"Ensino: a prioridade sazonal", opinião de Joana Regadas
Joana Regadas é natural de Lousada, distrito do Porto, e presidente da direção da AAUAv desde janeiro de 2025. Tem 25 anos e é mestre em Engenharia Biomédica.
Joana Regadas
OpiniãoHabituámo-nos enquanto seres humanos a diferentes épocas ao longo do ano. Vemos nas épocas festivas o aconchego da família, nos Santos Populares o festejo do início do verão, do convívio entre amigos e família, e na época balnear o prazeroso agosto que promete repor todas as energias, realinhar as ideias e deixar todas e quaisquer preocupações para trás. Há, no entanto, uma época bastante característica em Portugal, que ao contrário das outras três vem carregada de muita reflexão e notícias preocupantes: a época educacional, traduzida como o único período do ano em que se ouve falar sobre o ensino.
Todas estas quatro épocas, apesar de muito diferentes, têm alguns fatores em comum: são sazonais, previsíveis e repetem-se de ano para ano.
Porém, seria de esperar que a educação e o ensino - o fundamento do crescimento de qualquer sociedade - não aparecessem apenas em duas ocasiões ao longo do ano e sempre com as mesmas motivações. Vemos entre meados de junho/julho um acordar para a importância da educação, ouvimos falar da preocupação dos estudantes que irão realizar os exames nacionais, avalia-se o grau de dificuldade dos mesmos, discute-se a falta de preparação dos alunos, o desajuste dos programas curriculares e um ensino focado apenas para estes momentos, refletem-se anos de estudo nos resultados e estabelece-se um ranking das melhores escolas.
Nas primeiras semanas de agosto o interesse na educação volta a reduzir (não caindo para os seus mínimos, isso só é atingido ao longo do ano letivo), discutindo-se com apreensão o número de candidatos ao Ensino Superior. Até que chega o final de agosto e início de setembro, onde o apogeu das notícias, preocupações, deambulações, opiniões, introspeções sobre o ensino acontece. Ficamos cercados com a informação previsível, sazonal e repetitiva, falta de professores e resultados das candidaturas ao Ensino Superior. Chamam-se peritos, dá-se palco a estudantes, professores, quem durante todo o ano se encontra esquecido, mas que nesta altura tem lugar cativo em horário nobre, tentam-se encontrar justificações para o que continua a falhar e em outubro esquecemo-nos de novo desta problemática.
Este ano a sazonalidade das épocas mantêm-se, os Santos Populares decorreram da mesma forma, a época balnear com os já tradicionais incêndios florestais (mais uma época sazonal, que fica bem guardada na gaveta quando não é o seu tempo) e o ensino encontra-se com visualizações acima do normal. Apesar da normalidade no decorrer do ano é de notar que as notícias sobre o ensino sofreram algumas alterações, no entanto estas não trazem com elas dados que nos apaziguem.
No início de agosto relatava-se uma diminuição significativa no número de candidatos ao Ensino Superior, próximo dos valores de há 7 anos e no passado domingo as preocupações agravaram-se ainda mais, com menos 6 mil alunos a entrarem no Ensino Superior, 11.500 vagas por preencher e com muitos cursos com nenhum estudante colocado.
Estes são de facto números alarmantes, números para os quais se discutem inúmeras justificações. Serão os custos associados ao Ensino Superior que explicam estes resultados, ou terá sido a alteração no modelo de acesso? Será um desajuste do ensino superior à procura das novas gerações, ou falta de esperança de que a aposta numa educação superior se reflita numa carreira profissional melhor? Poderá este número inverter-se na segunda fase, havendo mais estudantes que estão habilitados a candidatar-se ao Ensino Superior?
Podemos tentar ser pragmáticos e fazer o exercício de analisar cada uma das possíveis justificações de forma individual.
A primeira hipótese, e talvez mais consensual entre os comentadores, está relacionada com os custos associados ao Ensino Superior, custos estes que vão desde a habitação, aos transportes, à socialização e à alimentação, que chegam a rondar em Lisboa os cerca de 900 €, sabendo que em Aveiro um quarto ronda os 350€-400€, é expectável que o orçamento mensal não fique muito longe deste valor. É necessário partir esta questão em duas. Se por um lado este ano não se verificou um aumento significativo no alojamento, por outro o poder de compra das famílias tem vindo a diminuir, o que levanta a questão: “Será este o primeiro ano onde as famílias estejam a sentir as dificuldades económicas anunciadas já desde há algum tempo?”. Esta pode ser de facto uma justificação, principalmente para os resultados obtidos na Universidade de Aveiro, maioritariamente composta por estudantes deslocados. As questões que se colocam, caso seja esta a principal razão, são diversas, os complementos atuais deixaram de ser suficientes, estes estudantes deslocados optaram pelo Ensino Superior Privado devido aos custos associados à permanência enquanto estudante deslocado ser superior às propinas no privado, existe informação suficiente dos apoios existentes. Uma conclusão é certa, sendo esta a principal razão, ou só mais uma no bolo é de facto urgente reformular o sistema de ação social!
