Festas de São Braz: “um progresso fora do normal”
Por estes dias, os habitantes da Quinta do Gato, em Santa Joana, Aveiro vivem a festa de São Braz. Uma festividade que há cerca de 20 anos cumpre o ritual de atirar rebuçados do alto da Capela de São Braz para os devotos. Apesar da tradição, a festa tem vindo a ganhar expressão e, neste momento, não são apenas os rebuçados que contribuem para atrair os aveirenses e forasteiros. A Ria foi procurar saber, afinal, qual é o segredo para o sucesso desta festividade.
Isabel Cunha Marques
JornalistaPara António Gonçalves e Manuel Oliveira, amigos há mais de 40 anos, a festa de São Braz começa com um copo de vinho tinto, durante a tarde, no Restaurante ‘São Brás’. Ambos vivem a 50 metros dali. “Para mim o pior é morar mesmo aqui encostado. A festa termina pela 1h00 e até às 4h00 o barulho continua…”, começa por contar, à Ria, António Gonçalves com uma gargalhada. Apesar de não ser natural de Santa Joana, António confidenciou que ganhou o gosto pela Festa de São Braz, desde os 18 anos, altura em que conheceu a sua esposa. “Eu fui obrigado a vir [por ela] … As festas não eram como agora. Isto agora tem uma proporção muito maior. Temos de elogiar os mordomos da festa, porque teve um progresso fora do normal. Para mim, a seguir a estas é o São Gonçalinho”, afirmou.
Ao contrário de António, Manuel Oliveira sempre viveu no lugar da Quinta do Gato e recorda-se de viver estas festas desde pequeno. “Antigamente atirava-se os foguetes, ia-se atrás das canas para tirar o fio e assim se passava. Não havia nada de rebuçados…. Rebuçados está bem está…. Vivia-se bem. Para mim era fabuloso e agora melhor”, recordou com um sorriso. Sobre o que mais gosta da festividade, Manuel realçou, com um especial brilho nos olhos, que tem um fascínio pelo “barulho dos músicos”. “Eu gosto de acompanhar as festas do Santoinho, mas aqui é melhor. É a minha terra”, exprimiu. Enquanto brindava com António, mais uma vez, realçava ainda à Ria que para o dia seguinte tinha já na sua casa “um presunto, muita cerveja e muito vinho” para oferecer aos mordomos. “É sempre uma alegria”, gracejou.
No largo da capela, enquanto o sino toca para a eucaristia, ouve-se, já ao fundo, um som estridente de um outro sino. É Décio Marques a chamar para o pão com chouriço que acabou de sair do forno a lenha. “Este toque do nosso sino significa a saída do pão”, conta-nos. Veio pela primeira vez à festa de São Braz, em trabalho, para angariar fundos para a Associação Centro Social e Cultural Nossa Senhora da Graça Quintãs. “Já trabalhamos [com o pão com chouriço] há 20 anos… Desde que foi realizado o Carnaval em Aveiro”, partilhou. Para esta festividade trouxe, pelo menos, 100 quilos de massa de pão que foi previamente preparada por uma padeira do Vale de Ílhavo. “A gente está preparada para a guerra (…) O segredo do pão com chouriço é a farinha que não pode ser qualquer uma, o chouriço e o amor que nós depositamos todos nele”, partilhou com um sorriso. À Ria prometeu ainda fazer as “delícias” dos festeiros [com o pão com chouriço] ao longo dos quatro dias.
São Braz tem a “melhor bifana do mundo”
Além do pão com chouriço, há um outro cheiro que se torna impossível não sentir naquele largo. Desta vez, é o cheiro das bifanas que estão a ser preparadas por dois elementos da mordomia e que já atraem forasteiros para as saborear. É o caso de David Antunes, um dos artistas responsáveis por abrilhantar a Festa de São Braz na primeira noite. “Esta malta é do melhor que há. Eles ganham-nos por isto, pelos rebuçados e depois pela melhor bifana do mundo. Ao bocado, enquanto estava a caminho [de Aveiro], vinha a dizer ao meu irmão que o melhor sítio para comer bifanas é aqui”, confidenciou. “Eu não sei o que têm de especial, mas se calhar também não quero saber… É o molho, mas há aqui qualquer coisa…”, exprimiu.
