"A intimidante combinação de palavras: Inovação Pedagógica", opinião de Joana Regadas
Joana Regadas é natural de Lousada, distrito do Porto, e presidente da direção da AAUAv desde janeiro de 2025. Tem 25 anos e é mestre em Engenharia Biomédica.
Joana Regadas
OpiniãoLê-se num documento lançado pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES): “O crescente acesso de jovens ao Ensino Superior tem colocado problemas de desajustamentos no que concerne às tradicionais metodologias de ensino”. Este documento, datado de 2022, evidencia a necessidade de reformulação do papel do Ensino Superior, reforçando que “deverá voltar-se para o desenvolvimento de pessoas autónomas, dotadas de pensamento crítico e criativo”. No entanto, três anos depois, a combinação de palavras inovação pedagógica parece ainda intimidar muitos docentes e até mesmo estudantes.
A realidade é que a Universidade de Aveiro se encontra na vanguarda de implementação destas novas metodologias de ensino e pedagogia, no entanto, esta não é transversal a todos os cursos lecionados, parecendo muitas vezes que somos, ao mesmo tempo, duas universidades em espaços temporais diferentes. Enquanto uns aprendem com metodologias deste século, têm salas idealizadas para estas novas metodologias e são parte ativa do seu processo de aprendizagem e avaliação, tantos outros continuam a aprender com aulas totalmente expositivas, com os mesmos slides de há 10 anos, em salas idealizadas para um ensino de 1973 e sem uma única oportunidade de escolherem como preferem aprender e como podem ser parte ativa da sua formação enquanto cidadãos.
Muitas questões se levantam para estas diferenças dentro do mesmo ambiente de estudo. Porque é que nem todos os estudantes podem estar no centro do sistema de aprendizagem? O que impede a aplicação destas metodologias de uma forma transversal? Será relutância por parte do corpo docente, ou então os próprios estudantes estão intimidados com a carga horária adicional que estes novos métodos podem trazer? A verdade é que, atualmente, há um desencontro entre o que o estudante prefere e necessita e o que o sistema de ensino fornece, revelando-se urgente repensar o Ensino Superior, readaptar os currículos, formar o corpo docente, replicar os casos de sucesso - como “Do Marketing às Línguas: A arte da Escrita Criativa” e “ARTE: Aprendizagem Reflexiva através do Teatro para a Transformação Socio-Ecológica” - noutras áreas mais desafiantes e não ter receio das novas tecnologias.
Apesar da inovação pedagógica parecer a solução para todos os males do Ensino Superior, é preciso não descurar o delicado equilíbrio que pode introduzir na carga horária. Se é exigido ao estudante que se envolva de forma mais ativa e que despenda de mais tempo para conseguir realizar toda esse trabalho prévio e autónomo, é também necessário que os currículos passem a ser pensados de forma que as unidades curriculares estejam interligadas e promovam a interdisciplinaridade, que acaba por ser a segunda palavra mais intimidadora de todo este processo. Para isso, todos os órgãos envolvidos na construção e avaliação de planos curriculares, como comissões de curso e conselho pedagógico, têm de ser uma parte ativa neste processo.
A intimidante combinação de palavras, inovação pedagógica, tem de ser um caminho partilhado, e a inovação não pode partir apenas de um dos lados da sala de aula. Certo é que o caminho é longo e pelo meio surgirão sempre novas metodologias, mais informações, e a teia, já com muitos pontos ligados, torna-se cada vez mais preenchida. No entanto, é por esta mesma razão que é necessário sair do conforto da sala de aula tradicional e repensar o papel de professor e aluno, envolvendo todos na pergunta de milhões “Ǫual é o futuro da educação?”.
Recomendações
“Delegar tudo no Presidente não é governar melhor”, opinião de Hugo Filipe Nunes
A Câmara Municipal de Aveiro aprovou uma ampla delegação de competências no seu presidente, Luís Souto Miranda, para o mandato 2025-2029. A lei permite esta opção e, sim, muitas autarquias em situação semelhante à de Aveiro recorrem à lei em nome da “eficiência”, mas a política não se esgota na legalidade, e é aí que começam as perguntas incómodas. Ao contrário do executivo anterior, o atual já não dispõe de maioria absoluta. As aveirenses e os aveirenses distribuíram o seu voto por várias forças políticas, dando a quem lidera a Câmara o direito – e o dever – de governar, mas retirando-lhe o conforto de decidir sozinho. Isto deveria ser lido como um convite da democracia à negociação e à construção de maiorias. Em vez disso, optou-se por repetir o modelo do passado. Delegaram-se em Luís Souto Miranda competências muito vastas: contratação pública com despesas elevadas, licenças urbanísticas e aplicação de regulamentos que mexem com a vida quotidiana de todas e todos. Na prática, o órgão colegial transfere para uma só pessoa uma parte central do poder de decisão. Sem maioria absoluta, o recado do eleitorado é claro: o poder deve ser repartido. Concentrar uma parte importante das competências numa só pessoa é contornar esse recado. A pluralidade existe no papel, mas pesa menos nas decisões concretas. E não está apenas em causa a eficiência administrativa. Quando decisões relevantes deixam de ser discutidas e votadas em reunião de Câmara, perdem-se debate público, contraditório e responsabilização política. Mesmo com maioria