Pais de estudantes colocados na Universidade de Aveiro enfrentam corrida contra o tempo e os preços
Em Aveiro, os dias que se seguem à divulgação da 1.ª fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior transformam-se numa verdadeira corrida aos quartos. Pais e filhos percorrem ruas, anotam contactos afixados em janelas ou postes de eletricidade para garantir um espaço disponível. A Ria acompanhou esse processo, durante uma manhã, ouvindo famílias que já não se surpreendem com a realidade da cidade: preços elevados e uma oferta cada vez mais reduzida.
Isabel Cunha Marques
JornalistaTerça-feira. 10h00. Estamos na conhecida zona da Vila Jovem. À primeira vista, tudo parece decorrer com a normalidade habitual: moradores a circular, o som de um camião do lixo a cumprir a sua rotina e, ao fundo, o barulho constante das obras que avançam no Mercado de Santiago. Mas há um detalhe que salta à vista. Nos edifícios de tons alaranjados, multiplicam-se os anúncios de quartos disponíveis para estudantes. Nada de surpreendente, tendo em conta que, há apenas três dias, foram divulgados os resultados da 1.ª fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior. Num desses prédios, no último andar, destaca-se um cartaz em letras grandes e vermelhas: “Aluga-se quarto a menina”, seguido do contacto telefónico. Ligamos. Do outro lado, o proprietário informa: 270 euros mais despesas. Agradecemos e seguimos.
Sem que o esperássemos, um homem que circulava pelo local aproxima-se. A forma como nos aborda denuncia que procura potenciais interessados em arrendar quarto. A nossa suspeita confirma-se. Questiona-nos se procuramos alojamento. Respondemos que sim. Quer saber se somos estudantes. Voltamos a confirmar. Explica-nos, então, que já não tem quartos disponíveis. A única opção seria a sala de um T2 que transformou em quarto. Por esse espaço, pede 280 euros mais despesas. Garante que cobra menos 20 euros do que o valor habitual de um quarto e que passaria recibo. Assinalamos que o preço continua elevado face à capacidade económica da maioria das famílias. Face ao desabafo, partilha que por ali é difícil arranjar mais barato e que naquela zona só mesmo no Bairro de Santiago. Entre críticas, lamenta ainda a carga fiscal sobre os contratos de arrendamento. Conta que foi esse o motivo que fez aumentar tanto as rendas e confidencia até que, há poucos anos, chegou a arrendar quartos por 180 euros em Aveiro. Voltamos a agradecer e referimos que no caso de interesse o procuraríamos novamente.
Prosseguimos a nossa caminhada pela Vila Jovem. Uns metros à frente de onde nos encontrávamos avistamos um outro anúncio, novamente, para rapariga. Decidimos retirar o número e contactar. Mal nos atendem questionam-nos de imediato se somos estudantes e do primeiro ano. Referimos que sim. Mal respondemos informam-nos que aquele quarto tem o valor de 320 euros com as despesas incluídas. Com recibo, o valor mantém-se, mas com um detalhe: apenas seriam declarados 260 euros. A justificação vem logo a seguir: os restantes 60 euros destinam-se a cobrir internet, eletricidade e água.
Por quem lá habita, os anúncios em janelas já não surpreendem ninguém. É todos os anos a mesma coisa”, dizem duas moradoras, sentadas nos degraus de uma escada. Estão habituadas à azáfama dos pais que procuram quartos “desesperadamente” para os filhos. Ainda assim, não escondem a preocupação com a escalada dos preços em Aveiro. Comentam, sem que o tema lhes seja alheio, que até já repararam no número mais baixo de candidatos à primeira fase do Ensino Superior, este ano. “Não nos espanta. Como é possível um pobre estudar assim?”, questionam. Sem que lhes perguntemos, uma delas partilha a sua experiência: trabalha em limpezas num T4, ali perto, arrendado a estudantes. “Cada um paga 350 euros, com tudo incluído”, conta. E conclui, num tom irónico: “Basta fazer as contas”.
Os números confirmam a perceção. Segundo o último relatório disponível do Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior (PNAES), o preço médio de um quarto em Aveiro rondava, em julho, os 330 euros, havendo valores entre um mínimo de 162 e um máximo de 500 euros.
Esta segunda-feira, 25 de agosto, o Expresso lançou um simulador interativo que permite calcular o impacto financeiro da entrada de um estudante no Ensino Superior. Decidimos experimentar para o caso de Aveiro, colocando o cenário mais comum: um estudante deslocado e sem bolsa. O resultado fala por si. Entre 70 euros de propinas, 350 de renda, 88 para alimentação, 21 para comunicações, 13 para lazer e 23 para outros gastos, a conta mensal sobe para 565 euros. Um valor que, por quem anda nestes dias à procura de quarto, já não soa a surpresa. Apenas a confirmação do peso que a nova etapa terá no orçamento familiar.
É o caso de um casal de Seia, que acompanhava a filha que entrou no curso de Economia na Universidade de Aveiro (UA). “Vai mexer bastante com o rendimento da família”, admite o pai. Contam-nos que já tinham estado na cidade no fim de semana anterior, mas voltaram para tentar encontrar algo mais em conta. Até agora, os preços que viram variam entre 300 e 400 euros. Muito acima do que poderiam suportar, reconhecem. Mas, depois de uma longa viagem até Aveiro, confessam que “hoje” teria de ficar resolvido.
Se na Vila Jovem ainda se encontram alguns anúncios de quartos para arrendar, a Rua Doutor Mário Sacramento mostra uma realidade diferente. Aqui, são mais os pais que circulam do que os cartazes nas janelas. Neste dia, vimos apenas um anúncio, com o valor de 350 euros com recibo.
Essa dificuldade em encontrar quarto é partilhada por uma família de Aguiar da Beira. “Ainda vimos pouco e, do que vimos, já estava mais ou menos reservado”, explica a mãe do estudante que entrou em Biologia na UA. Sobre os preços com que se depararam comentam que os mesmo rondam os 300 a 350 euros. Quando questionada se esses valores a deixam confortável, a mãe sorri e responde com clara ironia: “Que remédio”. E acrescenta, preocupada: “Está a afastar os nossos jovens do Ensino Superior”. “Não vale a pena arranjar outras desculpas porque esta será sempre a prioritária. É caro, nem toda a gente consegue. (…) Todas as despesas juntas não são fáceis”, exprime.
