Portagens em Aveiro: Paula Urbano diz que "não era prioritário" e Simão Santana não aceita lições
Desde o dia 1 de janeiro que o fim dos pórticos em apenas uma das concessões da A25 tem gerado controvérsia, em Aveiro. Nas últimas semanas, o Bloco de Esquerda (BE) e o Chega (CH) avançaram com dois projetos de lei à Assembleia da República (AR) com o mesmo objetivo: eliminar os três últimos pórticos, na Concessão “Costa de Prata”, localizados entre a Barra e Albergaria-a-Velha. A questão que se impõe é: conseguirá ser a proposta aprovada? A Ria foi procurar ouvir os presidentes da concelhia dos diferentes partidos, assim como os deputados eleitos pelo círculo eleitoral de Aveiro para perceber como se posicionam os mesmos.
Isabel Cunha Marques
JornalistaTal como noticiado pela Ria, desde o dia 1 janeiro que várias portagens das antigas SCUT foram abolidas. No caso de Aveiro e, especificamente, na A25, das duas concessões existentes nesta autoestrada, a Concessão “Costa de Prata” [que liga a zona das praias a Albergaria-a-Velha] e a Concessão “Beiras Litoral e Alta” [que liga Albergaria-a-Velha a Vilar de Formoso], apenas esta última foi contemplada na proposta apresentada pelo Partido Socialista (PS). Neste caso, a Concessão “A25 Beiras Litoral e Alta”. Na altura, a proposta do PS foi aprovada na generalidade no dia 2 de maio de 2024 pelo Bloco de Esquerda, Partido Comunista Português (PCP), Livre, Chega (CH), Pessoas-Animais-Natureza (PAN) e pelo Partido Socialista (PS). Apenas o Partido Social Democrata (PSD) e o CDS-Partido Popular (CDS-PP) votaram contra o projeto de lei e a Iniciativa Liberal (IL) absteve-se.
No dia 2 de janeiro, ou seja, no dia seguinte a aplicação da medida, o PCP-Aveiro era o primeiro partido a reagir contra a “injustiça”, através de uma nota de imprensa. Seguia-se o Grupo de Coordenação Local da Iniciativa Liberal de Aveiro, no dia 3 de janeiro, que voltava a reforçar a mesma ideia.
Três dias depois era a vez do BE, onde também através de uma nota de imprensa dava nota que iria avançar com o Projeto de Lei N.º 415/XVI/1.ªpara eliminar os três últimos pórticos com portagens na A25, na Concessão “Costa de Prata”, localizados entre Aveiro e Albergaria-a-Velha.
PSD, CDS, PS e Chega foram os partidos políticos de Aveiro que não enviaram nota de imprensa sobre esta polémica, mas a Ria contactou os seus responsáveis para saber a sua posição.
“Não há ninguém que nos venha dar lições sobre esta luta” diz Simão Santana, líder do PSD-Aveiro
Contactado pela Ria, Simão Santana, presidente da concelhia do PSD-Aveiro realçou que aquilo que o partido tem a dizer foi “aquilo que já foi dito, publicamente, pelo vice-presidente da Câmara [Rogério Carlos], na última semana, sobre esta circunstância”. Também para este a situação representa uma “grande injustiça para o Município e, especialmente, para a região de Aveiro, realçando que esta é uma matéria que o PSD-Aveiro tem lutado “há mais de uma década” e que o partido continuará a lutar “para que esta injustiça seja de uma vez por todas eliminada”. “(…) O Partido Socialista e os responsáveis decidiram ignorar (…) O PSD no próprio debate, na Assembleia da República, (…) alertou para isso, portanto, foi uma discriminação que o PS fez aos aveirenses e à região de Aveiro. A posição do PSD [Aveiro] é a posição da Câmara. Isso foi público pela voz do vice-presidente”, frisou.