absoluta, esta concentração já seria discutível. Sem essa maioria, é politicamente injustificável. Não está em causa a capacidade de trabalho ou a boa-fé de quem preside. A questão é simples: se o voto fragmentou o mapa político, é porque existe a expetativa de que mais vozes sejam ouvidas e de que as decisões resultem de equilíbrios e negociações, e não de cheques em branco. Neste quadro, importa olhar para as posições assumidas na última reunião pública da nossa Câmara. O Partido Socialista, ao propor limites à delegação de competências, não tentou “bloquear” ou criar obstáculos à governação: aceitou que o presidente detenha poderes delegados e que ajudem a agilizar a gestão quotidiana, mas defendeu que determinadas matérias continuem a ser obrigatoriamente apreciadas e decididas em reunião de Câmara. Já o Chega fez o contrário do que apregoa. Apresenta-se como força “anti‑sistema”, contra a concentração de poder, mas acabou por viabilizar a solução que mais reforça o poder de uma só pessoa, quando poderia usar a sua posição para obrigar a maioria relativa a negociar caso a caso. A administração municipal não pode ficar paralisada e ninguém ganha com um executivo amarrado a burocracias inúteis, mas confundir rapidez com concentração de poder é perigoso. A política do medo da paralisação “vendida” por Luís Souto Miranda não pode deixar Aveiro refém: uma Câmara que discute e decide em conjunto pode demorar um pouco mais em alguns processos, claro, mas ganha em escrutínio, transparência e qualidade das decisões. Cinco décadas depois do 25 de Abril, a lição deveria ser clara: governar não é mandar sozinho, é construir soluções. Delegar quase tudo no presidente pode tornar alguns procedimentos mais rápidos, mas empobrece a democracia municipal e afasta as pessoas das decisões que as afetam diretamente. A nova correlação de forças em Aveiro tinha potencial para inaugurar um ciclo diferente mais dialogante e mais exigente em termos de negociação política e construção de consensos, à esquerda e à direita. Ao replicar o modelo de delegação de competências do tempo da maioria absoluta, essa oportunidade foi desperdiçada. As aveirenses e os aveirenses disseram nas urnas que não queriam maiorias absolutas; alguns dos eleitos decidiram, na prática, oferecê-las de novo por via de deliberação interna.
"O PS ganhou", opinião de Rui Soares Carneiro
Já passou mais de um mês desde o dia das eleições para os diferentes órgãos das nossas autarquias locais, em Aveiro, e praticamente todas as tomadas de posse estão concluídas - faltando apenas a Freguesia de Aradas. Muito pouco li e nada ouvi, sobre os resultados das eleições, e parece ter passado despercebida a consumação de um facto: o PS, em Aveiro, ganhou. Conhecemos todos a maior vitória - para alguns, a única - da noite eleitoral: a conquista da União de Freguesias da Glória e Vera Cruz, a maior do município, liderada agora por Bruno Ferreira, que, mesmo sem maioria, devolve aos socialistas a responsabilidade de dirigir uma autarquia em Aveiro - algo perdido após as eleições intercalares de São Jacinto, em 2022. As pequenas vitórias, secundárias, mas relevantes, resumem-se à retirada da maioria absoluta em outros quatro órgãos: a Câmara Municipal de Aveiro e as Freguesias de Aradas, Esgueira e Eixo-Eirol. Isto permite exercer pressão e influência sobre quem lidera estes órgãos, mas obriga também a uma oposição responsável e construtiva - e não meramente “do contra” -, exigindo uma comunicação mais consistente das suas posições políticas. Mas o PS, em Aveiro, ganhou mais do que isto: Ganhou a oportunidade de perceber, novamente, que eleições não são atos de messianismo caído do céu, onde se deposita mais fé do que realismo e em que se olha mais para os eleitos do que para os eleitores. Ganhou a oportunidade de entender que um ato eleitoral não é uma corrida de 100 metros, mas sim uma estafeta 4x365, onde o trabalho contínuo entre eleições define quem cruza a meta em primeiro. Ganhou a oportunidade de conhecer, tarde e a más horas, as associações, clubes e IPSS que sustentam o nosso tecido social, e das quais se afastou nos últimos anos, perdendo contacto com a realidade e com o trabalho árduo destas instituições. Ganhou a oportunidade de descobrir, no terreno, muitos dos problemas que as pessoas enfrentam diariamente, em locais muitas vezes esquecidos do município, onde as autarquias têm obrigação de intervir. Ganhou a oportunidade de aprender - veremos se aprendeu - que a comunicação próxima, digital e sobretudo presencial, é hoje indispensável para criar confiança e explicar aos eleitores os dossiês em discussão e as posições assumidas. Ganhou a oportunidade de confirmar que a comunicação social é um meio útil e fiável, mesmo após anos a criticá-la, e que deve ser usada como veículo de comunicação e não como bode expiatório. Ganhou a oportunidade de iniciar um novo ciclo, de mudar, e de ser capaz de responder ao atual contexto autárquico, às exigências de fiscalização próprias da oposição, mas também de apresentar propostas e construir um programa de mudança. Ganhou a oportunidade de regressar ao essencial: aos problemas reais das pessoas, aos mais vulneráveis e à classe média, que precisa de crescer e ter mais respostas sociais e económicas. Esquecer esta base social é esquecer os fins para os quais a política nos convoca. Saberá o PS Aveiro aproveitar tantas oportunidades?