Recorde-se que em entrevista à Ria, esta segunda-feira, Joana Regadas, presidente da direção da Associação Académica da Universidade de Aveiro (AAUAv), sublinhou que os custos associados à frequência no Ensino Superior em Aveiro podem ser parte da explicação que justifica a quebra sem precedentes do número de estudantes colocados na primeira fase, registada, este ano letivo, também na UA: das 2.334 vagas disponíveis, 400 não foram ocupadas.
Se esta é a realidade na Rua Doutor Mário Sacramento, no Bairro da Gulbenkian a situação não é muito diferente. Entre os poucos anúncios que se avistam nos postes de eletricidade, são cada vez mais raros os afixados nas varandas ou janelas. Por lá, cruzamo-nos com outra mãe, acompanhada do filho. Vêm de Águeda e aguardam a chegada do senhorio para visitar uma casa que tinham agendado. A mãe explica que souberam do espaço através de um conhecido. Sobre os preços encontrados, admite valores entre 250 euros mais despesas e 350 a 400 euros, a maior parte sem recibo. “Se o valor for muito alto, talvez a opção seja ir e vir… considerando a distância”, comenta, acrescentando que o filho tem a vantagem de ter carta e carro próprio. “Se fossemos de mais longe, não teríamos outra hipótese. São valores absurdos por um quarto”, acrescenta.
O estudante, que entrou em contabilidade na UA, confirma que, mesmo com os preços elevados, os quartos esgotam rapidamente, dado a escassa oferta. “Independentemente das condições, há sempre alguém que fica com o quarto”, afirma.
Recomendações
Universidade de Aveiro recebe Semana Nacional do Poliempreende a partir da próxima segunda-feira
Por uma semana, Aveiro é a capital do empreendedorismo. São 20 equipas compostas por até três estudantes e dois ou três técnicos ou docentes a defender ideias para vencer o concurso nacional do Poliempreende. No total, espera-se a participação de cerca de 120 pessoas. Os estudantes que agora se vão deslocar a Aveiro já se revelaram os melhores nas suas instituições de ensino. Isto porque, antes de partir para o concurso nacional, decorre o concurso regional do Poliempreende para apurar quem se qualifica para a próxima fase. Cada equipa traz consigo um projeto inovador que precisa de vender ao júri. Em conversa com a Ria, Eva Andrade, da UACOOPERA, estrutura da Universidade voltada para o empreendedorismo e para a ligação da instituição com o exterior, explica que a organização procura sempre ter jurados “habituados a avaliar projetos empreendedores”. A título de exemplo, a responsável afirma que, no concurso interno da UA, foram júris Marta Marques, coordenadora do Gabinete de Transferência de Tecnologia da Universidade, Adriana Costa, diretora da UA Incubator e business angel Pedro Bandeira. Para além dos jurados especializados, também os patrocinadores da iniciativa são parte do júri. É o caso da Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), que assegura o primeiro prémio no valor de dez mil euros, do Banco Santander, que assegura o segundo prémio no valor de cinco mil euros, e da Ordem dos Contabilistas Certificados, que assegura o terceiro prémio no valor de três mil euros. A competição tem data marcada para quinta-feira, dia 4 de setembro. Nesse dia são feitas as apresentações de todos os projetos. Cada equipa tem sete minutos para fazer o seu pitch e depois o júri tem a oportunidade de colocar questões sobre o seu trabalho. A decisão é tomada ao final do dia e anunciada no jantar de gala que fecha o concurso. A semana, no entanto, não é apenas competitiva. Para além do dia dedicado ao projeto e de uma tarde em que as equipas vão receber mentoria da consultora BGI e das quatro juniores empresas aveirenses, realizam-se também várias ações de formação e capacitação. Os participantes vão visitar duas empresas da região, a OLI e a Ubiwhere, vão ter a oportunidade de participar num workshop dedicado ao desenvolvimento de competências de comunicação e vão poder assistir ao “Show da Física”, que vai ter lugar no Complexo Pedagógico. Vão estar presentes na iniciativa a UA, o Politécnico da Guarda, Santarém, Castelo Branco, Leiria, Lisboa, Coimbra, Beja, Viana do Castelo, Portalegre, Cávado e do Ave, Bragança, Viseu, Porto, Setúbal e Tomar e ainda a Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, a Universidade do Algarve, a Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril e a Universidade da Madeira. À Ria, Eva Andrade conta ainda que será no jantar de gala que a Universidade de Aveiro vai passar o testemunho à próxima organização. De acordo com a responsável, a bandeira do Poliempreende vai passar para as mãos da Universidade do Algarve, que organizará o evento no próximo ano.
