"Sobre a eleição do CG-UA: ou a importância das condições iniciais", opinião de Armando Machado
Armando Machado doutorou-se em Psicologia na Universidade de Duke (EUA). É professor catedrático no Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro (DEP-UA) e presidiu à Society for the Quantitative Analysis of Behavior (EUA) e à Associação Portuguesa de Psicologia Experimental. É candidato pelo movimento "UA50 – 50 Anos de História, 50 Anos de Ambição", pela Circunscrição C (Ciências Sociais, Artes e Humanidades), ao Conselho Geral da Universidade de Aveiro.
Armando Machado
Opinião“Então você ousou criticar o seu supervisor?” A pergunta surpreendeu-me. Ao preparar o encontro com o vice-reitor da universidade que acabara de me contratar, esperava uma conversa cordial para esclarecer dúvidas sobre o início de carreira num país estrangeiro. Não contava que tivesse lido um artigo meu e logo aquele em que criticava ideias do meu orientador.
Ainda assimilava o choque quando outra pergunta me comoveu: “Como posso ajudá-lo? Queremos que tenha êxito na Universidade de Indiana.” Conversámos sobre a remodelação do laboratório, o financiamento para equipamento, a prioridade na admissão de um doutorando, a carga letiva reduzida no primeiro ano — tudo para viabilizar, desde logo, a investigação que eu pretendia desenvolver.
Falámos também das exigências para a nomeação definitiva (tenure), da vida familiar, dos seguros de saúde e de muito mais. Cordialidade? Sim. Mas também um interesse genuíno no sucesso de um jovem cientista, uma atenção redobrada às condições iniciais do seu trabalho e uma rara empatia por quem desorientado com o processo de contratação ficara perplexo com as expectativas da instituição. Ainda hoje, muitos anos depois, recordo o vice-reitor para quem o êxito de um académico era o êxito de toda a academia.
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A forma como a universidade portuguesa acolhe jovens docentes e investigadores é, infelizmente, bem diferente — por vezes, o oposto. Há muitas razões, a começar pela escassez crónica de recursos. Mas outras, menos visíveis, são talvez mais importantes: os valores que promovemos e os ambientes que criamos.
Quando damos mais importância ao número de artigos ou aos montantes de financiamento do que ao valor das ideias e descobertas, alimentamos o filistinismo em detrimento da curiosidade e da paixão pelo conhecimento. Quando contratamos um investigador sem garantir os meios mínimos para começar, ignoramos as condições iniciais que moldam o seu percurso.
Quando sobrecarregamos uma docente recém-chegada com disciplinas fora da sua área, destruímos a sua motivação e revelamos indiferença perante o seu mal-estar.
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Uma academia que não responde ao comportamento dos seus membros empobrece os seus repertórios de ação. Quando docentes empenhados ficam com a voz enrouquecida — “não do canto, mas de ver que [vêm] cantar a gente surda e endurecida” — é natural que alguns caiam na desesperança aprendida e se afastem da vida universitária ativa.
Do mesmo modo, quando investigadores mantêm vínculos precários apesar do esforço e mérito, não surpreende que alguns (os mais brilhantes?) abandonem a academia.
Uma liderança que decide sem explicar, que impõe pelo poder e não pela razão, transforma a academia num ambiente aversivo. Publicamente, promove o silêncio ou o conformismo; em privado, sufoca a imaginação. Em ambos os casos, enfraquece a crença no ideal universitário do primado da razão. O controlo aversivo é, afinal, o oposto do ethos académico.
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O que tem isto a ver com o Conselho Geral da Universidade de Aveiro? Tudo. Porque tudo começa pelas condições iniciais. Votar na Lista UA50 – 50 Anos de História, 50 Anos de Ambição é o primeiro passo para uma universidade:
• Mais inteligente, que garanta meios a quem chega e invista na sua carreira;
• Mais pró-social, que coloque a cooperação interna no centro e a competição externa na periferia;
• Mais inclusiva e plural, que valorize argumentos e não silencie vozes dissonantes;
• Mais justa, por reconhecer a diversidade das áreas e os seus diferentes critérios de qualidade;
• Mais eficiente, onde a administração sirva o trabalho criativo de docentes e investigadores.