É preciso, também, refletir sobre as implicações das alterações do modelo de acesso, modelo alterado em 2023 e que regressa com os exames obrigatórios para a conclusão do ensino secundário e que passou a obrigar a ter dois exames como prova de ingresso valendo cada um pelo menos 50%. Esta decisão foi fundamentada como necessária para nivelar a inflação das notas, promovidas em diferentes contextos escolares, no entanto, quando esta hipótese é colocada em cima da mesa é necessário de facto questionar se os exames nacionais são um fator nivelador ou não. Alguns dados importantes revelam-nos que os resultados dos exames nacionais subiram no ensino privado e desceram no público, e no acesso ao Ensino Superior verificou-se também uma diminuição dos estudantes em situações socioeconómicas desfavorecidas. A combinação destes dois fatores deve iniciar uma reflexão sobre se este modelo está de facto a cumprir o objetivo ou a perpetuar o distanciamento entre classes sociais mais baixas (com menos poder económico para investir num percurso com diferentes pedagogias e metodologias de apoio) e o acesso ao ensino superior. Estarão de facto os exames nacionais a colocar todos os alunos nas mesmas circunstâncias?
A outra questão levantada encontra-se relacionada com o reconhecimento de valor no ensino superior pelas novas gerações, e para isso é importante, também, recordar dados recolhidos aquando da inscrição nos exames nacionais, onde o número de estudantes que respondeu positivamente se pretendiam ingressar no Ensino Superior, e se iam usar os exames nacionais para tal, diminuiu face a 2024. Porque estará a diminuir o interesse dos jovens em ir para o Ensino Superior, estarão à priori conscientes das dificuldades económicas familiares, estarão a optar por soluções fora de Portugal ou têm receio de que ter uma licenciatura em Portugal já não seja o suficiente para ter um emprego de qualidade?
No meio de toda a discussão instaurada, e com a cautela necessária para não tirar conclusões antes dos resultados da 2º fase, não pode ficar esquecido o futuro. Daqui a 3, 5 anos teremos menos pessoas com um grau superior a entrar no mercado do trabalho, representarão estes menos 6 mil alunos de agora, menos 6 mil postos de trabalho qualificado no futuro de Portugal? Que futuro podemos esperar se esta tendência não for invertida? Será Portugal capaz de atingir o objetivo até 2030 de 45 % da população entre os 25 e 30 anos com licenciatura, ou irá, uma vez mais permanecer na cauda da Europa?
As teorias são diversas, e as problemáticas enfrentadas agora são reflexo da sazonalidade da discussão do ensino em Portugal, que não tem palco nos programas eleitorais e que não é discutida a longo prazo. Resta-nos a esperança de saber que, pelo menos, durante o próximo mês o ensino estará na agenda do país.
Recomendações
Pais de estudantes colocados na Universidade de Aveiro enfrentam corrida contra o tempo e os preços
Terça-feira. 10h00. Estamos na conhecida zona da Vila Jovem. À primeira vista, tudo parece decorrer com a normalidade habitual: moradores a circular, o som de um camião do lixo a cumprir a sua rotina e, ao fundo, o barulho constante das obras que avançam no Mercado de Santiago. Mas há um detalhe que salta à vista. Nos edifícios de tons alaranjados, multiplicam-se os anúncios de quartos disponíveis para estudantes. Nada de surpreendente, tendo em conta que, há apenas três dias, foram divulgados os resultados da 1.ª fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior. Num desses prédios, no último andar, destaca-se um cartaz em letras grandes e vermelhas: “Aluga-se quarto a menina”, seguido do contacto telefónico. Ligamos. Do outro lado, o proprietário informa: 270 euros mais despesas. Agradecemos e seguimos. Sem que o esperássemos, um homem que circulava pelo local aproxima-se. A forma como nos aborda denuncia que procura potenciais interessados em arrendar quarto. A nossa suspeita confirma-se. Questiona-nos se procuramos alojamento. Respondemos que sim. Quer saber se somos estudantes. Voltamos a confirmar. Explica-nos, então, que já não tem quartos disponíveis. A única opção seria a sala de um T2 que transformou em quarto. Por esse espaço, pede 280 euros mais despesas. Garante que cobra menos 20 euros do que o valor habitual de um quarto e que passaria recibo. Assinalamos que o preço continua elevado face à capacidade económica da maioria das