Este ano, a Mordomia de São Braz encomendou cerca de 400 quilos de bifanas para os quatro dias de festa. Em entrevista à Ria, Óscar Branco, juiz da mordomia referiu que o sucesso das bifanas foi por mera “coincidência” e “sorte”. “Antigamente, fazíamos um pernil, mas demorava muito tempo a servir… Era complicado e eram sempre filas. Então começamos a fazer bifanas. Este ano, temos um fornecedor de carne amigo (…) arranjamos carne de boa qualidade, bem cortada e bem temperada e agora é com os nossos cozinheiros da mordomia”, explicou com uma gargalhada. O segredo? Preferiu não revelá-lo à Ria.
Se por agora começam a ser as bifanas a fazer as tentações de quem procura esta festa, há também quem não abdique de a frequentar pela “chuva” de rebuçados de São Braz. Uma tradição com cerca de 20 anos em que os devotos se concentram junto à capela de São Braz para apanhar os rebuçados atirados pela mordomia, não fosse São Braz o padroeiro das dores de garganta. Este ano, foram prometidos pela mordomia cerca de 600 quilos. Óscar Branco recordou que a tradição começou com um grupo de amigos que concluiu o seu percurso académico na Universidade e que quis vir celebrar o feito até à Festa de São Braz. “Lembraram-se que queriam pôr as pessoas de gatas aqui no Lugar da Quinta do Gato… Então recordaram-se de atirar rebuçados de São Braz às pessoas (…) É por eles que isto acontece”, sublinhou, esperançando que quer que a tradição dure, pelo menos, mais “200 anos”.
“O segredo não são os rebuçados”
Independentemente das bifanas ou dos rebuçados de São Braz, a verdade é que a festa tem vindo a ganhar renome e atrai, todos os anos, cada vez mais pessoas. Para o juiz da mordomia “houve outros fatores” para o mesmo acontecer. “Em 2017, também como juiz desta festa reuni um grupo de amigos e é isso que fez toda a diferença. Nós demos muito da nossa vida para estar aqui. Nesse ano, decidimos colocar um toldo na rua para não chover e trazer artistas com algum nome nacional”, explicou. Um desses artistas foi Augusto Canário. “Ele era pouco conhecido em Aveiro e a partir daí começou a fazer muitos espetáculos cá (…) A seguir, foi só mais um bocadinho e, neste momento, temos uma festa com cabeças de cartaz em três dias”, continuou. “O segredo não são os rebuçados (…) A questão que está na base disto tudo é a nossa interajuda, gostarmos da nossa terra e fazermos uma festa para as pessoas virem cá”, recordou Óscar.
Entre as novidades do cartaz deste ano está a festividade ser apadrinhada por Augusto Canário. “Quando eu este ano voltei a assumir a festa a minha ideia foi fazer um revenge daquilo que aconteceu ao longo destes anos e convidar os artistas que vieram cá e que nos deixaram alguma coisa (…) [O Augusto Canário] já esteve connosco três ou quatro vezes e fala de nós por todo o lado onde vai, até porque ele acha que foi alvo de um milagre aqui no São Braz”, contou.
Sobre aquela que será a festa de São Braz em 2026, Óscar preferiu não adiantar, mas garantiu que a mordomia a procurará “melhorar” ainda mais, sempre numa perspetiva da festa de arraial. Sobre quem será o próximo juiz, Óscar Branco garantiu que passará a sua pasta, possivelmente, “ao seu irmão”. “Ainda não sabemos (…) Há sempre um suspense, mas daqui a um mês já deve haver uma decisão”, avançou.
