Durante a noite escura, o 'Moliceiro Solidário' leva comida e afeto a cerca de 40 sem-abrigos
Todos os fins de semana, pelas 19h30, o projeto “Moliceiro Solidário” sai à rua para distribuir comida às pessoas em situação de sem-abrigo em Aveiro. Atualmente, ajudam cerca de quatro dezenas de pessoas, passando por quatro pontos da cidade. A Ria acompanhou uma dessas voltas.
Isabel Cunha Marques
JornalistaSábado.19h05. Pelas traseiras da Estação de Comboios de Aveiro avista-se um grupo de três pessoas vestidas com um colete refletor. Parecem estar a preparar-se para a noite que se avizinha. Aproximamo-nos para perceber quem são. Dizem-nos que são escuteiros da Gafanha da Nazaré e que vieram ajudar o projeto do “Moliceiro Solidário”. Um projeto feito por pessoas voluntárias que todos os sábados e domingos sai à rua para distribuir comida às pessoas em situação de sem-abrigo em Aveiro.
Alertam-nos que este é sempre o ponto de partida, mas que ainda ninguém da organização do projeto chegou. Confidenciam-nos também que ainda é cedo, visto que a volta sairá, como sempre, pelas 19h30. Restavam 25 minutos. Mantemo-nos com este grupo à conversa. Entretanto, começamos a ver um conjunto de pessoas a aproximarem-se de nós. Cada uma delas fazia-se a acompanhar de um ou dois sacos de compras. Uns vinham a pé, outros de bicicleta. Era notória a felicidade na cara destas pessoas. Mal nos avistaram, vieram diretamente ao encontro dos escuteiros. Tal como a Ria, também eles os identificaram pelos coletes amarelos que vestiam. Não tardaram em perguntaram-lhes: “já não há comida?”. Um dos escuteiros respondeu-lhes, prontamente, que a Sónia, uma das atuais responsáveis pelo “Moliceiro Solidário”, ainda não tinha chegado. Imediatamente, afastaram-se de nós e juntaram-se em grupo um pouco mais atrás. A cinco minutos da hora marcada eram já mais de uma dezena de pessoas que por ali aguardava.
No entretanto, uma dessas pessoas decidiu pegar na sua pequena coluna de som e pôr música para alegrar os restantes. A maioria começou a dançar. A um minuto para as 19h30 começamos a avistar um carro preto. Automaticamente, um elemento desse grupo sai e aguarda pela chegada desse carro junto a um estacionamento que por lá se encontrava. Começa a fazer gestos como se fosse um arrumador de carros. Mal esse carro preto estaciona, percebemos que se tratava de Sónia. Se o ambiente já era de ‘festa’, assim que a viram passou a ser ainda mais. A maioria foi até abraçá-la, como se fosse já uma amiga de longa data. E era.
Sónia Corujo está no projeto do Moliceiro Solidário desde “novembro de 2022”. Conta-nos que a ideia começou através de uma publicação do “Diogo [Torres]”, na rede social ‘Facebook’, onde partilhou que estava com a ideia de iniciar um projeto, porque se tinha apercebido que “havia muitos sem-abrigos” em Aveiro. “Na altura, até tínhamos aqui vários sítios com vidros [no chão] e estava muita gente a morar [aqui]. Entretanto, [esse grupo] até foi desmantelado”, recordou.
Se ao início aceitou o desafio, juntamente com o seu marido pela “carolice”, rapidamente, apercebeu-se que a situação “era mais grave” do que imaginava. “De dia não víamos assim uma coisa tão grande. As pessoas em situação de sem-abrigo, em Aveiro, não estão aqui ao descoberto. Não estão aqui com mantas. Não fazem isso. Eles escondem as coisas durante o dia e à noite é que os vemos dentro de prédios, debaixo das escadas, com cobertores, com mantas, com frio. Mais atrás daqui temos pessoas com tendas que não têm mesmo sítio onde estar e onde viver”, descreveu.
Atualmente, este grupo complementa o trabalho também realizado pelas “Florinhas do Vouga”, uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) que apoia também pessoas em situação de sem-abrigo. “Nós no início não sabíamos onde eles estavam especificamente. Eles não nos conheciam. Só conheciam as Florinhas do Vouga. [Esta IPSS] trabalhava de segunda a sexta e nós começamos a fazer os sábados e os domingos”, explicou. Depois, “foi mais a palavra puxa a palavra (…). Nós íamos mesmos aos pontos onde os víamos passar… Era sempre durante a noite escura que os conseguíamos encontrar”, continuou.