Reitor da UA e AAUAv mostram-se apreensivos em relação à redução de colocados no Ensino Superior
Conforme noticiado pela Ria, o número de estudantes colocados na 1.ª fase sofreu uma quebra sem precedentes: menos 6.064 alunos, o que corresponde a uma redução de 12,1% face a 2024. Na UA, a tendência foi semelhante, com uma descida significativa. Enquanto no ano passado apenas 1,2% das vagas ficaram por preencher, este ano a taxa subiu para 17,1%. Das 2.334 vagas disponíveis, 400 não foram ocupadas. No entendimento de Paulo Jorge Ferreira a quebra deve-se a algo que “ocorreu este ano e que não ocorreu nos outros”. O também presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) defende que uma maior taxa de retenção no 12º ano pode ajudar a justificar o menor número de colocados. Embora acredite que menos alunos tenham conseguido concluir o ensino secundário no último ano, o responsável reconhece não ter ainda uma explicação definitiva para a diminuição registada. Uma das possibilidades prende-se com a mudança nas condições de acesso ao Ensino Superior, nomeadamente com a exigência do exame nacional de português. Segundo Paulo Jorge Ferreira, a obrigatoriedade de realizar a prova pode ter gerado um “problema” e reduzido o lote de potenciais candidatos às universidades e institutos politécnicos. O reitor afasta, contudo, a hipótese de a quebra estar relacionada com fatores demográficos, lembrando que “há 18 anos não houve uma redução de 15% nos nascimentos”. Ao mesmo tempo, considera que “15% dos jovens não se desconvenceu da importância de uma formação superior”. Apesar de tudo, o reitor mantém alguma esperança de que haja uma recuperação na segunda fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior. Depois de estarem colocados todos os candidatos, Paulo Jorge Ferreira pede que se analisem os números com “frieza”. Olhando para o caso concreto da UA, Paulo Jorge Ferreira nota que a instituição sentiu mais o impacto porque, no último ano, as vagas estavam “virtualmente quase todas preenchidas”. No país, acredita que a UA segue a tendência das regiões homólogas, onde a pressão e a procura são ligeiramente inferiores às registadas em Lisboa e no Porto. O reitor nota também que a UA foi especialmente afetada no sentido em que, nalgumas das áreas que tem forte representação, houve uma “redução muito drástica” do número de candidatos a nível nacional. O curso de Engenharia de Computadores e Informática é o curso da UA que mais vagas sobrantes deixa para a 2ª fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior, ainda com 46 lugares por preencher. O curso de Biologia deixa 42 vagas e o curso de Ciências do Mar deixa 27. Alguns cursos, como Geologia ou Meteorologia, Oceanografia e Clima, só tiveram um aluno colocado. Joana Regadas considera que os números merecem “muita reflexão”. Sendo a Universidade de Aveiro uma instituição que tem um “programa curricular diferenciado que capta muitos estudantes”, é preciso, no entender da dirigente associativa, perceber porque é que este ano isso não foi suficiente para cumprir os objetivos. Os custos associados à frequência no Ensino Superior em Aveiro podem ser parte da explicação, acredita. A crença é sustentada pelas conversas que diz já ter tido esta manhã, dia 25 de agosto, com alguns pais dos novos estudantes. Joana Regadas conta que no centro das preocupações têm estado os custos do alojamento na cidade: “Muitos pais querem encontrar um quarto e as opções são de 350 euros para cima. Os 350 na sua grande maioria são quartos sem contrato e sem recibo. Acredito que isto também esteja a pesar no momento de escolher Aveiro”. No entanto, a estudante não acredita que o aumento dos custos com o alojamento possa ser o único fator a justificar a quebra. Cautelosa, Joana Regadas defende que é preciso esperar pela segunda fase de candidaturas para poder tirar conclusões. Aí, será possível observar se os estudantes preferiram optar pelo privado ao invés do público e que tipo de mudanças existem no acesso ao ensino politécnico. Ainda como hipótese, Joana Regadas nota que é preciso refletir sobre o possível impacto da alteração das condições de acesso ao Ensino Superior e da desinformação associada. No mesmo sentido, a dirigente acrescenta que é importante questionar se as pessoas deixaram de ver valor nas universidades. A presidente da AAUAv não deixa de se mostrar preocupada com o que os números podem representar a longo prazo. Conforme afirma , se a tendência se mantiver no próximo dez anos, Portugal vai passar a ter um mercado de trabalho “enfraquecido”. Com as matrículas já a decorrer, Joana Regadas alerta ainda para o perigo de haver quem se matricule, mas que depois não seja capaz de suportar a despesa que a frequência na universidade significa. A “sobrelotação” da cidade de Aveiro traz problemas acrescidos e o preço da habitação, somado aos restantes encargos financeiros associados, representa um novo orçamento para as famílias. A mesma questão é levantada por Paulo Jorge Ferreira. O reitor da UA recorda que no último ano houve instituições que chegaram a preencher 100% das vagas e que tinham transitado para a 2ª fase do concurso em desvantagem. O problema deve-se sobretudo às dificuldades em encontrar alojamento a preços comportáveis. Não obstante, Paulo Jorge Ferreira crê que as medidas tomadas pelas instituições para aumentar a capacidade de alojamento vão mitigar o problema. A segunda fase de candidaturas ao Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior começou hoje, dia 25, e termina no próximo dia 3 de setembro.
Tuna Feminina da AAUAv coroada melhor tuna em festival internacional no Peru
As distinções foram uma surpresa para a Tuna, conta Inês Teixeira, uma das organizadoras da viagem. Em conversa com a Ria, a estudante da Universidade de Aveiro explica que a diversidade cultural que se viveu em Lima foi “tão bonita” que as aveirenses não estavam a contar ser galardoadas. Não obstante, confessa estar “muito contente” e receber o prémio de “braços abertos”. Apesar de só dez membros da Tuna terem embarcado rumo à América Latina, Inês Saraiva acredita que a atuação no festival foi muito positiva. A experiência e a troca cultural têm “enriquecido” o grupo, acrescenta a estudante, que nota poder observar o “quão diferentes e semelhantes” são as diferentes tunas femininas do mundo. O VII SANMARTINAS – Festival Internacional da Tuna Femenina de Derecho contou com a presença de sete tunas femininas a concurso, incluindo três tunas peruanas e quatro tunas internacionais (Portugal, Países Baixos, Colômbia e Chile), além de 4 tunas convidadas. A TFAAUAv destaca a particularidade de ser a tuna madrinha da tuna anfitriã, a Tuna Femenina de Derecho da Universidad de San Martín de Porres. Findo o festival, as aveirenses continuam por terras peruanas. Num registo mais descontraído e informal, Inês Saraiva afirma que o grupo tem sido muito bem recebido e diz estar a gostar muito da experiência.