A Festa de São Braz prossegue, este sábado, 1 de fevereiro, tendo como cabeça de cartaz o artista Zé Amaro que atuará, pelas 21h30. No domingo segue-se a atuação de Tiago Silva, pelas 15h00 e de Augusto Canário, pelas 21h30. No último dia, 3 de fevereiro, haverá a missa em honra de São Braz, pelas 19h00.
Recomendações
Morreu António Oliveira, presidente da OLI: Luís Souto sublinha “contributo” para economia nacional
A Câmara Municipal de Aveiro manifestou o seu “mais profundo pesar” pelo falecimento de António Oliveira, que considera “figura incontornável do setor industrial e empresarial português”. Na mesma nota, Luís Souto, presidente da autarquia, destaca um “trajeto pautado por uma liderança ímpar, visão estratégica e inovadora e uma notável capacidade de inspirar pessoas e organizações”, sublinhando o contributo relevante deixado para o desenvolvimento económico nacional, a valorização da inovação e a afirmação internacional da indústria portuguesa. No Facebook, onde a morte do presidente foi comunicada pelas 16h30, a empresa aveirense OLI escreve que a perda de António Oliveira é “profundamente sentida em toda a empresa e por todos os que tiveram o privilégio de com ele trabalhar”. “Ao longo de mais de quatro décadas, o engenheiro António Oliveira foi um exemplo de rigor, dedicação, responsabilidade e proximidade. Estes valores continuarão a orientar a forma como trabalhamos, garantindo a fidelidade à sua visão e a continuidade do desenvolvimento sustentável da empresa. A sua memória permanecerá viva e orientará o futuro da OLI”, sublinham os responsáveis. O Sport Clube Beira-Mar também já reagiu ao falecimento através das redes sociais. O clube comunica “profunda consternação” com a perda do seu sócio 102 e salienta que, “em momentos distintos […] e nas alturas de dificuldades conhecidas, Engenheiro António Oliveira disse sempre presente ao Clube de forma desinteressada”. O presidente da OLI tinha sido no último ano condecorado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Empresarial – Classe do Mérito Industrial. O percurso do empresário já tinha sido distinguido com o prémio EY Entrepreneur of the Year – Inovação (2021) e com um Prémio Especial nos Prémios Exportação & Internacionalização (2024). Entre dezembro de 2021 e setembro de 2025, António Oliveira foi presidente do Conselho Geral da Universidade de Aveiro.
Câmara de Aveiro reduz taxa de participação no IRS em 0,25 pontos percentuais
Cumprindo com aquilo a que se tinha proposta aquando da apresentação do seu programa eleitoral, Luís Souto, presidente da autarquia, levou a reunião de Câmara a proposta de redução da taxa variável do IRS de “5%” para “4,75%”. A descida proposta é “simbólica”, segundo assinala, mas mostra a intenção da Câmara de promover um “alívio fiscal” sempre que exista disponibilidade”. Do lado do Partido Socialista, a vereadora Isabel Vila-Chã mostrou-se agradada com a postura do executivo, mas disse que a redução ainda era “residual”. Em comparação com a média dos concelhos da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA), que é de “2,38%”, a socialista aponta que a alteração é “mesmo poucochinha”. Quem respondeu foi o vereador Pedro Almeida, responsável pelo pelouro das finanças, que esclareceu não só que a mudança só se vai fazer sentir em 2027, mas que deu também nota de que a medida representa uma quebra de receita de “400.000€”. O que também gerou discussão foi a taxa de IMI. Para além de manter a taxa em “0,35%”, a Câmara Municipal de Aveiro aprovou também o agravamento de “30%” na taxa de IMI para fogos devolutos em estado de degradação. Para o caso dos imóveis em estado de degradação, Isabel Vila-Chã alertou que há munícipes que podem não ter condições de os recuperar e que o agravamento do IMI os pode prejudicar. Nesse sentido, a vereadora alertou que a autarquia tem de ser “proativa” no apoio e, se necessário, poderia tomar “posse administrativa” dos imóveis para os recuperar. A sugestão não agradou a Luís Souto, que questionou a vereadora se se tratava de um regresso ao “PREC”. Da mesma forma, Rui Santos, vice-presidente da autarquia disse que “posse administrativa nunca” seria opção e, por intermédio do vereador Diogo Soares Machado, o Chega também recusou a possibilidade. Isabel Vila-Chã também propôs a criação de zonas de pressão urbanística para agravamento do IMI para casa desocupadas e Alojamento Local e formas de discriminar positivamente os pequenos negócios, isentando os volumes mais baixos, por exemplo até 150 mil euros. Enquanto a primeira proposta também não foi bem recebida pelo executivo, a segunda já teve mais aceitação. Pedro Almeida explicou que “está prevista” uma análise mais aprofundada da derrama, mas que se trata de um processo “mais complexo” que implica elaboração de regulamento a aprovar em Assembleia Municipal. A CMA decidiu também manter a aplicação do IMI Familiar e também da Taxa Municipal de Direito de Passagem.