Logo após ser abraçada por este grupo, Sónia dirigiu-se à mala do seu carro onde se viam diferentes tupperware’s com comida, água e até café. Disse-nos que tinha trazido para este sábado “40 refeições” e que amanhã seriam mais “40” para distribuir pelas cerca de quatro dezenas de pessoas em situação de sem-abrigo em Aveiro. “Este fim de semana tivemos muita sorte, porque houve uma entidade pública que teve um evento e sobraram muitas coisinhas como croissants, pão, rissóis, croquetes, bolinhos de bacalhau e doces”, desabafou. Nos dias em que não há restos de comida são os próprios voluntários que cozinham. “Normalmente, faço eu vinte e outras duas colegas fazem cada uma também vinte refeições”, apontou.
Há medida em que ia distribuindo os alimentos, em conjunto com os escuteiros da Gafanha da Nazaré, juntava-se o grupo que tínhamos visto inicialmente. No total, naquele ponto, acabaria por distribuir “25 refeições”. As restantes 15 seriam para distribuir por mais três pontos da cidade que Sónia prefere que não sejam revelados nesta reportagem.
Com os sacos de compras cheios, rapidamente aquele grupo de 25 pessoas desapareceu dali. Sónia alerta-nos que aquelas pessoas “não têm sítio certo para dormir” e que, atualmente, são “postos de lado pela própria Câmara”. “Nós aqui devíamos ter um sítio, pelo menos, onde eles pudessem guardar as mochilas e a roupa, durante o dia, uma vez que eles não têm sítio certo para dormir”, reconheceu.
A Ria tentou ainda contactar a autarquia para apurar dados e esclarecer que tipo de apoio está a ser prestado às pessoas em situação de sem-abrigo em Aveiro, mas até à data de publicação desta reportagem não obteve resposta.
“Roubar não sei, fazer mal também não sei”
Terminado o primeiro local, seguiu-se um segundo ponto de distribuição, desta vez, numa casa abandonada ocupada por cerca de cinco pessoas em situação de sem abrigo. Recebem também eles comida e questionam-nos se queremos entrar. Reforçam-nos que aqui “há limpeza” e para “não termos medo”. Dizem que habitam naquela casa há cerca de dois anos e que os proprietários sabem da presença deles ali. Referem-nos que os donos nunca se importaram até porque “nunca foram mal-educados com ninguém”. Temos a oportunidade de conversar com um deles.
Rúben, nome fictício, fala-nos com um especial brilho nos olhos sobre o projeto do “Moliceiro Solidário”. “Se a pessoa tivesse assim uma companhia durante todo o dia ainda era melhor… Eles vêm aqui, a gente já fala e já ficamos um bocado mais alegres a falar com outras pessoas lá de fora. Eu saio à rua, não falo com ninguém...”, lamentou.
Rúben é de Aveiro, tem cerca de 50 anos, o quarto ano de escolaridade e adianta-nos que sabe ler e escrever. Acrescenta-nos que trabalhou durante muitos anos nas obras, no estrangeiro e que foi isso que o fez perder grande parte da sua saúde. Diz que, atualmente, recebe “200 e poucos euros por mês” de apoio da segurança social e que está à procura de emprego há vários anos. “Há muito preconceito. Vou pedir trabalho e não aceitam… As pessoas não têm confiança uma nas outras, não se falam… Eu se disser bom dia ninguém me responde sequer”, desabafou. “Se não são vocês, os moliceiros e as pessoas que sabem que estamos por aqui, não sei onde a gente iria chegar… Roubar não sei, fazer mal também não sei”, continuou.
“Estas pessoas todas já estiveram bem na vida (…). Eu tenho duas filhas e não queria que acontecesse a elas o que aconteceu comigo. Os dias não são todos iguais… Um dia estamos bem, no outro dia pode ir tudo por água abaixo”, alertou um outro ‘colega’ que se encontra com Rúben naquela casa. “Nós temos de respeitar o próximo. Foi aquilo que sempre me ensinaram. Um sem-abrigo perante a sociedade rouba, é bêbado, etc”, reforçou com tristeza.
“Eu não me meto na droga, não tenho nada”
Já no terceiro local, mais uma vez, encontramos um conjunto de pessoas em situação de sem-abrigo. Não conseguimos perceber bem quantas são, já que estava escuro no local. Ao contrário de Rúben, não estão a pernoitar numa casa, mas sim ao ar livre. Abrigam-se junto a uns tanques onde, antigamente, se chegou a lavar roupa. Nesse local há um som que impera: o som da rádio. Enquanto distribui comida também por eles, Sónia comenta-nos que, desta vez, não vai ser fácil falar com ninguém, exceto, se aparecesse o Fernando, o que já não acontecia há bastante tempo. Por sorte nossa, nessa noite, Fernando veio e aceitou conversar connosco. Fazia-se acompanhar de uma bicicleta.