Para Simão Santana, especialmente, o pórtico do Estádio Municipal de Aveiro é “ridículo” deixando ainda um alerta para os restantes partidos: “Não há ninguém que nos venha dar lições sobre esta luta. Esta luta é nossa há muito tempo, aliás, desde o momento que os pórticos foram instalados, nomeadamente, o pórtico do Estádio. Queria deixar bem claro que não há nenhum partido, nem ninguém, que venha dar lições ao PSD sobre a luta que temos feito para que os aveirenses não paguem estas portagens”, reafirmou.
Relativamente ao sentido de voto do Grupo Parlamentar do PSD relativamente ao projeto lei do BE, o presidente da concelhia do PSD-Aveiro garantiu que “aquilo que será a discussão na Assembleia da República engloba outro tipo de decisão” e que a secção de Aveiro do PSD está “a trabalhar com o Governo (…)”.
Nesta matéria, o cuidado nas declarações de Simão Santana pode ser explicado pela posição da direção do Grupo Parlamentar do PSD nesta matéria. Recorde-se que a bancada do PSD apresentou um projeto de lei para a redução do valor das portagens, sendo que numa reunião com todos os deputados foi reforçado que “o PSD [Naciona] nunca defendeu a eliminação imediata das portagens”, como noticiou à data a Renascença.
Questionado sobre a posição da Junta de Freguesia de Cacia que se manifestou, no dia 2 de janeiro, através das redes sociais sobre os problemas de trânsito causados pelas portagens A25 e A17 em Cacia, tendo sido ainda noticiado, nos últimos tempos, que estaria a ser equacionado uma marcha lenta por parte desta, Simão Santana sublinhou que “até aos dias de hoje” não há nenhuma manifestação marcada e que não iria reagir a “possíveis ações”.
“Em política só podemos reagir àquilo que são os factos e não há factualmente nenhum tipo de manifestação verdadeiramente marcada (…)”, frisou. A Ria tentou ainda contactar Nelson Santos, presidente da Junta de Cacia, assim como Ângela Almeida, presidente da Junta de Esgueira e deputada do PSD pelo círculo eleitoral de Aveiro na Assembleia da República, mas, até ao momento, não obteve qualquer resposta.
“O compromisso era interior e Algarve”, diz Paula Urbano, presidente do PS-Aveiro
Na oposição, Paula Urbano Antunes, presidente da concelhia do PS-Aveiro confidenciou à Ria que não percebeu a confusão que se instaurou nas últimas semanas sobre o fim dos pórticos na A25. “Para mim, quando o secretário-geral do PS falou na questão do fim das portagens era no interior e no Algarve. Portanto, Aveiro e Albergaria não são territórios do interior. Na minha cabeça ficou muito claro que seria nestes troços da A25 que deixaríamos de pagar portagens”, realçou. Para a presidente da concelhia trata-se de uma questão de “coesão social e de coesão territorial”. “O compromisso era interior e Algarve. Relativamente, ao ponto de estarem a fazer um cavalo de batalha e virem dizer ‘meu Deus, em Aveiro pagamos portagens’ e terem votado contra a abolição do pagamento de portagens no Algarve e no interior, eu em relação a isso só digo uma coisa: acho que é preciso ter vergonha”, atirou.
Para Paula Urbano os pórticos da concessão “Costa de Prata” não são prioritários. “(…) Há aqui municípios que não são considerados territórios do interior como Albergaria, Ílhavo e Aveiro, portanto, para mim faz todo o sentido que se continuem a pagar portagens nestes três pórticos. Eu nunca tive a expectativa que deixasse de acontecer”, reconheceu.
Sobre se a proposta do BE será aprovada na AR, a líder da concelhia do PS-Aveiro realçou que não sabe como os deputados do partido se irão posicionar. “Sinceramente, não falei com eles à cerca desse assunto”, disse.