Nova residência universitária privada avança, mas preços dos quartos ainda não são conhecidos
Conforme noticiado pela Ria em janeiro, a nova residência está a ser construída “no terreno junto ao Seminário, à antiga Reitoria da Universidade de Aveiro e ao Hospital Infante D. Pedro”. A operação, que está a cargo da empresa Coordenada Decisiva, Lda, “vai contar com uma área comercial com 840 m2, onde está prevista a instalação de um equipamento de restauração e bebidas, com esplanada e uma zona de espaço verde com 1.306 m2”. Recorde-se que esta operação remonta a 2023 a um terreno vendido pela CMA, por 2,5 milhões de euros, “com o objetivo principal de possibilitar a construção de uma residência universitária de estudantes, dando um contributo para aumentar a oferta do mercado para habitação estudantil, numa zona de localização privilegiada”. Se em janeiro se falava na criação de 219 quartos, o jornal online Construir, num artigo publicado esta quinta-feira, não deixa claro que o número não possa aumentar para “240”. Depois de começar por falar nos 219 previamente anunciados, o jornal explica que vão ser feitos “60 quartos-suíte” por cada um dos quatro andares superiores, o que totaliza 240 quartos. Mais à frente, na nota técnica divulgada pelo jornal, o número de 240 alojamentos é reiterado. O mesmo se pode dizer em relação aos lugares de estacionamento. No corpo da notícia são repetidos os números que tinham sido divulgados em janeiro: 124 lugares em cave e 68 lugares à superfície. Por seu lado, a nota técnica, publicada no final do artigo, também dá conta de outros números. Aí consta que devem surgir “170 lugares cobertos” e “90 lugares à superfície”. Outro valor que difere é o do investimento na residência. Aquando do início da obra, a CMA falava num investimento privado de "cerca de 12 milhões de euros". Na notícia agora publicada, a Construir avança que a estrutura representa um investimento de “cerca de 15 milhões de euros”. O que ainda persiste como mistério é o valor a ser cobrado por cada quarto. Relembre-se que, quando questionado pela Ria, José Ribau Esteves, presidente da Câmara Municipal de Aveiro, recusou a ideia de colocar uma cláusula no contrato de venda do terreno que definisse um teto máximo por quarto a ser cobrado aos estudantes. Entretanto, a Ria procurou também ouvir o responsável da empresa Coordenada Decisiva Lda., mas até ao momento não obteve qualquer resposta. Tal como noticiado anteriormente, as residências privadas em cidades como Lisboa, Porto, Braga e Covilhã são especialmente procuradas por estudantes internacionais oriundos de países onde os rendimentos familiares são, em regra, superiores aos de Portugal. Um bom exemplo disso é a “Micampus Residências”, presente em Braga, Covilhã e Porto, que, no caso de Braga, a opção mais barata de alojamento que tem disponível implica uma renda de 500/mês para os estudantes. Recorde-se ainda que, segundo os dados do Observatório do Alojamento Estudantil, consultados em janeiro pela Ria, o preço médio dos quartos em Aveiro situava-se nos 340 euros. De acordo com a Construir, dos “240” quartos previstos, “16” são dedicados a pessoas com mobilidade reduzida e vão ter uma maior área para permitir a movimentação dos residentes. Cada quarto vai estar equipado com uma “cama individual com arrumação, uma secretária, estantes de parede e também guarda-roupa embutido”. A Construir garante ainda que todas as unidades de alojamento vão ser equipadas com “instalações sanitárias modulares totalmente equipadas, que vão de encontro com o conceito de modularidade de construção e que maximizam a rapidez na montagem do edifício”. A publicação avança que o edifício vai estar dividido em cinco pisos e uma cave. No piso térreo estarão disponíveis os espaços comerciais e as zonas comuns e administrativas da residência, nomeadamente a biblioteca, as salas de estudo, o refeitório e os espaços polivalentes. Já a cave vai ser dedicada a áreas de lazer e permanência, um auditório, zonas técnicas e um estacionamento. O projeto aposta numa estrutura realizada em perfis metálicos SinProfile que, segundo diz o arquiteto em resposta enviada à Ria, se destaca pela “rapidez de construção, resistência, custo otimizado e integração em outros sistemas”. Miguel Ibraim da Rocha acrescenta que a estrutura permite ainda reduzir o impacto ambiental. À Construir, o responsável explica que a opção de expor na fachada os perfis metálicos estruturais se baseia na lógica formal das estruturas industriais. O objetivo, afirma, é “conferir ao edifício uma leitura formal de verticalidade e ritmo, reforçando a sua presença urbana e identidade visual”. A publicação avança também que a estrutura principal do edifício é composta por perfis metálicos laminados e soldados, o que permite uma construção modular, rápida e precisa, com uma grande redução de resíduos e desperdícios em obra. Por seu lado, as fachadas são resolvidas com um sistema ventilado de painéis metálicos perfurados, o que garante eficiência térmica, ventilação natural e manutenção simplificada. De acordo com o arquiteto, são painéis que oferecem uma expressão “leve e tecnológica”, o que contribui para uma linguagem arquitetónica “coerente e funcional”. Nos quartos vão ser instaladas portadas metálicas que, de acordo com o jornal, funcionam como dispositivos de sombreamento e privacidade. No exterior vai ser criada uma torre completamente transparente de acessos verticais. O objetivo é dinamizar o conjunto e conferir ao edifício uma identidade única que o torne facilmente identificável à vista.