Começa por nos dizer prontamente que não tem problema em que seja revelado a sua identidade já que é “conhecido em todo lado” e que “não deve nada a ninguém”. Avança-nos que tem “54 anos” e que está em situação de sem-abrigo há “12 anos”. Atualmente, vive encostado ao terreno da Universidade de Aveiro (UA) numa das casas que está, neste momento, isolada com as obras das novas residências do Crasto. Há cerca de um ano e meio que não recebe qualquer ajuda e partilha que se “desenrasca” a fazer “biscates, a limpar terrenos ou a apanhar material para vender para o ferro velho”.
Fernando sente que “não é invisível na cidade”, mas que faltam “ajudas como deve ser”. “Se eu andasse metido na droga até ao pescoço eu tinha tudo o que queria. Eu não me meto na droga, não tenho nada”, expôs. Sobre o projeto do “Moliceiro Solidário” assegura-nos que pode chegar ali “maldisposto que a má disposição desaparece logo”.
Perto das 21h30 chegamos, finalmente, ao último ponto. Curiosamente foi o local onde menos pessoas em situação de sem abrigo apareceram. Ali encontravam-se apenas três pessoas: dois adultos e uma criança que se fazia acompanhar com uma bola de futebol. Sónia reforça-nos que aqui não será possível conversar com ninguém para a reportagem. Aproveitamos apenas para ouvir as suas histórias e para dar uns ‘toques’ na bola com esta criança.
A volta do “Moliceiro Solidário” terminou já perto das 22h00. No final, Sónia pergunta-nos se a queremos acompanhar até ao restaurante “Cozinha do Rei”. Tinha recebido uma chamada do gerente a informar que tinha sobras de comida para doar. Este é um dos dois espaços de restauração que, atualmente, se associa a este projeto. Aceitamos ir com ela. Mal chegamos somos recebidos por Carlos Santos, gerente do “Cozinha do Rei”, que nos explica que sempre que terminam os jantares de grupo ligam “logo” para o projeto. “Já é um hábito”, partilhou. Muitas vezes, chegam a doar ao “Moliceiro Solidário” até “seis quilos [de comida] de cada vez”.
Independentemente da quantidade doada, a verdade é que no final da noite a mala do carro de Sónia voltou a ficar cheia. Isso significava que no dia seguinte as cerca de 40 pessoas em situação de sem-abrigo, identificadas pelo projeto, em Aveiro, teriam novamente refeição. Assim aconteceu.
Recomendações
Aradas: Junta celebra decisões, mas Tribunal mantém maioria das condenações e IGF aponta falhas
Foi no passado mês de agosto que, conforme noticiado pela Ria, o Tribunal de Aveiro se pronunciou sobre o processo interposto por Gilberto Ferreira à Junta de Freguesia de Aradas para acesso a documentos administrativos. Recorde-se de que, em abril passado, o principal rosto do movimento independente 'Sentir Aradas' tinha recorrido às vias judiciais, no sentido de ver satisfeito o pedido de várias informações à Junta de Freguesia. Na sentença, o Tribunal Administrativo e Fiscal (TAF) de Aveiro condenou a Junta de Freguesia de Aradas a disponibilizar no prazo de dez dias um conjunto de documentos em falta, entre os quais se incluem: o processo completo de contratação da empresa Globalsoft e de uma jurista; as contas detalhadas do Festival Aradas+ 2022; uma certidão com todos os pagamentos mensais ao executivo - vencimentos, ajudas de custo, despesas de representação, contribuições para a ADSE e outros suplementos; extratos bancários relativos a trabalhadores externos contratados através do IEFP; o protocolo com a ADAC e respetivos comprovativos de pagamento; o comprovativo de transferência do protocolo com o Agrupamento de Escuteiros de Aradas; a ata da Assembleia de Freguesia de 22 de dezembro de 2022; e todas as atas aprovadas da Assembleia no atual mandato. O tribunal sublinhou ainda que a informação pedida é de natureza pública e que o direito de acesso não pode ser limitado por custos administrativos excessivos. Após ser conhecida a sentença do Tribunal, a Junta de Freguesia apresentou recurso da decisão. Esta terça-feira, dia 25, a Junta de Aradas emitiu um comunicado de imprensa em que dá nota de que o Tribunal deu “provimento parcial” ao recurso apresentado pela freguesia. Quer isto dizer, segundo a autarquia, que foi “revogada a condenação para extrair fotocópias porque os documentos já estavam e continuam disponíveis”, que foi “rejeitada a alegação de nulidade, não tendo havido violação do contraditório” e que “não houve condenação por litigância de má-fé”. A Junta escreve ainda que “as decisões agora conhecidas demonstram que essas suspeições não tinham qualquer fundamento e nada mais conseguiram do que atentar contra o bom nome da Junta de Freguesia de Aradas e dos órgãos executivos”. Tendo em conta estas considerações, a Ria solicitou acesso ao acórdão, desta feita emitido pelo Tribunal Central e Administrativo Norte no passado dia 21 de novembro, para poder analisar a decisão. Nesse sentido, a Ria percebeu que a Junta diz a verdade quando alega que a condenação a “extrair fotocópias” relativamente ao procedimento de contratação pública para adjudicação de serviços à sociedade “Globalsoft” e