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Se te revês neste sonho de construir uma universidade diferente, vota na Lista UA50. Estarás a lançar a primeira pedra de uma academia que cultiva o potencial de todos os seus membros, com especial atenção aos mais jovens docentes e investigadores.
“Há quem veja o mundo como ele é e pergunte porquê. Eu vejo o mundo como podia ser e pergunto: porque não?” John F. Kennedy
Recomendações
"Os Traidores", opinião de Samuel Dias Xavier
Dizem que aqueles que não conseguem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo. Se fizermos um pequeno exercício de memória, seja ela mais curta ou mais longínqua, temos na nossa memória, enquanto indivíduos, enquanto parte de um grupo ou família, parte de um povo ou de uma nação, a resposta para quase todos os nossos problemas. A natureza humana, por mais solavancos a que possa ser sujeita, está condenada a repetir-se, a criar rotina e a gerar ciclos. O resultado das eleições do passado domingo são surpreendentes, chocantes, mas que em certa parte não são uma novidade. Desta vez, teremos um partido ultrarradical de extrema-direita como líder da oposição. Não é a primeira vez que outros partidos, além do PSD e PS, têm elevadas representações parlamentares. PCP e CDS já tiveram quase 50 deputados cada um e, em finais dos anos 80, PPD, CDS e PRD tinham cerca de 70% da representação parlamentar, o mesmo que hoje AD, IL e Chega representam. O que há aqui de diferente é que o PRD desapareceu, entalado entre PS e PSD, condenado à sua dimensão unipessoal de Eanes, facto este que dificilmente acontecerá com o Chega. A minha reflexão não tem como objetivo discutir e analisar as flutuações percentuais e de representação parlamentar que o povo português sabiamente vai confiando aos partidos. Portugal tem sido condenado a ciclos governativos muito curtos no passado recente, sempre incentivados por dissoluções da Assembleia da República. Estes miniciclos não permitem que se mude rigorosamente nada, além da composição parlamentar. Esta circunstância, a somar à complexidade da geopolítica atual gera frustração e resignação. O país não cresce de acordo com as expectativas, a economia não consegue subir de patamar e a esperança vai caindo. Na Grécia antiga, Platão apontava para o declínio das democracias através dos populismos – gerado através das frustrações pessoais dos cidadãos, da exploração das paixões do povo em contraste com as ideias e a razão. Os ingleses, com uma cultura democrática largamente maior que a nossa não têm embaraços destes. Felizmente para eles, uma maioria parlamentar consegue manter-se e seguir um programa de ideias, independentemente do primeiro-ministro, do governo e dos MP’s (veja-se que a maioria absoluta dos conservadores em 2019 teve 3 primeiros-ministros: Boris, Truss e Sunak). Também na Alemanha há compromissos entre os partidos para garantir uma legislatura completa. Enfim, poderia dar variadíssimos exemplos europeus que se distanciam da nossa circunstância. A situação atual é complexa, muito complexa. Como nos sugeriu Mencken: “para cada problema complexo, há uma resposta simples, clara e errada”. Podemos ver então que nada disto é novo. O ser humano, quando é confrontado com problemas, tem instintivamente uma inclinação para responsabilizar alguém ou uma circunstância e de procurar uma certa ideia messiânica que responda facilmente ao problema. Não existe mais espaço para a razão e para as ideias. Esse espaço é agora ocupado pela purga, pelo simplismo e por modas. Não interessa a governação, a estabilidade, a previsibilidade, nem a discussão. Também os romanos nos advertiam por sermos “um povo que não se governa nem se deixa governar”. É sempre mais simples responsabilizar um grupo (normalmente excluído e em minoria) por um problema mais complexo e antigo. A retórica é sempre a mesma: subsídio-dependentes, ciganos, imigrantes, palestinianos, judeus… As minorias são sempre a válvula de escape para os maiores disparates. A ironia disto tudo é sermos também um povo que tem milhões de emigrantes pelos vários continentes - e que também eles próprios foram responsabilizados por problemas aos quais eram alheios – encontramos as responsabilidades para os nossos problemas nesse grupo tão heterogéneo que são os imigrantes. Nos anos 60, muitos milhares de portugueses emigraram para Paris, ilegalmente, para encontrarem refúgio nos bidonville (bairros de lata), vivendo na lama, em barracas de tijolo e chapa, muitas vezes sem luz ou água canalizada, para fugir a um regime totalitário, à miséria e à guerra. Trabalhando de sol a sol, amealharam o pouco que conseguiam para trazer de volta à sua pátria amada, com um sonho de criar família e de dar um futuro melhor aos seus filhos. Hoje, muitos dos netos destes