A Ria entrou ainda em contacto com Filipe Neto Brandão, deputado do PS eleito pelo círculo eleitoral de Aveiro onde o mesmo esclareceu que a votação do projeto lei ainda não está agendada, mas que na sua opinião pessoal a “supressão das portagens faz sentido”. “Até já votei diferentemente do grupo parlamentar do PS, pelo menos, por uma vez que me recorde. Portanto, a minha opinião é óbvia (…)”, exprimiu. De acordo com o socialista só na “próxima conferência de líderes” prevista para a próxima quarta-feira, “22 de janeiro”, é que a proposta será agendada.
Além do BE, também o Chega decidiu avançar com um projeto lei para eliminar os três últimos pórticos na A25. A informação foi avançada por Maria José Aguiar, deputada do Chega pelo círculo eleitoral de Aveiro à Ria, na semana passada. Em entrevista, a deputada do Chega salientou que o partido irá “até às últimas instâncias para conseguir reverter esta situação e para que fique resolvida o mais rápido possível. É esta a nossa intenção”. A Ria tentou contactar também Diogo Soares Machado, presidente da concelhia do Chega-Aveiro, mas não obteve resposta.
Recomendações
Festa de São Gonçalinho de Aveiro inscrita no Inventário do Património Imaterial
As Festas em Honra de São Gonçalinho, que decorrem no bairro típico da Beira-Mar, na cidade de Aveiro, são uma tradição antiga de devoção de marnotos, mareantes e pescadores, de cuja capela se atiram cavacas doces em pagamento de promessas. A candidatura das festas a Património Cultural Imaterial foi submetida pela Câmara Municipal de Aveiro, em articulação com a Mordomia de São Gonçalinho e com a Paróquia da Vera Cruz. De ano para ano tem aumentado o número de pessoas que tentam apanhar as cavacas doce lançadas do alto da capela, utilizando nassas, um tipo de rede de pesca em forma de funil no cimo de uma cana, usando guarda-chuvas virados ao contrário ou, simplesmente, tentando apanhar à mão. As cavacas são arremessadas por devotos em pagamento de promessas e no largo da Capela juntam-se multidões para apanhar as muitas toneladas do típico doce, que é atirado ao som do sino. As festas em honra de São Gonçalinho, além do lançamento de cavacas, têm como atrativos vários concertos musicais, o fogo-de-artifício nos canais da Ria e a “dança dos mancos”, um ritual pagão rodeado de algum secretismo. Ao nível religioso, como habitual, celebra-se missa solene na capela. A Festa de São Gonçalinho, integrada no domínio de práticas sociais, rituais e eventos festivos realiza-se, anualmente, na primeira quinzena de janeiro. A festividade decorre anualmente de quinta-feira a segunda-feira, tendo como referência o dia 10 de janeiro, Dia de São Gonçalo de Amarante (data da sua morte), sendo assinalado com eucaristia. A Mordomia de São Gonçalinho, composta por elementos da comunidade que vestem o "Gabão de Aveiro" (capa-casaco de burel castanho), é a responsável pela organização dos festejos.