"O ultraje do aumento das propinas", opinião de Gonçalo Santiago
O Governo anunciou o descongelamento das propinas das licenciaturas e mestrados para o próximo ano letivo. Algo, de certa forma, insólito, dado que o valor não se alterava desde 2021. A reação dos estudantes a este aumento não foi a melhor, visto que já estavam acostumados ao valor que, até então, estava fixado nos 697 €. Para esclarecer esta atualização, o Governo emitiu um comunicado com a justificação de que o aumento tem como base a taxa de inflação de 2025, de maneira a “garantir mais autonomia às universidades”, como afirma o Ministro da Educação, Fernando Alexandre. Esta notícia não teve o parecer favorável da maioria dos estudantes, tendo já provocado manifestações por parte destes. De facto, a expressão “aumento das propinas” é suscetível de causar descontentamento. Mas será que há razão para isso? É verdade que, preferencialmente, as propinas deviam ser gratuitas. Contudo, para tal acontecer, seria necessário um investimento brusco, atualmente incomportável para o Estado. Este aumento refletir-se-á num esforço extra de 13 € por ano que os alunos do ensino superior terão de pagar — cerca de 1,08 € (1 € e 8 cêntimos) por mês. Algo que é quase mínimo. Algo que o ministro da Educação também revelou, e que passou despercebido aos olhos da maioria, foi que o apoio social a estudantes vai aumentar 43%. São mais 30 milhões de euros investidos no apoio a estudantes com poucas condições financeiras, para que não fiquem excluídos do ensino superior. Sem falar de todos os apoios dados pelo Governo, não só a estudantes como também a jovens, como, por exemplo, o Porta 65 (programa dedicado ao apoio a jovens no arrendamento de casa) e, ainda, como foi apresentado no Orçamento do Estado, uma medida que prevê que jovens desempregados possam acumular o salário com até 35% do subsídio de desemprego. Os estudantes não estão a ser prejudicados pelo Governo. Aliás, o que este Governo está a fazer, não só pelos estudantes como pelos jovens em geral, é gratificante. O aumento das propinas não impossibilitará nenhum aluno de frequentar o ensino superior; a falta de apoios a estudantes é que o fará. Por isso mesmo, o PSD tem demonstrado a necessidade de refletir sobre esses temas e, mais do que isso, não apenas prometer, mas também executar, algo que o distingue dos últimos anos.
"Os órfãos da IL em Aveiro", opinião de Leonel Almeida
Com estas eleições autárquicas a Iniciativa Liberal (IL) Aveiro no concelho elege 3 autarcas em Aveiro, 2 na Assembleia Municipal e 1 na Assembleia de freguesia Gloria e Vera cruz. Fica aquém do resultado obtido nas legislativas, mas em ambiente de apelo ao voto útil entre irmãos demostrou resiliência e bom desempenho. É um degrau abismal para qualquer partido, entra pela primeira vez no circuito político local ativo. É um redobrar de atenção, de exposição e de responsabilidade. João Manuel Oliveira em artigo de opinião na RIA referencia a IL como “partidos que andam à caça de candidatos a menos de seis meses das eleições”, é uma recorrência, não vou contra-argumentar, compartilho da sua opinião, mas a admoestação carece de maior contexto e é base do meu verdadeiro intuito. Esta observação deve ser acompanhada pelas características dos pequenos partidos sem presença nos órgãos locais. Estruturas locais pequenas e frágeis, implantação social descontinua e sem histórico. Em eleições não há maior liberdade do que a liberdade de participar e opinar, cada qual com as suas carolices e ideias. A participação formal no ato eleitoral é embrião de crescimento, é fator diferenciador nas nossas democracias liberais. Novos pensamentos livres e novas personagens que o eleitor pode ou não fazer evoluir, mas sendo autêntica é legitima. Vem isto a propósito das possibilidades de escolha do eleitor e no caso que aqui importa da IL e da orfandade nestas eleições autárquicas. A IL é um partido ideológico com princípios definidores da sua identidade, há e haverá discussão forte sobre as suas matrizes, mas é identificável e acima de tudo valorizado por isso mesmo. A geografia social tendencialmente mais urbana, menos próxima do indivíduo eleito pessoa, mas mais próxima do indivíduo eleito político reforça a importância da procura e escolha na identidade do partido. Na Região de Aveiro não encontraram. Estamos certos de que não há transferência ou continuidade direta na opção de escolha, porém pior do que isso, não houve possibilidade de continuidade de bandeira, ideologia e pensamento. Não obstante o bom desempenho nacional, houve orfandade de IL no voto em muitos concelhos e muitas mais freguesias. É sobretudo relevante em ambiente urbano como é o da envolvência da cidade de Aveiro, onde há registo de resultados eleitorais bem acima da média nacional nas legislativas. Na Região de Aveiro com 12 concelhos e vários núcleos constituídos, apenas 1 apresentou candidatura própria e um outro em coligação, foi Albergaria, conseguindo 1 eleito. Estes dados sobressaem sobretudo quando comparados com os restantes concelhos do círculo eleitoral de Aveiro (Aveiro Norte / AMP como queiram designar), em 7 concelhos, 4 apresentaram candidaturas próprias e 1 em coligação. Os eleitores dos 12 concelhos da Região de Aveiro contribuíram com 12.200 votos para eleger nas Legislativas o deputado Mário Amorim Lopes, desses apenas 4.100 tiveram possibilidade de votar na IL nas Autárquicas, se assim o desejassem, colocando de parte outros novos que optassem. Em modo especulação direta, significa isto que haveria um potencial de triplicar a eleição de Liberais nos órgãos políticos locais. Ademais, como compreenderão, neste tema não há fronteiras estanques e a força do coletivo de proximidade é sempre mais larga do que a soma das partes distantes, especialmente em boa partilha e com interesses comuns. Isto tudo reforçado pela interação e envolvimento nas redes sociais, que incrementa o seu potencial quando há volume afunilado localmente, que neste caso é o que importa. Em boa reflexão, urge à IL combater esta orfandade. O continuo crescimento do partido necessita de reforçar as suas estruturas locais em ato sistemático e estruturado. Novos 4 anos virão. Voltando à referência inicial, sabemos bem a dificuldade que é manter ativas as estruturas locais dos partidos, sabemos bem a importância da abertura à maior participação, sabemos ainda que é relevante deixar florir novos indivíduos com novas contribuições. Sobretudo sabemos, que é dessa forma que o partido cresce e injustamente, não haverá quem se queixe de só ter aparecido 6 meses antes das eleições. Localmente o eleitorado IL é lebre e pede corrida.