a “Maria de Lurdes da Silva Dias” foi revogada. Conforme explica o documento, como “os documentos em questão aguardam o seu levantamento mediante a liquidação das respetivas taxas”, a recorrente [a Junta de Freguesia] não pode ser condenada. No entanto, a Junta de Aradas não refere que a entrega destas fotocópias representa apenas uma parte da condenação. Ou seja, o acórdão agora emitido não se pronuncia - e, por isso, mantém - a decisão relativa às contas detalhadas do Festival Aradas+ 2022; a uma certidão com todos os pagamentos mensais ao executivo - vencimentos, ajudas de custo, despesas de representação, contribuições para a ADSE e outros suplementos; a extratos bancários relativos a trabalhadores externos contratados através do IEFP; ao protocolo com a ADAC e respetivos comprovativos de pagamento; ao comprovativo de transferência do protocolo com o Agrupamento de Escuteiros de Aradas; à ata da Assembleia de Freguesia de 22 de dezembro de 2022; e todas a as atas aprovadas da Assembleia no atual mandato. Confirma-se também que o Tribunal rejeitou a alegação de nulidade da sentença apresentada pela Junta de Freguesia de Aradas. A autarquia argumentava que o Tribunal tinha decidido demasiado cedo - a 13 de julho - sem esperar pelo fim do prazo para responder a um requerimento entregue por Gilberto Ferreira cinco dias antes, o que, no seu entendimento, violava o princípio do contraditório. No entanto, o Tribunal esclarece agora que esse requerimento não levantava qualquer questão nova e, por isso, não tinha relevância para a decisão. Além disso, Gilberto Ferreira tinha sido expressamente notificado para exercer o contraditório relativamente a um outro requerimento apresentado pela própria Junta. Assim, como os documentos juntos “nenhuma influência tiveram na decisão proferida”, não existiu qualquer “decisão surpresa”, nem foi comprometido o direito de defesa. O acórdão afasta ainda a existência de litigância de má-fé, contrariamente ao que defendia Gilberto Ferreira. Para o Tribunal, não há fundamento para essa condenação - algo que só poderá mudar caso a Junta não cumpra a intimação que lhe foi dirigida. Como resultado, as custas do processo são divididas em partes iguais entre a Junta de Aradas e Gilberto Ferreira, nos termos do Código de Processo Civil. Na mesma nota de imprensa em que se congratula pela decisão do Tribunal, a Junta de Aradas anuncia também o arquivamento, pela IGF, do processo de alegado assédio laboral a duas funcionárias. Recorde-se de que, no passado dia 21 de agosto, decorreu uma inspeção da IGF nas instalações da JFA, decorrente de uma queixa laboral apresentada por uma funcionária do organismo. Depois de afirmar que, de acordo com o ofício nº 4524/2025, “os factos e os indícios apurados não permitem, de uma forma global e integrada, provar o alegado assédio moral praticado junto de duas funcionárias da Autarquia”, a Junta dá nota ainda que “acolhe integralmente as recomendações emitidas pela IGF, reforçando os procedimentos internos, formação e melhoria das condições de trabalho”. Por não serem dadas a conhecer as recomendações mencionadas pela própria Junta, a Ria pediu também acesso ao ofício da IGF. O documento refere que “foram apuradas diversas insuficiências”, pelo que a IGF procedeu à notificação da Junta de Freguesia de Aradas para implementação de uma série de recomendações, “devendo comunicar os respetivos resultados no prazo de 60 dias”. No total, são quatro as recomendações da Inspeção-Geral das Finanças: “promover a elaboração, aprovação e divulgação de um Código de Boa Conduta para Prevenção e Combate ao Assédio em contexto laboral”; “definir procedimentos que garantam o cumprimento das regras previstas no Código de Trabalho sobre a marcação de férias dos trabalhadores”; “encetar diligências no sentido de organizar formação adequada ao(s) trabalhador(es) responsável(is) pela execução do inventário da Freguesia”; e “concluir o processo de implementação de melhorias nas condições de trabalho do armazém, em articulação com a Autoridade para as Condições de Trabalho”. Na mesma nota de imprensa da Junta de Freguesia de Aradas, Catarina Barreto, presidente do órgão, afirma que a autarquia “vai cumprir com tudo”. “Não porque somos obrigados, mas porque é assim que se faz a boa gestão pública. E é isso que distingue quem quer construir, de quem quer apenas destruir. As recomendações constituem uma oportunidade para melhorar ainda mais a nossa Junta e reforçar a confiança de quem cá trabalha e de quem aqui vive”, refere a autarca. Na mesma senda, Catarina Barreto deixa críticas à oposição, que “tentou transformar a nossa Freguesia num campo de batalha política, espalhando suspeitas, colocando em causa trabalhadores, usando pessoas e processos, semeando instabilidade e minando a confiança na Junta de Freguesia”. Com as decisões, a presidente considera que “a verdade prevaleceu e demonstrou quem sempre esteve por bem e quem apenas esteve por ego e para destruir” e diz “não entrar em guerras políticas pequenas”.