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Notícia Ria: Família Bóia questiona Plano para o Cais do Paraíso e avança para tribunal
Segundo António Paulo Bóia, o processo de elaboração do Plano de Pormenor decorreu sem qualquer consulta às partes envolvidas, apesar de tal ter sido prometido em Assembleia Municipal. A família garante que, desde 2017, apresentou vários projetos de construção para o seu terreno, tanto pedidos de informação prévia como projetos de licenciamento, mas todos foram indeferidos pela autarquia. António Paulo Bóia considera que essas recusas se explicam pela “obsessão” do presidente da Câmara em viabilizar o grande empreendimento imobiliário e hoteleiro previsto para a zona, com 12 andares. A crítica central da família prende-se com aquilo que chamam de exclusividade: na sua visão, o plano permite apenas a um dos promotores construir um megaedifício, enquanto impede os restantes de desenvolver qualquer projeto. A contradição é, para António Paulo Bóia, evidente: em tempos, a revisão do plano urbano anterior foi justificada pela Câmara como forma de evitar “construção excessiva”; agora, argumenta, o Município apoia a realização de um projeto muito mais denso, com muitos pisos, mas apenas para um investidor. “Porque é que o outro promotor pode ter apartamentos neste plano e nós não?”, questiona, considerando a situação “inaceitável, incorreta e irregular”. O comunicado sustenta ainda que o terreno da família está numa posição estratégica: fica entre o canal central e a frente principal do futuro edifício, o que faria com que qualquer construção dos Bóia limitasse as vistas da torre. “O motivo é só um, todos o perceberão: o nosso terreno está na linha de interseção direta com o canal, prejudicando as valiosas vistas do empreendimento”, aponta António Paulo Bóia, sublinhando que a família ocupa aquele espaço “há mais de 100 anos”. Outro ponto de discórdia é a opção da Câmara por transformar o terreno da família num jardim público e, dessa forma, impedir a construção. Para os Bóia, a justificação não tem credibilidade, sobretudo depois da recente renovação do Rossio, onde foi praticamente eliminada a presença de árvores e áreas verdes. “Então o Rossio pode ser pavimentado, mas o nosso canto tem de ser jardim arborizado? É uma desculpa técnica, mal disfarçada”, escreve o representante da família. A família recorda ainda um “compromisso de honra” assumido pelo Município em 1973. Nessa altura, a sua casa no Cais do Paraíso foi demolida para permitir a abertura da estrada da Barra. Como compensação, a Câmara terá assinado uma escritura que lhes concedia o direito de construir, “para sempre”, nos terrenos sobrantes. António Paulo Bóia afirma que esse acordo deve ser respeitado, não apenas como obrigação legal, mas também como dever moral da cidade para com a família. “Entendemos que este é um compromisso de honra de Aveiro. Se fosse convosco, o que sentiriam no nosso lugar?”, questiona. Num tom mais pessoal, o comunicado lembra ainda o papel da Fábrica Bóia & Irmão na história da cidade: dezenas de empregos criados, formação de aprendizes, cedência de terrenos para obras públicas em Aveiro e Esgueira. “Nunca nos viram de Porches ou Ferraris, porque o investimento foi sempre na empresa e nos trabalhadores”, escreve António Paulo Bóia, lamentando o que poderá ser considerado uma “traição” por parte do Município. O representante da família não deixa dúvidas quanto ao próximo passo: face ao que classifica como uma “obsessão autocrática” da Câmara, garante que a questão seguirá para tribunal. A contestação da família surge poucos dias depois das declarações de Alberto Souto, candidato do PS à autarquia aveirense, que já tinha classificado o projeto como uma “história esquisita” com “perfume de lavagem de dinheiro”. A oposição socialista questiona a pressa do Executivo em aprovar o plano antes do final do mandato. Da direita à esquerda, seguiram-se vários comunicados e posições políticas dos diferentes candidatos à CMA contra a opção que está a ser seguida. Já Ribau Esteves, em 2019, tinha admitido numa conferência na Universidade de Aveiro que estava a ser preparado um hotel de cinco estrelas “com muitos pisos” para a cidade, antecipando um projeto que hoje divide opiniões. Mas à data não existia nenhum instrumento legal aprovado que tornasse possível a construção de um edifício com essa dimensão, pelo que o autarca aveirense só podia estar a assumir que tal possibilidade viria mais tarde a ser aprovada em reunião camarária. O Plano de Pormenor do Cais do Paraíso, que prevê a construção de um edifício de 12 andares junto ao canal central, terá amanha um dia decisivo com a realização de uma reunião camarária, a partir das 16h30, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Aveiro. “Aveiro tem um compromisso de honra de nos deixar edificar e o município pretende faltar ao seu compromisso escriturado”, António Paulo Bóia Na sequência do que tem vindo a público sobre a aprovação do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso, situação que prejudica fortemente os nossos direitos, resolvi esclarecer os aveirenses sobre a questão em apreço e a nossa posição. Ao contrário do que foi referido e prometido pelo Sr. Presidente da câmara, em assembleia municipal convocada com ponto de ordem para o efeito, este processo de elaboração do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso decorreu sem consulta às partes proprietárias envolvidas, como democraticamente seria de esperar. Sem surpresa para nós, que conhecemos a obsessão do líder do executivo neste projeto desde que, em 2018, teve conhecimento do plano imobiliário e de hotelaria apresentado pelos proprietários do terreno que pertenceu ao Bóia & Irmão e me comunicou tal desiderato. Tudo tem feito a partir de então para desenvolver o mesmo, portanto, com uma gestão de procedimentos absolutista nesse sentido. Acerca da “zona de vazio urbano”, expressão recorrentemente utilizada pelo executivo na defesa deste Plano de Pormenor, permitam-nos informar que não foi por falta de nossa iniciativa, pois desde 2017 que temos vindo a apresentar sucessivos projetos edificativos, seja através de pedidos de informação prévia, seja mesmo de projetos de licenciamento à construção, todos eles indeferidos pela autarquia, talvez porque afetavam o real objetivo presidencial. À revisão completa do Plano, desenvolvido pelo conceituado especialista recentemente falecido, o Arquiteto Nuno Portas, através do Polis nesta zona, foi argumentado pelo atual executivo no passado recente como de “construção excessiva”. Na verdade, é agora substituída por um mega-empreendimento edificativo “monoparental”, o que, convenhamos, representa um paradoxo estratégico