Cais do Paraíso: PS e Chega aprovam revogação e decisão vai a Assembleia Municipal esta quinta-feira
Apesar de não ser o ponto único da ordem de trabalhos, a discussão da revogação do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso foi o que motivou a convocatória da reunião extraordinária da Câmara Municipal de Aveiro. Recorde-se que o PS pediu que se discutisse e votasse a revogação do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso logo na primeira reunião pública de Câmara do mandato, a 13 de novembro. Na altura, Luís Souto, presidente da autarquia, decidiu que o ponto não devia integrar a ordem de trabalhos da reunião, uma vez que seria necessário recolher documentação para averiguar quais as possíveis consequências da revogação. Assim sendo, garantiu que a discussão seria tida até ao Natal, ou numa reunião pública ou numa reunião extraordinária para o efeito. Depois de ter indicado na reunião pública do passado dia 4 que a reunião seria tida esta quinta-feira, dia 11, a discussão acabou por ser adiada para a passada sexta-feira, dia 12, por indisponibilidade dos vereadores socialistas. Chegados à discussão, Luís Souto começou por basear a sua argumentação na letra da lei. Citando o nº1 do artigo 127º do Decreto-Lei nº 80/2015, de 14 de maio, o autarca afirmou que “os programas e planos territoriais podem ser objeto de revogação sempre que a avaliação da evolução das condições ambientais, económicas, sociais e culturais assim o determine”. Assim sendo, por entender que “nada” mudou desde que o Plano de Pormenor entrou em vigor, em setembro, até agora, defende que não existe sustentação legal para a revogação. “Há um juiz que um dia vai pegar nisto e confrontá-los com esta criativa interpretação”, atira. O presidente salientou estar garantido pelos serviços da Câmara Municipal que “pode haver revogação” e que “não há compromissos assumidos como, por exemplo, um pedido de licenciamento”. No entanto, aponta, dar um passo atrás teria impacto. Para além de assumir que um hotel a ser construído no Cais do Paraíso criaria “cerca de 300 postos de trabalho, diretos e indiretos”, Luís Souto fala ainda em cerca de “oito milhões de euros” anuais gerados pelo empreendimento. Rui Santos, vice-presidente da CMA, aproximou-se da posição dos socialista quando disse que também gostaria que o hotel tivesse uma menor volumetria e número de pisos, mas frisou que “nunca apareceu ninguém para um investimento desta envergadura”. O vereador apontou que “o investidor também procura sítios estratégicos” e que “cabe ao decisor político fazer essa gestão”. O texto que o PS escreveu para defender a sua posição foi qualificado de “delirante” pelo presidente. Na sua ótica, os socialistas começam por avaliar a vitória nas eleições para a Junta de Freguesia da Glória e Vera Cruz como uma “decisão eleitoral sobre o processo” do Cais do Paraíso, o que é “insultar as freguesias”. Depois, “faltam à verdade” quando consideram que o Plano de Pormenor “não promove novas formas de urbanidade”. Por fim, são “presunçosos” ao dizer que existe “unanimidade social” em torno do Plano de Pormenor. Luís Souto desconsiderou ainda o pedido de informação feito pelo Ministério Público sobre o processo, dizendo que se trata de um processo judicial e que a Câmara faz “juízos políticos”. “Como presidente da Câmara, [a decisão do Ministério Público] não me interessa”, considerou. No último mês, após acusações de Alberto Souto de Miranda, candidato do PS últimas eleições autárquicas, e de Paula Urbano Antunes, vereadora do partido, o Ministério Público confirmou que pediu informações sobre o Plano de Pormenor a José Ribau Esteves, antigo presidente da autarquia. Segundo fonte da Procuradoria-Geral da República (PGR), foram solicitadas informações à autarquia no âmbito de um “dossiê de acompanhamento” para apurar se há matéria para avançar com um processo judicial. Em reação à Ria, Ribau