Câmara de Aveiro leva informação sobre pelouros à reunião e avança com criação da taxa turística
Outro dos destaques da sessão é o início do procedimento e da participação procedimental para criação do Regulamento da Taxa Turística do Município de Aveiro. Este será o primeiro passo formal para a eventual implementação de uma taxa aplicada a visitantes que pernoitem na cidade, colocando Aveiro no conjunto de municípios que já utilizam este instrumento. A reunião inclui ainda decisões relevantes para o Parque de Feiras e Exposições, através da designação de representantes e do fiscal único da Aveiro ParqueExpo, EM, S.A., entidade responsável pela gestão daquele espaço. Além destes pontos, o executivo discutirá alterações orçamentais, apoios sociais e vários processos de obras, mas será a informação sobre pelouros, o arranque da taxa turística e as decisões relacionadas com o Parque de Feiras e Exposições que deverão marcar a reunião.
Município de Aveiro liga as iluminações de Natal na próxima segunda-feira
Como tem vindo a ser habitual, segundo fonte camarária, a programação arrancará, pelas 17h30, no Edifício da Antiga Capitania do Porto de Aveiro, com o desfile de Pais Natal em barcos moliceiros, seguindo até ao Cais da Fonte Nova. O acender das luzes deverá, provisoriamente, ocorrer uma hora depois, ou seja, pelas 18h30. Recorde-se que, tal como avançado pela Ria, este ano, as iluminações de Natal em Aveiro vão evocar elementos simbólicos da cidade e da região como os ovos moles ou a ria. No total, representam um investimento municipal de 150 mil euros.
PCP critica ausência de referência ao Hospital de Aveiro no Orçamento de Estado
Em comunicado, aquele partido denuncia o que classifica como o "contínuo desmantelamento" do Serviço Nacional de Saúde (SNS), e sublinha que no Orçamento de Estado para 2026 não há "qualquer referência" ao Hospital de Aveiro, cuja ampliação é reclamada. O PCP refere que a situação se agrava “dia após dia, particularmente nas condições de trabalho cada vez mais difíceis para as centenas de profissionais deste hospital”. O comunicado salienta também os constrangimentos causados pelo encerramento do serviço de urgências, "em particular o de obstetrícia e ginecologia", no Hospital Infante D. Pedro. Para o PCP de Aveiro, a situação "não é incompetência: é programa", e a construção de um novo hospital privado em Aveiro “não é por acaso". “As recentes declarações da ministra da Saúde sobre a criação de urgências regionais não resolvem o problema, implicando a mobilidade forçada do corpo médico”, critica ainda o PCP. Para garantir melhores cuidados de saúde, aquele partido defende medidas para “valorizar e fixar” os profissionais, como “melhores salários em regime de exclusividade, com direito à respetiva majoração, valorizando as suas carreiras e assegurando a progressão”. Recorde-se que, tal como o presidente da Câmara Municipal de Aveiro, José Ribau Esteves, já esclareceu publicamente, o concurso público para a elaboração do projeto de requalificação e expansão do Hospital de Aveiro encontra-se suspenso na sequência de uma reclamação apresentada por uma das empresas concorrentes. Um projeto desta dimensão deverá ainda demorar entre um a dois anos a ser concluído, sendo apenas numa fase posterior o Governo poderá inscrever verbas específicas no Orçamento do Estado para lançar o concurso das obras.