famílias. Face ao desabafo, partilha que por ali é difícil arranjar mais barato e que naquela zona só mesmo no Bairro de Santiago. Entre críticas, lamenta ainda a carga fiscal sobre os contratos de arrendamento. Conta que foi esse o motivo que fez aumentar tanto as rendas e confidencia até que, há poucos anos, chegou a arrendar quartos por 180 euros em Aveiro. Voltamos a agradecer e referimos que no caso de interesse o procuraríamos novamente. Prosseguimos a nossa caminhada pela Vila Jovem. Uns metros à frente de onde nos encontrávamos avistamos um outro anúncio, novamente, para rapariga. Decidimos retirar o número e contactar. Mal nos atendem questionam-nos de imediato se somos estudantes e do primeiro ano. Referimos que sim. Mal respondemos informam-nos que aquele quarto tem o valor de 320 euros com as despesas incluídas. Com recibo, o valor mantém-se, mas com um detalhe: apenas seriam declarados 260 euros. A justificação vem logo a seguir: os restantes 60 euros destinam-se a cobrir internet, eletricidade e água. Por quem lá habita, os anúncios em janelas já não surpreendem ninguém. É todos os anos a mesma coisa”, dizem duas moradoras, sentadas nos degraus de uma escada. Estão habituadas à azáfama dos pais que procuram quartos “desesperadamente” para os filhos. Ainda assim, não escondem a preocupação com a escalada dos preços em Aveiro. Comentam, sem que o tema lhes seja alheio, que até já repararam no número mais baixo de candidatos à primeira fase do Ensino Superior, este ano. “Não nos espanta. Como é possível um pobre estudar assim?”, questionam. Sem que lhes perguntemos, uma delas partilha a sua experiência: trabalha em limpezas num T4, ali perto, arrendado a estudantes. “Cada um paga 350 euros, com tudo incluído”, conta. E conclui, num tom irónico: “Basta fazer as contas”. Os números confirmam a perceção. Segundo o último relatório disponível do Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior (PNAES), o preço médio de um quarto em Aveiro rondava, em julho, os 330 euros, havendo valores entre um mínimo de 162 e um máximo de 500 euros. Esta segunda-feira, 25 de agosto, o Expresso lançou um simulador interativo que permite calcular o impacto financeiro da entrada de um estudante no Ensino Superior. Decidimos experimentar para o caso de Aveiro, colocando o cenário mais comum: um estudante deslocado e sem bolsa. O resultado fala por si. Entre 70 euros de propinas, 350 de renda, 88 para alimentação, 21 para comunicações, 13 para lazer e 23 para outros gastos, a conta mensal sobe para 565 euros. Um valor que, por quem anda nestes dias à procura de quarto, já não soa a surpresa. Apenas a confirmação do peso que a nova etapa terá no orçamento familiar. É o caso de um casal de Seia, que acompanhava a filha que entrou no curso de Economia na Universidade de Aveiro (UA). “Vai mexer bastante com o rendimento da família”, admite o pai. Contam-nos que já tinham estado na cidade no fim de semana anterior, mas voltaram para tentar encontrar algo mais em conta. Até agora, os preços que viram variam entre 300 e 400 euros. Muito acima do que poderiam suportar, reconhecem. Mas, depois de uma longa viagem até Aveiro, confessam que “hoje” teria de ficar resolvido. Se na Vila Jovem ainda se encontram alguns anúncios de quartos para arrendar, a Rua Doutor Mário Sacramento mostra uma realidade diferente. Aqui, são mais os pais que circulam do que os cartazes nas janelas. Neste dia, vimos apenas um anúncio, com o valor de 350 euros com recibo. Essa dificuldade em encontrar quarto é partilhada por uma família de Aguiar da Beira. “Ainda vimos pouco e, do que vimos, já estava mais ou menos reservado”, explica a mãe do estudante que entrou em Biologia na UA. Sobre os preços com que se depararam comentam que os mesmo rondam os 300 a 350 euros. Quando questionada se esses valores a deixam confortável, a mãe sorri e responde com clara ironia: “Que remédio”. E acrescenta, preocupada: “Está a afastar os nossos jovens do Ensino Superior”. “Não vale a pena arranjar outras desculpas porque esta será sempre a prioritária. É caro, nem toda a gente consegue. (…) Todas as despesas juntas não são fáceis”, exprime. Recorde-se que em entrevista à Ria, esta segunda-feira, Joana Regadas, presidente da direção da Associação Académica da Universidade de Aveiro (AAUAv), sublinhou que os custos associados à frequência no Ensino Superior em Aveiro podem ser parte da