emigrantes votam no Chega para dar “um abanão” ao país. Porque não querem imigração ilegal, não querem estrangeiros na sua terra. Quando desligamos da nossa identidade o ‘botão do humanismo’, não há esclarecimentos nem pedagogia que nos possam salvar. O mundo pós-1945 permitiu construir sociedades modernas e capazes de criar equilíbrios e consensos. Foi uma época em que imperou a razão, a ideia e o compromisso. Daí triunfaram os catch-all parties. Foi possível estimular a economia, criar estados de direito, equilíbrio de poderes, distribuição de riqueza e consolidação dos welfare state. Em Portugal, com várias crises sucessivas, permitiu-se um certo desgaste das ideias, dos partidos e destes grandes progressos que foram possíveis. Que não haja ilusões, os partidos e o parlamento são o reflexo da sociedade, são o primeiro indício de um certo declínio das ideias. Responsabilizar líderes, partidos ou o parlamento é desonesto e é antidemocrático. Não há democracia sem partidos, ponto. A História tem essa prova, tudo o resto são ilusões e fantasias platónicas de uma sociedade de independentes com ideias simples e luminosas como uma manhã de primavera. Este é um regime de Homens, e portanto, de erros. Se ignorarmos esse facto, estaremos a cavar uma trincheira de ignorância, para ali permanecer, imóveis, e resguardarmo-nos de qualquer bala de responsabilidade. Shakespeare revelou-nos em ‘Júlio César’ a natureza traiçoeira do ser humano. Somos capazes da maior das traições – contra os nossos, contra as nossas ideias, contra nós próprios. Permitir que nos deixemos enganar por soluções simples, para causar “abanões”, para realçar o ódio contra o que é diferente, é trair a nossa História e a nossa experiência coletiva. Seremos os nossos próprios traidores.
"Uma discussão frontal e transparente sobre o futuro da UA", opinião de Pedro Rodrigues
O aproximar das eleições para o Conselho Geral (CG) da Universidade de Aveiro tem suscitado uma salutar discussão em torno de algumas das funções e atribuições deste órgão. No seio da Circunscrição C - Ciências Sociais, Artes e Humanidades, circunscrição que reúne colegas do DEP, DeCA, DEGEIT, DLC e DCSPT, que integram a lista "UA 2030: Uma Universidade Inovadora, Sustentável e Plural", destacam-se, entre as questões que nos foram mais recentemente colocadas, as seguintes: 1 - Limita-se o CG a eleger um/a reitor/a? 2 - Quais as competências deste órgão? 3 - Pode o CG da UA alterar o sistema de eleição do reitor para um sistema de eleição direta? Para responder às primeiras duas questões, façamos uma rápida consulta à página do Conselho Geral da Universidade de Aveiro que nos permite rapidamente concluir que o CG "É o órgão responsável por eleger o Reitor, aprovar os planos estratégicos de médio prazo e o plano de ação para o quadriénio do mandato do Reitor, bem como as linhas gerais de orientação da Universidade, nos planos científico, pedagógico, financeiro e patrimonial." Naturalmente, esta é uma versão sintética das diversas funções e o elencar detalhado pode ser encontrado na secção "Competências" da mesma página. À terceira questão (alteração para sistema de eleição direta do reitor), não é possível (nem legal) responder afirmativamente. Tal decisão será resultado da discussão referente à revisão do RJIES, atualmente interrompida (em função das eleições legislativas), mas com lugar na Assembleia da República e cuja influência se espraiará nacionalmente. Um dos objetivos dessa revisão é precisamente uma "Eleição mais democrática do Reitor ou Presidente" através de "Eleição direta, de entre dois candidatos a reitor ou presidente selecionados pelo Conselho Geral, aberta à comunidade (…)" . Importa, portanto, a bem da transparência e do rigor que pautam a nossa academia, esclarecer tais questões e assim evitar o capitalizar de desejos universais como visões unilaterais. Na lista UA 2030, acreditamos na transparência e frontalidade da nossa comunicação e, desde o primeiro momento, assumimos responsabilidades e os rostos que as representam. Tal posicionamento multifacetado revelou uma intenção comum: continuar a construir de forma ética e imparcial uma melhor UA, com todos e para todos. Consideramos esse compromisso como princípio basilar para o exercício do Conselho Geral que deverá analisar de modo isento os atos do reitor e do Conselho de Gestão, bem como propor medidas para o bom funcionamento da UA. Isto porque uma universidade não é mais do que o resultado do reconhecimento das suas pessoas, das suas ideias, capacidades e qualidades. É a soma de todos esses percursos, de todas as aprendizagens (com falhas e sucessos) que, tantas vezes, não são possíveis de quantificar em sistemas de referenciação, mas que nos tornam a todos mais humanos, mais próximos e mais fortes.