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Ténis de mesa: Equipas feminina e masculina da AAUAv sagram-se vice-campeãs nacionais universitárias
A conquista do título já era uma grande dificuldade que se antevia à partida, explica Bernardo Azevedo, que dá nota do poderio da Universidade do Porto na competição. “Como o Centro de Alto Rendimento de ténis de mesa é no Porto, há muitos atletas que vão para lá viver, querem fazer do ténis de mesa vida e acabam por entrar na Universidade do Porto”, explica. Assim sendo, tendo a Universidade do Porto ficado na primeira posição quer em equipas masculinas, quer em equipas femininas, a AAUAv conseguiu repetir o feito da época transata e terminar em segundo em ambas as categorias, tal como já tinha acontecido em 2024/2025. Para além deste resultado, também a equipa B masculina esteve perto de chegar ao bronze, o que, nas palavras de Bernardo Azevedo, “teria sido perfeito”, mas acabou por cair diante dos estudantes do Instituto Superior Técnico (IST). Bernardo Azevedo reflete que é difícil fazer previsões a pensar no futuro, uma vez que o ténis de mesa “é uma modalidade que nenhuma universidade trabalha”. Conforme aponta, o rendimento de cada equipa universitária depende da “sorte de ter atletas da região ou que venham estudar” para a instituição e do trabalho feito pelos próprios clubes, que é onde os atletas treinam. A equipa masculina vice-campeã é composta por Daniel Berbigão, André Batel, André Mano e Marco Silva. Inês Aires, Inês Dionísio e Mariana Costa compõem a equipa feminina.
Concerto solidário na UA: Quarteto de Bolso volta a ‘casa’ com ‘hino aveirense’ e outros temas
Após cerca de três anos de interregno, o ‘Quarteto de Bolso’ vai regressar aos palcos no próximo dia 12 de dezembro. Ironia do destino ou não- já que todos eles foram estudantes na UA- quis o futuro que esse palco passasse, precisamente, por onde se formaram: na Universidade de Aveiro. O ‘Quarteto de Bolso’ é composto por quatro elementos: Pedro Silva de Engenharia de Materiais, João Tavares de Engenharia Física, Hélder Cabrita de Eletrónica e Comunicações (ET) e Pedro Costa de Música. A cerca de duas semanas para o concerto, em conversa com a Ria, Pedro Silva fala mesmo numa “sensação de aconchego” ao regressar a um local que assegura conhecer “muito bem”. “É literalmente aquele regresso a casa, mas é como se fosse uma casa de um familiar, ao mesmo tempo, um bocadinho mais distante. Porquê? Porque há muito tempo que já não o fazíamos”, partilha. Conta ainda que o último concerto que fizeram decorreu no Luna Bar, na Vagueira. “Se havia um sítio certo para regressar a casa tinha de ser a Universidade de Aveiro”, assegura. O concerto terá ainda uma vertente solidária que reverterá a favor do “Moliceiro Solidário”, um projeto que sai à rua para distribuir comida às pessoas em situação de sem-abrigo em Aveiro, conforme a Ria acompanhou. Sobre esta faceta, Pedro Silva admite até que esta foi o “gatilho” para o grupo dizer “sim” ao desafio da AAAUA. No fundo, foi “uma desculpa para estarmos todos juntos, mas ao mesmo tempo (…) para tentarmos fazer uma boa ação e algo de bom para os que mais precisam”, justifica. No entretanto, e enquanto o grande dia não chega, o “Quarteto de Bolso” já iniciou os ensaios. Sem querer adiantar qual será o repertório final, e questionado pela Ria, Pedro Silva deixou a expectativa de que a música “Quarenta Anos AAUAv- Bem-vindo a Aveiro”- popularmente conhecido pelos estudantes como o ‘hino aveirense’- será uma das escolhidas. “Essa é uma pergunta que por mais que eu queira fazer mistério sobre ela posso responder com uma metáfora: Eu sou de uma terra próxima de Aveiro, Sever do Vouga, e há muitos restaurantes que servem vitela. Nós não vamos a um restaurante de vitela para pedir sushi. Se ‘Quarenta’, neste caso, é uma das músicas mais reconhecidas é provável, não querendo confirmar em absoluto, que nós estejamos a estudar e a adaptar até porque ela foi gravada com a versão completa do quarteto”, afirma. No seguimento, prometeu ainda que o grupo fará nessa noite a “prova matemática com alta distinção”. “O Quarteto do Bolso não é muito bom a matemática porque nós temos muitas vezes concertos em que temos dois trompetes, guitarras extra e uma série de convidados, mas, desta vez, vamos nós os quatro. Vamos voltar à universidade. Vamos fazer a prova matemática com alta distinção”, admite com uma gargalhada. Sobre a expectativa, Pedro Silva relembra que o grupo sabe a energia que tem e a energia que voltará a sentir ao ligar “os amplificadores, os instrumentos, ao escolher as palhinhas e as cordas”. Numa nota de imprensa enviada à Ria, Pedro Oliveira, presidente da AAAUA, considerou estarem “reunidas as condições para uma noite de boa música e muitas recordações dos tempos académicos, aliada a uma ação social, dirigida aos que mais precisam, particularmente neste tempo de Natal”. Em relação à vertente solidária, a nota recorda que, tal como no ano passado, o concerto voltará a incluir uma recolha de bens, especialmente de Natal, a favor da Moliceiro Solidário. “Assim, apela-se à contribuição, que se sugere que seja de bacalhau, bolo-rei, enlatados, produtos de higiene e roupas, nomeadamente calças e meias. A recolha acontecerá no dia do concerto”, explica. O concerto do dia 12 de dezembro, no auditório Renato Araújo, pelas 21h30, terá o custo de 9 euros para sócios com situação regularizada e de 12 euros para o público em geral. Os bilhetes podem ser adquiridos aqui.