ao defendido pelo executivo na alteração da política urbana no Cais do Paraíso. Segundo o atual PDM de Aveiro, o quarteirão está classificado como zona urbana tipo 1, dando primazia a zona residencial e de serviços. Até aqui tudo bem, o problema com a criação deste Plano de Pormenor é a exclusividade atribuída a um só proprietário de edificação na sua exclusiva área territorial, conforme pretendido, em detrimento de todos os outros proprietários. Este privilégio de exclusividade é, quanto a nós, inaceitável, incorreto e irregular porque não equitativo. Além disso, não se compreende, porque a nossa pretensão de edificação em nada colide com o projeto imobiliário e de turismo apresentado através da construção da torre estrela nos antigos terrenos do Bóia & irmão. A propósito, relembra-se aqui que o projeto prevê uma substância patrimonial, tanto em área de apartamentos como em aproximadamente área de quartos de hotel. Pergunta sacramental que se faz: porque é que o outro promotor pode ter apartamentos neste plano e nós não? O motivo é só um! E todos o perceberão facilmente. O nosso terreno está geograficamente na linha de interseção direta entre a generalidade da frente dos 2 aros da torre-estrela e do majestoso ex-libris aveirense, o canal central, prejudicando as valiosas vistas do empreendimento. Tivemos azar porventura? Não! A verdade é que já lá estávamos há 100 anos e com uma promessa de perpetuidade do executivo aveirense de ali construir, como mais à frente se explicará. Além do que foi mencionado, nada justifica fazer um jardim naquele nosso canto, segundo o estabelecido no PP do Cais do Paraíso. Todos nós o sabemos, muito menos o compreendemos e passo a explicar. Então o recém-renovado Rossio (esta sim, uma grande praça central de fruição pública), que se encontra globalmente desprovida de arvoredos e minimizado de zona verde, por opção definida exclusivamente por este executivo, foi limitada, mas este cantinho dos Bóias já pode passar a jardim verde arborizado? Desculpa técnica, mal disfarçada, como se perceberá. Temos, igualmente, um outro ponto em desfavor do que se pretende aprovar. Esteticamente, persiste ali um “patinho feio”, que a câmara omite e empurra para uma resolução “um dia…”. Trata-se da empena de 4 pisos, de parede à vista para o centro da cidade, que desfavorece e muito todo o local. Esta situação ficaria resolvida de vez com a nossa construção. Com este PP, que nos condiciona, aquela parede ali ficará para sempre e desiludam-se aqueles que pensam vir a ser fácil qualquer negociação (se desde 2018 os interessados não o conseguiram…). Muitos aveirenses não saberão, mas a família Bóia tinha uma casa neste recanto, adquirida há cerca de 100 anos (de onde curiosamente o meu pai e irmãos, na sua juventude, se habilitavam até a atividades de banhos de acordo com as marés e o tempo, se este assim o permitisse). Foi com muita tristeza que teve de ser demolida em 1973, para permitir a ampliação da estrada da Barra e permanecer até aos nossos dias tal como todos nós hoje a conhecemos. Era uma obra vital para a cidade, concordamos, até porque o Rossio era então centro de muita atividade mas a perda foi sentimentalmente enorme como os aveirenses e restantes leitores poderão imaginar pela observação das fotos. Desse ato de acordo com o município, resultou formalmente uma escritura notarial, em que nos foi concedido, em compensação, de boa fé e para todo o sempre o direito de construirmos nos terrenos sobrantes, em conjunto com uma parcela anexa, permutada pela câmara para o efeito. Quanto a nós, entendemos que este é um compromisso de honra e uma obrigação moral de Aveiro e do seu executivo para com a nossa família. Pensem os aveirenses: se fosse convosco a atual situação o que sentiriam no nosso lugar (traição, usurpação, etc.)? “Quem não se sente, não é filho de boa gente”, já diz o ditado. Permitam-me lamentar o desânimo que nos vai na alma. Os mais velhos sabem o quanto a família Bóia se dedicou a Aveiro, muito através do Bóia & Irmão, criando durante dezenas de anos muitos empregos diretos e indiretos, desenvolvendo formação qualificada a muitos (mas muitos) aprendizes da região na sua oficina-escola, cuja prática nos nobres ofícios metalúrgicos lhes permitia obter importante passaporte garantido para uma vida futura com trabalho. Sabem, não foram raras as vezes, o número de trabalhadores da empresa foi superior ao necessário. Mas havia famílias para meter pão na mesa e a oferta de oportunidades não era nada como agora! Corremos sempre esse risco e não nos arrependemos! Nunca nos viram de “Porches” ou “Ferraris”, pois a opção foi sempre de investimento na empresa e nos trabalhadores! Por isso, não se avançou com empreiteiros, nem o retorno à construção era o atual como todos sabemos. Mas não foi só nessa matéria que valorizámos Aveiro. Já aqui foi referida a cedência de mobilidade rodoviária para a Gafanha e a Barra através do nosso terreno ao cais do paraíso, mas em Esgueira também aconteceu. Primeiro, ao concordarmos retalharem-nos com uma desadequada curva urbana um terreno para fazer o acesso desde o túnel ao centro de Esgueira, uma ligação fulcral no concelho e, mais recentemente, sobre o mesmo terreno para se poder fazer a nova e importante rotunda “Novus Plaza” com todo o risco de viabilização a permanecer na esfera da família Bóia, ao ficar com o terreno sobrante das permutas (relembra-se que a câmara nunca conseguiu, em décadas, arranjar investidor que resolvesse a complexa situação naquele local). Sempre que convidada, ou mesmo por iniciativa própria, a família Bóia sempre anuiu ou avançou com atividades de defesa e apoio ao progresso de Aveiro que se impunham, fossem elas de natureza associativa, religiosa, desportiva, cultural ou cívica. Não queremos retorno de nada disto, obviamente, até porque não são esses os nossos valores, apenas pretendemos que nos garantam o que é nosso por direito próprio e que, também, nos foi legalmente prometido. Vemos amiúde afirmações do Sr. Presidente que dão a ideia que existe uma necessidade imperiosa permanente de se fazer isto ou aquilo porque entende que Aveiro é que perde se tal não acontecer. Dá, para o efeito, a perceber que existem alegados favorecidos e privilegiados que devem sofrer pela mão “divina” da câmara para se proceder a um eminente equilíbrio de harmonização pública. No nosso caso, releve-se, não se trata de tirar para dar a muitos e pobres, muito pelo contrário, é tudo dado a um só investidor com grande capacidade de investimento, em prejuízo dos outros. Um facto curioso que se revela foi o “empurrão” dado então pelo Dr. Alberto Souto (avô) ao empresário Manuel Maria Pereira Bóia para que investisse numa oficina maior, pois