ReFood Aveiro recolheu cerca de 12 toneladas de alimentos em 2024
Em 2024, a ReFood Aveiro recolheu cerca de uma tonelada de alimentos por mês. Alimentou, em Aveiro, entre 16 e 20 famílias totalizando cerca de 50 pessoas. Os dados mais recentes sobre desperdício alimentar são relativos ao ano de 2022. Em Portugal, registou-se um desperdício, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), de cerca de 184 quilogramas de alimentos por pessoa. O valor encontra-se cerca de 50 quilogramas acima quando comparado aos valores médios europeus, segundo o relatório do Índice de Desperdício de Alimentos do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Se sobrar comida na ReFood Aveiro, algo que Elisa Mendes, atual coordenadora da instituição, diz não ser a norma, a mesma não é desperdiçada. O excedente de comida que a ReFood não consiga escoar – cozinhada ou perecível - é distribuída por outras instituições de solidariedade social. “Em último recurso, se alguma da comida não estiver em condições de ser consumida, dá-mos para animais e último dos últimos recursos é a compostagem”, explica Elisa. Em Aveiro, o núcleo da ReFood nasceu há 10 anos. A reunião sementeira, realizada pela equipa pioneira, foi feita em outubro de 2015 na Universidade de Aveiro - uma das instituições parceiras. A Universidade cedeu de forma gratuita à organização o local para desenvolverem a atividade. Elisa Mendes avança que a atividade da instituição em Aveiro conta “com muito menos parceiros” depois da pandemia. São, atualmente, “cerca de 15 parceiros”, sublinha. Além da descida no número de parceiros, Elisa mostrou preocupação com a falta de voluntários. “Ser voluntário é fácil, mas não é tão fácil como parece”, começou por realçar Elisa. “Mas eu posso dizer uma coisa: vale a pena ser voluntário porque nós acabamos por receber muito mais do que aquilo que damos - parece que não, mas é verdade”, sublinhou a atual coordenadora do Núcleo de Aveiro. Elisa aponta como maiores dificuldades a compatibilidade de horários das pessoas com os pontos de recolha dos alimentos e a necessidade de transporte próprio para a recolha dos mesmos. A necessidade de pessoas que assumam o compromisso de forma séria foi também um aspeto destacado. “Para ser voluntário tem que se vestir a camisola - e muito bem vestida”, referiu. Para ser voluntário da ReFood basta preencher as fichas que estão disponíveis no site. Depois disso é só passar pelo núcleo – que no caso de Aveiro se situa no número 25 da Rua de Espinho - para falar com a responsável dos voluntários. Aceitando o desafio, “é começar a trabalhar”, explicou Elisa Mendes. O maior trabalho dos voluntários passa pela recolha de produtos, preferencialmente a pé ou de bicicleta de forma a prejudicar o menos possível e a reforçar o compromisso da ReFood com o ambiente. No entanto, Elisa Mendes explica que a tarefa pede um veículo quando são recolhidas grandes quantidades de alimento ou o parceiro fica distante do núcleo. “Não vamos, por exemplo, ao continente da Gafanha a pé - e ainda a semana passada aconteceu - só em bananas trouxemos uns 500 kg”, exemplificou. Cada núcleo tem de ser autossustentável e a ReFood Aveiro tem pedido ajuda para conseguir dar conta das despesas de água e luz do núcleo. A hipótese de terem uma carrinha para transporte como uma forma de atrair voluntários surgiu na conversa com Elisa, mas a organização não tem possibilidade para a aquisição. “Se alguém nos ajudar a fazer esse investimento ou se alguém quiser fazer o favor, aceitámos de bom grado, mas nós não temos possibilidade disso”, desabafou a coordenadora da ReFood Aveiro. As rondas de recolha são feitas todos os dias pelos vários parceiros. A tarefa, garante a coordenadora do núcleo de Aveiro, é rápida. “A recolha faz-se, no máximo, em três quartos de hora”, garantiu Elisa. A ReFood é uma organização sem fins lucrativos cujo objetivo passa por combater o desperdício alimentar e eliminar a fome. Existe desde 2011 e conta atualmente com mais de 60 núcleos locais em Portugal.
Terceiro concurso para construção do Pavilhão Municipal deverá ascender aos 20 milhões de euros
Após o segundo concurso público para a construção do novo pavilhão municipal ter ficado sem propostas válidas, José Ribau Esteves adiantou à Ria que o terceiro concurso deverá ser lançado, novamente, “no máximo, até meados de fevereiro”, na primeira reunião camarária. “Nós lançamos um primeiro concurso com 17,5 milhões que ficou deserto, um segundo concurso com 18,5 milhões de euros que ficou deserto e vamos lançar um terceiro concurso. O que está a acontecer? Está a acontecer que o país - o setor público e o setor privado - está a pedir ao mercado muita obra (…) e o mercado não tem capacidade (…)”, explicou. Apesar de ainda não haver um preço base definido para o terceiro concurso, o autarca aveirense adiantou que o mesmo irá andar um “pouco acima dos 20 milhões de euros”. O novo pavilhão, que ficará situado junto ao Estádio Municipal de Aveiro/Mário Duarte, será dotado de quatro campos polidesportivos (para a prática de diversos desportos coletivos), sendo um desses campos envolvido por bancadas, com uma capacidade para receber público num total de 2.500 pessoas.