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UA celebra 52 anos entre alertas sobre o futuro do ensino superior e um apelo à liberdade académica
Coube a Paulo Jorge Ferreira abrir a sessão. No seu discurso, começou por prestar uma homenagem a António Oliveira, presidente da OLI e antigo presidente do Conselho Geral da Universidade de Aveiro entre 2021 e 2025, recordando “tudo o que deu à instituição”. De seguida, começou por citar José Saramago para recordar que a UA foi “levantada do chão”. “Ergueu-se, apesar das muitas dúvidas e desafios, pela mão de muitos, graças à ousadia de todos nós”, afirmou. Reconhecendo que, após mais de meio século de existência, os desafios são hoje diferentes, sublinhou que a ousadia permanece “a mesma”. Entre os principais desafios, o reitor destacou os de natureza “demográfica”, da “requalificação”, da “internacionalização”, do “trabalho em rede”, da “digitalização e da transição climática”, da “credibilidade das universidades” e do “quadro legislativo”. Em torno de cada um deles, lançou questões como: “O que significa isto para a universidade?”, “Como os ultrapassar?” ou “Como devemos lidar com estas mudanças?”. No entanto, foi no quadro legislativo que o reitor da UA mais se debruçou. “Muda o RJIES, a governação das universidades, a arquitetura do sistema binário e o modelo de financiamento do ensino superior. Revê-se a Lei da Ciência. Reformula-se o Regime de Graus e Diplomas. Propõe-se um novo modelo para a Ação Social no Ensino Superior. Alteram-se os Estatutos de Carreira- de investigação, docente universitário e politécnico. Regulamenta-se o funcionamento de instituições estrangeiras em solo nacional. E o envelhecimento e a rigidez das carreiras e sistemas de avaliação dificultam o rejuvenescimento institucional”, expõe. Face a isto, Paulo Jorge Ferreira atentou que este cenário “não é chão firme”, mas sim “areia movediça”. No seguimento, alertou para a “tensão entre a vontade política de atualizar o quadro legal” e o “ruído operacional que tanta mudança simultânea provoca”. “O risco dos cenários movediços é a inércia preventiva: ficarmos parados à espera que a poeira assente”, avisou. A ideia de inércia serviu de mote para o reitor voltar a traçar um paralelismo com o percurso da instituição, que, segundo afirmou, “não sabe ficar parada”. “Nos anos setenta e oitenta do século passado também havia incerteza quanto ao futuro. E foi na incerteza que construímos o que hoje somos”, refletiu. No domínio demográfico, Paulo Jorge Ferreira destacou a aposta da Universidade de Aveiro na “formação ao longo da vida e na requalificação”. Sobre a internacionalização, recordou que a UA foi “uma das primeiras universidades europeias” a integrar a Universidade ECIU. Já no que respeita à colaboração internacional, especificou que, entre 2022 e 2025, a produção científica da instituição envolveu cerca de “4400 instituições de 144 países”. Relativamente à transição digital e climática, referiu a criação de “novas linhas de investigação”, bem como a revisão de currículos, a renovação de métodos de ensino e a redefinição de prioridades. Abordou ainda a questão da confiança pública na ciência, reconhecendo que a universidade “tem de comunicar melhor, partilhar com clareza e abrir-se ao escrutínio sem medo”. No que toca ao rejuvenescimento e às carreiras, o reitor indicou que a idade média dos investigadores “aumentou apenas um ano, para 41,2 anos”, enquanto a idade mediana dos docentes desceu de “50,6 para 50,5 anos”. Já no caso do pessoal técnico, a idade mediana subiu de “48 para 48,3 anos”. Em contrapartida, destacou que a mediana das remunerações aumentou “50%” e que o tempo mediano de permanência na instituição diminuiu de “10,8 para 4,7 anos”. Ainda assim, Paulo Jorge Ferreira reconheceu que a Universidade de Aveiro precisa de ir “mais longe”, embora sublinhando que “não temos estado parados”. Como tal, apontou que o quadro legal é instável, mas o que a “Europa e Portugal hoje incentivam” já a UA faz por “opção estratégica”. “Não são os Decretos-Lei que nos fazem. São as pessoas. E as pessoas da Universidade de Aveiro, todos vós, provaram este ano, mais uma vez, que a inovação não precisa de licença. E assim continuaremos, venha o que vier”, destacou. Em relação ao futuro, o reitor da UA deixou a nota que a UA tem de ser uma “vela e não uma âncora”. “Uma força que faz singrar, e não um lastro que atrasa. Não podemos controlar as tempestades que agitam o mundo. Mas podemos controlar o nosso barco. As dificuldades nunca foram a nossa desculpa; são o nosso teste”, atentou. Dirigindo-se, diretamente, a António Sampaio da Nóvoa o reitor aproveitou para recordar a sua passagem pela Universidade de Aveiro. “Há 46 anos, em 1979, enquanto Saramago terminava ‘Levantado do Chão’, Sampaio da Nóvoa, então professor do Magistério Primário de Aveiro, ajudou a fundar o GrETUA - o nosso Grupo Experimental de Teatro. A peça que encenou chamava-se ‘Um nó para cada mão’”, lembrou. Paulo Jorge Ferreira deixou ainda a nota de que uma “universidade sem alma cultural é um corpo sem