explicação que justifica a quebra sem precedentes do número de estudantes colocados na primeira fase, registada, este ano letivo, também na UA: das 2.334 vagas disponíveis, 400 não foram ocupadas. Se esta é a realidade na Rua Doutor Mário Sacramento, no Bairro da Gulbenkian a situação não é muito diferente. Entre os poucos anúncios que se avistam nos postes de eletricidade, são cada vez mais raros os afixados nas varandas ou janelas. Por lá, cruzamo-nos com outra mãe, acompanhada do filho. Vêm de Águeda e aguardam a chegada do senhorio para visitar uma casa que tinham agendado. A mãe explica que souberam do espaço através de um conhecido. Sobre os preços encontrados, admite valores entre 250 euros mais despesas e 350 a 400 euros, a maior parte sem recibo. “Se o valor for muito alto, talvez a opção seja ir e vir… considerando a distância”, comenta, acrescentando que o filho tem a vantagem de ter carta e carro próprio. “Se fossemos de mais longe, não teríamos outra hipótese. São valores absurdos por um quarto”, acrescenta. O estudante, que entrou em contabilidade na UA, confirma que, mesmo com os preços elevados, os quartos esgotam rapidamente, dado a escassa oferta. “Independentemente das condições, há sempre alguém que fica com o quarto”, afirma.
Universidade de Aveiro recebe Semana Nacional do Poliempreende a partir da próxima segunda-feira
Por uma semana, Aveiro é a capital do empreendedorismo. São 20 equipas compostas por até três estudantes e dois ou três técnicos ou docentes a defender ideias para vencer o concurso nacional do Poliempreende. No total, espera-se a participação de cerca de 120 pessoas. Os estudantes que agora se vão deslocar a Aveiro já se revelaram os melhores nas suas instituições de ensino. Isto porque, antes de partir para o concurso nacional, decorre o concurso regional do Poliempreende para apurar quem se qualifica para a próxima fase. Cada equipa traz consigo um projeto inovador que precisa de vender ao júri. Em conversa com a Ria, Eva Andrade, da UACOOPERA, estrutura da Universidade voltada para o empreendedorismo e para a ligação da instituição com o exterior, explica que a organização procura sempre ter jurados “habituados a avaliar projetos empreendedores”. A título de exemplo, a responsável afirma que, no concurso interno da UA, foram júris Marta Marques, coordenadora do Gabinete de Transferência de Tecnologia da Universidade, Adriana Costa, diretora da UA Incubator e business angel Pedro Bandeira. Para além dos jurados especializados, também os patrocinadores da iniciativa são parte do júri. É o caso da Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), que assegura o primeiro prémio no valor de dez mil euros, do Banco Santander, que assegura o segundo prémio no valor de cinco mil euros, e da Ordem dos Contabilistas Certificados, que assegura o terceiro prémio no valor de três mil euros. A competição tem data marcada para quinta-feira, dia 4 de setembro. Nesse dia são feitas as apresentações de todos os projetos. Cada equipa tem sete minutos para fazer o seu pitch e depois o júri tem a oportunidade de colocar questões sobre o seu trabalho. A decisão é tomada ao final do dia e anunciada no jantar de gala que fecha o concurso. A semana, no entanto, não é apenas competitiva. Para além do dia dedicado ao projeto e de uma tarde em que as equipas vão receber mentoria da consultora BGI e das quatro juniores empresas aveirenses, realizam-se também várias ações de formação e capacitação. Os participantes vão visitar duas empresas da região, a OLI e a Ubiwhere, vão ter a oportunidade de participar num workshop dedicado ao desenvolvimento de competências de comunicação e vão poder assistir ao “Show da Física”, que vai ter lugar no Complexo Pedagógico. Vão estar presentes na iniciativa a UA, o Politécnico da Guarda, Santarém, Castelo Branco, Leiria, Lisboa, Coimbra, Beja, Viana do Castelo, Portalegre, Cávado e do Ave, Bragança, Viseu, Porto, Setúbal e Tomar e ainda a Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, a Universidade do Algarve, a Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril e a Universidade da Madeira. À Ria, Eva Andrade conta ainda que será no jantar de gala que a Universidade de Aveiro vai passar o testemunho à próxima organização. De acordo com a responsável, a bandeira do Poliempreende vai passar para as mãos da Universidade do Algarve, que organizará o evento no próximo ano.
