por manter os serviços essenciais em funcionamento, articulando com as entidades mais afetadas, como, por exemplo, o Hospital de Aveiro. “Não pode faltar energia elétrica ao nosso hospital. Está lá gente que precisa a cada segundo de um conjunto de coisas que só existem se a energia estiver a funcionar. O nosso hospital tem geradores, mas (…) consomem combustível. Era preciso verificar se tínhamos condição de pôr lá mais geradores e antes desta garantir combustível. Nós próprios disponibilizamos as nossas reservas da CMA e depois não foi preciso porque houve uma das empresas fornecedoras que fez o abastecimento”, explicou. Ainda no âmbito dos serviços essenciais, o presidente da CMA destacou também os esforços por garantir o abastecimento de água, através da Associação de Municípios do Carvoeiro-Vouga. “Era preciso garantir que a nossa unidade central (…) tivesse geradores de energia para não faltar a capacidade de bombar água para os depósitos serem reabastecidos. Ficamos um bocado à rasca porque só conseguimos arranjar um gerador (…) e precisávamos de dois. (…) Se a energia não tivesse chegado ao Carvoeiro ali no início da madrugada íamos ter uma escassez de água mais geral. Nós em Aveiro e em vários municípios estivemos horas sem água, mas não foi nada do outro mundo”, sublinhou. Em tom crítico, Ribau Esteves aproveitou ainda a ocasião para questionar o encerramento das centrais a carvão de Sines e do Pego, em 2021. “Há aí uns maluquinhos a acharem que o mundo tem de ser todo elétrico. Isso é uma estupidez e o apagão vem dizer isso de uma forma bruta. (…) É sempre importante na gestão da energia termos vários recursos (…)”, reconheceu. “Portugal tinha duas centrais de carvão. Uma delas (…) era das centrais que produzia energia elétrica com maior nível de eficiência de toda a Europa. O Governo anterior, por causa dos fetiches politiqueiros, decidiu fechar as duas. A China, na década que estamos a viver, está a construir 20 vezes mais centrais de produção de energia a carvão do que todo o mundo somado. (…) Vejam o ridículo. O Portuga fecha duas centrais por questões ambientais para salvar o planeta e os chineses (…) constroem mais 200. (…) O fundamentalismo é sempre um erro”, sintetizou. Ainda sobre a resposta municipal ao apagão, o presidente da CMA referiu que foi “montado” um esquema de reforço de segurança em articulação com a polícia. No que diz respeito ao problema da habitação, José Ribau Esteves sublinhou que se trata de um problema com “origem positiva”, traduzido na crescente atratividade da cidade. “Nós somos dos municípios que mais ganhamos população. Estamos a falar de população de residência permanente”, especificou. Neste seguimento, o autarca destacou ainda o papel de “crescimento” da Universidade de Aveiro (UA). “Um bocadinho mais de 50% dos alunos não ficam cá. Fazem casa-universidade todos os dias. Os outros ficam”, assegurou. Neste campo, Ribau Esteves aproveitou ainda para criticar os partidos de oposição, tal como tem vindo a ser noticiado pela Ria. “Nós somos social-democratas e democratas cristãos na nossa Aliança. Nós somos contra aquela ideia dos partidos de oposição de que é a Câmara que tem de gastar dinheiro a fazer habitação. (…) O estado deve construir algumas casas, mas nunca tem condição de responder a tudo. (…) O investimento em habitação é altíssimo. (…) Aveiro é dos municípios do país – tirando as zonas metropolitanas do Porto e Lisboa- com maior número de fogos de habitação social. Nós temos os nossos 600 mais 1000 do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU)”, recordou. Em relação à nova residência universitária a ser construída no terreno do parque de estacionamento contíguo ao antigo Autocarro Bar, o presidente da CMA reiterou que o mesmo se trata de um “investimento privado”, avançando ainda com o prazo de “dois meses” para a montagem do edifício de “seis pisos”. “Aquilo vai ser construído com uma estratégia construtiva nova. Neste momento, a estratégia está toda a ser construída em fábrica em Oliveira de Frades e é chegar e montar. Depois é preciso acabar os acabamentos (…) São 200 camas e temos mais três residências universitárias em licenciamento”, referiu. Numa segunda ronda de questões, os jovens abordaram ainda, entre outras matérias, a integração da comunidade imigrante em Aveiro. Ribau Esteves recordou que esta comunidade já existe “há muitos anos”, mas que a relação com esta tem sido “absolutamente tranquila” e a integração “positiva”. “Nós hoje temos escolas com 30/40 nacionalidades. Isto é fácil de gerir? Com certeza que não, mas naquilo que é a nossa capacidade de acolher, de resolver, de ajudar a adaptação à língua, à cultura, etc as coisas têm-nos corrido num nível de qualidade muito alto”, apontou. A sessão da manhã contou ainda com a presença de Rogério Carlos, vice-presidente da CMA, João Machado, vereador com os pelouros da Cidadania, Juventude e Seniores na CMA e Luís Souto, presidente da Assembleia Municipal. No período da tarde, os jovens apresentaram as suas moções aos órgãos executivos. Segue-se agora uma segunda Assembleia Municipal Jovem, esta sexta-feira, 9 de maio, com os alunos do 3º ciclo.