vida”. “O GrETUA foi uma das primeiras manifestações dessa alma cultural. Por isso, hoje, ao regressar a esta casa, António Sampaio da Nóvoa não é uma visita. Sr. Professor, bem-vindo de volta”, exprimiu. Em dia de celebração, Joana Regadas optou por fazer uma “reflexão crítica”, colocando “questões e hipóteses” sobre a sua passagem pela instituição. “Falar sobre 52 anos de história de uma casa que apenas me acolhe há seis anos, revela-se um exame no qual, nem mesmo com muitas noites em claro, conseguiria facilmente aprovação”, começou por referir. A presidente da AAUAv sublinhou que, para “muitos”, as universidades representam o passo “mais ambicionado”. “Reveem as universidades como os locais que os irão impulsionar, permitir subir na escala social, encontram nas universidades os lugares de verdadeira mudança”, sintetizou. Recordando a missão central das universidades, a transmissão do conhecimento e a investigação, Joana Regadas identificou “dois lugares principais”, introduzindo aquilo que classificou como a primeira “falácia”. “Estes espaços poderão até ser suficientes para o primeiro perfil de mudança que identificamos anteriormente, mas claramente insuficientes para a mudança que tantos outros procuram, para a verdadeira e completa de mudança na sociedade, para a mudança que é necessário as universidades promoverem no contexto atual”, afirmou. Nesse sentido, alertou para a necessidade de a UA “alargar” os seus espaços a locais que “promovam o contacto, a troca e a partilha entre toda a comunidade académica”. A este propósito, destacou as cantinas, que, “ainda que insuficientes”, se tornam, para muitos, sobretudo estudantes, pontos centrais de integração e apoio, “desde as refeições rápidas em longas filas de espera até às refeições partilhadas com a ansiedade do exame que se segue”. Mencionou igualmente os espaços desportivos, “onde muitos encontram o equilíbrio necessário entre a azáfama do dia a dia e a pausa para a descontração”. Referiu ainda as residências universitárias, “tão famosas nas últimas 24 horas, mas esquecidas nos últimos 30 anos”. “Espaços que para muitos são casa, o lugar de conforto que tanto precisam, espaços que precisam de uma verdadeira mudança, de como são percecionados, de como são valorizados”, destacou. Joana Regadas debruçou-se também sobre o “campus disperso por diversas cidades”, que, segundo afirmou, “promove a mudança através da aproximação à comunidade envolvente, abrindo portas e recusando fechar-se sobre si próprio”. A reflexão culminou com a dirigente estudantil a sublinhar que a “verdadeira mudança reside nas pessoas, no que elas fazem dos espaços, e como toda a universidade se torna um ponto de partilha, construção de comunidade e ponto principal de mudança na sociedade”. No seguimento, reconheceu ainda que só uma “universidade que coloca as suas pessoas no centro, os estudantes, os docentes, os investigadores, os técnicos administrativos e de gestão, a sua comunidade seria capaz de construir estes belos 52 anos de história”. Tal como o reitor da UA, também Joana Regadas fez questão de deixar uma palavra de homenagem a António Oliveira. “No dia de aniversário da UA, perdemos uma pessoa que nos ensinou muito sobre o crescimento no desconforto e de como a mudança promovida pelas universidades vai muito para além da produção de ciência, impacta a sociedade, muda as perspetivas e reside dentro de cada um de nós”, exprimiu. Enquanto convidado especial da cerimónia, António Sampaio da Nóvoa começou por sublinhar que recusar o convite teria sido um ato de “ingratidão”, elencando alguns dos motivos já referidos por Paulo Jorge Ferreira. Ao revisitar o seu percurso em Aveiro, o fundador do GrETUA recordou que foi nesta cidade que iniciou a sua vida profissional, aos 22 anos, na então Escola do Magistério Primário. “Foi graças a um encontro com o professor João Evangelista Loureiro, então vice-reitor desta universidade, que se abriram os meus caminhos académicos, primeiro em Genebra, na Suíça. Foi também esta universidade que, no meu regresso, reconheceu os meus estudos numa área então praticamente inexistente em Portugal”, lembrou. “Sem o acolhimento, a compreensão e até a ousadia do professor João Evangelista Loureiro e da UA, o jovem de vinte e poucos anos que eu era não teria feito o percurso que conseguiu fazer”, acrescentou. Para esta comemoração, António Sampaio da Nóvoa afirmou querer deixar “dois gritos”: um pela humanidade e outro pela universidade, antes de encerrar com uma reflexão sobre Portugal. No que respeita à universidade, destacou que o seu papel é hoje “ainda mais importante do que no passado”. “Uma das nossas maiores responsabilidades é a criação de imaginários que mobilizem os jovens e a sociedade”, frisou. Nesse contexto, afirmou que o seu grito pela universidade é um grito de “liberdade”, referindo, em particular, a liberdade académica, que, segundo alertou, tem vindo a ser atacada “praticamente em todo o mundo”. Entre as ameaças a essa liberdade, apontou o “aumento desmedido da burocracia e da prestação de contas”. “É evidente