Reitor da UA e AAUAv mostram-se apreensivos em relação à redução de colocados no Ensino Superior
Conforme noticiado pela Ria, o número de estudantes colocados na 1.ª fase sofreu uma quebra sem precedentes: menos 6.064 alunos, o que corresponde a uma redução de 12,1% face a 2024. Na UA, a tendência foi semelhante, com uma descida significativa. Enquanto no ano passado apenas 1,2% das vagas ficaram por preencher, este ano a taxa subiu para 17,1%. Das 2.334 vagas disponíveis, 400 não foram ocupadas. No entendimento de Paulo Jorge Ferreira a quebra deve-se a algo que “ocorreu este ano e que não ocorreu nos outros”. O também presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) defende que uma maior taxa de retenção no 12º ano pode ajudar a justificar o menor número de colocados. Embora acredite que menos alunos tenham conseguido concluir o ensino secundário no último ano, o responsável reconhece não ter ainda uma explicação definitiva para a diminuição registada. Uma das possibilidades prende-se com a mudança nas condições de acesso ao Ensino Superior, nomeadamente com a exigência do exame nacional de português. Segundo Paulo Jorge Ferreira, a obrigatoriedade de realizar a prova pode ter gerado um “problema” e reduzido o lote de potenciais candidatos às universidades e institutos politécnicos. O reitor afasta, contudo, a hipótese de a quebra estar relacionada com fatores demográficos, lembrando que “há 18 anos não houve uma redução de 15% nos nascimentos”. Ao mesmo tempo, considera que “15% dos jovens não se desconvenceu da importância de uma formação superior”. Apesar de tudo, o reitor mantém alguma esperança de que haja uma recuperação na segunda fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior. Depois de estarem colocados todos os candidatos, Paulo Jorge Ferreira pede que se analisem os números com “frieza”. Olhando para o caso concreto da UA, Paulo Jorge Ferreira nota que a instituição sentiu mais o impacto porque, no último ano, as vagas estavam “virtualmente quase todas preenchidas”. No país, acredita que a UA segue a tendência das regiões homólogas, onde a pressão e a procura são ligeiramente inferiores às registadas em Lisboa e no Porto. O reitor nota também que a UA foi especialmente afetada no sentido em que, nalgumas das áreas que tem forte representação, houve uma “redução muito drástica” do número de candidatos a nível nacional. O curso de Engenharia de Computadores e Informática é o curso da UA que mais vagas sobrantes deixa para a 2ª fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior, ainda com 46 lugares por preencher. O curso de Biologia deixa 42 vagas e o curso de Ciências do Mar deixa 27. Alguns cursos, como Geologia ou Meteorologia, Oceanografia e Clima, só tiveram um aluno colocado. Joana Regadas considera que os números merecem “muita reflexão”. Sendo a Universidade de Aveiro uma instituição que tem um “programa curricular diferenciado que capta muitos estudantes”, é preciso, no entender da dirigente associativa, perceber porque é que este ano isso não foi suficiente para cumprir os objetivos. Os custos associados à frequência no Ensino Superior em Aveiro podem ser parte da explicação, acredita. A crença é sustentada pelas conversas que diz já ter tido esta manhã, dia 25 de agosto, com alguns pais dos novos estudantes. Joana Regadas conta que no centro das preocupações têm estado os custos do alojamento na cidade: “Muitos pais querem encontrar um quarto e as opções são de 350 euros para cima. Os 350 na sua grande maioria são quartos sem contrato e sem recibo. Acredito que isto também esteja a pesar no momento de escolher Aveiro”. No entanto, a estudante não acredita que o aumento dos custos com o alojamento possa ser o único fator a justificar a quebra. Cautelosa, Joana Regadas defende que é preciso esperar pela segunda fase de candidaturas para poder tirar conclusões. Aí, será possível observar se os estudantes preferiram optar pelo privado ao invés do público e que tipo de mudanças existem no acesso ao ensino politécnico. Ainda como hipótese, Joana Regadas nota que é preciso refletir sobre o possível impacto da alteração das condições de acesso ao Ensino Superior e da desinformação associada. No mesmo sentido, a dirigente acrescenta que é importante questionar se as pessoas deixaram de ver valor nas universidades. A presidente da AAUAv não deixa de se mostrar preocupada com o que os números podem representar a longo prazo. Conforme afirma , se a tendência se mantiver no próximo dez anos, Portugal vai passar a ter um mercado de trabalho “enfraquecido”. Com as matrículas já a decorrer, Joana Regadas alerta ainda para o perigo de haver quem se matricule, mas que depois não seja capaz de suportar a despesa que a frequência na universidade significa. A “sobrelotação” da cidade de Aveiro traz problemas acrescidos e o preço da habitação, somado aos restantes encargos financeiros associados, representa um novo orçamento para as famílias. A mesma questão é levantada por Paulo Jorge Ferreira. O reitor da UA recorda que no último ano houve instituições que chegaram a preencher 100% das vagas e que tinham transitado para a 2ª fase do concurso em desvantagem. O problema deve-se sobretudo às dificuldades em encontrar alojamento a preços comportáveis. Não obstante, Paulo Jorge Ferreira crê que as medidas tomadas pelas instituições para aumentar a capacidade de alojamento vão mitigar o problema. A segunda fase de candidaturas ao Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior começou hoje, dia 25, e termina no próximo dia 3 de setembro.