"A oportunidade eleitoral perdida", opinião de Miguel Pedro Araújo
Estamos a dois dias do final da campanha eleitoral que culminará, no dia 18 de maio, na delegação de responsabilidades políticas de representatividade nos 230 deputados que formam o Parlamento, através de um dos pilares mais importantes da nossa democracia: o voto livre. Independentemente da maior ou menor coesão e paz social que cada legislatura possa assumir e espelhar, dado o distanciamento político entre eleitor e eleito (ao contrário do que existe, por exemplo, na Governação Local) é nestes processos eleitorais que o cidadão tem a possibilidade, o espaço (momento) e o importante poder de decisão e de ação. A simples cruz dentro do quadrado pode fazer (e faz!) muita diferença. Toda a agitação política que levou à moção de confiança, ao seu chumbo e à consequente dissolução da Assembleia da República, cuja responsabilidade cabe, exclusivamente, ao Governo, à data, faria supor uma capitalização do contexto por parte das oposições, nomeadamente por parte do PS. Por outro lado, estas conjunturas eleitorais são uma óbvia e natural oportunidade para o reforço ou apresentação de novas propostas de projetos de governação que respondam às necessidades das pessoas e do país. Sempre entendi e afirmei que o medo ou o cansaço das eleições nunca esteve do lado dos cidadãos, mas sim nos políticos e nos partidos. A estes é que cabe a responsabilidade de se afirmarem, de apresentarem os seus projetos/programas e de se comprometerem com as pessoas, as empresas, as instituições e o país. O que aconteceu desde 19 de março (data da dissolução da Assembleia da República) até hoje, a dois dias do final da campanha eleitoral, foi um falhanço geral e generalizado. Todos falharam. Excluindo os momentos proporcionados pelos debates, sempre condicionados pelos constrangimentos do tempo, da arbitrariedade dos temas e das questões agendadas, ou pelas dinâmicas do frente-a-frente, e apesar dos programas eleitorais disponíveis (que ninguém lê, nem os mais politizados), a verdade é que esta campanha eleitoral deixa um sabor amargo a desilusão, deceção e oportunidade perdida. Uma oportunidade de mudança que, face ao calendário eleitoral que lhe sucede (autárquicas e presidenciais) e às limitações legais, não poderá (re)acontecer tão cedo. A verdade é que o peso das agências de comunicação, que abandonaram o spin e a propaganda para se dedicarem ao peso da “imagem popular” (e populista) do político em detrimento do discurso programático, transformaram esta campanha eleitoral (mais do que em 2024… muito mais, até) numa banalidade, num vazio, em autênticas bizarrias e surrealismos ao nível de qualquer programa de entretenimento de habilidades e dotes artísticos ou desportivos, ou, ainda, de espaços mediatizados da privacidade e intimidade pessoal. Ao ponto de, ao contrário de outros momentos em que o foco de uma câmara ou a presença de um microfone era uma oportunidade de clarificação, de reforço do conteúdo político e das ideias programáticas, uma simples pergunta jornalística (cumprindo a sua principal função) passou a ser motivo de incómodo, só porque questiona e compromete. No entanto, também é verdade que estas leituras comunicacionais, estudadas, analisadas e intencionais, dizem mais do país que temos e dos eleitores que somos, do que, propriamente, dos profissionais de comunicação/marketing político contratados para que não houvesse espaço crítico que questionasse ou comprometesse, que promovesse a opção e a escolha, que alertasse ou desmascarasse realidades e contextos, a campanha eleitoral ficou-se por mergulhos, corridas, jogos ou equilíbrios motards. O resto centrou-se dentro das bolhas e dos comprometidos partidários. Ao contrário das muitas expectativas iniciais, o país entrou num limbo ou num ilusório e