As cavacas no São Gonçalinho: do forno a lenha ao chão do Largo da Capela
A dança é a mesma no Largo da Capela de São Gonçalinho, no bairro da Beira-Mar, desde dia 9 de janeiro. O sino toca e os olhos prendem-se ao cimo da capela: não tarda dezenas de cavacas são lançadas lá do alto. Cá em baixo, no Largo, o povo tenta a sorte. Com guarda-chuvas abertos, a parte que abriga virada para cima, tentam apanhar o máximo de cavacas que conseguem. A velocidade com que as cavacas são lançadas faz com que algumas ressaltem dos guarda-chuvas e se partam no chão da calçada. Outras saltam para o guarda-chuva do vizinho. Se cair ao chão e não partir, parece ser regra: se for apanhada em três segundos, não há mal que lhe pegue. Afinal, a cavaca é dura de roer. Quem não trouxe guarda-chuva tenta a sorte também. As que são apanhadas são conforto para o estômago, algumas guardadas em sacas para mais tarde. Quem não veio provido de saco improvisa um regaço com a camisola que traz vestida. Apesar da apanha da cavaca ser um processo normalmente amigável, há por vezes quem apanhe a mesma cavaca em simultâneo e se debata por segundos sobre se a deixa ir ou se luta pelo doce. Ovos, açúcar e farinha são os ingredientes principais que fazem das cavacas, um doce conventual tipicamente português, um verdadeiro sucesso por estes dias. Como são cobertas de açúcar ficam duras e ao serem arremessadas do alto da Capela, por vezes magoam. Não é raro, aliás, que alguém vá parar ao hospital com a cabeça partida ou com um sobrolho aberto. Na festa de São Gonçalinho, foram vendidas cerca de seis toneladas e meia de cavacas pela Mordomia. Mas não foram as únicas. Nos arredores da capela de São Gonçalinho estão espalhadas várias barraquinhas que se dedicam, por estes dias, a vender o doce conventual e outros doces típicos de romaria. Ainda se encontram pessoas que fazem as cavacas de forma artesanal. É o caso de Fernanda Sousa que se dedica a esta arte “desde os 14 anos”. Natural de Tondela, chegou a Águeda há mais de 50 anos para “servir numa casa de uma senhora”. Aprendeu a fazer cavacas com uma velhota que tentou ensinar a senhora que, na altura, Fernanda servia. “Ela não sabia fazer nada”, explica. “Depois uma senhora foi lá e ensinou-a, mas eu é que abri o olho e comecei a lutar”, recorda Fernanda. Aos 20 anos casou-se e passou a dedicar-se ao negócio da venda de doces em feiras e romarias. Para a festa de São Gonçalinho cozeu no seu único forno a lenha mais de três mil quilos do doce conventual. Para garantir que os mesmos estariam prontos para a romaria começou a produzi-los há mais de três meses. “Levantava-me sempre às seis da manhã, cinco e meia”, partilha. A cavaca, explicou Fernanda, “tem de ser polvilhada com farinha, toda numa mesa e depois tem de ser esticada. Vai ao forno: tem de encarquilhar. Depois tem de se virar e tem de ser toda escovada e pintada com açúcar branco”, refere. “As cavacas são muito chatas de se fazer”, assume. Ainda assim, gosta tanto do trabalho que faz que “gostava de durar até aos 100 anos”. “Nem queria morrer para continuar a fazer”, partilha Fernanda entre risos. São