Tuna Feminina da AAUAv coroada melhor tuna em festival internacional no Peru
As distinções foram uma surpresa para a Tuna, conta Inês Teixeira, uma das organizadoras da viagem. Em conversa com a Ria, a estudante da Universidade de Aveiro explica que a diversidade cultural que se viveu em Lima foi “tão bonita” que as aveirenses não estavam a contar ser galardoadas. Não obstante, confessa estar “muito contente” e receber o prémio de “braços abertos”. Apesar de só dez membros da Tuna terem embarcado rumo à América Latina, Inês Saraiva acredita que a atuação no festival foi muito positiva. A experiência e a troca cultural têm “enriquecido” o grupo, acrescenta a estudante, que nota poder observar o “quão diferentes e semelhantes” são as diferentes tunas femininas do mundo. O VII SANMARTINAS – Festival Internacional da Tuna Femenina de Derecho contou com a presença de sete tunas femininas a concurso, incluindo três tunas peruanas e quatro tunas internacionais (Portugal, Países Baixos, Colômbia e Chile), além de 4 tunas convidadas. A TFAAUAv destaca a particularidade de ser a tuna madrinha da tuna anfitriã, a Tuna Femenina de Derecho da Universidad de San Martín de Porres. Findo o festival, as aveirenses continuam por terras peruanas. Num registo mais descontraído e informal, Inês Saraiva afirma que o grupo tem sido muito bem recebido e diz estar a gostar muito da experiência.
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Dia D no Cais do Paraíso: Investidores falam em exclusivo antes da votação decisiva na Câmara
Num trabalho de investigação jornalística, a Ria começou por aceder à certidão permanente do registo predial do terreno onde agora se pretende construir um hotel com 12 andares e que foi, em tempos, propriedade da Fábrica Bóia & Irmão. Segundo o documento, foi “numa compra em processo de insolvência”, registada na Conservatória do Registo Predial de Ansião a 21 de março de 2016, que a empresa Raízes Seculares – Compra e Venda de Imóveis, Lda. passou a ser a proprietária do imóvel. Trata-se de uma sociedade por quotas, com sede em Águeda, detida em partes iguais por Dina Maria Nunes Ferreira e Luís Pedro de Almeida, que exercem também funções de gerentes. Cerca de dois anos depois, a 4 de junho de 2018, a Raízes Seculares vendeu o terreno a uma sociedade anónima. O processo, registado na Conservatória do Registo Predial do Entroncamento, identificou a nova proprietária: a Cais do Paraíso, S.A.. A Ria tentou contactar as duas conservatórias para aceder às escrituras que indicariam os valores envolvidos nas transações, mas até ao momento não foi possível obter resposta. Poucos meses depois, a 31 de janeiro de 2019, o presidente da Câmara de Aveiro, José Ribau Esteves, numa conferência sobre turismo realizada na Universidade de Aveiro, anunciava publicamente a vinda de um hotel de cinco estrelas com centro de congressos para o Cais do Paraíso, conforme noticiado na altura pelo Notícias de Aveiro. O autarca deixava mesmo um aviso: “Quando eu disser onde vai ser, quantos pisos tem, etc., vai cair o Carmo e a Trindade a algumas almas.” E não estava enganado. A polémica começou de imediato, já que à data não era possível, com a legislação em vigor, construir um hotel de 12 andares naquela zona. O Plano Diretor Municipal (PDM) - revisto em 2019 - limitava a capacidade construtiva a 7 pisos. Para o presidente da autarquia pré-anunciar um projeto daquela dimensão teria de estar certo de que seria aprovado um instrumento legal que permitisse aumentar a volumetria. É nesse contexto que surge o Plano de Pormenor do Cais do Paraíso. O Plano de Pormenor é um documento legal que detalha a ocupação de um terreno: indica onde podem ser construídos edifícios, quantos andares podem ter e que áreas ficam destinadas a jardins, estacionamentos ou serviços. Sem este plano aprovado, não é possível avançar com projetos urbanísticos de grande escala, como hotéis ou centros comerciais. A polémica adensou-se em abril de 2022, quando a agência imobiliária Remax publicou um anúncio a colocar à venda os terrenos da antiga fábrica Bóia & Irmão - já propriedade da Cais do Paraíso, S.A. - por 20 milhões de euros, com direito a imagens 3D de um hotel de 12 pisos. O caso chegou ao debate político, com Ribau Esteves a afirmar, em declarações ao Diário de Aveiro, que considerava o anúncio “estranho” e que tinha pedido explicações aos investidores. Duas perguntas ficaram