que as universidades têm de prestar contas, mas devem fazê-lo sem procedimentos absurdos e despropositados. Quase todos nesta sala já tiveram de lidar com a FCT e com a forma como são geridos os projetos de investigação. Certamente concordarão que Kafka não teria engenho para inventar tamanha loucura”, ironizou. Sampaio da Nóvoa recordou ainda que há “anos e anos” que se discute a autonomia das universidades -antes, durante e depois do RJIES -, sempre com a promessa de que irá aumentar, mas acompanhada de “artifícios e artimanhas que vão mantendo tudo na mesma”. “Nesta fase da nossa vida política é melhor não mexer na Constituição, mas, quando tal for possível e houver condições para isso, seria importante escrever, com letras ainda maiores, aquilo que na verdade já lá está, mas que parece que as pessoas, as administrações e os governos não querem ler”, alertou, citando o artigo 76º. Para além da burocracia, o fundador do GrETUA apontou ainda o “aumento desmedido das métricas e do produtivismo académico”, que, segundo afirmou, restringem a liberdade de professores e investigadores. Na sua perspetiva, as universidades “tornaram-se máquinas de produzir” e os universitários “máquinas de escrever artigos”. “Hoje, em 2024, publica-se mais num só ano do que em todo o século passado. Os percursos académicos mais visíveis são feitos por quem aprendeu a arte de publicar artigos e de os multiplicar”, advertiu. Apesar do crescimento exponencial da produção científica, António Sampaio da Nóvoa alertou que a ciência publicada se tem tornado cada vez mais “confirmatória” e “replicativa”, sendo “cada vez menos disruptiva, criadora e imaginativa”. O antigo reitor da Universidade de Lisboa afirmou não ter dúvidas de que “estamos a perder a capacidade de criar, de iniciar algo novo, a alma das universidades, a sua capacidade de projetar e construir futuros”. “O meu grito pela universidade é um grito pela liberdade académica”, reiterou. Sampaio da Nóvoa sublinhou ainda que as universidades são “instituições decisivas para o futuro dos países e da humanidade”, por serem um dos poucos espaços onde ainda é possível “aspirar à construção de imaginários de um futuro com vida, com direitos humanos, com respeito pelas liberdades individuais e pelas decisões democráticas dos povos”. Já a concluir a sua intervenção, explicou a razão da alusão ao “grito”, recordando que a primeira peça de teatro do GrETUA se intitulava “Uma corda para cada dedo”. “Essa peça terminava com a leitura de um poema de Allen Ginsberg, chamado Uivo. E é por isso que falei de dois gritos. Um uivo que começa assim: ‘Eu vi as mentes mais brilhantes da minha geração destruídas pela loucura’”, evocou. “Também nós estamos hoje a assistir a um momento dramático do mundo, com a destruição do tecido democrático e o abandono dos direitos humanos, com as nossas crianças e jovens, e também os menos jovens, a serem capturados por palavras e imagens de ódio e de violência”, prosseguiu. “Por isso, quase cinquenta anos depois de vos ter trazido um uivo, quis agora trazer-vos um grito. Um grito pela humanidade, outro pela universidade e ainda um apontamento sobre Portugal”, completou o fundador do GrETUA. Sampaio da Nóvoa concluiu com um apelo direto à responsabilidade das instituições académicas: “Hoje não podemos ficar em silêncio. A universidade tem uma responsabilidade maior e tem de a cumprir porque, se não falarmos hoje, nem gritarmos, amanhã já será tarde”, rematou. A cerimónia terminou com um brinde e o corte de bolo no átrio do edifício da Reitoria. Para amanhã, 18 de dezembro, tal como avançado pela Ria, está ainda previsto, pelas 21h30, no Teatro Aveirense, um concerto que marcará o 28º aniversário da Orquestra Filarmonia das Beiras (OFB).
Museu Marítimo de Ílhavo promove Jornadas do Aquário no dia 17 de janeiro
A segunda edição das jornadas tem como tema “Uma perspetiva sobre os oceanos”, e visa “promover a reflexão, a partilha de experiências e a construção coletiva de ideias sobre os desafios mais prementes do oceano”. O evento tem início às 14h00 de dia 17 de janeiro, sábado, e conta com um painel de especialistas ligados à ciência e tecnologia do mar. Durante a conversa, os intervenientes vão refletir sobre acontecimentos passados, identificar ameaças atuais e perspetivar soluções através de inovações tecnológicas emergentes que moldarão o futuro. Esta edição conta com a parceria da Associação Portuguesa de Oceanografia (APOCEAN) e é uma iniciativa integrada na Década das Nações Unidas da Ciência dos Oceanos para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030). As Jornadas do Aquário, à semelhança da edição do ano passado, são acreditadas como uma formação de pequena duração (quatro horas) para educadores de infância e professores de todos os níveis/graus de ensino. No mesmo dia, pelas 15h00, realiza-se a oficina para famílias “Oceano: Aprender para conhecer”, dirigida a crianças dos 6 aos 10 anos. A participação nas jornadas é gratuita, mas sujeita a inscrição prévia, que pode ser efetuada enviando um e-mail para [email protected].