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Legislativas: candidatos por Aveiro debatem amanhã na Universidade
Região

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A iniciativa contará com três rondas de questões aos candidatos e, conforme adiantado ontem, as temáticas incidirão sobre a vida dos jovens portugueses e estudantes do Ensino Superior, bem como temas estruturantes para a população do distrito de Aveiro. A última ronda será composta por perguntas enviadas pela população. As questões devem ser enviadas para o email [email protected] até às 11h do dia de amanhã (dia7), mas apenas duas serão integradas no debate. A discussão contará ainda com uma ronda final onde cada candidato poderá fazer um apelo ao voto. Organizado pela Associação Académica da Universidade de Aveiro (AAUAv) e pela Ria – Rádio Universitária de Aveiro, o debate vai contará com Emídio Sousa (AD – PSD/CDS), Hugo Oliveira (PS), Pedro Frazão (CHEGA), Mário Amorim Lopes (IL), Luís Fazenda (BE), Filipe Honório (LIVRE), Isabel Tavares (CDU) e Ana Gonçalves (PAN) e será moderado por Isabel Marques, diretora de informação da Ria. Também Joana Regadas, presidente da direção da AAUAv fará uma intervenção no princípio da iniciativa. O debate é aberto à comunidade académica e ao público em geral, até à lotação máxima do auditório. Se não conseguir garantir um lugar, poderá assistir à transmissão em direto através da página de Facebook da Ria – Rádio Universitária de Aveiro.

Dia Nacional do Azulejo: Acervo de Ana Velosa e iniciativa de Isabel motiva exposição no DECivil
Universidade