Aradas: Junta celebra decisões, mas Tribunal mantém maioria das condenações e IGF aponta falhas
Foi no passado mês de agosto que, conforme noticiado pela Ria, o Tribunal de Aveiro se pronunciou sobre o processo interposto por Gilberto Ferreira à Junta de Freguesia de Aradas para acesso a documentos administrativos. Recorde-se de que, em abril passado, o principal rosto do movimento independente 'Sentir Aradas' tinha recorrido às vias judiciais, no sentido de ver satisfeito o pedido de várias informações à Junta de Freguesia. Na sentença, o Tribunal Administrativo e Fiscal (TAF) de Aveiro condenou a Junta de Freguesia de Aradas a disponibilizar no prazo de dez dias um conjunto de documentos em falta, entre os quais se incluem: o processo completo de contratação da empresa Globalsoft e de uma jurista; as contas detalhadas do Festival Aradas+ 2022; uma certidão com todos os pagamentos mensais ao executivo - vencimentos, ajudas de custo, despesas de representação, contribuições para a ADSE e outros suplementos; extratos bancários relativos a trabalhadores externos contratados através do IEFP; o protocolo com a ADAC e respetivos comprovativos de pagamento; o comprovativo de transferência do protocolo com o Agrupamento de Escuteiros de Aradas; a ata da Assembleia de Freguesia de 22 de dezembro de 2022; e todas as atas aprovadas da Assembleia no atual mandato. O tribunal sublinhou ainda que a informação pedida é de natureza pública e que o direito de acesso não pode ser limitado por custos administrativos excessivos. Após ser conhecida a sentença do Tribunal, a Junta de Freguesia apresentou recurso da decisão. Esta terça-feira, dia 25, a Junta de Aradas emitiu um comunicado de imprensa em que dá nota de que o Tribunal deu “provimento parcial” ao recurso apresentado pela freguesia. Quer isto dizer, segundo a autarquia, que foi “revogada a condenação para extrair fotocópias porque os documentos já estavam e continuam disponíveis”, que foi “rejeitada a alegação de nulidade, não tendo havido violação do contraditório” e que “não houve condenação por litigância de má-fé”. A Junta escreve ainda que “as decisões agora conhecidas demonstram que essas suspeições não tinham qualquer fundamento e nada mais conseguiram do que atentar contra o bom nome da Junta de Freguesia de Aradas e dos órgãos executivos”. Tendo em conta estas considerações, a Ria solicitou acesso ao acórdão, desta feita emitido pelo Tribunal Central e Administrativo Norte no passado dia 21 de novembro, para poder analisar a decisão. Nesse sentido, a Ria percebeu que a Junta diz a verdade quando alega que a condenação a “extrair fotocópias” relativamente ao procedimento de contratação pública para adjudicação de serviços à sociedade “Globalsoft” e a “Maria de Lurdes da Silva Dias” foi revogada. Conforme explica o documento, como “os documentos em questão aguardam o seu levantamento mediante a liquidação das respetivas taxas”, a recorrente [a Junta de Freguesia] não pode ser condenada. No entanto, a Junta de Aradas não refere que a entrega destas fotocópias representa apenas uma parte da condenação. Ou seja, o acórdão agora emitido não se pronuncia - e, por isso, mantém - a decisão relativa às contas detalhadas do Festival Aradas+ 2022; a uma certidão com todos os pagamentos mensais ao executivo - vencimentos, ajudas de custo, despesas de representação, contribuições para a ADSE e outros suplementos; a extratos bancários relativos a trabalhadores externos contratados através do IEFP; ao protocolo com a ADAC e respetivos comprovativos de pagamento; ao comprovativo de transferência do protocolo com o Agrupamento de Escuteiros de Aradas; à ata da Assembleia de Freguesia de 22 de dezembro de 2022; e todas a as atas aprovadas da Assembleia no atual mandato. Confirma-se também que o Tribunal rejeitou a alegação de nulidade da sentença apresentada pela Junta de Freguesia de Aradas. A autarquia argumentava que o Tribunal tinha decidido demasiado cedo - a 13 de julho - sem esperar pelo fim do prazo para responder a um requerimento entregue por Gilberto Ferreira cinco dias antes, o que, no seu entendimento, violava o princípio do contraditório. No entanto, o Tribunal esclarece agora que esse requerimento não levantava qualquer questão nova e, por isso, não tinha relevância para a decisão. Além disso, Gilberto Ferreira tinha sido expressamente notificado para exercer o contraditório relativamente a um outro requerimento apresentado pela própria Junta. Assim, como