Câmara de Anadia aprova proposta de orçamento superior a 40 milhões de euros
Numa nota de imprensa enviada aos jornalistas, esta autarquia do distrito de Aveiro informou que a aprovação da proposta de Orçamento Municipal, bem como as Grandes Opções do Plano (GOP) e o Mapa do Pessoal para o ano de 2026 ocorreu na semana passada, em reunião extraordinária do executivo municipal. Contou com os votos a favor do PSD-CDS/PP e do Chega e a abstenção do PS. As áreas mais relevantes nas Grandes Opções do Plano (GOP) para 2026 são as funções sociais com 71,39%, com destaque para as áreas da habitação (19,84%); da educação, formação e qualificação (12,82%); do abastecimento de água (10,74%); cultura (5,81%); recolha de resíduos (5,41%); proteção do meio ambiente (3,14%); ação social (2,83%); do ordenamento do território (2,13%); e do saneamento (1,30%). As funções económicas representam 18,76% das GOP, com o peso maior a centrar-se nos transportes rodoviários com 12,69%. Destaque ainda para outras atividades como o turismo, agricultura, indústria, energia e outras funções económicas que, no seu conjunto, representam cerca de 6%. Já as transferências para as juntas de freguesia ultrapassam os 700 mil euros no próximo ano. De acordo com o presidente da Câmara Municipal de Anadia, Jorge Sampaio (PSD-CDS/PP), “as GOP representam o espelho da estratégia de curto e médio prazo”. “Evidenciam-se a mobilidade, higiene urbana e eficiência de serviços, infraestruturas de suporte e equipamentos públicos”, referiu. O orçamento para 2026 contou com o voto a favor do vereador do Chega, José Menezes, que destacou que “a transparência e o diálogo têm de ser valorizados”, acrescentando que viu todas as questões que colocou ao executivo serem respondidas “de forma direta, técnica e transparente”. “Este é o primeiro orçamento do executivo e, por isso, entendi dar um voto de confiança. Contudo, não deixo de sublinhar que continuamos a ter um orçamento curto para a dimensão das necessidades do concelho, sobretudo nas áreas da habitação e da intervenção social junto dos nossos idosos. São desafios sérios, que exigem mais investimento e prioridade”, justificou. Já a vereadora do PS, Ana Matias, optou pela abstenção porque o documento “não evidencia a integração das propostas que o próprio executivo assumiu em campanha, faltando-lhe correspondência com o compromisso político apresentado aos cidadãos” para os próximos dez anos. “Motivado pela curta ambição do orçamento apresentado e que espero ver colmatadas no futuro, reconheço a importância da estabilidade que deve ser garantida ao executivo municipal, optando pela abstenção. Faço-o com sentido de responsabilidade, deixando claro que estarei atenta, vigilante e sempre disponível para contribuir com propostas construtivas em prol do desenvolvimento do concelho”, justificou. O documento vai ser submetido à Assembleia Municipal de Anadia para discussão e votação em sessão ordinária a realizar a 23 de dezembro. A Assembleia Municipal de Anadia é constituída por 22 eleitos do PSD-CDS/PP, cinco do PS, três do Chega e um do Movimento Independente ‘Sempre Pela Nossa Terra’.
Chuvas transformam a Zona Técnica Central da UA em “piscinas” e estudantes exigem solução
Sexta-feira, 9h10. Chove torrencialmente. Ao longo da alameda central da Universidade de Aveiro, alguns estudantes, de guarda-chuva na mão, caminham apressados para as aulas das 9h00. Para quem estuda no campus de Santiago e chega do lado do atual Edifício Central e da Reitoria, é habitual atravessar a parte superior da Zona Técnica Central, vulgarmente conhecida como as “catacumbas da UA”. Naquele dia, àquela hora, a intensidade da chuva tornava evidentes enormes poças de água acumuladas no pavimento, dificultando a passagem tanto para as escadas de acesso à parte inferior da Zona Técnica Central como para a própria Biblioteca. Clarissa está no Mestrado em Ensino de Biologia e de Geologia no 3.º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário. Veio diretamente da Madeira para Aveiro, este ano, para prosseguir os seus estudos. Por sorte, naquele momento não tinha de atravessar a Zona Técnica Central. Caminhava junto ao Departamento de Matemática. Enquanto conversava com a Ria, observava as poças formadas à sua esquerda e não se mostrava surpreendida com a situação. “Quando chove fica sempre assim, basicamente”, resumiu. No caso de ter mesmo de passar por ali, Clarissa revela que já tem um truque: “Trago as botas e atravesso as poças”, contou entre risos. A atual estudante de mestrado iniciou o seu percurso académico na Universidade da Madeira, onde concluiu a licenciatura. Apesar de estar habituada à chuva intensa de ‘casa’, admite que nunca viu a universidade de lá a ficar naquele estado: “Na Madeira não ficava assim tão mal”, confessou. Mais adiante, um grupo de quatro estudantes do Mestrado em Biotecnologia e da Licenciatura em Engenharia Química, já atrasados para as aulas das 9h00, também não deixavam de reparar nas poças de água. “É terrível, principalmente à beira da biblioteca”, partilharam à Ria. Questionados sobre como costumam contornar a situação, uma das estudantes respondeu de imediato: “Subimos aquelas escadas e damos a volta, basicamente… Isto quando funciona. Quando não funciona, temos de atravessar na mesma”, explicou. De botas nos pés, a mesma estudante reparou ainda que, mesmo usando calçado adequado, o problema persiste. “Se as calças ficarem por cima das botas, acabam na mesma por se molhar”, contou, acrescentando que não consegue compreender porque é que a situação ainda não foi resolvida. Em condições ainda piores estavam dois estudantes do Mestrado em Estatística Médica da UA que, naquele momento, atravessavam a Zona Técnica Central em direção ao CUA (Café da Universidade de Aveiro). Para conseguirem avançar, utilizavam o piso tátil, destinado a pessoas invisuais. Ainda assim, um deles admitia que a estratégia não estava a resultar já que tinha