Gonçalinho, confessa, ajudou-a a confecionar as cavacas. “Oh São Gonçalinho, ajude-me que eu tenho de fazer as cavacas. E ia para a frente. Ajudou muito, não é fácil”, contou. Enquanto Fernanda falava connosco algumas das cavacas que tanto trabalho lhe deram a confecionar continuam a ser arremessadas. Nas laterais da capela vemos homens a habilidosamente apanhar os doces que precipitam com umas redes compridas a que chamam de nassas. Silvério falou connosco enquanto apanhava cavacas. Apesar de ser aveirense, mora atualmente em Águeda e começou a vir à festa de São Gonçalinho de forma mais frequente desde que se reformou. Fez a sua nassa [artefacto com que apanha as cavacas] há cerca de três anos. “Gosto de estar aqui, é uma carolice”, conta bem-humorado. Ao seu lado está Amélia, a sua esposa. “É o meu braço direito”, repara Silvério. Juntos, já chegaram a apanhar cavacas suficientes para encher mais de oito sacos de compras. Conta que “de há uns anos para cá tínhamos o recinto todo para andar com isto que, segundo reza a tradição, era proibido já há muitos anos”. Desde que começou a apanhar cavacas com a sua nassa, sabe que está restrito a permanecer nas laterais da capela. “As pessoas têm tanto terreno daqui para acolá, para apanhar à mão e com chapéus, e nós estamos daqui deste lado e somos insultados pelas pessoas”, repara Silvério. Com os colegas de engenho, as coisas correm sempre bem. As cavacas que apanha, diz, são demasiadas para consumir e então Silvério oferece o excedente. “Há malta que vem aqui e apanha as cavacas para dar ao gado”, conta. Como Silvério só tem patos e galinhas e as cavacas são duras, opta por oferecer os doces conventuais que apanha com o seu engenho. Oferece a quem lhe for pedir e as que sobram distribui pelos amigos e familiares. Alguns, conta, comem as cavacas ao pequeno-almoço com uma meia de leite, outros preferem guardar para o fim das refeições e juntam-lhes vinho do porto ou o tradicional licor de alguidar.
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CTT vão aumentar preços do correio regulado em 6,9% a partir de fevereiro
"O aumento médio anual de preços dos serviços que integram o serviço postal universal objeto no convénio de preços, segundo o que foi proposto pelos CTT, será de 6,9%", detalhou o regulador liderado por Sandra Maximiano. "De acordo com a proposta dos Correios, os preços entrarão em vigor no início de fevereiro", acrescentou a Anacom. Contactada pela Lusa, fonte oficial dos CTT não comentou. A subida dos preços do correio regulado nos CTT foi noticiada hoje pelo ECO. A atualização das tarifas resulta da fórmula convencionada em julho de 2022 para o cabaz do serviço postal universal que inclui, por exemplo, serviços de correspondência, correio editorial e encomendas. Na prática, a fórmula acordada entre os CTT, a Anacom e a Direção Geral do Consumidor (DGC) tem em conta a queda do tráfego de correio e a inflação de junho a junho dos 12 meses que antecedem a apresentação da proposta ao regulador. No ano passado, a empresa liderada por João Bento tinha aumentado os preços do correio regulado em 9,49%.