enganador paraíso. Não se falou (praticamente, com raríssimas exceções) da saúde, do SNS e das urgências; não se falou de relatórios suspensos na educação, da falta dos professores, do desinvestimento e abandono do Ensino Superior e do desinvestimento em ciência e investigação; não se falou da Segurança Social, das reformas e do Estado Social, cada vez mais ameaçado; não se falou da economia estagnada e regressiva, da ausência de respostas às empresas e à pressão conjuntural externa; não se falou de política e relação internacionais, da Ucrânia, dos processos negociais para a paz, do genocídio e da crise humanitária em Gaza ou do legítimo direito à existência da Palestina enquanto Estado; não se falou nos desequilíbrios regionais, na falta de coesão territorial cada vez mais acentuada. E pasme-se, ao contrário do que muitos (tal como eu) esperariam mal se falou de habitação ou de imigração. O que assistimos foi a algo que seria impensável em março: um campanha eleitoral vazia, ou esvaziada, politicamente. Vamos ter um “dia de reflexão” (seja lá o que isso ainda signifique) que nada tem para poder ser refletido. Há poucos dias, o Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território da Universidade de Aveiro (DCSPT-UA) divulgou um estudo, publicado no livro “O Eleitorado Português no Século XXI”, que desconstruía o mito de que os jovens não se interessam por política. Sou testemunho, pelo contacto presente com muitos deles, que isso, de facto, não é verdade: os jovens interessam-se por política. E muito e com sentido e massa críticos. Coisa diferente é os jovens interessarem-se pelos políticos e pelos partidos. Se justificações faltassem, esta campanha é a prova dessa realidade. E poderíamos ir mais longe… o desinteresse dos jovens pelos partidos e pelos políticos alarga-se, cada vez mais, a muitas mais pessoas (basta ver o nível de indecisão que as sondagens ainda apresentam). De qualquer forma, domingo, 18 de maio, seja um dia intenso de cumprimento de um direito democrático e de um dever cívico.
"O Futuro da Universidade de Aveiro está nas mãos de todos", opinião de Roberto Martins
“Quem é o vosso candidato a reitor?” – Uma das perguntas mais comuns que marcam o período de campanha pré-eleitoral para o Conselho Geral (CG) da Universidade de Aveiro (UA). A questão não deveria ser quem, mas sim o que defendem para o futuro da UA. E, a partir daí, inferir o perfil de reitor que cada lista ao CG defende. Agora que já se sabe que haverá duas listas a disputar a eleição dos 10 conselheiros no círculo dos professores e investigadores, é seguro dizer que o recém-fundado movimento “UA50: 50 anos de história, 50 anos de ambição” se diferencia totalmente, pelo facto de responder àquela questão com uma resposta clara: “não temos candidato(a), mas temos uma visão clara e ambiciosa para a instituição e defendemos um perfil de reitor em consonância com esta visão de longo prazo.” A UA é um pilar de inovação, conhecimento e progresso há cinco décadas. No entanto, enfrenta desafios que, se ignorados, podem comprometer a qualidade do ensino, da investigação científica e da cooperação, a participação cívica da comunidade e a própria sustentabilidade da universidade a longo prazo. Portanto, o que está em jogo nas próximas eleições de dia 3 de junho para o CG, enquanto órgão máximo de governo da instituição, é o caminho que a UA tomará nos próximos anos. Não é expectável dos candidatos ao CG um plano de ação, uma vez que o órgão não tem poder executivo, mas sim as linhas gerais sobre o futuro da UA e se (e como) contribuirá para a implementação de um sistema de supervisão (competência do CG) da ação do Reitor e respetiva equipa. Para o efeito, é importante conhecer os candidatos ao CG e o que defendem para garantir que a UA entra num ciclo contínuo de crescimento e