então no ar: como era possível anunciar um terreno por aquele valor com um hotel de 12 andares se ainda não existia plano aprovado para o efeito? E significaria o anúncio o abandono do projeto? A Remax retirou o anúncio pouco depois, mas o tema voltou em força em agosto de 2023, quando a CMA deliberou “dar início ao procedimento de elaboração do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso, com prazo de 18 meses para a sua elaboração”. Poucos meses mais tarde, a 18 de outubro de 2023, a Assembleia Municipal de Aveiro aprovava “medidas preventivas por elaboração do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso”, com parecer favorável da CCDR Centro. Essas medidas proibiam operações de loteamento e obras de urbanização, construção, ampliação, alteração e reconstrução (salvo as isentas de controlo administrativo prévio), remodelação de terrenos, demolição de edificações (exceto as dispensadas de controlo) e derrube de árvores em maciço. Ou seja, medidas preventivas são regras temporárias que “congelam” alterações numa zona da cidade enquanto se prepara um novo plano urbanístico. E assim chegamos a julho de 2025, quando o Plano de Pormenor foi finalmente apresentado em reunião camarária, abrindo-se o período de discussão pública e confirmando-se que seria permitida a construção de um hotel com 12 andares. Em plena pré-campanha eleitoral, o tema voltou a incendiar o debate político e as redes sociais. A Ria prosseguiu o seu trabalho de investigação e, através da certidão permanente do registo comercial, confirmou os nomes dos administradores da Cais do Paraíso, S.A.: Munir Asharaf Aly (presidente, residente em Luanda), Nizarali Kassam Manjy (administrador, residente no Dubai) e Sheila Munir Asharaf Aly (administradora, residente em Lisboa). A informação que já circulava na cidade era assim confirmada: a família Munir está ligada ao universo do Grupo VIP Hotels. Foi através da marca Mully Group - que chegou a ser referida no anúncio da Remax e em publicações nas redes sociais - que a Ria conseguiu chegar a Nuno Pereira, responsável de desenvolvimento de projetos imobiliários do grupo, que confirmou estar a trabalhar diretamente no projeto do Cais do Paraíso. Em entrevista exclusiva, o representante começou por esclarecer: “Não tem nada a ver com o Grupo VIP Hotels. Não há aqui nenhuma operação esquisita. Isto é um investimento pessoal e familiar, não tem nada a ver com o Grupo VIP Hotels.” Acrescentou ainda que o projeto avançará sob uma nova insígnia, “Hotel Mully Grand”, desvinculando-se da marca VIP Hotels, apesar das ligações históricas dos investidores àquela cadeia. Nuno Pereira detalhou a estrutura acionista da sociedade: AAK Holding, Limited com 48% (ligada a Munir Asharaf Aly, que também detém 1% em nome individual, tal como a esposa) e 50% pertencentes a Nizarali Kassam Manjy, descrito como “um amigo de infância de Munir”. O investimento global é estimado em cerca de 70 milhões de euros, incluindo hotel, apartamentos turísticos e arranjos exteriores, e deverá criar cerca de 300 postos de trabalho. O representante recordou ainda que as negociações com a autarquia não foram fáceis: a ideia inicial era construir um hotel com cerca de 15 andares, mas a proposta foi rejeitada pela Câmara, tendo o projeto sido redimensionado para os atuais 12 andares. Questionado sobre a polémica do anúncio da Remax de 2022, Nuno Pereira garantiu que a venda “não foi autorizada”. Explicou, contudo, que a agência tinha atuado como mediadora na compra do terreno pela Cais do Paraíso, S.A. e que, quando o anúncio surgiu online, apresentou mesmo um investidor internacional interessado em participar no projeto ou em adquirir o terreno. Ainda assim, permanece a dúvida: tal como circulou nas redes sociais à época e foi referido no comunicado da família Bóia, o anúncio da Remax incluía já uma imagem 3D do futuro hotel, precisamente com 12 andares, o que sugere que apenas alguém próximo da Cais do Paraíso, S.A. poderia ter disponibilizado esse material. Apesar de toda a polémica, a decisão política acontece esta tarde, a partir das 16h30, quando o Executivo camarário votar a aprovação final do Plano de Pormenor do Cais do Paraíso. Caso avance, ficará aberto o caminho para a construção do hotel de 12 andares que divide a cidade entre os que veem no projeto uma oportunidade de investimento e modernização e os que temem a sua dimensão e impacto urbanístico.