acreditava nas suas capacidades técnicas de mecânica e conhecimento de desenho e projeto, conciliadas com a sua carreira de empreendedor empresarial (à data com uma oficina-automóvel na rua das Barcas). O episódio resulta de uma deslocação a Sever do Vouga (a umas minas em processo de falência), influenciada pelo amigo Dr. Alberto Souto (cuja verdadeira intenção já a levaria na manga, não fosse figura de reconhecida inteligência e visão) para fazer uma necessária peritagem e avaliação dos equipamentos industriais. O resultado, como imaginam, acabou numa aquisição massiva de máquinas e a transferência de muitos trabalhadores para o Bóia & Irmão em Aveiro. A necessidade de espaço motivava, pois, a procura por armazém maior, que viria a ser localizado na rua do Cais do Paraíso e aí desenvolver progresso durante décadas. Para conciliar a vida familiar com a profissional, a aquisição da casa geminada (nos terrenos hoje em causa) acabou por ser uma inevitabilidade. Não deixa de ser uma ironia do destino, de facto, que 100 anos volvidos, possa vier a ser novamente a família Souto, através de dois netos candidatos às próximas eleições, novamente a ter preponderância no destino da família Bóia naquele quarteirão. Dado o panorama e a obsessão autocrática do Presidente do executivo, que se traduz atualmente neste processo de aprovação do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso, por uma continuidade de decisões com atropelo aos nossos direitos construtivos, tornou-se inevitável o recurso aos meios judiciais, o que acontecerá rapidamente. António Paulo Bóia
Portugal tem 12.800 bombeiros e é 3.º pior da UE a investir em proteção contra fogos
Dados hoje publicados pelo serviço estatístico da UE, o Eurostat, revelam que, em 2024, Portugal dispunha de 12.800 bombeiros, o equivalente a 0,25% do emprego total no país. Ao todo, no espaço comunitário, os países da União Europeia em conjunto tinham no ano passado 390.600 bombeiros profissionais, representando 0,19% do emprego total da UE. Nesse ano, em comparação com 2023, o número de bombeiros aumentou em 28.200. Entre os 20 países da UE com dados disponíveis, a Croácia registou a maior proporção de bombeiros no total do emprego com 0,45%, seguindo-se a Grécia com 0,41%, à frente da República Checa com 0,34%. As proporções mais baixas foram registadas nos Países Baixos (0,07%), Dinamarca (0,08%) e Suécia (0,10%). Na UE, cerca de 75% de todos os bombeiros profissionais tinham entre 15 e 49 anos, sendo esta, de acordo com o Eurostat, “uma força de trabalho visivelmente mais jovem em comparação com o total do emprego na UE, onde apenas 64,8% dos trabalhadores pertencem a esse grupo etário”. Dados também hoje publicados pelo gabinete estatístico da UE sobre o investimento dos países europeus em serviços de proteção contra incêndios em 2023 demonstram que Portugal foi o terceiro pior dos 27, ao alocar a esta matéria uma percentagem de 0,3% das despesas governamentais, a mesma que a Áustria. Só ficaram atrás da Dinamarca (0,1%) e de Malta (0,2%). Em contrapartida, em 2023, a Roménia teve a maior proporção de despesa em serviços de proteção contra incêndios, com 0,9% da despesa total do governo, seguida pela Estónia e pela Grécia, com 0,7% cada. No seu conjunto, em 2023, os governos da UE gastaram 40,6 mil milhões de euros em serviços de proteção contra incêndios, refletindo um aumento de 8,5% na despesa pública com esta função em comparação com 2022 (quando se registaram 37,4 mil milhões de euros). “O aumento da despesa com serviços de proteção contra incêndios, em valores absolutos, está em linha com os aumentos noutras funções, pelo que os serviços de proteção contra incêndios têm representado de forma consistente 0,5% da despesa total do governo desde 2017”, afirma ainda o Eurostat. Os dados surgem quando Portugal continental tem sido afetado por múltiplos incêndios rurais de grande dimensão desde julho, sobretudo nas regiões Norte e Centro.
Junta de Freguesia de Aradas chegou a pedir cerca de 3.000€ para oposição ter acesso a documentos
O conflito remonta a 3 de dezembro de 2023, quando Gilberto Ferreira, líder do movimento independente ‘Sentir Aradas’ e membro da Assembleia de Freguesia de Aradas, apresentou o primeiro pedido formal de acesso a documentação administrativa, relacionada com despesas e gestão da Junta. Meses depois, a 27 de outubro de 2024, voltou à carga com um novo requerimento, solicitando faturas, extratos bancários, concursos de pessoal, protocolos e atas da Assembleia. A ausência de respostas claras levou-o a recorrer à Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA), que durante 2024 emitiu vários pareceres favoráveis ao direito de acesso. Ainda assim, a Junta continuou a protelar a entrega, chegando mesmo, em novembro de 2024, a exigir quase 3.000 euros pelos documentos, o que viria a agravar o conflito e abrir caminho para a via judicial. Num documento a que a Ria teve acesso, datado de 11 de novembro de 2024 e dirigido a Gilberto Ferreira, a presidente da Junta de Freguesia de Aradas, Catarina Barreto, apresentou a justificação para a cobrança de quase 3.000 euros pelo acesso à documentação requerida. A estimativa enviada apontava para um total de 2.927,58€, repartidos entre dois meses de trabalho de um técnico superior (4 horas diárias), a reprodução de 500 cópias, gastos com material de escritório, pedidos de extratos bancários ao banco e extração de cópias adicionais. No mesmo documento, a Junta invocava o artigo 15.º da Lei de Acesso aos Documentos Administrativos (LADA), considerando os pedidos “repetitivos e abusivos” e anunciava uma prorrogação do prazo legal em mais dois meses. A resistência da Junta levou Gilberto Ferreira a avançar para o Tribunal Administrativo e Fiscal de Aveiro, através de uma intimação judicial para prestação de informações e passagem de certidões. Na sentença proferida em agosto de 2025, o tribunal reconheceu que a autarquia não cumpriu os prazos legais previstos na Lei de Acesso aos Documentos Administrativos (LADA) e que só disponibilizou parte da informação após a entrada da ação judicial. Na sentença, o Tribunal Administrativo e Fiscal de Aveiro condenou a Junta de Freguesia de Aradas a disponibilizar no prazo de dez dias um conjunto de documentos em falta, entre os quais se incluem: o processo completo de contratação da empresa Globalsoft e de uma jurista; as contas detalhadas do Festival Aradas+ 2022; uma certidão com todos os pagamentos mensais ao executivo - vencimentos, ajudas de custo, despesas de representação, contribuições para a ADSE e outros suplementos; extratos bancários relativos a trabalhadores externos contratados através do IEFP; o protocolo com a ADAC e respetivos comprovativos