Esteves garantiu que a Câmara “respondeu dentro do prazo e com toda a informação solicitada”. Na resposta ao autarca, Paula Urbano reiterou aquela que tem sido a posição dos socialistas: “A questão não está no hotel, está no local. Urbanisticamente é um atentado”. Já sobre a ideia de que não houve “evolução ambiental, económica, social ou cultural” desde que o Plano de Pormenor está em vigor, a socialista indicou apenas que “era proposta eleitoral do PS” e que o partido nunca foi a favor. A completar o raciocínio, o vereador Rui Castilho Dias, também do PS, acrescentou que “não se alterou nada” [desde setembro]. “Era um mau Plano de Pormenor e continua a ser um mau Plano de Pormenor”, afirmou. Esta ideia mereceu alguma discordância de Diogo Soares Machado, vereador eleito pelo Chega, que considera terem existido mudanças. "Nestas eleições, mais sete mil e tal pessoas votaram no PS do que em 2021. Isso é uma alteração das condições sociais", afirma. Paula Urbano notou também que o documento usado pelo executivo para sustentar a sua posição, intitulado “Dinâmica turística, impacto económica e relevância estratégica do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso e da unidade hoteleira prevista”, é “muito pobre e não fundamenta nada”. Nas suas palavras, “este documento parece oriundo do ChatGPT, não diz nada além de banalidades”. Rui Castilho Dias acrescentou ainda que, dos pareceres emitidos pelas entidades aquando da elaboração do Plano de Pormenor, houve vários pareceres condicionais, nomeadamente da parte do Turismo de Portugal ou da CCDRC, que levantavam dúvidas em relação ao documento. Para tentar desmistificar a questão da “unanimidade social” em torno do Plano de Pormenor, Rui Castilho Dias chegou mesmo a propor um referendo sobre o tema. Em último lugar falou Diogo Soares Machado, que criticou também a argumentação do PS por ser “poucochinha” e não se basear em “dados objetivos”. Para além de indicar que os socialistas deviam ter também requerido uma avaliação ambiental estratégica, Diogo Soares Machado alertou que o Plano de Pormenor está “irregular”. Segundo explica, após a Cais do Paraíso S.A. ter feito um Pedido de Informação Prévia (PIP) à Câmara Municipal, a empresa foi notificada de que teria de aperfeiçoar o pedido. Em causa estava parte do terreno em que se pretende construir o hotel, ainda integrado no domínio público do Município. Ou seja, nas palavras de Diogo Machado, a empresa “pretende construir o hotel em terrenos que não são dela”. A passagem do domínio público para o privado é uma decisão que ainda tem de passar pela Assembleia Municipal. Finda a sua intervenção, o vereador do Chega propôs que se voltasse a adiar a votação de forma a estar resolvido o processo que a família Bóia interpôs contra a Câmara Municipal de Aveiro (CMA) e a investigação do Ministério Público. Da mesma forma, Diogo Machado queria ainda poder reunir com a Cais do Paraíso S.A. para averiguar a disponibilidade para rever o projeto da unidade hoteleira. Esta sugestão foi recusada pelo PS, que quis votar a revogação do Plano ainda durante a reunião. No momento da votação, Diogo Soares Machado acabou mesmo por se juntar aos vereadores da oposição e fez aprovar a revogação do Plano, para surpresa de Luís Souto e de Rui Santos. O documento segue agora para apreciação e deliberação na Assembleia Municipal marcada para esta quinta-feira, 18 de dezembro, pelas 20h30. Questionado à margem da reunião sobre o seu sentido de voto, o vereador do Chega explicou à Ria que “sem resolver o pecado original”, que foi a não passagem de todos os terrenos do domínio público para o domínio privado, “a revogação era o único caminho”. No seu entender, a responsabilidade recai apenas sobre o executivo do ex-presidente Ribau Esteves, pelo que “não é culpa do investidor e muito menos é culpa do presidente Luís Souto”. Quem esteve presente durante toda a reunião foi Nuno