os documentos juntos “nenhuma influência tiveram na decisão proferida”, não existiu qualquer “decisão surpresa”, nem foi comprometido o direito de defesa. O acórdão afasta ainda a existência de litigância de má-fé, contrariamente ao que defendia Gilberto Ferreira. Para o Tribunal, não há fundamento para essa condenação - algo que só poderá mudar caso a Junta não cumpra a intimação que lhe foi dirigida. Como resultado, as custas do processo são divididas em partes iguais entre a Junta de Aradas e Gilberto Ferreira, nos termos do Código de Processo Civil. Na mesma nota de imprensa em que se congratula pela decisão do Tribunal, a Junta de Aradas anuncia também o arquivamento, pela IGF, do processo de alegado assédio laboral a duas funcionárias. Recorde-se de que, no passado dia 21 de agosto, decorreu uma inspeção da IGF nas instalações da JFA, decorrente de uma queixa laboral apresentada por uma funcionária do organismo. Depois de afirmar que, de acordo com o ofício nº 4524/2025, “os factos e os indícios apurados não permitem, de uma forma global e integrada, provar o alegado assédio moral praticado junto de duas funcionárias da Autarquia”, a Junta dá nota ainda que “acolhe integralmente as recomendações emitidas pela IGF, reforçando os procedimentos internos, formação e melhoria das condições de trabalho”. Por não serem dadas a conhecer as recomendações mencionadas pela própria Junta, a Ria pediu também acesso ao ofício da IGF. O documento refere que “foram apuradas diversas insuficiências”, pelo que a IGF procedeu à notificação da Junta de Freguesia de Aradas para implementação de uma série de recomendações, “devendo comunicar os respetivos resultados no prazo de 60 dias”. No total, são quatro as recomendações da Inspeção-Geral das Finanças: “promover a elaboração, aprovação e divulgação de um Código de Boa Conduta para Prevenção e Combate ao Assédio em contexto laboral”; “definir procedimentos que garantam o cumprimento das regras previstas no Código de Trabalho sobre a marcação de férias dos trabalhadores”; “encetar diligências no sentido de organizar formação adequada ao(s) trabalhador(es) responsável(is) pela execução do inventário da Freguesia”; e “concluir o processo de implementação de melhorias nas condições de trabalho do armazém, em articulação com a Autoridade para as Condições de Trabalho”. Na mesma nota de imprensa da Junta de Freguesia de Aradas, Catarina Barreto, presidente do órgão, afirma que a autarquia “vai cumprir com tudo”. “Não porque somos obrigados, mas porque é assim que se faz a boa gestão pública. E é isso que distingue quem quer construir, de quem quer apenas destruir. As recomendações constituem uma oportunidade para melhorar ainda mais a nossa Junta e reforçar a confiança de quem cá trabalha e de quem aqui vive”, refere a autarca. Na mesma senda, Catarina Barreto deixa críticas à oposição, que “tentou transformar a nossa Freguesia num campo de batalha política, espalhando suspeitas, colocando em causa trabalhadores, usando pessoas e processos, semeando instabilidade e minando a confiança na Junta de Freguesia”. Com as decisões, a presidente considera que “a verdade prevaleceu e demonstrou quem sempre esteve por bem e quem apenas esteve por ego e para destruir” e diz “não entrar em guerras políticas pequenas”.
Oposição confirma congelamento das propinas em 2026/2027
A proposta do PS, que tinha sido aprovada no terceiro dia de votações na especialidade, foi avocada para a votação em plenário desta manhã e novamente aprovada com os votos favoráveis de todas as bancadas à exceção do PSD, CDS e IL. A iniciativa dos partidos do Governo, apesar dos apelos do ministro dos Assuntos Parlamentares no debate que antecedeu a votação, foi também avocada e chumbada após o voto contra do Chega, PS, Livre, PCP, BE, PAN e JPP e apoios das bancadas do PSD, CDS e Iniciativa Liberal. A proposta dos socialistas prevê que o valor das propinas "não pode ser superior ao valor fixado para o mesmo ciclo de estudos no ano letivo de 2025/2026", mantendo-se assim nos 697 euros. O Governo tencionava descongelar o valor das propinas a partir do próximo ano, com um aumento para 710 euros do valor máximo para as licenciaturas. Recorde-se que, em entrevista à Ria, esta terça-feira, 25 de novembro, Joana Regadas, presidente da direção da Associação Académica da Universidade de Aveiro (AAUAv), considerou a decisão do Parlamento uma “vitória”, embora não acredite que o Governo vá desistir do aumento da taxa.