expansão nos próximos 50 anos. Mas a verdade é que muitos colegas me têm abordado para questionar sobre porque é que não apoio nenhum putativo candidato a Reitor e porque considero que os demais candidatos ao CG – de todas as universidades portuguesas – deveriam seguir o mesmo princípio basilar. Ora, fruto da minha experiência no atual CG e do entendimento que existe um problema transversal às Instituições de Ensino Superior (IES) portuguesas, relacionado com a captura do CG sobretudo para efeitos da eleição do reitor, a minha posição é simples, mas com impacto disruptivo. Trata-se de garantir a imparcialidade no ato de apreciação e votação da(s) candidatura(s) a reitor (previsivelmente, a última vez a ser eleito pelo CG, se o RJIES for alterado) e o escrutínio contínuo por parte dos conselheiros, quando forem chamados a apreciar os atos do reitor e da sua equipa. A garantia de imparcialidade na apreciação das candidaturas fomentará, previsivelmente, a democraticidade do ato eleitoral para o reitor. Estas poderão ser apresentadas por professores ou investigadores, da UA ou de outras IES (inter)nacionais, tal como já aconteceu noutras IES portuguesas no passado, desde que correspondam a personalidades de reconhecido mérito, com experiência relevante na área da gestão universitária e capacidade de liderança. Cada conselheiro eleito poderá, posteriormente, avaliar a experiência e o plano de ação do(s) candidato(s) e aprovar o que for mais competente para projetar a UA a curto, médio e longo prazo. É por esta razão que as eleições de 3 de junho assumem particular importância, uma vez que os professores e investigadores da UA serão responsáveis pela eleição de 10 representantes que terão o poder de garantir um Conselho Geral forte, independente e representativo e, por sua vez, assegurar que a ação do futuro reitor e da sua equipa conduza a UA na melhor direção possível para se tornar uma referência no panorama regional, nacional e internacional. Num cenário demográfico, político e económico desafiante, a nível nacional e internacional, a UA necessita de um reitor com perfil de liderança capaz de unir a nossa comunidade académica, restaurar o sentimento de pertença à UA, enfrentar os desafios da precariedade, estabilidade e progressão nas carreiras e garantir o bem-estar de todos. Não menos importante, deve ser um defensor da excelência pedagógica, científica, da inovação e da colaboração. Assim, no dia 3 de junho, cabe a cada membro da comunidade académica decidir: queremos uma universidade que perpetue os problemas do passado ou estamos prontos para construir uma UA mais forte, mais justa e mais ambiciosa? A escolha está nas nossas mãos!
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Festival "Do Pão" de Albergaria-a-Velha recebeu mais de dois mil filmes
O festival vai exibir 30 filmes no Cineteatro Alba, Biblioteca Municipal e no Torreão da Quinta da Boavista. O festival nasceu ligado ao Festival Pão de Portugal, que este ano se realiza de 30 a 01 de junho, e ganha dimensão internacional, tendo sido submetidos 2.785 filmes de 131 países. O júri selecionou 23 filmes que concorrem aos prémios de curta e longa-metragem. O município de Albergaria-a-Velha atribui dois mil euros ao melhor documentário de longa-metragem e mil euros à melhor curta-metragem. O Irão liderou as inscrições com 256 filmes, seguido pelo Brasil (222) e Índia (218). Espanha (142), Turquia (121), China (103), Itália (100), França (99), Estados Unidos e Argentina (ambos com 86), e Egito (83) também se destacaram. Já quanto a Portugal, foram apresentados a concurso 74 filmes. O evento inclui ainda workshops e apresentações de livros. O Festival Do Pão, que ocorre desde 2016, é organizado pelo Cine Clube de Avanca e pelo Município de Albergaria-a-Velha, com apoio do Ministério da Cultura.