Pereira, responsável de desenvolvimento de projetos imobiliários da marca Mully Group, a que o hotel está associado. Recorde-se que o responsável já falou com a Ria aquando da primeira discussão do Plano de Pormenor. Diogo Soares Machado falou com o responsável e conta que ficou “agradavelmente surpreendido” com a postura demonstrada, dizendo que já ficou com a reunião marcada para a próxima semana. Caso esta reunião se pudesse ter realizado mais cedo, Diogo Soares Machado assume que a revogação do Plano “podia ter sido evitada”. Numa publicação feita através das suas redes sociais, Alberto Souto de Miranda diz que o dia da reunião de Câmara foi “auspicioso” para o Município, mas que se trata apenas de uma “meia-vitória”. Agora, como o processo ainda tem de ser votado em Assembleia Municipal, “importa prosseguir no esforço de sensibilização dos novos deputados eleitos e do sr. presidente de Câmara”. Recorde-se que a Assembleia Municipal de Aveiro é maioritariamente composta por eleitos da ‘Aliança com Aveiro’, pelo que se existir disciplina de voto entre os deputados do PSD e CDS no sentido de não revogar o Plano, então a votação está garantida. Alberto Souto argumenta que as “eventuais consequências gravosas” que Luís Souto já tinha mencionado deixam de ser uma hipótese, uma vez que “os serviços jurídicos demonstraram que a revogação não implicará nenhuma indemnização por força de qualquer processo de obras pendente”. Mesmo que isso não se verificasse, diz o socialista, “será sempre preferível ter de pagar alguma indemnização do que ter de conviver décadas com a menos-valia daquele abcesso urbanístico”. O ex-candidato acusa ainda o atual autarca de não ter procurado reunir com o investidor para explorar possíveis alternativas e “lamenta muito a forma como o sr. presidente trata os seus colegas vereadores e distrata as razões da oposição”. Na sua opinião, “uma decisão com este impacto no território e no tempo merecia melhor do que piadinhas escusadas e números de circo retórico”. A terminar, Alberto Souto questiona o porquê de se aprovar um documento de que “só três pessoas gostam” – Ribau Esteves, Luís Souto e o promotor – e sugere ao presidente que reúna com Nuno Pereira. “Proponha- lhe outros terrenos e outra volumetria. Vai ficar surpreendido com a flexibilidade e pragmatismo de alguns investidores. Obtusos e cegos urbanísticos só mesmo alguns políticos”, atirou. Recorde-se que a discussão do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso esteve no centro da discussão que antecedeu as últimas eleições autárquicas. Na altura, todos os partidos da oposição se manifestaram contra a aprovação do Plano, que acusaram de não ser “opaco”, e disseram que a discussão deveria ser deixada para o novo mandato. Apesar das críticas, o documento foi aprovado em reunião da Câmara Municipal de Aveiro (CMA) no passado dia 27 de agosto, naquela que foi uma das reuniões mais concorridas do mandato do ex-presidente José Ribau Esteves. Aí, mereceu o voto contra dos três vereadores eleitos pelo Partido Socialista, que se opuseram aos seis eleitos pela ‘Aliança com Aveiro’. Na Assembleia Municipal de 2 de setembro, o Plano passou a última barreira ao ser aprovado com os votos favoráveis dos deputados eleitos pelo PSD e pelo CDS. Lembre-se que a revogação do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso era um dos compromissos eleitorais do Partido Socialista. Da mesma forma, numa conferência de imprensa marcada antes das eleições, Diogo Soares Machado, na altura cabeça-de-lista da candidatura do Chega, garantiu que, mesmo considerando todas as contrariedades possíveis, revogaria o documento. Por seu lado, Luís Souto, à época candidato pela ‘Aliança com Aveiro’, votou a favor do Plano enquanto presidente da Assembleia Municipal de Aveiro (AMA). À margem dessa reunião, o autarca garantiu à Ria que, se fosse eleito, a revogação do Plano estava fora de questão.