os “ténis todos encharcados”. “Não surpreende. É Aveiro no final do dia… Chuva é o que há cá mais”, brincou um deles, acrescentando que, atualmente, “até fazem piadas sobre as piscinas de Aveiro”. Com quatro e cinco anos de percurso académico na UA, os dois estudantes apelavam também à resolução do problema. “Não por nós, porque o nosso tempo já está a acabar, mas pelos próximos. Dá um mau ar à universidade”, admitiram. Também para a direção da Associação Académica da Universidade de Aveiro (AAUAv) esta não é uma situação nova. Joana Regadas, presidente da direção da associação, recorda que, quando ingressou na UA, há seis anos, o problema não tinha a gravidade que apresenta atualmente. “Tem-se tornado cada vez mais expressivo, impedindo a circulação normal dos estudantes, sobretudo dos estudantes com mobilidade reduzida, que já enfrentam caminhos bastante degradados”, alertou. De acordo com a dirigente, trata-se de um problema que a AAUAv já reconhece “há muito”. “Estávamos na expectativa de que, com a prometida renovação do espaço central, da conhecida zona das Catacumbas, a situação viesse a ser resolvida. No entanto, vemos essa realidade a ser sucessivamente adiada e a situação das famosas ‘piscinas’ a agravar-se de ano para ano”, lamentou. “O que temos vindo a solicitar é que as obras da Zona Técnica Central sejam novamente equacionadas e que, pelo menos, seja encontrada uma solução temporária enquanto a intervenção definitiva não avança”, continuou Joana Regadas. Em entrevista à Ria, Alexandra Queirós, vice-reitora para a cultura e vida nos campi, começou por recordar que a Zona Técnica Central foi um dos “primeiros espaços” a ser desenvolvido na Universidade de Aveiro. Reconheceu, de seguida, o problema do “acumular de água”, admitindo tratar-se de uma situação complexa. “O que tentamos fazer, na medida do possível, são pequenas intervenções de forma a evitar esse acumular de água”, referiu. A vice-reitora assume mesmo que a zona carece de uma intervenção “maior em toda a zona” e recorda que já existe um projeto para a Zona Técnica Central, resultante de uma “tese de mestrado”. Mais tarde, esse projeto chegou a ser divulgado pela universidade, numa iniciativa que convidava a comunidade académica a apresentar sugestões. Segundo Alexandra Queirós, as contribuições recebidas “foram muito ao encontro da tese de mestrado”. A página dedicada ao projeto continua disponível no site institucional da UA. Nas quatro imagens aí apresentadas, é possível verificar que parte da atual Zona Técnica Central seria demolida. De acordo com a descrição do projeto, “a proposta para a nova ZTC contempla várias áreas com diferentes propósitos, procurando tirar maior partido da luz natural, disponibilizar espaços amplos, abertos e multifuncionais, com conforto térmico e espaços verdes”. No entanto, o projeto nunca chegou a sair do papel. Alexandra Queirós recorda que, em 2022, a Universidade de Aveiro lançou um concurso público para a realização da empreitada de demolição parcial da Zona Técnica Central, conforme consta em Diário da República, mas o procedimento acabou por ficar “deserto”. “Houve uma intencionalidade da nossa parte em não avançar com um novo concurso público, porque se o fizéssemos naquela altura, com os prazos e atrasos inerentes à contratação pública, correríamos o risco de, durante o ano de comemoração dos 50 anos da UA, termos na Zona Técnica Central um estaleiro de obra que não era de todo adequado”, explicou. Acrescentou ainda que, no entretanto, “apareceram outros investimentos com financiamentos associados, o que acabou por atrasar este projeto”. Neste momento, sublinhou, “o que precisamos é de uma nova oportunidade de financiamento que nos permita avançar com a obra”. Sem conseguir adiantar o valor atual da empreitada, Alexandra Queirós referiu que, aquando do lançamento do concurso em 2022, a obra tinha um custo estimado de cerca de “dois milhões e meio de euros”. Três anos depois, a vice-reitora garantiu à Ria que a Universidade de Aveiro continua a procurar financiamento para o projeto, reconhecendo a existência de “um défice de financiamento ao nível das infraestruturas, o que torna este processo mais difícil”. Segundo explicou, a concretização da obra acabou por ficar em suspenso devido à necessidade de a universidade canalizar recursos próprios para outros investimentos considerados prioritários. “Tivemos aqui essa possibilidade e, por isso, a aposta no desenvolvimento deste projeto acabou por ficar pendente. Com o aparecimento dos PRR, seja ao nível da investigação, do Fundo Ambiental ou do investimento que estamos a fazer em eficiência energética no Crasto, bem como na componente do alojamento, isso implica, por parte da Universidade de Aveiro, uma forte componente de investimento próprio. Faz, por isso, sentido aproveitar os financiamentos disponíveis e os programas a que nos candidatámos”, contou. No entanto, Alexandra Queirós insistiu que a preocupação de reabilitação desta zona se mantém, até porque “há um projeto que está feito”. “Tem chovido muito e é natural que, com períodos de maior precipitação, a situação se torne mais visível. Têm sido adotadas algumas medidas preventivas e corretivas para minimizar o acumular de água, mas é igualmente necessária uma análise ao nível do plano de manutenção, de forma a perceber o que é possível fazer naquele espaço para resolver, pelo menos de forma transitória, esta situação”, rematou. *Esta reportagem insere-se numa parceria estabelecida entre a Ria - Rádio Universitária de Aveiro e a direção da Associação Académica da Universidade de Aveiro (AAUAv) que tem resultado, ao longo dos últimos meses, num conjunto de artigos sobre temas que afetam diariamente a vida dos estudantes da UA. Todas as reportagens são acompanhadas por um cartoon satírico que pretende representar a problemática abordada. Se tens sugestões de temas que gostarias de ver abordados envia um email para [email protected].