Atividade turística da Mealhada cresceu cerca de 17% em 2024
“No ano de 2024 registámos um crescimento da atividade turística na ordem dos 17%. Em 2025, já estamos com um crescimento na ordem dos 25%, até ao momento”, afirmou. À margem da conferência de imprensa de apresentação da programação do Cineteatro Messias, para o último quadrimestre de 2025, a autarca esclareceu que também o número de dormidas no concelho tem vindo a crescer. “Em termos de dormidas, só aqui na Mealhada, o crescimento foi de 21,3% em 2024 face a 2023. O concelho da Mealhada registou 110.766 dormidas em 2024”, sustentou. De acordo com Filomena Pinheiro, de janeiro a maio deste ano, o concelho da Mealhada registou aproximadamente 43 mil dormidas. No que toca aos gastos na restauração, a autarca disse ter apenas dados referentes à região Mondego Bussaco, que abrange, para além da Mealhada, os concelhos de Penacova e Mortágua. “De agosto de 2024 a maio de 2025, os gastos na restauração ultrapassaram os 26 milhões de euros na região Mondego Bussaco”, referiu.
Autárquicas: Livre Aveiro apresenta esta sexta-feira a sua candidatura em Oliveira de Azeméis
De acordo com uma nota de imprensa enviada às redações, o momento contará com a intervenções de Ricardo Praça da Costa, cabeça de lista pelo Livre à Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis e à Assembleia Municipal, bem como com a presença de Juliana de Almeida Nunes, número dois na Assembleia Municipal, e Filipe Honório, cabeça de lista à Câmara de Santa Maria da Feira e dirigente nacional do Livre. Na nota, o partido refere ainda que este é um “momento histórico, visto que é a primeira vez que o partido da papoila vai a eleições neste município”. Nas eleições autárquicas de 2021, o PS venceu esta autarquia com “54.87%” dos votos.
PS-Aveiro apresenta candidato à Junta de São Jacinto este sábado
A iniciativa integra o ciclo de apresentações que o PS-Aveiro tem vindo a promover com os seus candidatos às freguesias do concelho. Recorde-se que, dos dez nomes já anunciados, apenas João Morgado, antigo presidente da Junta de Eixo e Eirol, e José Eduardo Ferreira Leite não constituíram surpresa. Na altura, em entrevista à Ria, Paula Urbano Antunes, presidente da concelhia do PS-Aveiro, justificou a escolha do candidato em São Jacinto pelo seu trabalho enquanto “primeiro eleito na oposição junto da população, na Assembleia da Freguesia, apresentando propostas, criticando aquilo que é para criticar. Apresenta sugestões sempre de uma forma muito construtiva e com conhecimentos sólidos que tem sobretudo na área do direito”, afirmou. Relembre-se também que a coligação ‘Aliança com Aveiro’ (PSD/CDS-PP/PPM) já avançou, no passado mês de julho, com a apresentação pública da candidata a esta junta de freguesia: Cristina Gonçalves. Na ocasião, a cabeça de lista, Arlindo Tavares, atual presidente da junta, e Luís Souto de Miranda, cabeça de lista à Câmara, responsabilizaram o PS por salários em atraso, penhoras, dívidas superiores a 700 mil euros e pelo que definiram como um verdadeiro “pesadelo” herdado em 2022. O PS iniciou na passada sexta-feira, 22 de agosto, com o ciclo de apresentações dos candidatos às juntas de freguesia, na União de Freguesias de Eixo e Eirol, com a lista liderada por João Morgado. Nesta freguesia, o PS optou por fazer um conjunto de apresentações em vários locais.A primeira sessão decorreu no lugar de Azurva e a seguinte em Eixo. No dia 6 de setembro, pelas 18h00, no Centro Social, segue-se Horta; no dia 27 de setembro, pelas 18h00, no Largo da Capela, Carcavelos e no dia 4 de outubro, pelas 18h00, no Polivalente, Eirol. Ainda no âmbito das apresentações, a Ria sabe que, na União de Freguesias de Glória e Vera Cruz, a sessão terá lugar no dia 13 de setembro, à tarde. Neste caso, o candidato pelo PS-Aveiro será Bruno Ferreira, atual tesoureiro da Junta. *Notícia atualizada às 14h33