ANMP: Ribau Esteves defende descentralização de entidades do Estado
“Este aprofundamento da descentralização e autonomia do poder local deve ser também um exemplo para o Estado, que estimule e pressione Governo e Assembleia da República para que outras unidades do Estado ganhem mais autonomia e ganhem com a descentralização de competências”, afirmou Ribau Esteves, que foi presidente das autarquias de Ílhavo e Aveiro e não se recandidatou a presidente de câmara nas autárquicas de outubro. Ribau Esteves falava no XXVII Congresso da ANMP, que decorreu até domingo em Viana do Castelo, alertou que “o país está doente de tanto parecer, de tanta espera das Finanças” e de processos que fazem os autarcas “perder muito tempo e gastar recursos com aquilo que não faz falta”. “Que sejamos um exemplo que estimule o país a aprofundar esse papel de uma democracia que já tem idade para ser madura para confiar nas componentes do Estado para que elas sejam mais responsáveis e, sendo mais responsáveis, a responsabilização estará ao lado delas”, observou. Centenas de autarcas estiveram reunidos no passado fim de semana, 13 e 14 de dezembro, em Viana do Castelo, para eleger a nova direção da ANMP e debater temas como a descentralização e as finanças locais. Tal como avançado pela Ria, nesta sessão eleitoral, o presidente da Câmara Municipal de Pombal, Pedro Pimpão (PSD), foi eleito presidente da ANMP, sucedendo à socialista Luísa Salgueiro, autarca de Matosinhos e presidente do Conselho Diretivo desde 2021. Apesar de Aveiro não figurar nesta nova equipa executiva, Luís Souto de Miranda, presidente da Câmara de Aveiro, conseguiu garantir a eleição como membro efetivo no Conselho Geral da associação, órgão que reúne 61 representantes dos municípios portugueses e desempenha um papel muito semelhante a uma Assembleia Geral.
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Ílhavo recebe Bandeira Verde ECOXXI por políticas orientadas para sustentabilidade ambiental
Segundo explicam os responsáveis da Câmara Municipal de Ílhavo (CMI), o galardão serve para reconhecer o desempenho dos municípios na implementação de políticas públicas orientadas para a sustentabilidade ambiental, ao ultrapassar os 70% de cumprimento dos critérios avaliados em 2025. O prémio resulta da avaliação anual realizada no âmbito do Programa ECOXXI, que analisa o compromisso dos municípios com 21 indicadores ambientais, económicos e sociais, bem como a evolução e a consistência das políticas públicas desenvolvidas ao longo do ano. Em 2025, o Município de Ílhavo integrou o grupo dos 60 municípios galardoados, entre 61 candidaturas apresentadas a nível nacional, destacando-se pelos resultados alcançados e pelo progresso contínuo em áreas como a educação ambiental, a mobilidade sustentável e o turismo responsável.