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“Eu sou de Aveiro, sou da Beira Mar”, começa por dar nota Isabel da Paula, assistente operacional da secretaria do DECivil, para explicar a sua ligação aos azulejos. “As casas da Beira Mar eram todas com azulejo, tive algumas pessoas da família que estavam na Fábrica Aleluia - na pintura e também no fabrico, de mãos na massa para fazer o azulejo -, e outros também que passaram pelas faianças [fábricas de cerâmica] de São Roque, que também já não existem, pela dos Santos Mártires também”, lembra. Cresceu, portanto, cercada pelo mundo da azulejaria tradicional e vê com alguma tristeza a perda dessa tradição. “A zona da Beira-Mar, não era só marnoto. Era marnotos, eram os trolhas, pedreiros, que eram os da construção civil, e era a cerâmica do azulejo. Era um bairro de tradição”, enfatiza. Não seguiu o caminho da família na tradição azulejar, mas acabou de alguma forma a trabalhar no departamento da UA que ajudou a que fosse possível existir o Dia Nacional do Azulejo. Este ano, a par de Celme Tavares, técnica superior do mesmo departamento, e de Ana Velosa, professora no mesmo departamento, impulsionaram a exposição de 25 azulejos patente a partir do dia de hoje, 6 de maio, no átrio do DECivil. Isabel espera que a iniciativa traga mais amantes do azulejo ao departamento e à universidade e não esconde o sentimento de que a instituição “deveria desenvolver mais nos nossos azulejos [de Aveiro], proteger o que temos e a área do curso de reabilitação deveria ser bem defendida”. “Há uma tradição muito grande na área da cerâmica (…) os poucos azulejos que ainda se vê nas poucas casas deveriam ser bem protegidos”, aponta. O armário branco que guarda a exposição tem exemplares de azulejos vindos de várias partes de Aveiro. “Temos aqui alguns azulejos, alguns que estão aqui são de fábricas que já não existem”, atenta Isabel enquanto enumera: “este, que é da fábrica dos Santos Mártires, que era uma fábrica antiga em Aveiro de azulejos: já não existe; (…) Da fábrica da Fonte Nova, que também já não existe”. Há ainda exemplares da fachada de uma capela antiga, um exemplar de Cândido dos Reis e um em alto relevo que Isabel confidencia achar “lindíssimo”. “E é uma pena... já não são muito comuns”, atira. A mostra, agora patente em DECivil, é composta na verdade por 25 azulejos do acervo pessoal de Ana Velosa, docente do DECivil e uma das pessoas que contribuiu, em nome da Universidade, para que o dia 6 de maio fosse reconhecido como o Dia Nacional do Azulejo. “Procurei ter azulejos que fossem aqui produzidos”, aponta a docente sobre a mostra. “Tem alguns também de Ovar e tem também alguns azulejos degradados, porque nós trabalhamos muito a parte da degradação do azulejo: não é uma exposição assim dos azulejos bonitos, tem degradação e tem azulejos que podem ser utilizados como réplicas”, frisa. Também a história da data e o papel da UA nesse processo é contada pela docente. Começa com a criação do Projeto SOS Azulejos, “um processo coordenado pelo Museu da Polícia Judiciária que teve início devido ao furto de azulejos que começou a ocorrer de forma muito sistemática”, aponta Ana Velosa. Como havia “muito trabalho da Universidade de Aveiro na área do azulejo”, a professora conta que acabou por entrar no projeto, em representação da UA. “Eu trabalhava nessa altura muito com azulejo e estou agora a voltar a trabalhar”, repara. Para a docente o SOS Azulejos foi “um projeto muito dinâmico” e sublinha a disparidade das entidades envolvidas [forças de segurança e instituições de ensino] o que considera reforçar os feitos conseguidos. “Falamos de um projeto com poucas pessoas que conseguiu um Dia Nacional e que conseguiu uma lei”, frisa. Segundo a professora, o “azulejo era menosprezado durante muito tempo pelos portugueses” e a preocupação com a preservação do património azulejar foi começando “quando os turistas chegaram e acharam que era uma coisa muito especial”. “Para alertar para a preservação, pensamos em fazer duas ações: pedir que existisse o Dia Nacional do Azulejo e pedir que existisse uma lei, na qual nós trabalhamos, que não permitisse a demolição de fachadas com azulejo, nem a retirada de azulejo de fachada”, repara Ana Velosa. As propostas foram levadas e aprovadas em Assembleia da República em 2017. A lei passou a vigorar e o dia 6 de maio passou a ser assinalado como o Dia Nacional do Azulejo.  Na vida de Ana Velosa o azulejo, uma peça portuguesa “extremamente identitária”, entrou pela mão da “reabilitação do património edificado”, pela sua origem ser a cidade do Porto e porque teve “a sorte” de se cruzar “com um ateliê de conservação e restauro do Azulejo de Ovar”. O processo da reabilitação do azulejo, a ligação da arquitetura com o material e mesmo o “pôr a mão na massa” são as partes que Ana Velosa aponta mais durante o seu discurso. Lembra, ainda, as várias iniciativas que foram sendo desenvolvidas no âmbito da preservação da cultura do azulejo, destacando uma iniciativa conjunta entre a Câmara Municipal de Aveiro, a UA e a Fábrica de Ciência Viva que, depois da pandemia, viu a sinergia chegar ao fim. “Era uma iniciativa que exigia contacto (…) e nós já tínhamos de alguma forma esgotado o modelo”, repara. “Foi importante, acho que as crianças ganharam muita sensibilidade em relação ao azulejo e acho que teve o tempo teve de ter”, frisa a docente. Para a professora, as autarquias têm vindo “a ser mais sensibilizadas” e “a ter muito mais exigência em relação a esta situação da remoção dos azulejos das fachadas”, algo que considera “extremamente importante para manter a imagem da cidade e a imagem urbana e identitária portuguesa”. Sublinha, ainda, que a própria Universidade tem um património azulejar “relevante” e “com muito interesse”. “Até podíamos ter um percurso de azulejo aqui na Universidade”, sugere Ana Velosa.

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Destinada ao colégio eleitoral do pessoal ‘não docente e não investigador’, a candidatura afirma-se com “sentido de responsabilidade e compromisso” e defende o reforço da voz dos trabalhadores nos órgãos de decisão da universidade, num email dirigido à comunidade. Para além de Inês Carlos como candidata efetiva, a lista tem ainda como suplentes Vítor Proença, técnico superior nos Serviços de Ação Social, e Cecília Reis, técnica superior na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda (ESTGA-UA). A mandatária da candidatura é Eva Andrade, gestora de ciência e tecnologia na UACOOPERA – Unidade Transversal para a Cooperação com a Sociedade. No manifesto enviado à comunidade, o grupo destaca a importância do Conselho Geral como espaço de decisão estratégica e apela à valorização do papel dos trabalhadores TAG na vida da instituição. Entre as principais propostas, incluem-se: a defesa de condições dignas de trabalho e valorização profissional; a promoção da formação contínua, mobilidade interna e transmissão de conhecimento entre gerações; o incentivo à participação ativa e ao diálogo entre órgãos de governo e trabalhadores; a aposta na inclusão, bem-estar físico e mental e conciliação entre a vida profissional e pessoal; o estímulo ao uso de transportes sustentáveis nas deslocações para os campi; e o compromisso com uma gestão participada, ética e sustentável. “Queremos ser uma ponte entre o pessoal TAG e os órgãos de governo da instituição, defendendo os nossos direitos e contribuindo para uma Universidade mais justa, transparente e colaborativa”, pode ler-se no documento. As eleições para o Conselho Geral da Universidade de Aveiro realizam-se a 3 de junho de 2025 e amanhã, dia 7 de maio, termina o prazo de entrega de candidaturas dos diferentes colégios eleitorais: docentes/investigadores, pessoal ‘não docente e não investigador’ e estudantes.

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