de pagamento; o comprovativo de transferência do protocolo com o Agrupamento de Escuteiros de Aradas; a ata da Assembleia de Freguesia de 22 de dezembro de 2022; e todas as atas aprovadas da Assembleia no atual mandato. O tribunal sublinhou ainda que a informação pedida é de natureza pública e que o direito de acesso não pode ser limitado por custos administrativos excessivos. A Junta de Freguesia de Aradas não se conformou com a decisão e apresentou recurso para o Tribunal Central Administrativo Norte. Alegou nulidade da sentença por violação do princípio do contraditório, defendendo que queria responder a observações feitas pelo opositor em julho sobre extratos bancários e sobre o Festival Aradas+ 2022, mas que o tribunal terá decidido antes de esgotado o prazo. Sustenta ainda que o evento não se realizou nesse ano, pelo que não existiriam despesas a apresentar. Nas contra-alegações, Gilberto Ferreira rejeita qualquer nulidade e acusa a Junta de manipular os factos. Juntou provas retiradas do próprio site oficial da freguesia para provar que o Festival Aradas+ se realizou em 2022, incluindo cartazes, fotografias e até uma notícia publicada no Diário de Aveiro. O líder do movimento independente acusa ainda a Junta de litigância de má-fé, por alegar falsidades em tribunal e lembra que, mesmo depois da sentença, continua sem acesso a toda a documentação. Relata episódios em que tentou levantar as certidões, mas foi impedido, tendo chegado a apresentar reclamação no livro de reclamações da Junta. Caso a situação se mantenha, admite pedir a aplicação de uma sanção pecuniária compulsória à autarquia, isto é, uma multa diária até ao cumprimento integral da decisão judicial. Segundo o que a Ria apurou, para além de outros motivos relacionados com a gestão da Junta, o motivo central que explica a insistência da oposição em ter acesso à documentação prende-se com uma denúncia recebida pelo movimento independente ‘Sentir Aradas’. Segundo essa denúncia, a presidente da Junta, Catarina Barreto, estaria inscrita na ADSE - o subsistema de saúde da Administração Pública - e teria, alegadamente, beneficiado de descontos que lhe permitiram reduzir substancialmente os custos de um tratamento médico que estaria a realizar. A suspeita gerou grande controvérsia na oposição, porque um eleito local não tem direito a ADSE. A lei define que apenas trabalhadores com vínculo de emprego público podem beneficiar deste regime, mantendo-o se já eram funcionários públicos antes de assumirem funções políticas. Ora, no caso de autarcas eleitos, o mandato não constitui uma relação de emprego público, mas sim uma função política - o que exclui, por si só, a possibilidade de acesso à ADSE. É precisamente neste ponto que a oposição concentra a sua estratégia: provar, através do acesso aos recibos de vencimento dos membros do Executivo, se a presidente da Junta usufruiu ou não desse benefício. Para os independentes, esta informação seria decisiva no debate político local, não apenas pela eventual ilegalidade em si, mas também pela dimensão ética e política que assumiria caso se confirmasse que uma autarca beneficiou indevidamente de um regime reservado a trabalhadores do Estado. Até agora a Junta não entregou os documentos que poderiam esclarecer definitivamente esta questão e a presidente, segundo a oposição, nunca confirmou ou desmentiu estas alegações - o que alimenta ainda mais a desconfiança. Entre os opositores, a convicção é de que será apenas uma questão de tempo até que a informação venha a público - mesmo que isso só aconteça depois de Catarina Barreto cessar funções. Porém, politicamente, o calendário é tudo: a oposição acredita que teria muito mais impacto para os eleitores que este tema fosse clarificado antes das próximas eleições autárquicas, transformando-o num potencial trunfo eleitoral face à gravidade que teria, no caso de se comprovar a irregularidade. A Assembleia de Freguesia de Aradas aprovou, em janeiro deste ano, um novo regulamento de taxas que substitui o de 2018 e introduz alterações significativas com impacto no custo de acesso a documentos administrativos. No regulamento de 2018, as taxas estavam limitadas a serviços concretos, como a emissão de atestados, termos de identidade, certidões, declarações ou certificação de fotocópias. O cálculo era feito com base num tempo médio de execução de meia hora, somando apenas o custo hora do funcionário e os consumíveis utilizados. As fotocópias seguiam os valores máximos fixados no regulamento notarial, o que impunha um limite às cobranças. O regime aprovado em 2025 é mais abrangente. Além dos documentos tradicionais, passou a incluir a categoria genérica de “outros serviços administrativos”, permitindo à Junta enquadrar um leque mais alargado de pedidos de informação, onde se poderão incluir os requerimentos da oposição. A fórmula de cálculo também foi expandida: o tempo médio de execução deixou de ser fixo e pode agora variar entre 30 minutos e 2h30 por documento e passaram a ser contabilizados não só os consumíveis e o tempo do funcionário, mas também custos indiretos da estrutura, como manutenção, equipamentos e serviços de apoio. Outra diferença relevante está na taxa de urgência. Enquanto em 2018 o acréscimo era de 50% para documentos emitidos no prazo de 24 horas, o novo regulamento permite que o valor seja duplicado, com uma penalização de 100%. Foi ainda introduzida uma regra de atualização automática anual com base na inflação, o que garante a subida dos valores de forma sistemática, sem necessidade de nova aprovação política.
Câmara da Murtosa lança concurso para reabilitar marginal da Torreira por 1,3 milhões de euros
Trata-se de uma intervenção “destinada a resolver a situação de insegurança decorrente da derrocada de uma secção da marginal da ria, junto à marina de recreio e ao porto de abrigo da Torreira”. De acordo com uma nota de imprensa da Câmara da Murtosa, a empreitada é “de elevada complexidade técnica, incidindo numa frente de cerca de 180 metros”. O preço base do concurso é de 1.332.453,77 euros e a empreitada tem um prazo de execução de sete meses. “O lançamento do concurso foi finalmente possível após a assinatura do protocolo, entre o município da Murtosa e a Agência Portuguesa do Ambiente, ao abrigo do qual, esta entidade, através do Fundo Ambiental, transfere para a autarquia uma verba de um milhão de euros, condição fundamental para a concretização de tão relevante obra”, destaca a nota. O protocolo foi assinado dia 11, na Torreira, pelo presidente da Câmara Municipal da Murtosa, Januário Cunha, e pelo presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Pimenta Machado, e homologado pelo Secretário de Estado do Ambiente, João Manuel Esteves.