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AAUAv: Debate eleitoral hoje às 21h00 no Auditório Renato Araújo
A sessão é aberta ao público, mas limitada aos 475 lugares disponíveis no auditório. Os interessados poderão também acompanhar o debate em direto nas páginas de Facebook e YouTube da Ria - Rádio Universitária de Aveiro. A apresentação ficará a cargo de Isabel Cunha Marques, diretora de Informação da Rádio Universitária de Aveiro, e contará com a participação de Joana Regadas, atual presidente da direção da AAUAv e líder da Lista A, e Leonor Lopes, líder da Lista D. O debate inicia-se com um momento de apresentação das listas, durante o qual cada candidata dispõe de cinco minutos para expor livremente a sua visão e principais propostas. Segue-se um bloco central, com um frente a frente de trinta minutos, conduzido de forma semelhante aos debates televisivos. Posteriormente, serão selecionadas duas perguntas enviadas pelos estudantes que serão respondidas pelas candidatas. O formulário para envio das perguntas será divulgado no início do debate. Segue-se um momento de confronto direto, no qual cada candidata pode dirigir uma pergunta à adversária, com resposta e contrarresposta limitadas a dois minutos e meio. O debate termina com uma mensagem final de apelo ao voto, com a duração de um minuto e meio para cada candidata.
Câmara de Aveiro reduz taxa de participação no IRS em 0,25 pontos percentuais
Cumprindo com aquilo a que se tinha proposta aquando da apresentação do seu programa eleitoral, Luís Souto, presidente da autarquia, levou a reunião de Câmara a proposta de redução da taxa variável do IRS de “5%” para “4,75%”. A descida proposta é “simbólica”, segundo assinala, mas mostra a intenção da Câmara de promover um “alívio fiscal” sempre que exista disponibilidade”. Do lado do Partido Socialista, a vereadora Isabel Vila-Chã mostrou-se agradada com a postura do executivo, mas disse que a redução ainda era “residual”. Em comparação com a média dos concelhos da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA), que é de “2,38%”, a socialista aponta que a alteração é “mesmo poucochinha”. Quem respondeu foi o vereador Pedro Almeida, responsável pelo pelouro das finanças, que esclareceu não só que a mudança só se vai fazer sentir em 2027, mas que deu também nota de que a medida representa uma quebra de receita de “400.000€”. O que também gerou discussão foi a taxa de IMI. Para além de manter a taxa em “0,35%”, a Câmara Municipal de Aveiro aprovou também o agravamento de “30%” na taxa de IMI para fogos devolutos em estado de degradação. Para o caso dos imóveis em estado de degradação, Isabel Vila-Chã alertou que há munícipes que podem não ter condições de os recuperar e que o agravamento do IMI os pode prejudicar. Nesse sentido, a vereadora alertou que a autarquia tem de ser “proativa” no apoio e, se necessário, poderia tomar “posse administrativa” dos imóveis para os recuperar. A sugestão não agradou a Luís Souto, que questionou a vereadora se se tratava de um regresso ao “PREC”. Da mesma forma, Rui Santos, vice-presidente da autarquia disse que “posse administrativa nunca” seria opção e, por intermédio do vereador Diogo Soares Machado, o Chega também recusou a possibilidade. Isabel Vila-Chã também propôs a criação de zonas de pressão urbanística para agravamento do IMI para casa desocupadas e Alojamento Local e formas de discriminar positivamente os pequenos negócios, isentando os volumes mais baixos, por exemplo até 150 mil euros. Enquanto a primeira proposta também não foi bem recebida pelo executivo, a segunda já teve mais aceitação. Pedro Almeida explicou que “está prevista” uma análise mais aprofundada da derrama, mas que se trata de um processo “mais complexo” que implica elaboração de regulamento a aprovar em Assembleia Municipal. A CMA decidiu também manter a aplicação do IMI Familiar e também da Taxa Municipal de Direito de Passagem.