Ria promove debate entre docentes e investigadores para o Conselho Geral da UA
O debate terá lugar às 16h00 no Auditório Renato Araújo, localizado no Edifício Central e da Reitoria da UA, e contará com a participação de quatro candidatos, representando todas as circunscrições e ambas as listas que concorrem ao ato eleitoral. O Conselho Geral é o principal órgão de governo da universidade, sendo responsável por funções estruturantes como a eleição do reitor, a aprovação e alteração dos estatutos, a aprovação do plano estratégico e dos documentos anuais de atividades e contas. Nesta eleição, foram admitidas duas listas: a lista “UA 2030 – Uma Universidade Inovadora, Sustentável e Plural” e a lista “UA50 – 50 anos de história, 50 anos de ambição” O debate será moderado por Isabel Cunha Marques, diretora de informação da Ria, e transmitido em direto na página de Facebook da Rádio Universitária. A sessão é aberta à comunidade académica, que poderá assistir presencialmente ou acompanhar a transmissão online. Durante o debate, serão discutidos temas diretamente relacionados com as competências do Conselho Geral e a visão estratégica para o futuro da Universidade de Aveiro. Está também prevista uma ronda de perguntas enviadas pela comunidade académica e dirigidas às duas listas. As perguntas podem ser submetidas até às 23h59 de quarta-feira, 28 de maio, através do preenchimento deste formulário. A redação da Ria selecionará as mais relevantes para serem colocadas durante o evento.
Candidatos do PS da Murtosa reuniram com a SEMA para discutir comércio e desenvolvimento local
Em nota enviada às redações, a Comissão Política da Concelhia da Murtosa dá nota de que o encontro teve como principal objetivo debater medidas de apoio ao comércio local e ao tecido empresarial da Murtosa. Na reunião foram abordadas questões vistas pelos socialistas como “prioritárias”, tais como “o apoio logístico e formativo aos comerciantes”, “a sustentabilidade e desenvolvimento” dos negócios locais e a “necessidade de criação de ‘imagens de marca’ identitárias” da região. Os representantes do PS reconheceram ainda o esforço dos comerciantes e defendem “que o Município deve ser um “aliado” de referência, em parceria e reciprocidade com esta [SEMA] e outras associações”. Para Augusto Vidal Leite, candidato à presidência da Câmara, “o comércio local é um pilar essencial da economia e da vida dos nossos munícipes”. “Vamos construir uma política municipal que incentive o consumo local, as nossas “imagens de marca” e crie condições para que os nossos comerciantes se possam afirmar e fixar os seus negócios na Murtosa”, defendeu o candidato socialista. A candidatura socialista continuará nas próximas semanas a promover encontros com associações e representantes da sociedade civil.
"Os Traidores", opinião de Samuel Dias Xavier
Dizem que aqueles que não conseguem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo. Se fizermos um pequeno exercício de memória, seja ela mais curta ou mais longínqua, temos na nossa memória, enquanto indivíduos, enquanto parte de um grupo ou família, parte de um povo ou de uma nação, a resposta para quase todos os nossos problemas. A natureza humana, por mais solavancos a que possa ser sujeita, está condenada a repetir-se, a criar rotina e a gerar ciclos. O resultado das eleições do passado domingo são surpreendentes, chocantes, mas que em certa parte não são uma novidade. Desta vez, teremos um partido ultrarradical de extrema-direita como líder da oposição. Não é a primeira vez que outros partidos, além do PSD e PS, têm elevadas representações parlamentares. PCP e CDS já tiveram quase 50 deputados cada um e, em finais dos anos 80, PPD, CDS e PRD tinham cerca de 70% da representação parlamentar, o mesmo que hoje AD, IL e Chega representam. O que há aqui de diferente é que o PRD desapareceu, entalado entre PS e PSD, condenado à sua dimensão unipessoal de Eanes, facto este que dificilmente acontecerá com o Chega. A minha reflexão não tem como objetivo discutir e analisar as flutuações percentuais e de representação parlamentar que o povo português sabiamente vai confiando aos partidos. Portugal tem sido condenado a ciclos governativos muito curtos no passado recente, sempre incentivados por dissoluções da Assembleia da República. Estes miniciclos não permitem que se mude rigorosamente nada, além da composição parlamentar. Esta circunstância, a somar à complexidade da geopolítica atual