Autárquicas: PS candidata vereador Márcio Correia à Câmara de Santa Maria da Feira
Essa estrutura política do distrito de Aveiro e da Área Metropolitana do Porto afirma que a votação foi “histórica”, por envolver “total unidade e coesão no PS, o que nunca deste 1976 tinha acontecido” na concelhia local. "Sinto uma grande responsabilidade. Conheço os problemas e as necessidades deste grande concelho, em cada uma das suas freguesias, (…) e é possível fazer mais e proporcionar melhor qualidade de vida a todos os cidadãos de Santa Maria da Feira”, no distrito de Aveiro, declarou o candidato, citado pelo PS. Márcio Correia acrescenta ainda: “É possível uma Câmara efetivamente ao serviço do concelho e de cada um de nós. É possível uma Câmara a apoiar e a incentivar as freguesias, as associações e instituições, as paróquias, os empresários, os comerciantes e os cidadãos em geral". Atualmente com 46 anos, o candidato socialista é advogado de profissão, foi deputado municipal de 2009 a 2013 e tem trabalhado com várias associações locais. “Gosta de salientar que nasceu numa família humilde e trabalhadora: o seu pai era carpinteiro e a sua mãe empregada fabril. Ele próprio trabalhou duramente para estudar e concluir o curso de Direito, nomeadamente como carpinteiro, jardineiro, corticeiro e auxiliar de topógrafo na autoestrada, entre outrosempregos”, realça o comunicado. Depois de ter sido presidente do Orfeão da Feira e dirigente na Liga dos Amigos do Hospital de São Sebastião, Márcio Correia é agora presidente da Liga dos Amigos de Santa Maria da Feira – Unidos pela Saúde. O PS nota ainda que o candidato é “um caminhante”, sendo que há vários anos dedica “parte das suas férias a percorrer caminhos históricos como peregrino”, seja em Portugal ou em países como Espanha, França e Itália. Em Santa Maria da Feira, território com mais de 213 quilómetro quadrados e cerca de 137.000 habitantes, a Câmara Municipal é atualmente presidida por Amadeu Albergaria, do PSD, que em março de 2024 sucedeu a Emídio Sousa após a saída desse para assumir o lugar de deputado na Assembleia da República. Desde as primeiras eleições autárquicas em regime democrático, a presidência da autarquia esteve sempre nas mãos dos sociais-democratas. As eleições autárquicas deverão decorrer entre setembro e outubro.
Cantanhede, Mira e Mealhada avaliam saúde mental dos cuidadores informais
Em comunicado, a Câmara de Cantanhede, liderada por Helena Teodósio, informou que após ter participado sozinha numa primeira versão do CuidiN, entre 2020 e 2023, “volta a assumir-se [como] investidor social no projeto”, agora alargado aos dois municípios vizinhos e à empresa de laticínios Lactogal. Os quatro parceiros “pretendem intervir na mitigação do problema social crescente associado à deterioração da saúde mental e das condições de bem-estar dos cuidadores informais”. O CuidIn 2.0 vem dar continuidade ao projeto inicial, apenas em Cantanhede, que permitiu a triagem e o registo de 729 cuidadores informais, dos quais 194 capacitados, distribuídos pelas 14 freguesias deste concelho, no distrito de Coimbra. Entre profissionais e voluntários, durante três anos, estiveram envolvidos 122 monitores em ações de capacitação direta aos cuidadores. “Com o CuidIn 2.0, o objetivo é ir mais longe e avaliar a saúde mental dos cuidadores informais, que se debatem com um conjunto de desafios e dificuldades, seja a nível económico, social ou emocional”, segundo a nota enviada hoje à agência Lusa. Está prevista a realização de 1.296 entrevistas nos três municípios, “para mapeamento e diagnóstico, das quais resultará a integração de 360 cuidadores no programa de capacitação”. “A meta é que no final 70% de cuidadores revelem uma melhoria da perceção de saúde mental e bem-estar e que 50% apresentem redução de biomarcadores de stress”, adiantou a Câmara de Cantanhede. O Cuidin 2.0 visa "dotar o cuidador informal de ferramentas e estratégias para melhor gerir a sua autonomia, confiança e bem-estar, promover a literacia em saúde e do cuidado", seus direitos e deveres, bem como “envolver voluntários e futuros cuidadores capacitados e sensibilizados para atuarem como reforço" de uma rede de apoio e suporte. Na comissão de acompanhamento, têm assento representantes dos investidores sociais, Unidade Local de Saúde de Coimbra, Segurança Social, Associação Cuidadores Portugal, Rede Portuguesa de Municípios Saudáveis e Rotary Club de Cantanhede. O projeto de inovação social é promovido pelo Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra.
Festa de São Gonçalinho de Aveiro inscrita no Inventário do Património Imaterial
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