gera frustração e resignação. O país não cresce de acordo com as expectativas, a economia não consegue subir de patamar e a esperança vai caindo. Na Grécia antiga, Platão apontava para o declínio das democracias através dos populismos – gerado através das frustrações pessoais dos cidadãos, da exploração das paixões do povo em contraste com as ideias e a razão. Os ingleses, com uma cultura democrática largamente maior que a nossa não têm embaraços destes. Felizmente para eles, uma maioria parlamentar consegue manter-se e seguir um programa de ideias, independentemente do primeiro-ministro, do governo e dos MP’s (veja-se que a maioria absoluta dos conservadores em 2019 teve 3 primeiros-ministros: Boris, Truss e Sunak). Também na Alemanha há compromissos entre os partidos para garantir uma legislatura completa. Enfim, poderia dar variadíssimos exemplos europeus que se distanciam da nossa circunstância. A situação atual é complexa, muito complexa. Como nos sugeriu Mencken: “para cada problema complexo, há uma resposta simples, clara e errada”. Podemos ver então que nada disto é novo. O ser humano, quando é confrontado com problemas, tem instintivamente uma inclinação para responsabilizar alguém ou uma circunstância e de procurar uma certa ideia messiânica que responda facilmente ao problema. Não existe mais espaço para a razão e para as ideias. Esse espaço é agora ocupado pela purga, pelo simplismo e por modas. Não interessa a governação, a estabilidade, a previsibilidade, nem a discussão. Também os romanos nos advertiam por sermos “um povo que não se governa nem se deixa governar”. É sempre mais simples responsabilizar um grupo (normalmente excluído e em minoria) por um problema mais complexo e antigo. A retórica é sempre a mesma: subsídio-dependentes, ciganos, imigrantes, palestinianos, judeus… As minorias são sempre a válvula de escape para os maiores disparates. A ironia disto tudo é sermos também um povo que tem milhões de emigrantes pelos vários continentes - e que também eles próprios foram responsabilizados por problemas aos quais eram alheios – encontramos as responsabilidades para os nossos problemas nesse grupo tão heterogéneo que são os imigrantes. Nos anos 60, muitos milhares de portugueses emigraram para Paris, ilegalmente, para encontrarem refúgio nos bidonville (bairros de lata), vivendo na lama, em barracas de tijolo e chapa, muitas vezes sem luz ou água canalizada, para fugir a um regime totalitário, à miséria e à guerra. Trabalhando de sol a sol, amealharam o pouco que conseguiam para trazer de volta à sua pátria amada, com um sonho de criar família e de dar um futuro melhor aos seus filhos. Hoje, muitos dos netos destes emigrantes votam no Chega para dar “um abanão” ao país. Porque não querem imigração ilegal, não querem estrangeiros na sua terra. Quando desligamos da nossa identidade o ‘botão do humanismo’, não há esclarecimentos nem pedagogia que nos possam salvar. O mundo pós-1945 permitiu construir sociedades modernas e capazes de criar equilíbrios e consensos. Foi uma época em que imperou a razão, a ideia e o compromisso. Daí triunfaram os catch-all parties. Foi possível estimular a economia, criar estados de direito, equilíbrio de poderes, distribuição de riqueza e consolidação dos welfare state. Em Portugal, com várias crises sucessivas, permitiu-se um certo desgaste das ideias, dos partidos e destes grandes progressos que foram possíveis. Que não haja ilusões, os partidos e o parlamento são o reflexo da sociedade, são o primeiro indício de um certo declínio das ideias. Responsabilizar líderes, partidos ou o parlamento é desonesto e é antidemocrático. Não há democracia sem partidos, ponto. A História tem essa prova, tudo o resto são ilusões e fantasias platónicas de uma sociedade de independentes com ideias simples e luminosas como uma manhã de primavera. Este é um regime de Homens, e portanto, de erros. Se ignorarmos esse facto, estaremos a cavar uma trincheira de ignorância, para ali permanecer, imóveis, e resguardarmo-nos de qualquer bala de responsabilidade. Shakespeare revelou-nos em ‘Júlio César’ a natureza traiçoeira do ser humano. Somos capazes da maior das traições – contra os nossos, contra as nossas ideias, contra nós próprios. Permitir que nos deixemos enganar por soluções simples, para causar “abanões”, para realçar o ódio contra o que é diferente, é trair a nossa História e a nossa experiência coletiva. Seremos os nossos próprios traidores.